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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4846 Data: 07 de
abril de 2014
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UMA CHORONA NO RÁDIO MEMÓRIA
1ª PARTE
O programa “Almanaque” sobre Noel Rosa
foi dos melhores que já houve, mas mal o escutei porque a estação dos pastores
tirou mais de 10% do sinal da Roquette Pinto, eu diria 80%. Aconteceria o mesmo
com o Rádio Memória?... Esse foi meu temor que, no entanto, parecia exagerado,
pois a última música do “Almanaque”, cantada divinamente pela Nana Caymmi,
“Último Desejo”, fluiu sem ruídos e interrupções dos evangélicos.
A voz do Jonas Vieira estava límpida
como no dia em que cantou Lili Marlene, no idioma de Goethe e a do Sérgio
Fortes como no tempo em que pretendeu ser tenor e foi dissuadido pelo pai.
-Bom dia, caro ouvinte.
-Temos mais de um ouvinte. - reagiu o
Sérgio às palavras do apresentador titular do programa.
Sim, os brasileiros acordam tarde no
sábado e no domingo, mas há honrosas exceções.
E, antes da parte musical, Sérgio Fortes
travestiu-se no Homem-Calendário.
-Em 6 de abril de 1564, houve um invento
importante: o lápis.
-É verdade; até hoje ele está aí. -
concordou o Jonas Vieira.
Sim, também nós, do Biscoito Molhado, ainda
hoje recorremos ao lápis quando redigimos alguma coisa deitados, pois a Lei da
Gravidade cisma de impedir que a tinta das canetas esferográficas cheguem até a
sua extremidade quando elas estão muito inclinadas.
E os demais acontecimentos históricos do
dia 4 de abril foram abordados como a primeira transmissão radiofônica no
Brasil, em 1919, no estado de Pernambuco. Tal dado provocou controvérsias, pois
o ano considerado pela maioria dos estudiosos é 1922, sob o comando do educador
Roquette Pinto, que trouxe o rádio para o Brasil. Sobre o pioneirismo dos
pernambucanos, lembramos uma piada do José Vasconcelos: “... E há aquele
locutor que sempre diz: “Rádio Clube de Recife falando para o mundo.”
Depois
de citar as personalidades nascidas e mortas em 4 de abril, Sérgio Fortes se
deteve no pintor Ismael Nery.
-Você que é trilhardário, Jonas, quer
comprar um quadro do Ismael Nery e não consegue, como outros endinheirados.
Além de a obra do Ismael Nery ser pequena, quem tem, não vende... E, quando
vivo, não conseguiu vender um só quadro, seu amigo, o poeta Murilo Mendes,
adquiria alguns para ajudá-lo.
Em seguida, referiu-se à sua viúva,
Adalgisa Nery, que se casou com Lourival Fontes, ligado ao Getúlio Vargas, e ao
ódio figadal, aliás correspondido, que ela nutria por Carlos Lacerda. O embate
entre dois, no entanto, não desceu ao nível
do que acontecera entre o primeiro governador da Guanabara e Ivete
Vargas, que chamou, num confronto na assembleia legislativa, Lacerda de
“purgante”, e este replicou, chamando-a de “o efeito”.
-Adalgisa Nery trabalhou comigo na
Última Hora. - disse o Jonas Vieira.
Sérgio Fortes reportou-se ao fato de ela
ter caído em desgraça e, para surpresa geral, disse que quem a acolheu foi o
Flávio Cavalcanti. Lembramos aqui que, anos depois, o apresentador de televisão
faria o mesmo com a atriz Leila Diniz.
Quanto ao santo do dia, o nosso
Homem-Calendário, por mais que pesquisasse, não o encontrou.
-6 de abril é o dia de São Nunca. - não
perderam a piada.
E a palavra voltou para o Jonas Vieira:
-Temos hoje a queridíssima, a amadíssima...
Nesse exato instante, desapareceu de
novo o sinal da Rádio Roquette Pinto. Senti-me completamente perdido, a única
certeza que eu tinha era não ser o Dieckmann o convidado do programa. Um minuto
após, quando a emissora entrou de novo no ar, ouvi o nome Luciana para cá e
para lá, e deduzi que só poderia ser uma, a Luciana Rabello, de tantos
programas de choro (o meu gênero musical popular preferido) que vi e ouvi. E
era ela.
-Já estive várias vezes em sua casa com
o seu irmão Rafael Rabello.
Jonas Vieira prosseguiu falando dos
muitos encontros que teve com os Rabellos, até que anunciou o disco que ela
está lançando com o “maridão” Paulo César Pinheiro. Sem tomar fôlego,
perguntou:
-Com quem Paulo César Pinheiro não tem
parceria?
-Só não tem com gente ruim. -
responderam.
E foi anunciada a primeira atração
musical do Rádio Memória de 06 de abril de 2014, dia de São Nunca:
-”De onde vem o samba.” - de Luciana
Rabello e Paulo César Pinheiro.
Depois, passaram a fazer considerações
sobre o nascimento do samba. Luciana separou o samba urbano do samba rural, o
samba carioca do baiano. Jonas Vieira registrou a influência do maxixe no samba
carioca (“Pelo Telefone”, tido como o primeiro samba gravado, era, na verdade,
um maxixe), mas ela considerou como influência mais acentuada no samba urbano o
choro. Sim, o choro que surgiu há quase 150 anos com o conjunto de Joaquim
Antônio Calado.
-Quem é seu Catirino? - indagou o Jonas
Vieira.
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