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terça-feira, 29 de abril de 2014

2598 - Os Dragões de Navarone



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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4848                                    Data: 11   de  abril de 2014
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SABADOIDO DO ESTUPRO À REVOLUÇÃO
PARTE II

Luca chegou para mais uma sessão do Sabadoido perguntando pelo Vagner.
-Ele não telefonou, não sei se vem. - manifestou-se o Claudio.
E o Luca prosseguiu depois de depositar um envelope sobre a mesinha mais próxima dele cujo conteúdo não era difícil adivinhar: cartas da Rosa e seus recortes de jornais que merecem leitura.
-Vocês tomaram conhecimento dessa menina epiléptica que tinha mais de oitenta convulsões por semana?
-Anny Fischer.
-O nome não importa muito, Carlinhos; o interessante é que ela melhorou extraordinariamente com um derivado da maconha.
-O canabidiol.
-A memória do Claudiomiro está ótima; conseguiu guardar o nome.
Mal foi elogiado pelo Luca, saiu-se com uma piada infame:
-Será que a menina dá umas tragadas para se sentir melhor?...
-E criticaram tanto o Gabeira quando exaltou a cannabis sativa, dizendo que, com a planta, se fazia até sapato. – lembrei.
-Ele iria fumar o sapato. – não perdeu o Claudio a piada, arrancando mais risos dessa vez.
-E o capitão da Copa de 58, o Bellini, que morreu. – lamentou o Luca.
-Ele já vinha sofrendo do Mal de Alzheimer; a família doou o cérebro dele para estudos. – manifestei-me.
-Os cientistas desconfiam que há uma relação entre as cabeçadas na bola com essa doença.- interveio o Luca.
-Então, apesar de o Luca ter dito que tenho ótima memória, vou ter Alzheimer.
-Ora, Claudio, você não cabeceava tantas bolas assim. - discordei.
-Como não?... Pergunte ao Reinaldo (cunhado do Luca). E a bola que eu cabeceava era a G8 de couro, e não essa bola de hoje.
-Há muitos casos de boxeadores com Alzheimer; o que eles receberam de pancada na cabeça...
-É verdade, Luca; o Maguila, que é novo, está com essa doença.
-E continuei:
-Éder Jofre, por mais que batia, quando lutava, também recebeu golpes na cabeça e está doente.
-O Bellini, como zagueiro, por mais que cabeceasse aquela bola pesadona, principalmente molhada, de couro, não sofreu tanto quanto um boxeador. - disse o Claudio.
-Se falarem em Bellini com a Rosa, ela vai pensar que se trata do pintor italiano. - disso o Luca com um sorriso.
Aqui, um parêntese: os casos citados vêm sendo diagnosticados como Encefalopatia Traumática Crônica, e não Alzheimer.
A voz de baixo-barítono do Vagner soou do portão. Claudio se apressou em pegar o molho de chaves para franquear o quintal da casa para ele.
-A Celma o trouxe, Cumercindo?
-Sim, Luquinha. - respondeu-lhe o Vagner.
-E as obras na Chaves Pinheiro, Vagner, como você está lidando com ela?
-Pior é quando a obra é na nossa própria casa. Quando houve, lá em casa, a primeira a morrer foi a pequinês.
-Falando em pequinês, não se vê mais; foi até bom, pois os cachorros dessa raça são temperamentais. Agora, o que mais se vê são poodles.
-Mas há muitos poodles temperamentais, Carlinhos; uns fracos abusados. - retorquiu o Vagner.
-Com essas obras na rua, voltamos à Chaves Pinheiro sem trânsito; até daria para jogarmos vôlei, como nos velhos tempos, não fossem os buracos. - manifestou-se meu irmão.
-Lembram o bloqueio do Renato a uma cortada do Olavo; Renato caiu de bunda no chão xingando os gozadores?
 Às palavras do Luca, Claudio e Vagner, testemunhas da cena, riram com ele.
-E a pesquisa do IPEA sobre o estupro? - mudou o Luca de assunto.
-Um órgão como o IPEA, paradigma das pesquisas relacionadas com economia, metendo-se com estupros. - indignei-me.
-Saíram os técnicos e entraram os petistas. Por onde a corriola do PT passa, não nasce grama. - irritou-se mais ainda meu irmão.
-O pior é que eles estão, ainda não passaram. - observei.
-E erram; falaram que 65% dos brasileiros concordam com o estupro de mulheres com roupas ousadas, quando são 26%. - afirmou o Luca.
-Mesmo 26% é um número elevadíssimo. - acentuei.
Até então quieto, Vagner se manisfestou:
-Mas há umas mulheres que se vestem para o estupro...
-Ou que se despem para o estupro. - aparteou o Luca.
Tomei a palavra, pois pedi-la, no Sabadoido, é uma tentativa vã.
-Recordam-se que há pouco mais de um ano, o Gerald Thomas, o diretor de teatro, enfiou impetuosamente a mão por entre as pernas de uma mulher que estava com um vestido curto arrochado no corpo?
Não aguardei pela resposta e segui adiante.
-Ela, como era atriz, com ambições, provavelmente na carreira, não apresentou queixa. A mídia, ao noticiar o fato, não desancou o gesto tresloucado do Gerald Thomas. 
Claudio, talvez por enfaro por já ter falado sobre estupro, uma hora antes, mudou bruscamente de assunto:
-Luca, você não criticou o Caetano Veloso até agora, e ele bateu com o carro. - instigou.
-Ele bateu com o carro... Li essa crônica dele. - reagiu sem muito ânimo.
-Ele tem muito a aprender com você em matéria de direção. - provoquei.
-O Caetano aprendeu a dirigir muito tarde: 36 anos...
E concluiu o Vagner, apaixonado por carros, com mordacidade:
-Nessa idade não se aprende mais.
-Pela descrição que ele faz da batida, vê-se que poucas vezes ele dirige. - julgou o Luca.
-Dessa vez, ele não falou do filho. - comentou o Vagner.
-Se falasse era para elogiar.
-Luca, o Veríssimo e o Zuenir Ventura dedicam parte das suas  colunas para contar as gracinhas das suas netas, e o Caetano não pode falar do filho? - defendeu-o o Claudio.
Luca se desviou de mais uma polêmica infrutífera, e passou a tratar de uma citação errada da presidente, na matéria música popular brasileira, também mencionada pelo Caetano Veloso em uma das suas colunas dominicais.
-A Dilma disse que o “Samba do Avião”, do Tom Jobim descreve a chegada dos exilados ao Galeão. Como, se a música foi composta em 1962?
-Tom Jobim também tinha o dom do Nostradamus. - pilheriou meu irmão.
-A Dilma, vez ou outra, cita o Nélson Rodrigues e é uma lástima, erra tudo. - lembrei.
-Ela confundiu o “Samba do Avião”, do Tom, com o “Samba de Orly”, do Chico Buarque, Vinícius de Moraes e Toquinho. - disse meu irmão.
-O Caetano também aventou essa hipótese.
Mal o Luca se manifestou, ouviu-se a voz da Celma chamando pelo Claudio.
-Hora de eu ir embora. - ergueu-se o Vagner da cadeira.
Enquanto a esposa do nosso amigo o levava para a casa, nós voltamos a falar do canabidiol.





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