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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4851 Data: 15 de
abril de 2014
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UM VIOLÃO NO RÁDIO MEMÓRIA
PARTE II
E a voz do Jonas Vieira voltou a ser
ouvida:
-O nosso Nicolas de Souza Barros...
Assim que ouvi o seu disco, vi que havia nele uma das minhas favoritas,
“Confidências”.
Mas as “Confidências” ainda não se
fizeram ouvir.
-Eu comecei com essas transcrições , mas
tenho de dar um voto de reconhecimento para Paulo Aragão, que foi meu aluno.
-Você é professor?
-Sou professor da UNIRIO; mas Paulo
Aragão estudou comigo por fora.
E prosseguiu no seu instigante
depoimento:
-Eu procurava projetos, e Paulo Aragão
me sugeriu Nazareth. Em 2004, ele me arrumou tudo que tinha fotocopiado de
Nazareth, mais de 200 peças. Hoje, no site Moreira Salles, você baixa
tudo, mas, naquela época era uma dificuldade.
-Sem mais delongas – disseram em
uníssono os apresentadores – vamos escutar “Confidências” no violão de oito
cordas de Nicolas de Souza Barros.
E cessou tudo que a antiga musa cantava
porque outro valor mais alto se alevantava.
-Nicolas, você não tem vergonha de tocar
tão bem? - brincou Jonas Vieira.
Quando perguntaram ao violonista se ele
era carioca, respondeu que sim, embora o
seu sotaque – acrescentou - (que não percebemos) denotasse a sua
vivência no estrangeiro por 20 anos, basicamente nos Estados Unidos e na
Inglaterra.
-Por que você escolheu Nazareth? -
indagou o Jonas Vieira incisivamente.
-Paulo Aragão me incentivou muito, e
porque eu estava motivado em tocar o violão de oito cordas.
-Seis cordas não são suficientes? -
interveio o Sérgio Fortes.
Com essa pergunta, o violonista se
tornou didático.
-O precursor direto do violão se chama
guitarra romântica. É o momento da evolução que chega às seis cordas que
conhecemos com a afinação central do violão. A guitarra romântica é magrinha e,
principalmente na construção interna, é diferente. Já, em 1816, aparece, em
Paris, o método do italiano Ferdinando Carulli
da guitarra romântica de 10 afinações, com 4 baixos a mais; esses 4
diapasões são conhecidos desde 1580, ou seja, os alaúdes todos trabalharam com
esse princípio.
E foi em frente na sua aula que nós, do
Biscoito Molhado, incapazes de arranhar um violão, tentaremos reproduzir com o
menor número de erros possíveis.
-Agora, a corda aguda. A corda aguda
surgiu no cenário mundial em 1994, quando o grande violonista Paul Galbraith,
escocês, em parceria com o luthier inglês David Rubio, criaram o
instrumento que chamaram de violão Brahms, porque a primeira peça que Galbraith
transcreveu era de Brahms.
Antes de irmos em frente, um
esclarecimento, pois Nicolas julgou que estivéssemos no mesmo nível dos seus
alunos universitários: luthier é
o profissional especializado na construção e reparo de instrumentos de
corda com caixa de ressonância.
Retornando aos seus ensinamentos:
-Essa corda aguda existe, em termos
gerais, há 20 anos; e eu fui pegar o instrumento em 2004. Sou violonista há 40
anos, mas parece que agora (com o violão de oito cordas), eu estou na
adolescência do violão de tão diferente que ele é.
E acrescentou sem falsa modéstia:
-E eu sou conhecedor dos instrumentos
precursores do violão clássico.
Todos queriam aprender, pois ele não foi
interrompido.
-O princípio da corda aguda é que abre
toda uma série de perspectiva de transcrição de arranjos de obra,
principalmente as de teclado.
E enfatizou:
-É uma coisa muito nova.
As palavras cederam o lugar à música
quando Nicolas de Souza Barros tocou a polca “Marieta”. Ele ilustrou essa faixa
do seu CD dizendo que Ernesto Nazareth compôs polcas no século XIX, mas não o
fez no século XX, que a sua primeira peça foi uma polca-lundu.
-Mais tarde, passaria a compor o que se
chamava de tango.- esclareceu.
-Tango é o batuque. - disse o Jonas
Vieira.
Mais tarde, no programa, eles se
deteriam na diferenciação entre os tangos do Nazareth e dos hermanos.
-Este grande artista, que eu não
conhecia, foi você Sérgio que me mostrou. - Jonas Vieira dava a César o que era
de César naquele domingo de Ramos.
-Quero agradecer à Maíra da Rádio MEC
que me indicou o Nicolas. -aproveitou o Sérgio Fortes para também fazer o seu
reconhecimento.
E a Pausa para Meditação do Fernando
Milfond prevaleceu, por alguns minutos, com o tema “Solidariedade”.
-Fale um pouquinho do violão de oito
cordas. - pediu o Sérgio Fortes logo após o momento meditativo.
-Não há grande diferença entre os
violões de oito e seis cordas fora a questão estrutural; mais uma corda para
cima e uma para baixo.
-Mas o braço do violão é outro? -
insistiu o Sérgio Fortes.
-O braço é um pouco mais amplo, mais
largo.
-Quem fabricou isso?...
E prontamente ele respondeu a mais uma
indagação do Sérgio Fortes.
-No caso, o grande e emblemático Sérgio
Abreu. Eu, basicamente, sou um tocador, sou um “Abreuniano” faz trinta anos.
-Mais Nazareth com Nicolas: “Carioca”. -
anunciou o Jonas Vieira, já íntimo do convidado.
Vibrada a última nota, Sérgio Fortes
também vibrou:
-Sensacional!... Que disco!
Jonas Vieira foi mais pragmático:
-Como os interessados podem conseguir
esse disco?
Em seguida, Sérgio Fortes citou a coluna
do Globo de sexta-feira do Arthur Dapieve em que ele, escrevendo sobre o
Tristão e Isolda, de Wagner, dedicou os últimos parágrafos à excelência do
Nicolas de Souza Barros no violão de oito
cordas com as músicas do Ernesto Nazareth na sua apresentação na Sala Villa Lobos.
-E agora, meu querido Nicolas? - pediu
mais música o Jonas Vieira, mas o violonista fez uma pequena introdução sobre a
peça de Ernesto Nazareth que tocaria: “Improviso”.
-Há discussões sobre maxixe, choro,
tango nas criações de Nazareth. Ele compôs tangos em 1890, quando não havia o
tango portenho, o que havia era o tango afro-americano de Cuba, Argentina...
-Tango é palavra africana. - acentuou o
Jonas Vieira.
-Vamos para o “Improviso”, obra que
Ernesto Nazareth dedicou a Villa Lobos.- apressou-se o Doutor em Música da
UNIRIO.
-Villa Lobos, Nazareth e Nicolas Souza
Barros, três cobras. - afirmou o titular do programa.
-Estou aqui todo picado. - não deixou o
Sérgio Fortes passar a oportunidade para uma piada.
-Mais um. - pediu o Jonas Vieira.
E veio mais um tango: “Famoso”.
Querendo ouvir notas musicais, e não
palavras, Jonas Vieira anunciou outra música: “Odeon”.
-Eu li que as pessoas iam ao Cinema
Odeon, não para assistir ao filme, e sim para ouvir Nazareth no piano.
Depois do “Odeon”, uma das muitas
criações de Ernesto Nazareth que nunca
nos satura por mais que a ouçamos, Jonas
Vieira fez uma sugestão ao grande violonista:
-Faça com o Custódio Mesquita o que fez
com Nazareth. Seria de tirar o chapéu e também toda roupa.
-Todo mundo nu.
Calma, leitores: Sérgio não propôs o
nudismo também fora das praias, ele apenas fez uma piada.
-Vamos fechar com “Fon-Fon”.
Depois de mais um deleite musical,
vieram os agradecimentos mútuos e o costumeiro “demorado abraço” aos ouvintes.
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