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segunda-feira, 5 de maio de 2014

2604 - Cartas e Bilhetes



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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4854                   Data: 19  de  abril de 2014
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CARTAS DOS LEITORES

-“Melômano cinéfilo:
Foi assistir à Carmem atualizada?
Nos áureos tempos do Cine Cachambi chegou a ver um filme calcado na “Aída”? Deram um banho de calda de chocolate na Sophia Loren, devidamente dublada. Os outros personagens eram cantores profissionais.
Da primeira vez que atravessei o Equador vi um filme no “bateau” com a Lollobrigida (de quem o papá era fã), Sean Connery e um fulano que não consigo identificar (são passados 47 anos), o fundo musical era soberbo. Quem era o fulano?
E como se chamou no Brasil um filmeco, batizado nas Oropas como “A moça com a pistola”?   Começava num lugarejo italiano, talvez na Sicília. A praxe para casamentos era sequestrar a mulher amada e devolvê-la no dia obrigando-se a casar com ela, que fingia ter sido forçada. Aconteceu que a jovem topou de saída e o fulano se recusou a casar, alegando que ela era “fácil”. Fugiu para a Inglaterra, acossado pela família da “vítima”. Ela compra um trabuco e vai catá-lo. Fora da roça, aprendeu que as modas eram diferentes (e melhores), podia topar tudo sem se comprometer, descola um emprego de modelo publicitário, enchendo a cidade de cartazes e engrena com um cirurgião afamado (Stanley Baker). Claro que o italiano aparece e propõe voltarem para a Itália, comprarem um boteco (com o $ dela “ça va sans dire”) onde a colocaria trabalhando na caixa. Óbvio ululante: ela joga fora a pistola e o italiano. Era a Mônica Vitti, não sei a data do filme. Gostei demais. Era bom mesmo? Para os jovens tudo é bom...
Ósculos...  da Rosa.”
BM: Minha dileta  Rosa, eu assisti à Sophia Loren achocolatada no papel de Aída, escrava etíope, não no cinema, como você, mas na telinha da televisão. Explico-me: comprei um disco de DVD sobre a vida de Verdi e me surpreendi quando me deparei com outro disco que vinha como bônus: o filme da ópera Aída de 1953.
Sophia Loren dubla o soprano que, segundo o maestro Toscanini, possuía voz de anjo: Renata Tebaldi. Reza a lenda que a própria soprano recebeu o convite para atuar no papel de protagonista, mas preferiu mostrar apenas a voz. Se tal convite fosse feito à sua rival, Maria Callas, não tenho dúvidas de que ela não se deixaria dublar por ninguém, nem pela Gina Lollobrigida que havia recusado o papel, muito menos pela iniciante Sophia Loren.
Um elenco estelar da ópera emprestou as suas vozes para os atores do filme: o meio soprano Ebe Stignani, o barítono Gino Bechi, Giuseppe Campora e a já citada La Voce d'Angelo.
Quem não gostasse de ver o que se passava na tela ou telinha, bastaria fechar os olhos e ouvir. Mas quem se recusaria a apreciar Sophia Loren, com 19 anos de idade, depois do “banho de calda de chocolate”?
Quanto ao filme a que você assistiu num “bateau” acima da Linha do Equador, “A Mulher de Palha”, de 1964, teve como protagonistas a ídolo do seu papá, Gina Lollobrigida, mais Sean Connery, Alexander Knox e Ralph Richardson. Baseia-se no livro publicado na França, em 1953, “La Femme de Paille.”
O filme foi considerado raridade porque foi comercializado apenas em VHS, em uma edição limitada, nos anos 80; porém, para o consolo dos cinéfilos, porque é considerado uma ótima película, já está no mercado em DVD.
No que tange às suas dúvidas sobre “A moça com a pistola”, a fita é de 1968, e se chamou na Europa (países de língua inglesa e italiana): Girl with a Pistol e La Ragazza con la pistola.
A sua resenha sobre a história com a Monica Vitti armada é melhor do que as que encontrei no Google, por isso, fico com ela, e economizo espaço neste periódico.
Obrigado, Rosa, por compartilhar as suas recordações cinematográficas.


-”O redator do Biscoito Molhado leu a coluna de quarta-feira, no Globo, do Francisco Bosco, que se insurge contra o direitista Rodrigo Constantino, que lança a pecha de “esquerda caviar” naqueles que expressam ideias socialistas mesmo sendo endinheirados?... Se não leu, aqui vai um trecho: “... A atitude intelectual de Rodrigo Constantino é desonesta, procedendo por reduções, simplificações grosseiras, maniqueísmos sistemáticos, diversos procedimentos que agem no sentido de obscurecer o trabalho público e coletivo da realidade (sem falar no abuso da dimensão imaginária das polêmicas – recorrendo sempre a argumentos ad hominem e ridicularizando pessoas famosas, a fim de produzir uma espécie de sensacionalismo intelectual.” “ Patuxa Pastel.
BM: Minha bela Patuxa Pastel, parece-me que o Rodrigo Constantino a chamou também de “esquerda caviar”. De tanto ele usar essa expressão, parece que a criou, mas não, ela veio da França: Gauche Caviar. 
Eu li toda coluna do filho do João Bosco em que ele pretendeu demonstrar profundidade, fugir das “simplificações grosseiras” do seu antagonista a cada frase que redigia.
Espremendo todo o seu arrazoado, deduz-se que, para ele, esquerdista é todo aquele que se preocupa com problemas sociais, mesmo sendo bem aquinhoado financeiramente, e direitista aquele que é indiferente a esses problemas.
Pensamos nós que o filho do João Bosco caiu na mesma armadilha das abreviações, que não direi grosseiras. Por que esse rótulo de direita e esquerda? Essas palavras já vêm com vício de origem: esquerda eram os jacobinos liderados por Robespierre, que lançou o Terror na França, guilhotinando cerca de 17 mil pessoas, e direita eram os girondinos,  os conservadores.
Passaram os anos, e se multiplicaram na história personalidades que se assumiram como esquerdistas, alardeando a sua preocupação com a pobreza, mas, com isso, enchendo os seus próprios bolsos. Antes, mataram em nome do povo, e, hoje, em nome do povo, enriquecem (os mais truculentos ainda matam).
A história nos ensina a desconfiar das pessoas que alardeiam a sua preocupação  com o bem-estar social.
Como disse Millor Fernandes, que nunca se declarou da esquerda ou da direita, e sim um anarquista: “Fizeram da ideologia um investimento”.

-”Na recente visita que o escritor Coelho Neto fez à redação do Biscoito Molhado, foi dito que ele foi relegado ao ostracismo pelos modernistas. Não foi só isso, ele sofreu patrulhamento ideológico dos comunistas. Jorge Amado, no seu livro “Vida de Luís Carlos Prestes”, declarou que, nas milhões de linhas das obras de Coelho Neto, não havia uma só sobre aqueles que vendiam a Amazônia, nem um só desaforo, nem um só xingamento.” CAT
BM: Meu caro CAT, como disse Stendhal “A política na literatura é um tiro no meio de um concerto”.
Nesse livro sobre “O Cavaleiro da Esperança”, Jorge Amado acionou a metralhadora no concerto e a arte não escapou viva.
Anos depois, refeito da sua ilusão ideológica, já escarmentado, Jorge Amado escreveu “Navegação de Cabotagem” e, nesse livro, revela que ao ver um metalúrgico barbudo discursando, em meados dos anos 70, não se sentiu nem um pouco empolgado.
Estava curado.

 

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