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O BISCOITO MOLHADO
Edição 5003 Data: 14 de dezembro de 2014
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RÁDIO MEMÓRIA A CARGO DO SÉRGIO
PARTE III
-Jonas, vamos para a parte musical que
você me incumbiu de cuidar.
Silêncio tumular. Jonas passava, agora,
para o chá de hortelã inglês, mimo de Natal do Fernando Milfont, que
acompanhava a garrafa de uísque.
-Vamos começar com um compositor
deslumbrante: Wolfgang Amadeus Mozart. A ópera é “Bodas de Fígaro”, com uma
ária que foi popularíssima na época, ”Voi Che Sapete”, cantada pelo maravilhoso
soprano Tatiana Troyanos, que, infelizmente, morreu muito cedo.
Como todas as grandes divas, tinha as
suas idiossincrasias e Sérgio Fortes se referiu a algumas delas.
Entrou a música e eu fui conduzido ao
final dos anos 50, início dos 60, quando as manhãs de domingo, na minha casa,
eram embaladas pelo programa Januário Ferrari da Rádio Guanabara; na primeira
hora eram os “Cancioneiros Famosos” (napolitanos) e, na segunda, apenas óperas.
Enganei-me: a segunda atração era um
musical da Broadway, “Showboat”, especificamente, de Jerome Kern e Oscar
Hammerstein II. A cantora, uma soprano, tinha voz para não fazer feio em alguns
papéis operísticos: Katryn Grayson. Ela cantou “Can't Help Loving That Man”.
Depois de comentar os problemas étnicos
do enredo de “Showboat”, Sérgio Fortes passou para outra composição.
-Agora, uma cantora que fez um sucesso
terrível (no bom sentido). Ela cantava com o Trio Los Panchos.
Pule de dez: Eydie Gormé.
-Composição de Pedro Buenaventura Jesus
del Junco-Redondas, ou apenas Pedro Junco, “Nosotros”, que teve mais de 400
gravações. Esta gravação da Edith Gourmet com o Trio Los Panchos é de 1943.
Sem mais delongas, clichê que o Sérgio
Fortes nem sempre evita, ele foi adiante.
-Agora, um compositor extraordinário,
compôs dezenas de música para o cinema: Nino Rota.
Também escreveu óperas, uma inspirada
opereta “O Chapéu de Palha”, concertos para os grandes teatros, mas Sérgio
Fortes se ateve às suas criações mais populares.
-Ouviremos a música dele “Nino”, tocada
pelo grande acordeonista Richard
Galliano. Como ele é francês, aqui vai: “Gallianô”.
Dieckmann, que considera o acordeom um
instrumento grandiloquente e critica o Sérgio Fortes por admirá-lo, deve ter
torcido o nariz na Rua Triunfo em Santa Teresa. (*)
Logo em seguida, veio a nossa Kiridinha
Te Kanawa.
-Com
ela, “Smoke Gets in You Eyes”, de Jerome Kern e Otto Harbach.
Interpretação de levar ao esquecimento
“The Platters” com falsetes e tudo o mais.
A “Pausa para Meditação”, crônica do
Fernando Milfont”, uma espécie de intermezzo do Rádio Memória, com o
tema “Raro Encontro”, se fez ouvir.
Jonas Vieira ainda bebia seu chá de
hortelã inglês, por isso, não houve as suas costumeiras reflexões sobre a
Pausa. Sérgio talvez tenha pensado no encontro entre o Jair Bolsonaro com a Maria
do Rosário, mas não se manifestou, talvez porque ele não fosse tão raro assim.
A sexta música do Rádio Memória esteve
a cargo de um cantor que, segundo o parceiro do Jonas Vieira, tem um lugar
privilegiado na sua estante: o baixo cosmopolita Cesare Siepi.
-Ele é meio italiano, morou na Suíça,
viveu nos Estados Unidos. Ele canta Begin The Beguine de Cole Porter...
Quebrou a sua frase para comentar a sua
demora, neste domingo, em pôr criações de Cole Porter para se ouvir e
continuou:
-Essa música foi composta quando Cole
Porter estava num cruzeiro pelas Ilhas Fiji. Cole Porter compunha em qualquer
circunstância.
Guardadas as devidas proporções, assim
foi com Debussy, que compôs a suíte “La Mer” numa casa de campo no interior da
França.
Outro compositor prodigioso deleitou os
ouvintes que preferiram trocar a missa dominical das 8h da manhã pelo Rádio
Memória: Michel Legrand.
-Ele compôs a canção “After The Rain”,
que a minha querida Kiri Te Kanawa gravou.
Before, During, After The Rain, com
Michel Legrand e Kiri Te Kanawa é puro deleite, ou “puro deuísque”, diria o
Jonas Vieira.
-Voltemos ao musical “Showboat”, com
dois cantores diferenciados, um deles já foi apresentado neste programa: Katryn
Grayson, o outro é Howard Keel. Eles cantam o dueto “Make Believe”.
Cesare Siepi e Cole Porter foram, de
novo, chamados à cena pelo Sérgio Fortes.
-Cesare Siepi fez um sucesso
extraordinário nos anos 50 e 60. Ele esteve no Brasil na última temporada
lírica, a de 1964, quando veio o elenco completo do Teatro São Carlos de
Nápoles. Lamurientos, podemos declarar que há 50 anos não existem óperas para
valer no Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
Nós, do Biscoito Molhado, não estávamos
na plateia, como ele, mas colamos as orelhas na PRD-5, Rádio Roquette Pinto e
ouvimos tudo. Fomos testemunhas auditivas do triunfo alcançado pela soprano
Magda Olivera quando cantou e bisou a ária “L' Altra Notte In Fondo Al
Mare”, Enciumado, Cesare Siepi, que
deveria colher os maiores aplausos do público,
pois era o protagonista do “Mefistófoles“, de Arrigo Boito, abandonou a
temporada no meio, voltando para casa. Não são apenas as divas que têm
idiossincrasias, os divos, também.
-Cesare Siepi vai cantar “So In Love”.
- anunciou.
Levei as mãos aos céus, milhares de
Rádio Memória com Cole Porter e nada do “So In Love”.
Antes da primeira nota, Sérgio Fortes
fez uma pequena introdução:
-Ouço essa música e fico todo
arrepiado. Ela fecha o filme admirável sobre a vida de Cole Porter,
“De-Lovely”. Cole Porter canta para a mulher que está morrendo “So In Lovely”.
Eu não sei se corresponde a verdade dos fatos.
Depois que essa canção foi ouvida,
imaginei as reações dos diversos tipos de ouvintes.
Os mais jovens: “Sinistro!”
Os mais velhos: “Supimpa!”
Os menos intelectualizados: “É do
balacobaco!”
Os mais intelectualizados: “Os efeitos
sinestésicos do “So In Love”, do Cole Porter”, que sinto na alma, não posso
reproduzir em palavras, por isso, emudeço.
Depois de deixar todo o mundo arrepiado
como ele, o programador musical único desse
dia, partiu para os boleros.
-Lucho Gatica, grande cantor chileno,
está com uns 125, 126 anos. O que,
Peter?... Para eu fazer um abatimento?... Vá lá: 90 anos de idade (na verdade
86 anos). Ele não canta como antes, mas para seus fãs, ele está cantando cada
vez melhor. “Noche de Ronda”, de Agustin Lara, é o que ouviremos com ele.
Depois de acionadas as carrapetas pelo
Peter, que, às vezes, ele chamava de Tonico ou outro nome parecido, entrou no
ar a canção mundialmente conhecida.
-No terreno fértil dos boleros, vem
Luís Miguel interpretar um dos meus favoritos “La Barca”. Conheço umas cem gravações, mas me prendo
mais ao Pedro Vargas, ao Carlos Ramirez,
Depois que a barca partiu, o programa
se aproximou do seu desfecho.
-Jonas, esta é a minha seleção musical.
Espero que tenha gostado.
Nesse instante, o titular do Rádio
Memória acabava de sorver o último gole do chá de hortelã inglês.
-Claro que gostei, Serginho, você tem
bom gosto, senão, não seria meu amigo.
Com os poucos segundos que ainda
restavam, Jonas Vieira, revigorado, citou seus companheiros de copo de leite da
Rua General Glicério e um casal de livreiros da Casa “A Letra Viva”, na Rua
Luiz de Camões”, onde aliás, nós do Biscoito Molhado, compramos o livro “Depoimento”, de Carlos Lacerda.
-Voltaremos, no próximo domingo, no
horário das 8 horas britânico. - prometeu o Jonas Vieira.
Tratei, então, de acertar o meu relógio
pelo meridiano de Greenwich.
(*) Dieckmann
confirmou aqui para o Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO: Torci mesmo!
Sanfona, só as de Paris ou forró. E Nino Rota é repetitivo demais, xô!
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