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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4869 Data:15
de maio de 2014
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LEMBRANDO FARNÉSIO DUTRA e SILVA, XARÁ DO DIECKMANN
3ª PARTE
-A música é de Rodgers e Hart. -
informou o Dieckmann aludindo ao “The Lady is a Tramp”, não à letra do “Spiro's
song”.
O êxtase do Jonas Vieira pela música
estadunidense nunca esmaece, e ele vibrou:
-Era qualidade de ponta a ponta. Os
quatro grandes compositores americanos são: Cole Porter, sem dúvida alguma...
No momento em que ele ia citar os outros
três, a minha gravação desse Rádio Memória teve um mal súbito, isso posto, aqui
vão os outros três no nosso parecer: Duke Ellington, George Gershwin e Irving
Berlin.
No momento da “Pausa para a Meditação”,
quando o Fernando Milfond dava parabéns para as mamães, o meu gravador se
restabeleceu.
Ainda sob o rescaldo dessa crônica,
Jonas Vieira comentou que o Sérgio Fortes era um felizardo, pois ainda tinha
uma mamã.
-E você, Dieckmann?
-A minha mãe já partiu, mas eu tenho um
pai que também é uma mãe.
-Jonas, o pai do Dieckmann já escreveu dois
livros. - interveio o Sérgio.
Citados os nomes dos dois livros, o
primeiro, aliás, eu li, “Conta outra, vô”, Jonas Vieira retomou a palavra:
-Então, a gente volta para Dick Haymes.
Ele casou seis vezes.
-Ele acreditava piamente no matrimônio.
- deduziu o Sérgio Fortes.
Bernard Shaw, naquele momento, repetiria
a sua frase: “O segundo casamento é a vitória da esperança sobre a
experiência.”
E foi adiante o titular do programa:
-Dick Haymes foi um grande sucesso nos
anos 40, deu uma decaída nos anos 50, e bebeu muito. Era um cara bonito, boa
estampa.
Depois desse momento de Simon Khoury,
voltou à sua vida profissional.
-Agora, para evidenciar a influência que
exerceu sobre Dick Farney, aqui vai uma obra-prima, uma das minhas paixões,
“Laura”, composta por Johnny Mercer.
A gravação, depois de tocada, deixou o
Jonas Vieira ainda mais inebriado.
-Que maravilha! Há uma versão de
“Laura”, do Braguinha, gravada por Jorge Goulart.
E pôs-se na cantarolar a primeira parte
dessa versão. Dieckmann lhe lembrou da admiração que o crítico musical do
Biscoito Molhado nutre pelo seu talento canoro e ele concluiu com modéstia a
“canja” que concedera naquela manhã dominical:
-Qualquer semelhança com Dick Haymes é
mera coincidência.
Era o Dieckmann agora quem falava:
-Vou contar agora uma historinha...
“Conta outra, tio.” - pensei no seu
sobrinho que gosta de historinhas.
E Dieckmann contou:
-Em 1949, foi inaugurado, no Rio, o
“Fã-Clube Sinatra-Farney. Três garotas, primas, fundaram: Joca, Dida e Teresa
Queiroz. Essa história é importantíssima. A sede era no porão da Rua Meira
Brito. Para ser membro, era obrigatório passar por um teste. Todos tinham de
ter algum talento. O Dick Farney mandava fotos autografadas... havia todo um
relacionamento.
Sem ser interrompido, prosseguiu:
-Simultaneamente, apareceu outro: o
“Fã-Clube Dick Haymes-Lúcio Alves. Os membros dos dois fãs-clubes não sabiam,
mas Dick Farney e Lúcio Alves eram amigos. Eles deixaram o negócio progredir,
mas eram amigos fora dali.
Eu ouvia o Dieckmann e me recordava das
suas perorações nas segundas-feiras, nessa hora, mais ou menos, no Departamento
de Marinha Mercante, quando ocupava um cargo de chefia. Ali, no Rádio Memória,
o chefe era outro, que, interessado, como nós, na “historinha”, lhe cedeu todo
o tempo necessário. E ele foi adiante:
-O Ruy Castro conta que um dia apareceu
um membro do Sinatra-Farney Clube, que era o João Donato, que,
inadvertidamente, assoviou uma música de Lúcio Alves: “Eu quero samba”. Foi
imediatamente chamado de Calabar, de Judas Iscariotes. O que aconteceu?...
Lúcio Alves e Dick Farney resolveram dar um fim ao conflito, mas isso vai ficar
para o final do programa.
-”Mas isso vai ficar para o final do
programa...” Dieckmann tinha de recorrer ao suspense. Guardadas as devidas
proporções cinematográficas: assim como Billy Wilder procurava o “toque de
Lubitsch”, Dieckmann procura o “toque de Hitchcock”.
-Agora, eu vou pedir ao famoso Peter que
toque “Alguém como tu”, gravação de 1952, de Jair Amorim e José de Abreu.
Depois de atendido o pedido do
Dieckmann, ele retornou:
-E, agora, eu vou pedir a música
“Misty”, de Johnny Burke e Errol Garner. Não vou dizer que é instrumental para
não cometer o mesmo erro.
-Um desatino. - aparteou o Sérgio
Fortes.
Dessa vez, ele não se equivocou, era
música instrumental, e a excelência do Dick Farney como pianista, finalmente, sobressaiu.
(*)
-Ele toca relativamente bem. - brincou o
Jonas Vieira.
-Tremendo pianista! - exclamou o Sérgio
Fortes.
-É o tal negócio: além de pianista por
formação, sofreu influência americana... Ficou perfeito. - disse.
Como temia Sérgio Fortes (ele já
confessou isso, em programas passados), o Dieckmann tentava assumir as rédeas
do Rádio Memória.
-Da nossa série “Copacabana”, vamos
ouvir “Sábado em Copacabana”, de Dorival Caymmi.
Rádio Memória não trata apenas de
reminiscências, um e outro tema da atualidade é considerado ou desconsiderado,
como queiram.
Assim, um indignado Jonas Vieira tomou a
palavra.
-Não falam mais daquele dançarino da
Regina Casé, por que?...
Porque ele se envolvia com traficantes
de droga – foi pensado, mas não foi dito.
-É um silêncio total. E a mãe do
rapaz?... Mãe?...
Temia-se, pela atração que as gambiarras
exercem sobre ela, que surgisse uma nova Regina Gordilho. - devem ter pensado.
-O negócio é incriminar a polícia. -
concluiu o Jonas Vieira.
-Ruy Castro escreveu uma crônica sobre a
polícia muito boa. - disse o Sérgio Fortes.
-A culpa dessa senhora linchada em São
Paulo é a impunidade. - bradou.
Depois do desabafo, veio a descontração.
-Jonas, para satisfazer a curiosidade
dos ouvintes sobre a rivalidade dos fãs-clubes terminou com uma música, “Teresa
da Praia”, de Tom Jobim e Billy Blanco.
Billy Blanco, ao escrever a letra, não
se lembrou que Tom Jobim era casado com uma Teresa, houve um dissabor... Mas
isso é outra historinha.
Depois da música, o convidado do
programa retomou o microfone.
-Essa gravação de “Teresa da Praia” foi
um dos maiores sucessos de 1954 do Dick Farney e o Lúcio Alves. Os dois dosaram
as suas técnicas vocais para que um não subjugasse o outro. Na gravação que
ouvimos, Dick Farney canta com o contrabaixista do Trio, o Sabá.
Sabá, Dieckmann?... Mas o Dick Farney
disse Toninho... Bem, se a Teresa da Praia ainda vive, vou lhe perguntar se foi
o Toninho ou o Sabá. (**)
No encerramento do programa, Dieckmann,
dizendo-se representante dos três Dick, agradeceu.
(*) Dieckmann
garantiu ao Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO que o LP/CD “O Jazz Moderno
de Dick Farney” é o que melhor concentra a excelência do pianista e, nele, a
faixa Saint Louis Blues é espetacular. A faixa foi levada ao ar no primeiro
Radio Memória em que participou, aduziu.
(**) O
Dieckmann confessou, envergonhadíssimo, que o cantor, excelente, por sinal, é o
Toninho Pinheiro, baterista do trio.
Corrigindo: a rua é Moura Brito, e não Meira Brito.
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