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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4295 Data: 19
de outubro de 2013
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94.1 FM RÁDIO
MEMÓRIA
Volta ao passado sem pieguice, pelo
contrário, com alegria, essa é a Rádio Memória que o Jonas Vieira abre aos
domingos, 8h da manhã com o seu costumeiro “muitíssimo bom-dia, senhores
ouvintes”.
Na primeira participação do Sérgio
Fortes, ele disse que o dia era 13 de outubro e se assumiu como
homem-calendário. Antes que um ouvinte açodado imaginasse o Sérgio Fortes
pendurado numa borracharia, ele passou a falar do Romário, o homem-dicionário.
-Lembra-se dele, Jonas?
-Como não?... Surgiu no programa César
de Alencar.
-Havia um personagem de um filme do
César de Alencar que tinha decorado a lista telefônica. - prosseguiu o Sérgio
com as suas recordações infanto-juvenis.
Embora não citasse o nome do filme,
“Absolutamente Certo”, Jonas Vieira falou do personagem que guardava na
retentiva todos os seis algarismos que identificavam os telefones.
Em seguida, Sérgio Fortes passou para o
professor Bey.
-Ele ficava com vendas nos olhos,
enquanto uma mulher, no meio da plateia, pegava objetos de espectadores e ele
tinha de adivinhar o que eram.
-Era um truque antigo, Sérgio.
Ele e a sua parceira combinavam, antes,
que ela pegaria primeiramente, por exemplo, um relógio, depois um anel, em
terceiro lugar um colar, e assim por diante. Ele, com a televisão no ar, fingia
uma intensa concentração mental enquanto ela, com o anel na mão, conforme o
combinado, dizia: “Pensar, professor, pensar”, que virou um bordão na hora de
fazermos as lições escolares.
Sérgio Fortes reproduziu as palavras do
professor Bey antes de identificar o objeto:
“Vejo que a minha consulente...”.
Feitas essas digressões, Sérgio Fortes
voltou a ser o homem-calendário e, como fizera uma semana antes, citou os
acontecimentos do dia 13 de outubro, entre eles, a criação do jogo do bicho pelo
Barão de Drummond.
Dois Drummond que o meu amigo Luca tanto
venera: esse e o Carlos Drummond de Andrade; eles, aliás, eram parentes.
Pensava nisso, enquanto o parceiro do Jonas Vieira arrolava os que nasceram e
morreram em 13 de outubro até chegar a um nome que parecia estranho: Elzie
Crisler Seger.
-Quem foi? - sabatinou o Jonas Vieira.
Fosse um trompetista da banda do Duke
Ellington, um violinista da orquestra do Paul Whiteman, enfim, alguém ligado à
música, o titular do programa responderia sem pestanejar, mas como não era,
reconheceu o seu desconhecimento.
-O criador do Popeye.
-E o Corinthians foi campeão depois de
23 anos de espera. - prosseguiu.
Era a hora das canções e Jonas Vieira o
lembrou desse compromisso com a pergunta que antecede as opções melódicas:
-E agora, Sérgio?
-Escolhi uma música de Irving Berlin,
“No Strings”, do flime “Top Hat”, “O
Picolino”, na voz do Fred Astaire. A
gravação é de 26 de junho de 1935, e a orquestra é de Leo Reisman.
E ouviram-se não só a voz do grande
artista como o seu sapateado, que soava como um instrumento da orquestra.
-Que maravilha! Foi uma época super-romântica!
- exultou o Jonas Vieira.
E passou a considerações encomiásticas à
novela das 6 da TV Globo, “Lado a Lado”, pelos figurinos, locações, posições da
câmera, “coisas do nível de Hollywood”.
Sérgio Fortes, contaminado pelo entusiasmo do amigo, reforçava suas
palavras. Estranhei tanto confete, embora não veja a novela, mas o
estranhamento não durou muito tempo.
-A novela passa nos anos 30, numa época
em que não existia ainda o samba, era o maxixe.
E foi adiante o Jonas Vieira na sua
crítica:
-Tocam boleros na novela, que não
existiam naquele tempo. E outra coisa:
Orlando Silva era mais famoso do que Getúlio Vargas, e não há uma só referência
a ele.
Concluí desses comentários que a novela
“Lado a Lado” é uma espécie de “TV Memória” em que há glamour, mas poucas
consultas dos memoristas aos alfarrábios.
Sérgio Fortes aproveitou a oportunidade
para reportar-se à brilhante minissérie “Agosto”, dirigida por Carlos Manga
(essa nós assistimos com aplausos), que foi levada na TV Globo em 1993.
-A história se passa no ano do suicídio
de Getúlio Vargas: 1954. Há uma cena em que um personagem se atira pela janela
e cai sobre um carro que foi fabricado em 1955. (**)
-”De volta para o futuro”. - pilheriou o
Jonas Vieira com o filme de Steven Spielberg.
“Words, words, words” - disse Hamlet,
mesmo não querendo ouvir peças musicais (parece, pelo menos), mas Jonas Vieira
queria ouvir e passou para a sua escolha:
-Ary Barroso, que era um gênio, compôs o
samba “Coisas de carnaval”, que vamos escutar com o Trio Irakitan, Prestem
atenção na letra.
E prestamos. Um folião fica deslumbrado
por uma morena que “pulava, sambava, gingava e desacatava”, vai até ela cheio
de amor para dar, e descobre que se chamava “Quinca Peroba Xisto d' Assunção”.
-Era um travesti. - disse em tom maroto
o Jonas Vieira tão logo o samba acabou.
-A morena tinha bíceps enormes. -
gracejou o Sérgio Fortes.
Acontece nas melhores famílias e até na
Igreja Católica, se lembrarmos da Papisa Joana. O que falar, então, de um
carnaval na “Galeria”.
A bola foi passada, agora, para o Sérgio
Fortes.
-”Vamos homenagear um autor que estaria
fazendo 100 anos de idade: Francisco Matoso.
-Sim, Francisco Matoso... -
interrompeu-o o titular do programa, enquanto aguardávamos dados sobre ele, que
nos era desconhecido.
-Francisco Matoso morreu com 28 anos de
idade de tuberculose.
Se o doutor Fernando Borer estivesse no
programa, faria mais considerações sobre essa doença, pois o Jonas Vieira
voltou a falar da incidência desse mal.
Sérgio Fortes foi adiante:
-Francisco Matoso é autor de “Boa
Noite”, “Pegando Fogo”, entre outras composições. Eu escolhi uma valsa que ele compôs com
Lamartine Babo, “Eu sonhei que tu estavas tão linda”, na voz do Paulo Fortes.
E do LP, “Ternas e Eternas Serestas”,
volume II, do grande barítono, ouvimos a encantadora valsa.
-Que beleza!- vibrava o Jonas Vieira,
enquanto o Sérgio Fortes pinçava os versos mais inspirados da letra.
-O belo som do violino que ouvimos veio
do João Daltro de Almeida, excepcional spalla da Orquestra Sinfônica Brasileira
de 1978 a 1993. - esclareceu o Sérgio.
-Um abraço ao Dino Sete Cordas. - passou
o Jonas Vieira do violino para o violão.
-E ao Luzer. - voltaram os dois ao
violino.
Lamentaram o esquecimento a que foram
relegadas as valsas e a atual cacofonia que, hoje, fere os nossos ouvidos.
-É o ritmo bate-estaca. A britadeira.
Sérgio Fortes falou do que se tornou
comum no trânsito: carros com “música funk” em altíssimo volume.
-O carro até treme. - disse.
-É um perigo! O motorista é um assassino
em potencial. - concluiu o Jonas Vieira com uma galhofa, mas que não estava
longe da verdade.
(*) “Lado a Lado”
terminou em março de 2013. A novela de época que está no ar, igualmente no
horário das 6, é “Joia Rara”. Tem por exemplo entre as bobagens de praxe, uma
compra de um aparelho de rádio que toca imediatamente na hora em que é ligado. Uma
tremenda falha histórica, pois quem conheceu o rádio antes do transistor sabe
que levava um tempão para esquentar, fazendo ruídos, estáticas etc.
E os
telespectadores curtiriam essa informação, sem dúvida. O roteiro deve ter sido
escrito pela geração YZ.
(**) Esse
comentário, segundo apurou o distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO, foi feito
pelo Dieckmann. Não se trata de carro 1955 e sim de um modelo 1953, o que não
estaria errado em 1954. Entretanto, quem conheceu os anos 50 sabe perfeitamente
que um carro com um ano de uso estaria mais polido do que um zero quilômetro na
loja. E o tal carro, em cujo capô o sujeito se espatifou, era um escombro. Vacilo
da produção, que economizou centavos.
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