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quarta-feira, 14 de maio de 2014

2617 - Dick Farney, Side One



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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4867                                   Data:12 de  maio de 2014
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LEMBRANDO FARNÉSIO DUTRA e SILVA, XARÁ DO DIECKMANN
1ª PARTE

-Bom dia, queridos ouvintes.
Imediatamente, o Jonas Vieira se corrigiu, pois não só o redator do Biscoito Molhado acorda cedo aos domingos para ouvir o Rádio Memória.
-Bom-dia, queridos ouvintes. Não é isto, Sérgio?
O filho do grande barítono assumiu logo o seu papel de Homem-Calendário.
-Dia 11 de maio, neste dia...
-Hoje é o Dia das Mães. - interferiu o titular do programa.
Veio-me logo à mente a edição do Biscoito Molhado do Dia das Mães do ano passado (vi depois, nos alfarrábios, que era o 2388) em que participaram o Dieckmann, a Branca e o Jonas Vieira, sem o Sérgio Fortes. Entre as gravações solicitadas pela Branca estava a de 1941, “Boogie Woogie Bugle Boy”, com “The Andrew Sisters”.
Sérgio Fortes continuou:
-Em 1862, Ferdinand Carré inventou a primeira geladeira.
-A verdadeira libertação da mulher não foi a pílula e sim a invenção da máquina de lavar. - interveio de novo o Jonas Vieira, provocando as feministas que, além de chamá-lo de porco chauvinista, poderiam esperá-lo lá fora na rua. (*)
-Em 1891, ocorreu a emancipação da cidade de Venâncio Aires no Rio Grande do Sul.
Em seguida, o Homem-Calendário comentou que ele e o Dieckmann, o convidado do programa, têm um amigo que mora nessa cidade. A citação do seu nome bastou para que o Dieckmann distribuísse bons-dias com uma efusividade de político em campanha eleitoral. Entendi, então, a razão de o Sérgio Fortes se referir ao invento de Ferdinand Carré: depois de muitos meses, Dieckmann saía da geladeira e retornava ao Rádio Memória.
Sérgio Fortes prosseguiu:
-Em 1927 foi inaugurada a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas que confere o Oscar.
-Em 1902, nasceu Bidu Saião.
Aqui, um parêntese: sempre que lembram o nome do mais célebre soprano brasileiro, vem-me aos ouvidos a sua maviosa voz e uma frase maldosa dos seus áureos tempos de Metropolitan Opera House, dita por engraçadinhos brasileiros, que meu pai me dizia: “Levantaram o saião e viram o bidu.”
Outros nomes relacionados ao 11 de maio foram mencionados, uns mais esquecidos do que outros, até que Sérgio Fortes falou da morte do cantor jamaicano de reggae, Bob Marley, em 1981. Imaginei, então, que a bandeira da Jamaica seria hasteada a meio pau nas plantações de maconha.
-E o santo do dia? - apressou-o o Jonas Vieira.
-Santa Joana.
Certamente que não se tratava da Joana cuja casa recebia muitas visitas.
-E Frei Galvão. - adicionou.
Quem conhece bem o Dieckmann, ou Dieck, já pressentia que a sua língua estava em cócegas e, por isso, aproveitou o momento católico para entrar com a sua prédica:
-E São Serapião, o santo do dia 14 de novembro. O que tem o dia 14 de novembro com o dia 11 de maio? - era evidente que se tratava de uma pergunta retórica, pois ele não pretendia que apartes cortassem seu raciocínio.
-No dia 14 de novembro nasceu Dick Farney, nasci nesse dia, sou também o seu xará de data, considero-me, por isso, uma grande autoridade em Dick Farney.
Dieckmann, sabemos nós, segue a filosofia do boxeador Cassius Clay, que dizia que bem que tentava ser modesto, mas logo lhe faltavam argumentos.
E seguiu adiante:
-Foi morador de Santa Teresa (outra coincidência entre os dois) e se chamava Farnésio Dutra e Silva. Seu pai era pianista (**) e sua mãe lhe ensinou canto, tocavam música clássica. Dick Farney teve todo um embasamento musical. Apresentando-se na Rádio Guanabara, em 1934, tocou um prelúdio de Chopin e a Dança Ritual do Fogo de Manuel de Falla.
-A formação dele era clássica. - ratificou o Sérgio Fortes.
Dieckmann não perdeu a verbosidade, apesar das interrupções.
 -Há uma música “Tenderly”, que foi gravada pela primeira vez por Sarah Vaughan. O segundo a gravá-la foi Dick Farney. Depois um monte de gente gravou (Nat King Cole, Billie Holiday, entre outros).
E depois de tantas palavras, reinaram absolutas as notas musicais.
Jonas Vieira cedeu a vez ao convidado do programa, para se dirigir ao público após a primeira atração musical:
-Queridos ouvintes, acabamos de ouvir “Tenderly”, música de 1946, da autoria de Walter Gross.
-Falando em data, nasceu em 14 de novembro de 1921 e morreu cedo. - manifestou-se o Sérgio Fortes.
-Morreu em 1987, viveu 66 anos. - disse a grande autoridade em Dick Farney, e acrescentou:
-Outro que nasceu no dia 14 de novembro foi o Príncipe Charles.
Sorriu com mordacidade ao comentar que ele era o eterno pré-candidato. E o que tudo indica, o outro xará de data do Bob Dieckmann, assim permanecerá por algumas décadas, pois a Rainha Elizabeth II tem demonstrado uma saúde de quem viverá mais do que a Rainha-Mãe que, como sabemos, chegou aos 101 anos de idade.
Então, a voz do titular do Rádio Memória se impôs:
-A história conta que Dick Farney foi aos Estados Unidos com a expectativa de fazer o mesmo sucesso da Carmem Miranda, do Bando da Lua, do Ary Barroso.
-Seus colegas do Cassino da Urca, Jonas. - não perdeu a oportunidade o Sérgio Fortes para gozá-lo.
-Eu era uma criancinha. - reagiu.
O riso sarcástico do Dieckmann se fez ouvir ao fundo.

(*) Isto jamais aconteceria, pois a gravação fora feita no dia 9.

(**) O pai do Dick, Fabrício Dutra, além de músico, era dono de um laboratório no Rio de Janeiro, que fabricava a famosa “Matricária F Dutra”, pozinho que as mães passavam e até hoje passam, nas gengivas de seus bebês para aliviar as dores causadas pelo nascimento dos dentes. Entretanto, é fato que os primeiros contatos com a música recebeu de seu pai. Contavam seus amigos, que Dick, tinha “ouvido absoluto”, ou seja, reconhecia notas musicais e tonalidades em qualquer ruído. Uma das histórias que se conta sobre ele, é que quando aprontava alguma arte e seu pai o reprimia com algumas cintadas, gritava em que tom apanhava...



Um comentário:

  1. A frase inicial é "Bom-dia, querido ouvinte", o que explica a posterior correção para "Bom-dia, queridos ouvintes.

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