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sexta-feira, 16 de maio de 2014

2619 - Dick Farney, Volume II, Side One and Two



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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4869                                  Data:15 de  maio de 2014
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LEMBRANDO FARNÉSIO DUTRA e SILVA, XARÁ DO DIECKMANN
3ª PARTE

-A música é de Rodgers e Hart. - informou o Dieckmann aludindo ao “The Lady is a Tramp”, não à letra do “Spiro's song”.
O êxtase do Jonas Vieira pela música estadunidense nunca esmaece, e ele vibrou:
-Era qualidade de ponta a ponta. Os quatro grandes compositores americanos são: Cole Porter, sem dúvida alguma...
No momento em que ele ia citar os outros três, a minha gravação desse Rádio Memória teve um mal súbito, isso posto, aqui vão os outros três no nosso parecer: Duke Ellington, George Gershwin e Irving Berlin.
No momento da “Pausa para a Meditação”, quando o Fernando Milfond dava parabéns para as mamães, o meu gravador se restabeleceu.
Ainda sob o rescaldo dessa crônica, Jonas Vieira comentou que o Sérgio Fortes era um felizardo, pois ainda tinha uma mamã.
-E você, Dieckmann?
-A minha mãe já partiu, mas eu tenho um pai que também é uma mãe.
-Jonas, o pai do Dieckmann já escreveu dois livros. - interveio o Sérgio.
Citados os nomes dos dois livros, o primeiro, aliás, eu li, “Conta outra, vô”, Jonas Vieira retomou a palavra:
-Então, a gente volta para Dick Haymes. Ele casou seis vezes.
-Ele acreditava piamente no matrimônio. - deduziu o Sérgio Fortes.
Bernard Shaw, naquele momento, repetiria a sua frase: “O segundo casamento é a vitória da esperança sobre a experiência.”
E foi adiante o titular do programa:
-Dick Haymes foi um grande sucesso nos anos 40, deu uma decaída nos anos 50, e bebeu muito. Era um cara bonito, boa estampa.
Depois desse momento de Simon Khoury, voltou à sua vida profissional.
-Agora, para evidenciar a influência que exerceu sobre Dick Farney, aqui vai uma obra-prima, uma das minhas paixões, “Laura”, composta por Johnny Mercer.
A gravação, depois de tocada, deixou o Jonas Vieira ainda mais inebriado.
-Que maravilha! Há uma versão de “Laura”, do Braguinha, gravada por Jorge Goulart.
E pôs-se na cantarolar a primeira parte dessa versão. Dieckmann lhe lembrou da admiração que o crítico musical do Biscoito Molhado nutre pelo seu talento canoro e ele concluiu com modéstia a “canja” que concedera naquela manhã dominical:
-Qualquer semelhança com Dick Haymes é mera coincidência.
Era o Dieckmann agora quem falava:
-Vou contar agora uma historinha...
“Conta outra, tio.” - pensei no seu sobrinho que gosta de historinhas.
E Dieckmann contou:
-Em 1949, foi inaugurado, no Rio, o “Fã-Clube Sinatra-Farney. Três garotas, primas, fundaram: Joca, Dida e Teresa Queiroz. Essa história é importantíssima. A sede era no porão da Rua Meira Brito. Para ser membro, era obrigatório passar por um teste. Todos tinham de ter algum talento. O Dick Farney mandava fotos autografadas... havia todo um relacionamento.
Sem ser interrompido, prosseguiu:
-Simultaneamente, apareceu outro: o “Fã-Clube Dick Haymes-Lúcio Alves. Os membros dos dois fãs-clubes não sabiam, mas Dick Farney e Lúcio Alves eram amigos. Eles deixaram o negócio progredir, mas eram amigos fora dali.
Eu ouvia o Dieckmann e me recordava das suas perorações nas segundas-feiras, nessa hora, mais ou menos, no Departamento de Marinha Mercante, quando ocupava um cargo de chefia. Ali, no Rádio Memória, o chefe era outro, que, interessado, como nós, na “historinha”, lhe cedeu todo o tempo necessário. E ele foi adiante:
-O Ruy Castro conta que um dia apareceu um membro do Sinatra-Farney Clube, que era o João Donato, que, inadvertidamente, assoviou uma música de Lúcio Alves: “Eu quero samba”. Foi imediatamente chamado de Calabar, de Judas Iscariotes. O que aconteceu?... Lúcio Alves e Dick Farney resolveram dar um fim ao conflito, mas isso vai ficar para o final do programa.
-”Mas isso vai ficar para o final do programa...” Dieckmann tinha de recorrer ao suspense. Guardadas as devidas proporções cinematográficas: assim como Billy Wilder procurava o “toque de Lubitsch”, Dieckmann procura o “toque de Hitchcock”.
-Agora, eu vou pedir ao famoso Peter que toque “Alguém como tu”, gravação de 1952, de Jair Amorim e José de Abreu.
Depois de atendido o pedido do Dieckmann, ele retornou:
-E, agora, eu vou pedir a música “Misty”, de Johnny Burke e Errol Garner. Não vou dizer que é instrumental para não cometer o mesmo erro.
-Um desatino. - aparteou o Sérgio Fortes.
Dessa vez, ele não se equivocou, era música instrumental, e a excelência do Dick Farney como pianista, finalmente, sobressaiu. (*)
-Ele toca relativamente bem. - brincou o Jonas Vieira.
-Tremendo pianista! - exclamou o Sérgio Fortes.
-É o tal negócio: além de pianista por formação, sofreu influência americana... Ficou perfeito. - disse.
Como temia Sérgio Fortes (ele já confessou isso, em programas passados), o Dieckmann tentava assumir as rédeas do Rádio Memória.
-Da nossa série “Copacabana”, vamos ouvir “Sábado em Copacabana”, de Dorival Caymmi.
Rádio Memória não trata apenas de reminiscências, um e outro tema da atualidade é considerado ou desconsiderado, como queiram.
Assim, um indignado Jonas Vieira tomou a palavra.
-Não falam mais daquele dançarino da Regina Casé, por que?...
Porque ele se envolvia com traficantes de droga – foi pensado, mas não foi dito.
-É um silêncio total. E a mãe do rapaz?... Mãe?...
Temia-se, pela atração que as gambiarras exercem sobre ela, que surgisse uma nova Regina Gordilho. - devem ter pensado.
-O negócio é incriminar a polícia. - concluiu o Jonas Vieira.
-Ruy Castro escreveu uma crônica sobre a polícia muito boa. - disse o Sérgio Fortes.
-A culpa dessa senhora linchada em São Paulo é a impunidade. - bradou.
Depois do desabafo, veio a descontração.
-Jonas, para satisfazer a curiosidade dos ouvintes sobre a rivalidade dos fãs-clubes terminou com uma música, “Teresa da Praia”, de Tom Jobim e Billy Blanco.
Billy Blanco, ao escrever a letra, não se lembrou que Tom Jobim era casado com uma Teresa, houve um dissabor... Mas isso é outra historinha.
Depois da música, o convidado do programa retomou o microfone.
-Essa gravação de “Teresa da Praia” foi um dos maiores sucessos de 1954 do Dick Farney e o Lúcio Alves. Os dois dosaram as suas técnicas vocais para que um não subjugasse o outro. Na gravação que ouvimos, Dick Farney canta com o contrabaixista do Trio, o Sabá.
Sabá, Dieckmann?... Mas o Dick Farney disse Toninho... Bem, se a Teresa da Praia ainda vive, vou lhe perguntar se foi o Toninho ou o Sabá. (**)
No encerramento do programa, Dieckmann, dizendo-se representante dos três Dick, agradeceu.

(*) Dieckmann garantiu ao Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO que o LP/CD “O Jazz Moderno de Dick Farney” é o que melhor concentra a excelência do pianista e, nele, a faixa Saint Louis Blues é espetacular. A faixa foi levada ao ar no primeiro Radio Memória em que participou, aduziu.

(**) O Dieckmann confessou, envergonhadíssimo, que o cantor, excelente, por sinal, é o Toninho Pinheiro, baterista do trio.

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