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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4850 Data:
14 de
abril de 2014
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UM VIOLÃO NO RÁDIO MEMÓRIA
1ª PARTE
Depois do Noel Rosa revisitado pelo
programa “Almanaque”, o Rádio Memória só não ficará para trás, em termos de
música popular brasileira, se revisitasse Tom Jobim, Pixinguinha ou Ernesto Nazareth.
- disse comigo mesmo enquanto ouvia a Nana Caymmi cantando “Último Desejo”.
O início se deu com as habituais palavras
do titular do Rádio Memória; logo após, Sérgio Fortes aludiu ao dia, que era 13
de abril, mas foi imediatamente interrompido pelo Jonas Vieira.
-Segundo a Cabala, é um mês fortíssimo;
cuidado com discussões, atritos...
-Com as ações da Petrobras... -
acrescentou o Sérgio Fortes.
No caso da Petrobras, aliás, não se
precisava consultar a Cabala, e sim as páginas policiais.
-Em 1726 – prosseguiu o Sérgio – foi
fundada a cidade de Fortaleza.
Depois de provocar o seu parceiro,
chamando-o de cearense desnaturado, por desconhecer essa data, seguiu adiante.
-Em 1831, houve a primeira audição do
Hino Nacional Brasileiro.
E prometeu que, mais a frente, faria
comentários sobre o assunto.
Seguiram a relação de personalidades que
nasceram ou morreram em 13 de abril: Samuel Beckett, Paulo Rónai, Marília
Batista, Howard Keel, Dan Gurney, Rosa Passos, Margareth Price, Oswaldo
Sargentelli, Roberto Dinamite... Roberto Dinamite?!... Depois dessa notícia
explosiva, Sérgio Fortes anunciou que era o dia internacional do beijo.
-O beijoqueiro está fazendo falta. -
lembrou o Jonas Vieira a nefanda figura que foi catapultada para a fama quando
saltou de uma toca para beijar o Frank Sinatra, quando se apresentava no
Maracanã.
Se no domingo passado não houve santo,
dessa vez havia dois, considerados pelo Sérgio Fortes do segundo time, ou
santos que ficam no banco para entrar em campo em caso de necessidade: São
Hermenegildo e Santa Engrácia de Braga.
Quando o Homem-Calendário do Rádio
Memória se preparou para comentar o nosso hino, percebi, através do Google, que
omitira um fato histórico mais importante do que a morte do Osvaldo
Sargentelli. Em 13 de abril de 1179, o
Papa Alexandre III, por meio da Bula Relatum est auribus nostris,
reconheceu pela primeira vez o reino de Portugal e seu rei Dom Afonso
Henriques. Acreditamos que essa medida contribuiu para a influência portuguesa
no mundo, através dos séculos, refletindo-se até na existência de tantas
mulatas no Brasil, inclusive as do Sargentelli.
Agora, os comentários sobre o Hino
Nacional Brasileiro:
-É uma confusão dos demônios. A letra
foi mudada diversas vezes. O Leopoldo Miguez teria ganhado o concurso da
escolha do hino, mas não levou. A letra que prevalece hoje decorre de um
decreto do presidente Epitácio Pessoa.
-Mas o Brasil é assim. - interrompeu-o o
Jonas Vieira em tom de crítica.
Pedimos vênia, embora não sejamos
causídicos, para assinalar que, com o Hino Nacional dos Estados Unidos, “The
Star Spangled Banner”, não foi muito diferente do que houve com o nosso hino.
Primeiramente, veio a letra. Francis Scott Key, advogado e poeta amador,
escreveu os versos de “The Star Spangled Banner”, em 1814, inspirado no
bombardeamento do Fort McHenry pela frota inglesa na batalha ocorrida dois anos
antes. Os versos foram ajustados à melodia da canção de taberna inglesa “To
Anacreon in Heaven”. Nos Jogos Olímpicos de 1896, na Grécia, a cada vitória
americana, o maestro regia “The Star
Spangle Banner”. Mas só em 3 de março de 1931, tornar-se-ia o hino oficial dos
Estados Unidos por decisão do Congresso.
Isso é passado, voltemos ao presente.
Sérgio Fortes, com uma desenvoltura que
eu diria dieckmanníaca, ia apresentar o convidado desse domingo no Rádio
Memória – afinal o convite partira dele – quando o Jonas Vieira o interrompeu:
-Eu não conhecia o seu trabalho e me
surpreendi, fiquei encantado, estou encantado. E ele homenageia o meu
compositor favorito: Ernesto Nazareth. Só aí já ganhou...
E prosseguiu sem deixar pausas:
-E eu pensei: Ernesto Nazareth no
violão?!...
-Mas não é um violão qualquer. -frisou o
Sérgio Fortes.
-Bom dia, Nicolas de Souza Barros. -
saudou-o enfaticamente o titular do programa.
Enfim, ouviu-se a voz do convidado que
cumprimentou a todos os presentes e aos ouvintes.
-Eu nunca tinha ouvido o Ernesto
Nazareth no violão... E vejo o gênio que ele foi. - exultou o Jonas Vieira
-Você sabe que nós temos uma longa
tradição de transcrever Nazareth para o violão. Quem começou, talvez, tenha
sido Garoto, um dos maiores músicos da música popular brasileira, a pessoa que
inventou a Bossa Nova. Foi ele que trouxe o acorde do Jazz para a nossa música.
Garoto gravou de Nazareth “Nenê”, que eu também gravei, mas ficou mais fácil
depois dele. Veio outro violonista, cujo nome me escapa agora, que editou um
álbum de Nazareth; isso nas décadas de 60 e 70. Se vocês pesquisarem no You
Tube, vão descobrir centenas, talvez milhares de gravações das criações de
Ernesto Nazareth.
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