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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4867 Data:12
de maio de 2014
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LEMBRANDO FARNÉSIO DUTRA e SILVA, XARÁ DO DIECKMANN
1ª PARTE
-Bom dia, queridos ouvintes.
Imediatamente, o Jonas Vieira se
corrigiu, pois não só o redator do Biscoito Molhado acorda cedo aos domingos
para ouvir o Rádio Memória.
-Bom-dia, queridos ouvintes. Não é isto,
Sérgio?
O filho do grande barítono assumiu logo
o seu papel de Homem-Calendário.
-Dia 11 de maio, neste dia...
-Hoje é o Dia das Mães. - interferiu o
titular do programa.
Veio-me logo à mente a edição do
Biscoito Molhado do Dia das Mães do ano passado (vi depois, nos alfarrábios,
que era o 2388) em que participaram o Dieckmann, a Branca e o Jonas Vieira, sem
o Sérgio Fortes. Entre as gravações solicitadas pela Branca estava a de 1941,
“Boogie Woogie Bugle Boy”, com “The Andrew Sisters”.
Sérgio Fortes continuou:
-Em 1862, Ferdinand Carré inventou a
primeira geladeira.
-A verdadeira libertação da mulher não
foi a pílula e sim a invenção da máquina de lavar. - interveio de novo o Jonas
Vieira, provocando as feministas que, além de chamá-lo de porco chauvinista,
poderiam esperá-lo lá fora na rua. (*)
-Em 1891, ocorreu a emancipação da
cidade de Venâncio Aires no Rio Grande do Sul.
Em seguida, o Homem-Calendário comentou
que ele e o Dieckmann, o convidado do programa, têm um amigo que mora nessa
cidade. A citação do seu nome bastou para que o Dieckmann distribuísse
bons-dias com uma efusividade de político em campanha eleitoral. Entendi,
então, a razão de o Sérgio Fortes se referir ao invento de Ferdinand Carré: depois
de muitos meses, Dieckmann saía da geladeira e retornava ao Rádio Memória.
Sérgio Fortes prosseguiu:
-Em 1927 foi inaugurada a Academia de
Artes e Ciências Cinematográficas que confere o Oscar.
-Em 1902, nasceu Bidu Saião.
Aqui, um parêntese: sempre que lembram o
nome do mais célebre soprano brasileiro, vem-me aos ouvidos a sua maviosa voz e
uma frase maldosa dos seus áureos tempos de Metropolitan Opera House, dita por
engraçadinhos brasileiros, que meu pai me dizia: “Levantaram o saião e viram o
bidu.”
Outros nomes relacionados ao 11 de maio
foram mencionados, uns mais esquecidos do que outros, até que Sérgio Fortes
falou da morte do cantor jamaicano de reggae, Bob Marley, em 1981. Imaginei,
então, que a bandeira da Jamaica seria hasteada a meio pau nas plantações de
maconha.
-E o santo do dia? - apressou-o o Jonas
Vieira.
-Santa Joana.
Certamente que não se tratava da Joana
cuja casa recebia muitas visitas.
-E Frei Galvão. - adicionou.
Quem conhece bem o Dieckmann, ou Dieck,
já pressentia que a sua língua estava em cócegas e, por isso, aproveitou o
momento católico para entrar com a sua prédica:
-E São Serapião, o santo do dia 14 de
novembro. O que tem o dia 14 de novembro com o dia 11 de maio? - era evidente
que se tratava de uma pergunta retórica, pois ele não pretendia que apartes
cortassem seu raciocínio.
-No dia 14 de novembro nasceu Dick
Farney, nasci nesse dia, sou também o seu xará de data, considero-me, por isso,
uma grande autoridade em Dick Farney.
Dieckmann, sabemos nós, segue a
filosofia do boxeador Cassius Clay, que dizia que bem que tentava ser modesto,
mas logo lhe faltavam argumentos.
E seguiu adiante:
-Foi morador de Santa Teresa (outra
coincidência entre os dois) e se chamava Farnésio Dutra e Silva. Seu pai era
pianista (**) e sua mãe lhe ensinou canto, tocavam música clássica. Dick Farney
teve todo um embasamento musical. Apresentando-se na Rádio Guanabara, em 1934,
tocou um prelúdio de Chopin e a Dança Ritual do Fogo de Manuel de Falla.
-A formação dele era clássica. -
ratificou o Sérgio Fortes.
Dieckmann não perdeu a verbosidade,
apesar das interrupções.
-Há
uma música “Tenderly”, que foi gravada pela primeira vez por Sarah Vaughan. O
segundo a gravá-la foi Dick Farney. Depois um monte de gente gravou (Nat King
Cole, Billie Holiday, entre outros).
E depois de tantas palavras, reinaram
absolutas as notas musicais.
Jonas Vieira cedeu a vez ao convidado do
programa, para se dirigir ao público após a primeira atração musical:
-Queridos ouvintes, acabamos de ouvir
“Tenderly”, música de 1946, da autoria de Walter Gross.
-Falando em data, nasceu em 14 de
novembro de 1921 e morreu cedo. - manifestou-se o Sérgio Fortes.
-Morreu em 1987, viveu 66 anos. - disse
a grande autoridade em Dick Farney, e acrescentou:
-Outro que nasceu no dia 14 de novembro
foi o Príncipe Charles.
Sorriu com mordacidade ao comentar que
ele era o eterno pré-candidato. E o que tudo indica, o outro xará de data do
Bob Dieckmann, assim permanecerá por algumas décadas, pois a Rainha Elizabeth II
tem demonstrado uma saúde de quem viverá mais do que a Rainha-Mãe que, como
sabemos, chegou aos 101 anos de idade.
Então, a voz do titular do Rádio Memória
se impôs:
-A história conta que Dick Farney foi
aos Estados Unidos com a expectativa de fazer o mesmo sucesso da Carmem
Miranda, do Bando da Lua, do Ary Barroso.
-Seus colegas do Cassino da Urca, Jonas.
- não perdeu a oportunidade o Sérgio Fortes para gozá-lo.
-Eu era uma criancinha. - reagiu.
O riso sarcástico do Dieckmann se fez
ouvir ao fundo.
(*) Isto
jamais aconteceria, pois a gravação fora feita no dia 9.
(**) O pai do Dick, Fabrício Dutra, além de músico,
era dono
de um laboratório no Rio de Janeiro, que fabricava a famosa “Matricária F
Dutra”, pozinho que as mães passavam e até hoje passam, nas gengivas de seus
bebês para aliviar as dores causadas pelo nascimento dos dentes. Entretanto, é
fato que os primeiros contatos com a música recebeu de seu pai. Contavam seus
amigos, que Dick, tinha “ouvido absoluto”, ou seja, reconhecia notas musicais e
tonalidades em qualquer ruído. Uma das histórias que se conta sobre ele, é que
quando aprontava alguma arte e seu pai o reprimia com algumas cintadas, gritava
em que tom apanhava...
A frase inicial é "Bom-dia, querido ouvinte", o que explica a posterior correção para "Bom-dia, queridos ouvintes.
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