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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4870 Data:17
de maio de 2014
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MAIS CARTAS DOS LEITORES
-Quando é que o Ratinho vai ao Rádio
Memória mostrar o seu vasto conhecimento sobre Noel Rosa, vida e obra? Eu, até
agora. Só o conheço como correspondente internacional do Biscoito Molhado, que
cobriu o atentado às torres gêmeas e à caça, seguida de morte, ao ditador da
Líbia, Muammar Kadafi; ou seja, apenas em momentos angustiantes. Gostaria,
então, de ver, ou ouvir, o Ratinho discorrendo sobre as criações do seu ídolo,
Noel Rosa, no programa dominical da Roquette Pinto das 8h às 9h. Falando em
ídolo, quando o Tinoco vai ao Rádio Memória falar sobre Porfirio Rubirosa? Teófilo
BM: Transmitirei as suas perguntas ao Sérgio Fortes; ao
Jonas Vieira não, porque ele ainda não metabolizou a troca do seu nome pelo do
pastor Jonas Resende. Não posso, por isso, me aproximar dele.
Não sei se o fato de o Dieckmann, quando
tomou parte do mencionado programa, ter dito que Ratinho também é conhecido
como Rato Feroz, está depondo contra o fato de o convite ainda não ter sido
feito a ele. Vai que, Ratinho, pretendendo colocar uma gravação rara do Poeta
da Vila, seja obrigado a ceder o tempo para a Pausa para Meditação?... Há
risco, talvez, de a sua ferocidade aflorar.
Quanto ao Biscoito Molhado, apraz-nos um
Rádio Memória exclusivamente sobre Noel Rosa.
Consideramos ótima a ideia de o Tinoco se apresentar
lá discorrendo sobre Porfírio Rubirosa, embora o playboy não fosse cantor,
apenas cantava as mulheres. E o ideal seria que o anfitrião fosse o Simon
Khoury. Já imagino uma miríade de
fofocas sobre celebridades... Mas será que o Jonas Veira concordaria?... Quanto
ao Sérgio Fortes, tenho certeza que sim.
-Lembrei-me dos bancos escolares, em
Coimbra, quando topei com os versos que Fernando Pessoa exaltou o Rei Dom
Sebastião citados num desses Sabadoidos.
Fernando Pessoa dedicou ao Rei Dom
Sebastião versos, Camões, os Lusíadas inteiros. Não teria sido melhor para
Portugal que esse rei fosse uma besta sadia, um cadáver adiado que procria? Itália
BM: Antes das nossas palavras, vamos transcrever essa parte do poema épico
“Mensagem”, de Fernando Pessoa:
“Louco, sim, louco, porque quis grandeza
Qual a Sorte a não dá.
Não coube em mim minha certeza;
Por isso onde o areal está
Ficou meu ser que houve, não o que há.
Minha loucura, outros que me a tomem
Com o que ia.
Sem a loucura que é o homem
Mais do que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?
Enlouquecido pela glória militar e pela
riqueza que advém dela, o jovem rei Dom Sebastião liderou uma cruzada contra os gentios, como
se falava na época. O pretexto foi
ajudar Mulei Mohammed a recuperar o trono de Marrocos e pôr fim às ameaças às
costas portuguesas na África.
Na encarniçada batalha de
Alcácer-Quibir, travada entre as tropas portuguesas e marroquinas, em 1578, o
Rei Dom Sebastião desapareceu. A sucessão do trono português se tornou complexa
e, 2 anos depois, em 1580,a dinastia filípina de Espanha se apossou das terras
lusitanas, perdendo Portugal, assim, a sua independência.
Criou-se, então, o mito de que o rei Dom
Sebastião retornaria para recuperar o trono e, consequentemente, a grandeza de
Portugal.
Multidões iludidas subiam o Alto de
Santa Catarina, em Lisboa, confiantes na chegada dos navios, com o Rei Dom
Sebastião. Surgindo, então, segundo os estudiosos, a expressão “a ver navios”.
O “areal”, do poema de Fernando Pessoa,
é uma metáfora da batalha da fatídica batalha de Alcácer-Quibir.
No trecho declamado da canção “É
Proibido Proibir”, de Caetano Veloso, ele se reporta a essa imagem do poema de
Fernando Pessoa, como se segue:
“Caí no areal na hora adversa que Deus
concede aos seus para o intervalo em que esteja a alma imersa em sonhos. Que
importa o areal, a morte, a desventura, se com Deus guardei-me. É o que me sonhei,
que eterno dura e esse que regressarei.”
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-Confesso que, até hoje, não li romance
algum do Charles Dickens, no entanto, penso que posso sustentar uma conversa
sobre ele por mais de duas horas, porque assisti a todos os filmes e
minisséries baseados nas suas obras que foram lançadas no cinema e televisão.
Por isso, interessou-me a entrevista que ele concedeu na redação do Biscoito
Molhado. Sobre a mesma, gostaria de fazer uma consideração acerca da desilusão
que Charles Dickens sofreu ao rever o seu primeiro grande amor, Maria Beadnell,
porque ela estava feia e gorducha. Ora, passados vinte e cinco anos, ele queria
que ela guardasse o frescor da mocidade?... Se fosse nos dias de hoje, quando
prevalece a indústria da beleza, poderíamos ter uma Maria Bednell submetida a
cirurgias plástica, com silicones nas partes mais delicadas do seu corpo, de
cabelos alourados pelos cabeleireiros, mas, ainda assim, longe do frescor do
tempo passado.
E o próprio Charles Dickens não se olhou
no espelho antes do reencontro com a primeira amada? Ele estava careca e
enrugado, com todo o respeito. Charles Dickens se assemelhava mais com Micawber
do que com David Coperfield. Moderato.
BM: Meu caro Moderato, leia os livros antes ou depois de assistir aos filmes,
não importa a ordem. Vi, dia desses, a minissérie de “Os Miseráveis”, adaptada
por Didier Decoin, coprodução francesa, italiana, americana, espanhola e alemã,
de 2000. Gostei muito da minissérie, mas estranhei que “Gavroche” seja menino,
quando aparece ajudando Jean Valjean a se esconder com a menina Cosette e
permanece menino quando ela já é uma moça. O Gavroche, que Victor Hugo
descreveu como um gaiato que, segundo o escritor, tem frases como Talleyrand,
com o mesmo cinismo, porém mais honrado, na aludida minissérie, não cresce, não
se torna rapaz. Licença poética ou uma doença genética raríssima?
Quanto à Maria Bednell, ela, filho de
banqueiro, deixou Charles Dickens quando ele era pobre e o procurou quando a
literatura fez dele um homem abastado (não tanto quanto um banqueiro, é claro).
Queria ela somar as fortunas?... Charles Dickens parece que não notou isso
também.
Para encerrar, meu caro Moderado, se
você é aficionado do jogo do bicho, aqui vai um palpite: o milhar 9430, que era
o número que identificava Jean Valjean, principal personagem de “Os
Miseráveis”, nas galés.
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