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terça-feira, 8 de abril de 2014

2596 - Só pode ser a Parte1



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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4846                                  Data: 07  de  abril de 2014
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UMA CHORONA NO RÁDIO MEMÓRIA
1ª PARTE

O programa “Almanaque” sobre Noel Rosa foi dos melhores que já houve, mas mal o escutei porque a estação dos pastores tirou mais de 10% do sinal da Roquette Pinto, eu diria 80%. Aconteceria o mesmo com o Rádio Memória?... Esse foi meu temor que, no entanto, parecia exagerado, pois a última música do “Almanaque”, cantada divinamente pela Nana Caymmi, “Último Desejo”, fluiu sem ruídos e interrupções dos evangélicos.
A voz do Jonas Vieira estava límpida como no dia em que cantou Lili Marlene, no idioma de Goethe e a do Sérgio Fortes como no tempo em que pretendeu ser tenor e foi dissuadido pelo pai.
-Bom dia, caro ouvinte.
-Temos mais de um ouvinte. - reagiu o Sérgio às palavras do apresentador titular do programa.
Sim, os brasileiros acordam tarde no sábado e no domingo, mas há honrosas exceções.
E, antes da parte musical, Sérgio Fortes travestiu-se no Homem-Calendário.
-Em 6 de abril de 1564, houve um invento importante: o lápis.
-É verdade; até hoje ele está aí. - concordou o Jonas Vieira.
Sim, também nós, do Biscoito Molhado, ainda hoje recorremos ao lápis quando redigimos alguma coisa deitados, pois a Lei da Gravidade cisma de impedir que a tinta das canetas esferográficas cheguem até a sua extremidade quando elas estão muito inclinadas.
E os demais acontecimentos históricos do dia 4 de abril foram abordados como a primeira transmissão radiofônica no Brasil, em 1919, no estado de Pernambuco. Tal dado provocou controvérsias, pois o ano considerado pela maioria dos estudiosos é 1922, sob o comando do educador Roquette Pinto, que trouxe o rádio para o Brasil. Sobre o pioneirismo dos pernambucanos, lembramos uma piada do José Vasconcelos: “... E há aquele locutor que sempre diz: “Rádio Clube de Recife falando para o mundo.”
 Depois de citar as personalidades nascidas e mortas em 4 de abril, Sérgio Fortes se deteve no pintor Ismael Nery.
-Você que é trilhardário, Jonas, quer comprar um quadro do Ismael Nery e não consegue, como outros endinheirados. Além de a obra do Ismael Nery ser pequena, quem tem, não vende... E, quando vivo, não conseguiu vender um só quadro, seu amigo, o poeta Murilo Mendes, adquiria alguns para ajudá-lo.
Em seguida, referiu-se à sua viúva, Adalgisa Nery, que se casou com Lourival Fontes, ligado ao Getúlio Vargas, e ao ódio figadal, aliás correspondido, que ela nutria por Carlos Lacerda. O embate entre dois, no entanto, não desceu ao nível  do que acontecera entre o primeiro governador da Guanabara e Ivete Vargas, que chamou, num confronto na assembleia legislativa, Lacerda de “purgante”, e este replicou, chamando-a de “o efeito”.
-Adalgisa Nery trabalhou comigo na Última Hora. - disse o Jonas Vieira.
Sérgio Fortes reportou-se ao fato de ela ter caído em desgraça e, para surpresa geral, disse que quem a acolheu foi o Flávio Cavalcanti. Lembramos aqui que, anos depois, o apresentador de televisão faria o mesmo com a atriz Leila Diniz.
Quanto ao santo do dia, o nosso Homem-Calendário, por mais que pesquisasse, não o encontrou.
-6 de abril é o dia de São Nunca. - não perderam a piada.
E a palavra voltou para o Jonas Vieira:
-Temos hoje a queridíssima, a amadíssima...
Nesse exato instante, desapareceu de novo o sinal da Rádio Roquette Pinto. Senti-me completamente perdido, a única certeza que eu tinha era não ser o Dieckmann o convidado do programa. Um minuto após, quando a emissora entrou de novo no ar, ouvi o nome Luciana para cá e para lá, e deduzi que só poderia ser uma, a Luciana Rabello, de tantos programas de choro (o meu gênero musical popular preferido) que vi e ouvi. E era ela.
-Já estive várias vezes em sua casa com o seu irmão Rafael Rabello.
Jonas Vieira prosseguiu falando dos muitos encontros que teve com os Rabellos, até que anunciou o disco que ela está lançando com o “maridão” Paulo César Pinheiro. Sem tomar fôlego, perguntou:
-Com quem Paulo César Pinheiro não tem parceria?
-Só não tem com gente ruim. - responderam.
E foi anunciada a primeira atração musical do Rádio Memória de 06 de abril de 2014, dia de São Nunca:
-”De onde vem o samba.” - de Luciana Rabello e Paulo César Pinheiro.
Depois, passaram a fazer considerações sobre o nascimento do samba. Luciana separou o samba urbano do samba rural, o samba carioca do baiano. Jonas Vieira registrou a influência do maxixe no samba carioca (“Pelo Telefone”, tido como o primeiro samba gravado, era, na verdade, um maxixe), mas ela considerou como influência mais acentuada no samba urbano o choro. Sim, o choro que surgiu há quase 150 anos com o conjunto de Joaquim Antônio Calado.
-Quem é seu Catirino? - indagou o Jonas Vieira.



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