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O BISCOITO MOLHADO
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RÁDIO MEMÓRIA NO DIA DA TOALHA
2ª PARTE
Jonas ainda não aplacou a sua indignação
contra o vandalismo boçal que grassa nas principais cidades do Brasil.
-Queimar ônibus!... É de uma
imbecilidade!... O empresário até ri porque está tudo no seguro. O prejudicado
é o próprio povo, que anda de ônibus, e não os donos.
-Os donos andam de helicóptero. -
aparteou o Sérgio Fortes.
-É de uma burrice!... Não sabem nem
brigar.
Depois desse desabafo, pediu ao seu
parceiro uma música.
-Agora, o conjunto “Rabo de Lagartixa”.
E citou os componentes do grupo de choro
criado em 1990, alguns deles da Orquestra Sinfônica Brasileira: Daniela
Spielman (sax-soprano e alto), Alessandro Valente (cavaquinho), Jayme Vignoli
(cavaquinho), Marcelo Gonçalves (violão de sete cordas), Alexandre Brasil
(contrabaixo acústico e elétrico) e Beto Cazes (percussão).
A gravação escolhida foi
“Quebra-Queixo”, em que salientou a participação do violonista Caio César.
Empolgado, depois de ouvir a buliçosa
música, exclamou sem pensar em lagartixa:
-Que rabo!
Depois desse momento de Simon Khoury,
Jonas Vieira anunciou a sua opção musical:
-Uma música da dupla Rodgers e
Hammerstein.
Tratava-se de uma canção do musical
Oklahoma, de 1943, que seria transformado em fotogramas impressos em fitas de
celuloide 12 anos depois: “The Surrey With The Fringe On Top”. Em seguida, para
não perder a sua embocadura de professor de inglês, fez a tradução: “Enfeite
Para o Topo da Carruagem”. Antes, com mais ênfase ainda, disse o nome do cantor
dessa gravação, que também era ator; porém, como não traduziu o nome desse
artista, nós, na redação do Biscoito Molhado, o perdemos no momento em que foi
citado.
Talvez, um leitor mais exigente deste
periódico pergunte se há necessidade de tradução de nomes de artistas para
serem por nós entendidos e registrados. Bem, caro leitor, certa vez, o maestro
Júlio Medaglia, num programa radiofônico da Rádio Cultura, informou que a
próxima composição a ser ouvida era do João Sebastião Ribeiro. Imediatamente,
imaginei que tal nome fosse de um dono de padaria, de botequim, ou mesmo de um
empresário de ônibus, não de um compositor; então, o maestro fez a tradução
para o alemão: Johann Sebastian Bach.
Intentamos mostrar, com esse exemplo, a
importância da tradução dos nomes, para serem entendidos por todos os pavilhões
auriculares, mesmo que essa tradução seja para o alemão.
Ah, sim a música que o maestro Júlio
Medaglia colocou para tocar: “Chaconne da Partita nº 2 para Violino Solo”, de
Ribeiro.
Rádio Memória que segue, ou melhor, que
faz uma pausa, e essa pausa era para meditação. O tema da crônica do Fernando
Milfond foi “Ser Crítico”.
Nós, do Biscoito Molhado, gostamos de
confetes (quem não gosta?), mas não repudiamos a crítica a algum trabalho
nosso; isso, sem chegarmos ao exagero do Padre Antônio Vieira, que disse
preferir os que o criticavam, porque o corrigiam, aos que o elogiavam, porque o
corrompiam.
Se nem Shakespeare escapou da crítica –
Voltaire escreveu, quando as suas peças chegaram aos teatros franceses, que se
tratava de obras de um selvagem bêbado – por que ficaremos enfurecidos contra
nossos críticos?
Fernando Milfond não se mostrou muito
compreensivo com os críticos, ou seja, não gostava de criticar, por isso,
quando se encerrou a “Pausa para Meditação” e a palavra retornou ao Jonas
Vieira, este criticou o cronista:
-Discordo de você, Fernando Milfond. Eu
sou crítico de tudo e me orgulho disso.
-O que dizer do que vemos hoje em dia no
Brasil?... - mostrou-se o Sérgio Fortes afinado com o seu parceiro.
É verdade que não passavam na cabeça de
ninguém, naquela hora, críticas favoráveis.
Vieram, então, os reclames comerciais
(uma chatice, que merece críticas tão contundentes quanto as da Bárbara
Heliodora) até que se iniciou, finalmente, a segunda parte do Rádio Memória.
-E aí, Sérgio?
-De novo, a Fernanda Canaud. Agora, com
uma música que eu adoro, “Lua Branca”, de Chiquinha Gonzaga.
Os toques nas teclas dados na medida
exata pela conceituada pianista, trouxeram ao estúdio da Rádio Roquette Pinto e
das casas dos ouvintes uma suave atmosfera contemplativa.
Jonas Vieira trouxe de volta a música
popular norte-americana ao programa.
-Trata-se de um cantor muito popular nos
Estados Unidos nos anos 30, 40 e 50, e, infelizmente, desconhecido no Brasil:
Herbert Jeffries. Seu nome, na verdade, é Umberto Alexander Valentino; um
cantor negro, que nasceu em 1913 e ainda está vivo.
Sérgio Fortes expressou a sua admiração
com a idade do Matusalém cantante, 101 anos, enquanto Jonas Vieira informava
que ele cantaria “Maria Helena”, canção que conhecíamos pela voz do Altemar
Dutra que, infelizmente, não viveu tanto quanto o macróbio americano.
-Que cantor! - aprovou o Sérgio Fortes
depois de ouvi-lo.
E cabia a ele mesmo a próxima gravação.
Informou, então, que repetiria o espetacular grupo de choro “Rabo de
Lagartixa”, com uma criação de Baden Powell e Vinícius de Moraes, “Formosa”.
E, surpreendendo a todos, mais ainda ao
Sérgio, imagino, quando as primeiras notas soaram, destacou-se sobre todos os
instrumentistas a cantora Elza Soares.
Após a audição, ele pediu desculpas por não ter indicado o nome da Elza
Soares.
Também o Sérgio Fortes tem o seu momento
de Dieckmann. - murmurei enquanto me vinha à mente a música instrumental do
Dick Farney cantada de dois domingos atrás.
-A rainha do ritmo. - elogiou a Elza
Soares o titular do programa.
Para encerrar o Rádio Memória do dia 25
de maio de 2014, Jonas Vieira afirmou que daria um presente a si mesmo. Para
tanto, a orquestra era a sua predileta, a de Andre Kostelanetz, e não era uma
só canção, e sim um “medley” delas, compostas por Jerome Kern (a música) em que
despontavam “Smoke Gets In Your Eyes”, “Yesterdays”, “Why Do I Love You?”, “You
Are Love” e “Ol' Man River”.
Constatamos, mais uma vez, que
“Yesterdays”, de Jerome Kern, aqui entre nós, é superior ao “Yesterday”, de
Paul McCartney, embora esta seja considerada por algumas fontes a música mais
tocada da história.
O “demorado abraço”, que parecia ensaiado
pela dupla de apresentadores, fechou o programa.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirO cantor da canção de Oklahoma, cujo nome não foi " traduzido" é Gordon Mac Rae.
ResponderExcluirDo conjunto de choro "Rabo de Lagartixa", apenas Alexandre Brasil pertence à OSB.