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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4848 Data:
11 de
abril de 2014
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SABADOIDO DO ESTUPRO À REVOLUÇÃO
PARTE II
Luca chegou para mais uma sessão do
Sabadoido perguntando pelo Vagner.
-Ele não telefonou, não sei se vem. -
manifestou-se o Claudio.
E o Luca prosseguiu depois de depositar
um envelope sobre a mesinha mais próxima dele cujo conteúdo não era difícil
adivinhar: cartas da Rosa e seus recortes de jornais que merecem leitura.
-Vocês tomaram conhecimento dessa menina
epiléptica que tinha mais de oitenta convulsões por semana?
-Anny Fischer.
-O nome não importa muito, Carlinhos; o
interessante é que ela melhorou extraordinariamente com um derivado da maconha.
-O canabidiol.
-A memória do Claudiomiro está ótima;
conseguiu guardar o nome.
Mal foi elogiado pelo Luca, saiu-se com
uma piada infame:
-Será que a menina dá umas tragadas para
se sentir melhor?...
-E criticaram tanto o Gabeira quando
exaltou a cannabis sativa, dizendo que, com a planta, se fazia até sapato. –
lembrei.
-Ele iria fumar o sapato. – não perdeu o
Claudio a piada, arrancando mais risos dessa vez.
-E o capitão da Copa de 58, o Bellini,
que morreu. – lamentou o Luca.
-Ele já vinha sofrendo do Mal de Alzheimer;
a família doou o cérebro dele para estudos. – manifestei-me.
-Os cientistas desconfiam que há uma
relação entre as cabeçadas na bola com essa doença.- interveio o Luca.
-Então, apesar de o Luca ter dito que
tenho ótima memória, vou ter Alzheimer.
-Ora, Claudio, você não cabeceava tantas
bolas assim. - discordei.
-Como não?... Pergunte ao Reinaldo
(cunhado do Luca). E a bola que eu cabeceava era a G8 de couro, e não essa bola
de hoje.
-Há muitos casos de boxeadores com
Alzheimer; o que eles receberam de pancada na cabeça...
-É verdade, Luca; o Maguila, que é novo,
está com essa doença.
-E continuei:
-Éder Jofre, por mais que batia, quando
lutava, também recebeu golpes na cabeça e está doente.
-O Bellini, como zagueiro, por mais que
cabeceasse aquela bola pesadona, principalmente molhada, de couro, não sofreu
tanto quanto um boxeador. - disse o Claudio.
-Se falarem em Bellini com a Rosa, ela
vai pensar que se trata do pintor italiano. - disso o Luca com um sorriso.
Aqui, um parêntese: os casos citados vêm
sendo diagnosticados como Encefalopatia Traumática Crônica, e não Alzheimer.
A voz de baixo-barítono do Vagner soou
do portão. Claudio se apressou em pegar o molho de chaves para franquear o
quintal da casa para ele.
-A Celma o trouxe, Cumercindo?
-Sim, Luquinha. - respondeu-lhe o
Vagner.
-E as obras na Chaves Pinheiro, Vagner,
como você está lidando com ela?
-Pior é quando a obra é na nossa própria
casa. Quando houve, lá em casa, a primeira a morrer foi a pequinês.
-Falando em pequinês, não se vê mais;
foi até bom, pois os cachorros dessa raça são temperamentais. Agora, o que mais
se vê são poodles.
-Mas há muitos poodles temperamentais,
Carlinhos; uns fracos abusados. - retorquiu o Vagner.
-Com essas obras na rua, voltamos à
Chaves Pinheiro sem trânsito; até daria para jogarmos vôlei, como nos velhos
tempos, não fossem os buracos. - manifestou-se meu irmão.
-Lembram o bloqueio do Renato a uma
cortada do Olavo; Renato caiu de bunda no chão xingando os gozadores?
Às
palavras do Luca, Claudio e Vagner, testemunhas da cena, riram com ele.
-E a pesquisa do IPEA sobre o estupro? -
mudou o Luca de assunto.
-Um órgão como o IPEA, paradigma das
pesquisas relacionadas com economia, metendo-se com estupros. - indignei-me.
-Saíram os técnicos e entraram os petistas.
Por onde a corriola do PT passa, não nasce grama. - irritou-se mais ainda meu
irmão.
-O pior é que eles estão, ainda não passaram.
- observei.
-E erram; falaram que 65% dos
brasileiros concordam com o estupro de mulheres com roupas ousadas, quando são
26%. - afirmou o Luca.
-Mesmo 26% é um número elevadíssimo. -
acentuei.
Até então quieto, Vagner se manisfestou:
-Mas há umas mulheres que se vestem para
o estupro...
-Ou que se despem para o estupro. -
aparteou o Luca.
Tomei a palavra, pois pedi-la, no Sabadoido,
é uma tentativa vã.
-Recordam-se que há pouco mais de um
ano, o Gerald Thomas, o diretor de teatro, enfiou impetuosamente a mão por
entre as pernas de uma mulher que estava com um vestido curto arrochado no
corpo?
Não aguardei pela resposta e segui
adiante.
-Ela, como era atriz, com ambições,
provavelmente na carreira, não apresentou queixa. A mídia, ao noticiar o fato,
não desancou o gesto tresloucado do Gerald Thomas.
Claudio, talvez por enfaro por já ter
falado sobre estupro, uma hora antes, mudou bruscamente de assunto:
-Luca, você não criticou o Caetano
Veloso até agora, e ele bateu com o carro. - instigou.
-Ele bateu com o carro... Li essa
crônica dele. - reagiu sem muito ânimo.
-Ele tem muito a aprender com você em
matéria de direção. - provoquei.
-O Caetano aprendeu a dirigir muito
tarde: 36 anos...
E concluiu o Vagner, apaixonado por
carros, com mordacidade:
-Nessa idade não se aprende mais.
-Pela descrição que ele faz da batida,
vê-se que poucas vezes ele dirige. - julgou o Luca.
-Dessa vez, ele não falou do filho. -
comentou o Vagner.
-Se falasse era para elogiar.
-Luca, o Veríssimo e o Zuenir Ventura
dedicam parte das suas colunas para
contar as gracinhas das suas netas, e o Caetano não pode falar do filho? -
defendeu-o o Claudio.
Luca se desviou de mais uma polêmica
infrutífera, e passou a tratar de uma citação errada da presidente, na matéria
música popular brasileira, também mencionada pelo Caetano Veloso em uma das
suas colunas dominicais.
-A Dilma disse que o “Samba do Avião”,
do Tom Jobim descreve a chegada dos exilados ao Galeão. Como, se a música foi
composta em 1962?
-Tom Jobim também tinha o dom do
Nostradamus. - pilheriou meu irmão.
-A Dilma, vez ou outra, cita o Nélson
Rodrigues e é uma lástima, erra tudo. - lembrei.
-Ela confundiu o “Samba do Avião”, do
Tom, com o “Samba de Orly”, do Chico Buarque, Vinícius de Moraes e Toquinho. -
disse meu irmão.
-O Caetano também aventou essa hipótese.
Mal o Luca se manifestou, ouviu-se a voz
da Celma chamando pelo Claudio.
-Hora de eu ir embora. - ergueu-se o
Vagner da cadeira.
Enquanto a esposa do nosso amigo o
levava para a casa, nós voltamos a falar do canabidiol.
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