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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4994 Data: 28 de novembro de 2014
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COUTINHO, SEM PELÉ, NO RÁDIO MEMÓRIA
3ª PARTE
Jorge Coutinho, o agitador cultural do
Teatro Opinião, nos anos de chumbo, falava agora, no Rádio Memória, como
presidente do sindicato dos artistas. Dizia-se regalado com o apoio que recebe,
ficando entusiasmado em tomar diversas iniciativas, como a de ir à Assembleia
Legislativa falar dos baixos salários na FUNARJ e ser bem sucedido.
-Jonas, ficaram sensibilizados e houve
uma pressão muito grande na FUNARJ, do próprio Teatro Municipal, coro, dança,
todo o mundo, enfim, para que eu me
tornasse secretário da Cultura do Rio de Janeiro. Eu não posso dizer não, sou
um homem de partido, do PMDB. Eu não estou fazendo campanha, a categoria está
pedindo...
-Muito bem. - aprovou o Jonas Vieira.
-Eu recebi apoio de oitenta grupos de
teatro do interior.
Reportou-se em seguida a uma reunião no
Teatro Princesa Isabel, lotado de pessoas, que tratam de cultura, incentivando
o obter esse cargo.
-O que me preocupa muito, Simon, Jonas,
senhores ouvintes, é que, no momento, somos 65%, na arte cênica, sem trabalhar.
Isso é muito grave!
-Caramba! - abismou-se o Jonas Vieira
e, certamente, todos.
-Dentre uma das consequências perversas
desse desemprego, têm-se equipamentos de teatro e de música sem serem
utilizados. - assinalou.
Jorge Coutinho, que faz parte do
Conselho Municipal de Cultura e do Conselho de Comunicação Social do Congresso
Nacional afirmou que, na sua visão, a secretaria de Cultura tem de estar interligada
com as outras secretarias do estado do Rio de Janeiro.
-A cultura precisa ser levantada.
-É evidente, Jorginho, ela tem de
penetrar em todos os segmentos da sociedade. - concordou o Jonas Vieira.
Em seguida, o candidato a secretário
falou da necessidade de a Rádio Roquette Pinto ter uma ligação mais estreita
com a Secretaria de Cultura, algo, a nosso ver, parecido com a gestão de Artur
da Távola como secretário das Culturas, que poderia ser mais detalhado pelo
Sérgio Fortes, mas, infelizmente, ele só falou do calendário do dia 23 de
novembro e teve de sair devido a compromissos prementes. (*)
Jorge Coutinho se deteve, depois, na
situação dos nossos museus, que deviam ser melhores. Disse que, como membro do Conselho
de Comunicação Social do Congresso Nacional, foi com um grupo à sede do
bispado, onde o arcebispo Orani Tempesta recebeu, como anfitrião, o Papa
Francisco. Lá, viu a modesta cama em que dormiu o Sumo Pontífice, bandeirinhas
e demais objetos relacionados a essa visita e lamentou que tudo aquilo estava
oculto, não estava aberto à visitação pública.
Nós, ouvintes, já estávamos preocupados
com a mudez do Simon Khoury, e, apesar de ocupado em dar o seu recado, o
convidado também estranhou.
-O olhar de ternura do Simon para
mim...
-Eu quero fazer uma pergunta.
-Coloque uma música, Simon, depois
pergunte. - estabeleceu o Jonas Vieira as regras.
Com muitas palavras represadas, ele
teve de fazer um comentário antes de atender ao titular do programa.
-Eu tenho 90 laudas sobre o Mílton
Gonçalves, não fiz o livro porque não tinha fotografias dele no teatro, agora,
tenho. O Mílton me falou da volta das valsas e é verdade, todos os filmes, seja
de que país for, tem valsa, valsa, valsa.
Depois de tentar o compasso ternário na
sua fala, disse que Milton Gonçalves lhe pedira a Valsa-Jazz n° 2 de
Shostakovsky. E a gravação escolhida era
com a orquestra de Alexandre Desplat.
-Esse é o meu russo favorito. -
extasiou-se tanto o Jonas Vieira que se esquecera de Tchaikovsky.
-Obra-prima. -orgulhou-se o Simon Khoury
da escolha do seu amigo.
-Essa música integra uma suíte de jazz
que Shostakovsky compôs em 1930. Há coisas, como a valsa que ouvimos que nada
têm a ver com o jazz, evidentemente, americano. - comentou o Jonas Vieira.
Simon Khoury, com crédito pela boa gravação
ouvida, tinha agora a palavra. Citou alguns amigos seus e se deteve naquele que
lhe é inesquecível, Carlos Kroeber, lembrou que ele foi um grande administrador
de teatro no Rio de Janeiro, mas, para tanto, teve de recusar trabalhos como
ator. E veio a pergunta que fora procrastinada:
-Você não teme a mesma coisa, Jorginho?
Ele respondeu que o seu objetivo é não
ficar parado, não quer ficar no palco, prefere os bastidores. Instigado pelo
Simon Khoury, afirmou que a sua preocupação maior são os 65% desempregados na
classe artística. Hoje – acentuou – o
trabalho no estúdio de televisão não o empolga mais, porque os artistas são
dirigidos por diferentes diretores, cada qual com a sua maneira, e assim, a pessoa não tem ideia do que está fazendo.
Expressou a sua nostalgia pela Janete Clair, que escrevia toda a novela, os
artistas pegavam os capítulos, no Jardim Botânico, numa sexta-feira, para
decorar e gravar.
-As novelas, de hoje, não me agradam. -
concluiu.
-Não agradam a ninguém. - foi o Jonas
Vieira mais incisivo.
-Um diretor corta a cena de um lado, o
outro corta diferentemente.
Jorge Coutinho foi interrompido por uma
observação do Simon Khoury:
-O ator começa heterossexual, no meio
da novela, não tem noção do seu sexo, vira bissexual e acaba bichona.
Depois da Pausa para Meditação, Jonas
Vieira pediu mais música. Simon Khoury, alegando que o caricaturista Aroeira,
homenageado por uma composição sua, não a ouvira como devia, anunciou “Aroeira”
como a próxima atração musical.
Apesar das gozações do Jonas Vieira, de
que Simon se pôs a lamber a sua cria, “Aroeira”, a nosso ver, é de deixar os
irmãos Caruso com inveja.
-Onde nós encontramos seu disco, Simon?
-Na “Loja Arlequim”.
Sérgio Fortes afirma que Jonas Vieira e
Simon Khoury brigam há 50 anos, e parece que é verdade, pois, agora, discutiam
se a “Arlequim” é loja ou livraria.
-Só se encontra lá na livraria?
-Há outras lojas, Simon, mas esqueci os
nomes. - foi a resposta do Simon.
Depois de o Jorge Coutinho ter revelado
a sua idade, 80 anos, o que suscitou piadas do compositor de “Aroeira” sobre o
seu desempenho sexual, a seriedade retornou com as informações trazidas pelo
convidado do Rádio Memória.
- Fui à Brasília porque a tônica era
acabar com o trabalho infantil na televisão. Eu estava lá sozinho, como
presidente do sindicato dos artistas, no meio de advogados e desembargadores; a
TV Globo não enviou um representante, a TV Record, a Bandeirante, o SBT,
também, não.
Na época, passava uma novela na TV
Globo em que a Camila Pitanga e o Lázaro Ramos formavam um casal, e o objetivo,
nessa reunião, era substituir o filho dos dois por um anão.
-Falei com eles que é difícil encontrar
um anão no sindicato, ainda mais anão preto.
Argumentaram – disse ele – que as
crianças do filme “Cidade de Deus”, para chorarem, foram espetadas com agulhas.
-Não é nada disso, contestei, disse a
eles que existe o método Stanislavski, há outros processos para se chorar. O
Marlon Brando, que foi um excelente ator, nunca chorou.
Aqui um adendo: o diretor Bernardo
Bertolucci, num documentário sobre “O Último Tango em Paris”, aludiu à terrível
dificuldade de o Marlon Brando chorar na cena capital do filme, que ele acabou
superando.
Jorge Coutinho encerrou seu depoimento
pedindo que os artistas esqueçam o glamour do estrelato e tomem consciência que
há 65% de desempregados na classe artística.
Com a música escolhida pelo Simon
Khoury do seu compositor vivo preferido, Ennio Morricone, do filme “Quando
Explode a Vingança”, o programa chegou ao fim.
(*) O
Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO compartilha a sua preocupação, pois o
Sergio Fortes só tem atendido a compromissos prementes e tem faltado a todo o
resto.
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