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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4847 Data:
08 de
abril de 2014
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UMA CHORONA NO RÁDIO MEMÓRIA
2ª PARTE
-Quem é Seu Catirino? - indagou o Jonas
Vieira.
Luciana Rabello explicou que Catirino
saiu da imaginação de poeta do Paulo César Pinheiro para identificar um
capoeirista.
Sérgio Fortes declarou que, de fato,
Catirino é um nome perfeito para capoeirista. Quanto a nós, do Biscoito
Molhado, concordamos que, às vezes, um nome faz um destino. Somente alguém com
o nome de Napoleão seria capaz daquelas façanhas que estremeceram a Europa e o
mundo. Luís Napoleão, seu sobrinho,
tentou algo parecido, quando deu o golpe de estado de 1851 e implantou o
segundo império. Mas a história com ele, como disse Karl Marx, se repetiu como
farsa. E Victor Hugo escreveria que ele foi “Napoleón, Le Petit”. Resumindo: o
sobrinho foi muito mais Luís do que Napoleão (longe de nós depreciar os
cidadãos de nome Luís).
Catirino era mesmo, com a concordância
de todos, nome de capoeirista. E a certeza se solidificou quando a companheira
do poeta Paulo César Pinheiro cantou essa faixa do CD. Era um maculelê, o que
levou a compositora a uma confissão:
-Um maculelê... Ninguém esperava isso de
mim, uma chorona.
Jonas Vieira, apesar da sua bagagem de
muitos anos de MPB, ou por causa dela, não perdeu a oportunidade de se
encantar:
-É impressionante o poder de criação do
Paulo César Pinheiro. Ele cria, recria...
Logo após, foi tomado pela curiosidade:
-Você lida com ele há quantos anos?
E ela respondeu prazerosamente:
-Vamos fazer 29 anos de casados no dia 9
de abril.
E acrescentou uma instigante informação:
-Vamos comemorar com o lançamento deste
disco no Solar de Botafogo às 8 horas da noite.
O diálogo derivou, então, para a obra
ciclópica (um dos adjetivos da predileção do Sérgio Fortes) do Paulo César
Pinheiro.
Com a palavra, a sua parceira do CD a
ser lançado ao público afirmou que o seu esposo possui mais de duas mil músicas
em parceria.
-É o recorde. - assombrou-se o Jonas
Vieira.
Luciana ainda citou Braguinha como
profícuo letrista da música popular brasileira, mas todos concluíram que
ninguém chegou a pôr tantas sílabas em notas musicais quanto Paulo César
Pinheiro.
E prosseguiu ela:
-Paulinho tem parceiros de cinco
gerações a começar por Pixinguinha. Atualmente, coloca letras em melodias de
garotos de dezesseis anos.
-Ele tem tudo isso arquivado? -
preocupou-se o Sérgio Fortes.
-Ele é muito organizado. - garantiu ela.
E ficou assentado que, embora seja
poeta, não é desleixado, pelo contrário, cataloga todas as suas criações.
-Ele toma conta de tudo o que faz.-
ratificou.
O titular do Rádio Memória retomou a
palavra para falar mais do Paulo César Pinheiro que, por justiça, merecia a
atenção que lhe dispensavam apesar da premência do tempo. Como costuma repetir
meu irmão, Jobiniano fanático, graças a Paulo César Pinheiro, a letra do
“Matita Perê” deslanchou, pois Tom Jobim se perdera no meio da elaboração dos
versos.
Manifestou-se o Jonas Vieira dizendo que
não o via há algum tempo, até que, numa livraria do Largo do Machado, topou com
ele. Do reencontro dos velhos amigos, tomou conhecimento do CD, ainda inédito,
com músicas da Luciana Rabello e poesias suas; teve, então, a ideia de
divulgá-lo no seu programa, o que, no momento, estava acontecendo.
Era tempo de a próxima atração musical
ser apresentada.
-E agora, Luciana?
-”Candeia Branca”.
E Luciana Rabello se deteve em
esclarecimentos sobre a criação do casal.
-Trata-se de uma ciranda. “Candeia Branca”
é a própria lua; traz-me recordações da minha infância na Paraíba.
-O que você tem a ver com a Paraíba?
-Minha família é da Paraíba. - informou
ao Jonas e aos ouvintes.
-Mas você é carioca?
-Sou carioca, mas passava as grandes
férias escolares, aquelas de três meses, na Paraíba. Foi lá que aprendi a tocar
violão.
-Da Paraíba vieram grandes violonistas.
Às palavras do Jonas Vieira, a sua
convidada se reportou logo ao Canhoto. E outros grandes instrumentistas desse
estado foram lembrados.
Sérgio Fortes, que julgávamos carioca
com antepassados que aqui chegaram com Estácio de Sá, surpreendeu-nos ao falar
dos seus ascendentes da Paraíba. Primeiramente, falou de Areias, uma cidade paraibana
e, em seguida, reportou-se ao seu bisavô, originário de lá.
-Meu bisavô escreveu a primeira
gramática da Paraíba.
E foi aventada a hipótese de parentes da
Luciana Rabello terem estudado nela.
Aproveitando o caminho aberto pelo nosso
amigo, revelamos que nossos ascendentes pela linha materna, até o nosso avô, ou
são portugueses ou paraibanos.
E após a Luciana Rabello discorrer sobre
“Candeia Branca”, Jonas Vieira nos surpreendeu anunciando “Em cada mágoa, um
samba”.
-Mas depois, nós vamos para “Candeia
Branca”. – disse ela meio apreensiva.
Com “Em cada mágoa, um samba” ouvido,
houve elogios mútuos; os anfitriões consideraram a composição maravilhosa, e
Luciana Rabello afirmou que programas como Rádio Memória fazem falta na
radiofonia.
Retornando à “Candeia Branca”, ela
aludiu à confusão que fazem entre ciranda e marcha-rancho, e frisou que, no
caso, se tratava de uma ciranda, e a
diferença era notada logo no início.
-A caixa já mostra que é a levada da
ciranda. –frisou ela.
E soou a caixa de percussão e, logo
após, o canto.
-Olha, Luciana, sensacional. Essa faixa
vale por dois discos. – foram os louvores dos anfitriões.
E citaram os demais responsáveis por
essa ciranda: arranjo de João Lira, Naílson no trumpete, Maurício Carrilho no
violão, Marcos Tadeu na bateria. Luciana realçou que todos são professores da Escola
Portátil de Música.
-Isso é muito bom; pois a mídia está
quebrando tudo. Eles abusam da nossa paciência.
Depois da pausa para a indignação do
Jonas Vieira, veio a pausa para meditação do Fernando Milfond, que abordou o
“Ritual do Trabalho”
Na segunda parte, o titular do Rádio
Memória pediu licença à convidada para homenagear musicalmente o cantor
Francisco Carlos que, no dia 5 de abril, completaria 89 anos de idade.
Sérgio Fortes citou a biografia “muito
boa, por sinal”, sobre o homenageado, que o seu parceiro no Rádio Memória
lançou no ano anterior.
“Romper
da Aurora”, de Manezinho Araújo, cantada por aquele que foi “O Broto”, foi
ouvido pela sua voz e a do Trio Irakitan. Seguiu-se “Balalaica”, de Jorge
Moran.
Encerradas as homenagens, as atenções
convergiram para a Luciana Rabello.
“Flor d’água” – disse ela; pedi ao Dori
Caymmi para fazer o arranjo. Ele não só faz o arranjo como canta. Fiquei muito
feliz, pois não se canta o que não se gosta.
-Sensacional! – exclamaram depois de
soada a última nota de “Flor d’água”.
-É uma valsa, minha filha Aninha toca
cavaquinho nesse arranjo. O Dori Caymmi é o padrinho dela.
-Isso é nepotismo...
Entremeado por risos, veio a conclusão
do Sérgio Fortes.
-No bom sentido.
Na vez da faixa “Martelo da justiça”,
Luciana Rabello fez uma resumida
introdução:
-É contra esse pessoal que está no poder
fazendo besteira.
Jonas Vieira não ficou indiferente ao
misticismo da poesia, e tamanha foi a sua impressão que, depois de cantar, ela
teve de declamar os versos que musicara.
Garantindo que o marido é místico,
embora ele diga que não – “Como um poeta não é místico?” – informou que, nessa
gravação, Julião, seu filho, toca violão.
-Rafael Rabello aplaudiria de pé. –
garantiu o Jonas Vieira.
A pedido do titular do Rádio Memória,
ela informou mais uma vez que o lançamento do CD seria no Solar de Botafogo no
dia 9 de abril.
E antes do “demorado abraço”, fecho do
programa Rádio Memória, ainda ouvimos
mais uma música: “Teu amor”.
-A letra é minha e foi feita para ele
(Paulo César Pinheiro). Fiz essa e não faço outra. – garantiu ela antes do seu
canto ser ouvido.
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