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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4294 Data: 17
de outubro de 2013
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CARTAS DOS LEITORES
-Pelas citações feitas ao escritor José
Saramago, no Biscoito Molhado, acredito que o redator conheça as expressões
populares de origem portuguesa; isto posto, pergunto: como surgiu a expressão
tirar o pai da forca? Nei Abóbora
BM: Meu caro Nei Abóbora, você deve ter ouvido também alguém falar que não
tem o dom da ubiquidade como Santo Antônio; tudo está relacionado. Vamos lá.
Santo Antônio fazia um sermão, em Pádua,
quando recebeu, espiritualmente, a informação que seu pai morreria na forca,
dentro de alguns dias, sob a acusação de ter matado um jovem. Todos os que
assistiam ao sermão, mais os ausentes, estes em número bem maior, viram o santo
colocar a mão na fronte em meditação profunda. A impressão que tiveram foi de
uma pausa momentânea para ordenar os pensamentos e ideias para que prosseguisse
com a sua pregação. Mas não foi nada disso; pelo poder da bilocação, ou
ubiquidade, ele se transportou para Lisboa, onde ressuscitou a vítima, ouviu
dele que o seu pai era inocente e, com esse testemunho, reabriu o processo e,
no mesmo tribunal em que se deu a condenação, obteve a absolvição. “Tirou o pai
da forca” - diz-se desde então.
O remetente aludiu ao escritor José
Saramago que sendo incréu, ironizou esse caso, escrevendo que Santo Antônio
recorreu à quarta dimensão. Quanto a nós, bem... Santo Antônio é o santo
casamenteiro e pelas pessoas que vemos conseguindo casamento não temos dívidas
de afirmar que esses milagres são bem
mais inacreditáveis do que aquele em que tirou o pai da forca.
-“O Distribuidor do seu Biscoito Molhado
consultou o Dieckmann sobre a repetição continuada do nome (só o nome) do Jonas
Vieira. Considera o Dieckmann que o redator do Biscoito Molhado está certo em
reescrever para aprender – e isso vale para muito mais coisas – e que a
comparação do Jonas com Salomão poderá ser contestada pela parte prejudicada.” Dieckmann
Chuchu
BM: De novo o José Saramago... mas nunca é demais evocá-lo. Dieckmann se
refere, nesse caso, ao Biscoito Molhado em que comparamos a reação negativa do
rei de Portugal, João III, ao tomar conhecimento que o elefante Solimão, que
dera ao Arquiduque da Áustria, Maximiliano II, foi trocado para Salomão, pelo
presenteado. Escrevemos, na ocasião, que o radialista Jonas Vieira, ao ver o
seu nome trocado por nós, involuntariamente, pelo do pastor Jonas Resende,
ficou “enxofrado” - adjetivo usado pelo grande escritor e mais usual lá. O
leitor bem intencionado, que é aquele a quem nos dirigimos, entendeu que
comparamos o apresentador do Rádio Memória ao rei Dom João III. Porém, o
Dieckmann, só se deteve no fato que o nome do apresentador do Rádio Memória foi
confundido como o do Salomão e que, por isso, comparamos o Jonas Vieira com o
elefante. Eis uma meia verdade.
E o que é uma meia verdade?
“A mentira que é uma meia verdade é a
pior das mentiras.” - escreveu Lorde Alfred Tennyson.
Dieckmann que esteve na China para
encomendar um pórtico a um estaleiro do Rio Grande do Sul, deveria atentar para
os provérbios de lá, um deles diz:
“Meia verdade é sempre uma mentira
inteira.”
Paro as citações por aqui, para voltar
ao meu grande problema que é o de trocar, inadvertidamente, os nomes. Confesso
que ao escrever sobre a participação do músico Marcos Ariel no mencionado
programa da 94.1 FM, tive de me policiar o tempo todo para não chamá-lo de
Marcos Maciel. Cometesse eu esse erro, e o Dieckmann faria uma festa descomunal
e não haveria citações, nem de Shakespeare, que me salvassem.
Seria a vez do Marcos Maciel, digo,
Ariel, ficar enxofrado.
-Sérgio Fortes, no programa de 6 de
outubro, às 8 horas da manhã, da Roquette Pinto, falou do santo desse dia e o
redator deste periódico dedicou poucas palavras a São Bruno. Aqui fica
registrado meu protesto. Fernando Dias Batata.
BM: Vamos tentar nos penitenciar agora, caro Batata.
Para quem pensa que só existe pastor
alemão, engana-se rotundamente; na Alemanha também nascem padres, como São
Bruno, que é natural da idade de Colônia e foi batizado com o nome Bruno von
Köln. Como bem acentuou o Sérgio Fortes, ele foi o criador da Ordem dos
Cartuxos. São Bruno faleceu em 6 de outubro de 1101 na Itália.
-Amigo Carlos, na minha sábia
ignorância, não sei como devo me prosternar diante de vossa Beatitude. Nos
táxis, sofre a metamorfose de “Meu nobre”, “Meu amado” e “Meu querido”. Sua visita rubinstênica me trouxe à combalida
memória que tive o deleite de enfrentá-lo em Bruxelas (1967). Boquiabra-se,
pois nas Oropas fiz assinatura da melhor temporada de concertos, balés e
festivais cinematográficos. Tive até a chance de esbarrar em Paris na exposição
itinerante do King Tut. Dizem que a Sorte apenas tem cabelos na frente da
cabeça, se deixar passar, por trás não há como agarrá-la.
Procurei manter os pés no chão para
enfrentar as ferozes intempéries, recordando que voltaria para o trem da
Central. Nunca tomei um táxi. Vossência não poderia sobreviver.
Quando tiver lido o João Tordo, please,
dê-me sua opinião. Suponho que apelasse para o Aurelião e outras muletas
idiomáticas.
Estou reciclando papel, à falta de
infringências, embargo despesas; em setembro, paguei de luz e gás apenas 54
reais. Como dizia um galã de plantão: sou uma mulher para os tempos de crise.
Amplexos
P.S. Pequenos deslizes na tradução do
Lautrec. Presentão. Rosa
BM: Rosa, conheci bem os trens da Central do Brasil, eu ficava na estação
do Méier aguardando o Parador, na ida para a faculdade, no Centro e, na volta,
engrossava a multidão atenta ao grito: “mudou a seta”, e isso de segunda a
sábado. É verdade que sofri nesse transporte apenas em 1976; nos outros
anos meu sofrimento foi nos ônibus.
Você, sei pelas suas cartas, foi fiel ao trem da Central enquanto trabalhou no
Itamaraty.
Mas, como Rick e Ilsa, do “Casablanca,
que tiveram Paris, nas suas recordações, você tem, não só essa cidade, como,
principalmente, Bruxelas, com concertos de Arthur Rubinstein, entre outros mil
regalos. E eu, de que vou me lembrar? Nem a Brasília fui na minha mocidade!
Felizmente (que ninguém nos ouça).
Corridas de táxi passaram a ser um luxo
para mim de uns quatro anos para cá. Mesmo na década de 80, quando eu assistia
a todas as óperas do Teatro Municipal, não recorria aos taxistas, caminhava até
a Rua Santa Luzia e lá, aguardava o 298, Castelo-Coelho Neto, ou, então, a
caminhada era até a Praça Tiradentes, onde aguardava o 284 – Praça Tiradentes –
Praça Seca.
Eu havia lido, alhures, que Alexandre
Magno, depois que conquistou a Pérsia e conheceu o luxo, olvidou tudo o que
aprendera com Aristóteles, e nunca mais foi o mesmo guerreiro. Eu era um
Alexandre antes da conquista da Pérsia, não porque o quisesse; o governo paga
mal a seus funcionários, como você sabe melhor do que eu.
Os meus costumeiros deslocamentos de
táxi, hoje, não me custam mais de 8 reais. Antes eu saltava em Del Castilho e
andava até a minha casa, um dia, deparei-me com pivetes na Rua Van Gogh, com
armas na mão, prontos a arrancarem a minha orelha a bala. Eu recorri, a partir
de então, aos táxis, sinto-me mais seguro e sou até chamado de nobre por
trabalhadores que não são jacobinos.
Apraz-me saber que, apesar dos erros de
tradução, você está gostando do presente que lhe dei de aniversário, aliás,
qual é o dia exato? Quanto ao livro que me foi presenteado, do João Tordo,
lerei logo depois de terminar “A menina que roubava livros”, assunto que muito
me interessa, pois tenho, na minha biografia, livros emprestados que não
devolvi, o que não deixa de ser roubo. (*)
Amplexos afetuosos.
(*) Livro
emprestado e não devolvido é roubo inteiro. (provérbio popular alemão)
Na verdade, o elefante se chamava Salomão, e o Arquiduque da Áustria trocou para Solimão; não distraidamente, como eu fiz com o Jonas Vieira-Jonas Resente, mas de propósito, por puro autoritarismo.
ResponderExcluirO redator.