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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4857 Data: 22 de abril de 2014
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COELHO DA PÁSCOA NO RÁDIO MEMÓRIA
PARTE II
Antes da pausa da meditação do Fernando
Milfond, Sérgio Fortes e Jonas Vieira contaram, em tom descontraído, a visita
que Antonio Maria fez a Ary Barroso, muito doente, no hospital. Nós, do
Biscoito Molhado, soubemos desse caso através de um texto do Sandro Moreira.
Antonio Maria irritava Ary Barroso afirmando que o sucesso de “Ninguém me ama”
era maior do que o da “Aquarela Brasil”. Na mencionada visita, Ary Barroso
pediu que ele cantasse “Aquarela do Brasil”; penalizado com o estado do doente,
Antonio Maria cantou. Logo depois, Ary Barroso solicitou que Antonio Maria
pedisse a ele que cantasse “Ninguém me ama”. Ele pediu, e Ary Barroso respondeu
com um sorriso de satisfação: “Não sei.”
-Rádio Roquette-Pinto. 94.1 FM. Programa
Rádio Memória. - ecoou solene a voz do decano da radiofonia brasileira, dando
início ao segundo tempo.
-Scott Joplin morreu com 49 anos de
idade. Era funcionário de uma estrada de ferro; abandonou tudo e percorreu o
sul dos Estados Unidos como músico itinerante. Seu sucesso começou na Feira
Mundial de Chicago em 1893; a carreira dele, até onde foi possível, deu uma
acelerada.
Apesar de a biografia ser autorizada,
Sérgio Fortes foi interrompido pelo titular do Rádio Memória falando do disco
“Elétrico Nazareth” do Mú de Carvalho.
Foi um choque ouvir, agora, “Fon Fon”, depois da interpretação do
Nicolas de Souza Barros, domingo passado, no violão de oito cordas, que ainda
ressoa nos nossos ouvidos.
Depois de elogios ao elétrico “Fon Fon”,
pelos temas entrelaçados, Sérgio Fortes se voltou para o seu homenageado.
-Hoje, depois do sucesso do filme “O
Golpe de Mestre”, Scott Joplin é tema de estudos nas universidades americanas.
Enquanto viveu, jamais gravou, o que fez foram em sete rolos para pianola.
E procurou ser didático para explicar
todos aqueles rolos.
-Você interpreta uma canção para um
piano mecânico, a pianola, e, através de rolos perfurados com as notações da
peça executada, ela é reproduzida. Mas isso não é a gravação que conhecemos.
Devido à premência do tempo e do Jonas
Vieira, Sérgio Fortes não pôde prosseguir no seu tom professoral, nós, como não
temos esse problema prosseguiremos o assunto depois de uma consulta ao oráculo
atual, o Google.
A pianola foi inventada pelo engenheiro
americano Edwin S. Votey, que a patenteou em 1897. Depois de sabermos que era
um piano equipado com dispositivo para executar automaticamente a música, por
meio de pedais e alavancas manuais, passemos para os mencionados rolos, onde
cada perfuração abaixava uma tecla e impulsionava o respectivo martelo,
substituindo a ação dos dedos.
E Jonas Vieira anunciou a nova atração
musical composta pelo Rei do Ragtime, “Bethena”, com Jean-Pierre Rampal, na
flauta, e arranjo de John Steele Ritter.
Foi a pausa para deslumbramento.
-A respeito de Ernesto Nazareth - voltou
o Sérgio Fortes – ele sofreu uma forte influência de Chopin.
-Todos sofreram. O piano de Chopin dominou.
- declarou com veemência o Jonas Vieira.
Faremos um parêntese aqui, que poderia
ser chamado de pausa para elucubração, para nos reportarmos ao Bruxo do Cosme
Velho (não é o Roberto Marinho).
No conto “Um Homem Célebre”, o escritor
narra o estrondoso sucesso de um compositor de polcas, Pestana, que vivia
frustrado porque não conseguia compor uma peça erudita no nível de Mozart ou de
Chopin. Aclamado por todos, morre, segundo Machado de Assis, “bem com os homens
e mal consigo mesmo.” Há quem afirme que Machado de Assis, que faleceu em 1908,
se inspirou em Ernesto Nazareth, nascido em 1863, na criação do seu personagem
Pestana. Será?... Quanto a nós, estranhamos que Ernesto Nazareth, quando foi
apresentado a Arthur Rubinstein, pôs-se a tocar Chopin. Era o mesmo que rezar o
Padre Nosso para o papa, pois Arthur Rubinstein era considerado o maior
intérprete de Chopin na época. O que ele queria mesmo era ouvir as músicas do
Ernesto Nazareth, queria o compositor, não o pianista.
Antes de prosseguirmos com Rádio
Memória, recomendamos a leitura de “Um Homem Célebre”, o melhor conto, na nossa
opinião, de Machado de Assis.
E o Sérgio Fortes prosseguiu:
-A primeira composição de Ernesto
Nazareth é de 1877, “Você bem sabe”, quando ele tinha 14 anos de idade.
-Um
Mozart!
Menos, Jonas Vieira, menos...
-Com 14 anos de idade, eu aprendi a
cantar “Parabéns pra você”, e foi um orgulho na família.
Mais, Sérgio Fortes, mais...
Talvez preocupado com a inusitada mudez
do Simon Khoury (seria a comilança de chocolate naquele domingo pascal?), Jonas
Vieira lhe perguntou o que ouviríamos.
-Tenho, com Antonio Adolfo, “Brejeiro” e
Feitiço”; escolham.
E optaram por “Feitiço”, que nada tem a
ver com o lendário craque da década de 30 do Santos Futebol Clube. Como já
disse o Ratinho, também conhecido por “Rato Feroz”, pelos amigos mais chegados,
o primeiro jogador de futebol a ser citado na música popular brasileira – um
samba de Noel Rosa - foi o vascaíno Russinho (pai do soprano Glória Queirós,
informou o Sérgio Fortes).
Ficou para o fecho do programa a
surpresa maior; o compositor a ser ouvido não seria Ernesto Nazareth nem Scott
Joplin, e sim Simon Khoury.
Por isso, ele se comportou tão bem, não
contando uma só fofoca de gente famosa. - pensei comigo mesmo.
Simon Khoury narrou, então, o seu
processo criativo. Convocou o arranjador Vittor Santos e pôs-se a trautear a
melodia para que ele a transcrevesse em notas musicais. Como são pouquíssimos
os compositores brasileiros que sabem ler partitura, temos de louvar
arranjadores como Radamés Gnatalli, Guerra Peixe, Pixinguinha, Rogério Duprat,
Vittor Santos e outros que, algumas vezes, arrancaram leite de pedra.
-Eu disse para o Vitinho (Vittor
Santos), que queria em cada faixa dois instrumentos dialogando, e ele fez
coisas do arco da velha com o seu trombone.
Em seguida, Simon Khoury nos informou
que a sua música foi inspirada na sobrinha.
-Ela não gostou do nome “Lambisgoia”,
disse-lhe, então, que mudaria para “Desenxabida”, ela preferiu o nome inicial.
-O disco do Simon Khoury será lançado ao
público com uma grande festa. - empolgou-se o Jonas Vieira antes de a gravação
ser tocada.
Não seria a estreia mundial, pois já
escutamos “Lambisgoia” há cerca de um mês no Rádio Memória.
O costumeiro “apertado abraço” encerrou
o programa.
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