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quarta-feira, 23 de outubro de 2013

2494 - meio ladrão tem cinquenta anos de perdão



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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4294                                       Data: 17 de outubro de 2013
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CARTAS DOS LEITORES

-Pelas citações feitas ao escritor José Saramago, no Biscoito Molhado, acredito que o redator conheça as expressões populares de origem portuguesa; isto posto, pergunto: como surgiu a expressão tirar o pai da forca? Nei Abóbora
BM: Meu caro Nei Abóbora, você deve ter ouvido também alguém falar que não tem o dom da ubiquidade como Santo Antônio; tudo está relacionado. Vamos lá.
Santo Antônio fazia um sermão, em Pádua, quando recebeu, espiritualmente, a informação que seu pai morreria na forca, dentro de alguns dias, sob a acusação de ter matado um jovem. Todos os que assistiam ao sermão, mais os ausentes, estes em número bem maior, viram o santo colocar a mão na fronte em meditação profunda. A impressão que tiveram foi de uma pausa momentânea para ordenar os pensamentos e ideias para que prosseguisse com a sua pregação. Mas não foi nada disso; pelo poder da bilocação, ou ubiquidade, ele se transportou para Lisboa, onde ressuscitou a vítima, ouviu dele que o seu pai era inocente e, com esse testemunho, reabriu o processo e, no mesmo tribunal em que se deu a condenação, obteve a absolvição. “Tirou o pai da forca” - diz-se desde então.
O remetente aludiu ao escritor José Saramago que sendo incréu, ironizou esse caso, escrevendo que Santo Antônio recorreu à quarta dimensão. Quanto a nós, bem... Santo Antônio é o santo casamenteiro e pelas pessoas que vemos conseguindo casamento não temos dívidas de afirmar que esses milagres são  bem mais inacreditáveis do que aquele em que tirou o pai da forca.

-“O Distribuidor do seu Biscoito Molhado consultou o Dieckmann sobre a repetição continuada do nome (só o nome) do Jonas Vieira. Considera o Dieckmann que o redator do Biscoito Molhado está certo em reescrever para aprender – e isso vale para muito mais coisas – e que a comparação do Jonas com Salomão poderá ser contestada pela parte prejudicada.” Dieckmann Chuchu
BM: De novo o José Saramago... mas nunca é demais evocá-lo. Dieckmann se refere, nesse caso, ao Biscoito Molhado em que comparamos a reação negativa do rei de Portugal, João III, ao tomar conhecimento que o elefante Solimão, que dera ao Arquiduque da Áustria, Maximiliano II, foi trocado para Salomão, pelo presenteado. Escrevemos, na ocasião, que o radialista Jonas Vieira, ao ver o seu nome trocado por nós, involuntariamente, pelo do pastor Jonas Resende, ficou “enxofrado” - adjetivo usado pelo grande escritor e mais usual lá. O leitor bem intencionado, que é aquele a quem nos dirigimos, entendeu que comparamos o apresentador do Rádio Memória ao rei Dom João III. Porém, o Dieckmann, só se deteve no fato que o nome do apresentador do Rádio Memória foi confundido como o do Salomão e que, por isso, comparamos o Jonas Vieira com o elefante. Eis uma meia verdade.
E o que é uma meia verdade?
“A mentira que é uma meia verdade é a pior das mentiras.” - escreveu Lorde Alfred Tennyson.
Dieckmann que esteve na China para encomendar um pórtico a um estaleiro do Rio Grande do Sul, deveria atentar para os provérbios de lá, um deles diz:
“Meia verdade é sempre uma mentira inteira.”
Paro as citações por aqui, para voltar ao meu grande problema que é o de trocar, inadvertidamente, os nomes. Confesso que ao escrever sobre a participação do músico Marcos Ariel no mencionado programa da 94.1 FM, tive de me policiar o tempo todo para não chamá-lo de Marcos Maciel. Cometesse eu esse erro, e o Dieckmann faria uma festa descomunal e não haveria citações, nem de Shakespeare, que me salvassem.
Seria a vez do Marcos Maciel, digo, Ariel, ficar enxofrado.

-Sérgio Fortes, no programa de 6 de outubro, às 8 horas da manhã, da Roquette Pinto, falou do santo desse dia e o redator deste periódico dedicou poucas palavras a São Bruno. Aqui fica registrado meu protesto. Fernando Dias Batata.
BM: Vamos tentar nos penitenciar agora, caro Batata.
Para quem pensa que só existe pastor alemão, engana-se rotundamente; na Alemanha também nascem padres, como São Bruno, que é natural da idade de Colônia e foi batizado com o nome Bruno von Köln. Como bem acentuou o Sérgio Fortes, ele foi o criador da Ordem dos Cartuxos. São Bruno faleceu em 6 de outubro de 1101 na Itália.

-Amigo Carlos, na minha sábia ignorância, não sei como devo me prosternar diante de vossa Beatitude. Nos táxis, sofre a metamorfose de “Meu nobre”, “Meu amado” e “Meu querido”.  Sua visita rubinstênica me trouxe à combalida memória que tive o deleite de enfrentá-lo em Bruxelas (1967). Boquiabra-se, pois nas Oropas fiz assinatura da melhor temporada de concertos, balés e festivais cinematográficos. Tive até a chance de esbarrar em Paris na exposição itinerante do King Tut. Dizem que a Sorte apenas tem cabelos na frente da cabeça, se deixar passar, por trás não há como agarrá-la.
Procurei manter os pés no chão para enfrentar as ferozes intempéries, recordando que voltaria para o trem da Central. Nunca tomei um táxi. Vossência não poderia sobreviver.
Quando tiver lido o João Tordo, please, dê-me sua opinião. Suponho que apelasse para o Aurelião e outras muletas idiomáticas.
Estou reciclando papel, à falta de infringências, embargo despesas; em setembro, paguei de luz e gás apenas 54 reais. Como dizia um galã de plantão: sou uma mulher para os tempos de crise. Amplexos
P.S. Pequenos deslizes na tradução do Lautrec. Presentão. Rosa

BM: Rosa, conheci bem os trens da Central do Brasil, eu ficava na estação do Méier aguardando o Parador, na ida para a faculdade, no Centro e, na volta, engrossava a multidão atenta ao grito: “mudou a seta”, e isso de segunda a sábado. É verdade que sofri nesse transporte apenas em 1976; nos outros anos  meu sofrimento foi nos ônibus. Você, sei pelas suas cartas, foi fiel ao trem da Central enquanto trabalhou no Itamaraty.
Mas, como Rick e Ilsa, do “Casablanca, que tiveram Paris, nas suas recordações, você tem, não só essa cidade, como, principalmente, Bruxelas, com concertos de Arthur Rubinstein, entre outros mil regalos. E eu, de que vou me lembrar? Nem a Brasília fui na minha mocidade! Felizmente (que ninguém nos ouça).
Corridas de táxi passaram a ser um luxo para mim de uns quatro anos para cá. Mesmo na década de 80, quando eu assistia a todas as óperas do Teatro Municipal, não recorria aos taxistas, caminhava até a Rua Santa Luzia e lá, aguardava o 298, Castelo-Coelho Neto, ou, então, a caminhada era até a Praça Tiradentes, onde aguardava o 284 – Praça Tiradentes – Praça Seca.
Eu havia lido, alhures, que Alexandre Magno, depois que conquistou a Pérsia e conheceu o luxo, olvidou tudo o que aprendera com Aristóteles, e nunca mais foi o mesmo guerreiro. Eu era um Alexandre antes da conquista da Pérsia, não porque o quisesse; o governo paga mal a seus funcionários, como você sabe melhor do que eu.
Os meus costumeiros deslocamentos de táxi, hoje, não me custam mais de 8 reais. Antes eu saltava em Del Castilho e andava até a minha casa, um dia, deparei-me com pivetes na Rua Van Gogh, com armas na mão, prontos a arrancarem a minha orelha a bala. Eu recorri, a partir de então, aos táxis, sinto-me mais seguro e sou até chamado de nobre por trabalhadores que não são jacobinos.
Apraz-me saber que, apesar dos erros de tradução, você está gostando do presente que lhe dei de aniversário, aliás, qual é o dia exato? Quanto ao livro que me foi presenteado, do João Tordo, lerei logo depois de terminar “A menina que roubava livros”, assunto que muito me interessa, pois tenho, na minha biografia, livros emprestados que não devolvi, o que não deixa de ser roubo. (*)
Amplexos afetuosos.

(*) Livro emprestado e não devolvido é roubo inteiro. (provérbio popular alemão)

Um comentário:

  1. Na verdade, o elefante se chamava Salomão, e o Arquiduque da Áustria trocou para Solimão; não distraidamente, como eu fiz com o Jonas Vieira-Jonas Resente, mas de propósito, por puro autoritarismo.
    O redator.

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