------------------------------------------------------------------------
O BISCOITO MOLHADO
-----------------------------------------------------------------------
RÁDIO MEMÓRIA NO DIA DA TOALHA
1ª PARTE
Depois das saudações iniciais, Sérgio
Fortes relacionou acontecimentos históricos que ocorreram no dia 25 de maio,
como a Batalha de Dunquerque, em 1940, e não tão históricos, como a estreia de
“Star Wars” (Guerra nas Estrelas) e, nesse ponto, teceu alguns comentários:
-Eu não consigo gostar desses filmes de
ficção científica.
Aqui, um aparte: somos dois, Sérgio,
desde garoto eu não trocava um gibi do Flecha Ligeira por três do Flash Gordon.
É verdade que, na época, eu desconhecia o talento do desenhista Alex Raymond e
não imaginava que algumas previsões daquela historinha em quadrinhos se
realizariam, como a vídeo-conferência.
Deixou para o final os santos desse
domingo, mas, antes, anunciou, abismado, que era o Dia da Toalha. Caramba,
saltou-me da tumba da memória a Denilma Bulhões dando uma surra de toalha
molhado no marido, Geraldo Bulhões, então governador de Alagoas, por ter
arrumado uma amante. Sofríamos, naquele período, com a República de Alagoas
liderada pelo Fernando Collor de Mello. Arf!!!
Pelas palavras que seguiram do nosso
homem-calendário, esse dia surgiu por causa de Douglas Adams (Denilma Bulhões
nada tem a ver com isso, como elucubrei), pelo fato de ele ser o autor de “O
Guia do Mochileiro das Galáxias” e mostrar a importância da toalha no espaço
sideral. Coisa de abilolado.
Com tantas menções interplanetárias, não
podemos omitir, como desejávamos, uma data assinalada pelo Sérgio Fortes:
-No dia 25 de maio de 1961, o presidente
John Kennedy prometeu que os Estados Unidos colocariam o homem no mundo da Lua
antes do fim da década. Fisicamente falando, é verdade, pois muitos já estavam
lá.
Também era o Dia do Sapateado. A essa
informação, Jonas Vieira teve o seu momento de Dieckmann, ou seja, deixou a
modéstia de lado, e revelou que era um ótimo sapateador. Ele, que já dera
algumas canjas aos ouvintes cantando (Lili Marlene e Laura), dessa vez não foi
benevolente, e não ouvimos o som dos seus sapatos batendo no chão, como faziam
Fred Astaire e os bailarinos espanhóis.
Além das toalhas e dos sapatos, também
era o Dias dos Cus de Ferro, mas como o Sérgio Fortes é extremamente recatado,
recorreu ao termo americano “Nerd”.
Então, a voz do titular do programa se
tornou séria e solene, quebrando o clima de descontração:
-Pixinguinha, João da Baiana, Altamiro
Carrilho e Clementina de Jesus se juntaram para fazer um disco antológico. Nós vamos ouvir, de João da Baiana, “Cabide
de Molambo”. Atentem para a letra que trata de um homem da rua resignado com a
pobreza.
Sob o efeito dessa atração musical, a
primeira do programa, Sérgio Fortes perguntou:
-Onde está essa criatividade?
Nem
adiantava seguir a sentença de Cristo -”Procura e Achará”, pois Ele não nos
enviou substitutos à altura de Pixinguinha, Altamiro Carrilho e outros da Velha
Guarda.
Ao Sérgio Fortes coube apresentar a
segunda atração musical.
-A pianista Fernanda Canaud é
especialista em Radamés Gnattali. Mas vamos ouvir com ela “Odeon”, de Ernesto
Nazareth.
O ritmo buliçoso, a alegria que provém
dessa composição executada admiravelmente no piano, não fez o Jonas Vieira
esquecer os distúrbios que ocorrem presentemente no Brasil.
-Grupos promovem badernas pelas ruas e
impedem o direito do cidadão de ir e vir. Agora mesmo em São Paulo, com essa
greve de ônibus...
-Está tudo errado.
Sérgio não pôde prosseguir na sua
intervenção.
-Se fizessem isso nos Estados Unidos...
E deu um conselho aos vândalos:
-Querem protestar?... Vão para uma praça
e, lá, esculhambem com quem vocês quiserem. Assim, exercem o direito de falar e
não prejudicam a locomoção de ninguém.
Provavelmente, ao expor tal pensamento,
encontrava-se no subconsciente do Jonas Vieira o Hyde Park, embora seja mais do
que uma praça, é um parque. Cabe aqui um desvio pela história, já que não
fugiremos do assunto:
-Em 1855, um grupo contrário à política
estabelecida, passou a usar o Hyde Park para promover protestos. A polícia
londrina se opôs, os rebeldes não recuaram e os embates perduraram durante 17
anos. O primeiro-ministro da Grã-Bretanha, então, tirou da cartola a solução
que atendeu a gregos e troianos: uma lei que permitia atos públicos numa área
determinada do parque, que ficaria conhecida como a Esquina do Orador. Ali,
qualquer cidadão tem o direito de expor seus pensamentos; assim, ele pode
protestar contra tudo e contra todos sem atrapalhar a vida dos demais cidadãos.
É citada como uma das maiores manifestações lá ocorridas, precisamente em 2003,
a que reuniu cerca de 1 milhão de pessoas contrárias à guerra do Iraque.
Não sei precisar, no momento, se o
primeiro-ministro que assinou lei tão engenhosa foi Benjamin Disraeli, do
Partido Conservador, ou seu oponente eterno, William Gladstone, do Partido
Liberal. Falando nos dois mais destacados políticos da Era Vitoriana,
lembramo-nos de uma frase de Disraeli sobre o seu rival: “A diferença entre um
infortúnio e uma calamidade? Se Gladstone caísse no Tâmisa, seria um
infortúnio; entretanto, se alguém o tirasse de lá, seria uma calamidade.”
Voltemos ao Rádio Memória desse domingo,
25 de maio, mormente agora que Jonas Vieira, para retornar ao clima de
descontração com muita arte, anunciou mais um trecho do disco que ouvíramos
minutos antes, que reuniu, em 1968, a “Gente Antiga” para homenagear o
grande Pixinguinha.
-Com Clementina de Jesus, “Estácio,
Mangueira”, que é folclore, não traz o nome dos autores.
Não foi a voz de rainha africana, como a
denominava Hermínio Belo de Carvalho da Clementina de Jesus que se sobressaiu, também se destacaram as
firulas da flauta de Altamiro Carrilho e os contracantos geniais do Pixinguinha
no saxofone.
Nenhum comentário:
Postar um comentário