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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4293 Data: 16
de outubro de 2013
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RÁDIO MEMÓRIA DO DIA 6 DE OUTUBRO
Após o Jonas Vieira abrir o programa com
o seu costumeiro “bondíssimo bom-dia, senhores ouvintes”, o Sérgio Fortes
passou a arrolar os dados alusivos ao dia 6 de outubro, que foram: dia de São
Bruno, entronização do Papa Formoso, em 891, estreia do “Cantor de Jazz”, em
1927, bicampeonato do Émerson Fittipaldi, proclamação da República de uma ilha
asiática cujo nome me escapou, oitavo casamento da Elizabeth Taylor, morte de
Bette Davis, nascimento de Zé Kéti, Altemar Dutra. E, finalmente, anunciou o
nome do Fernando Borer como responsável por essa pesquisa com duas falhas
imperdoáveis: o esquecimento do aniversário do redator do Biscoito Molhado e da
mãe do Roberto Dieckmann.
Jonas Vieira, por sua vez, se regalou
com o nome do papa do primeiro milênio e, trocando a formosa pelo formoso,
entoou a canção do Vinícius de Moraes, com uma boa voz, mas sem atingir a
plenitude artística do domingo em que cantou “Lili Marlene”.
A primeira música foi escolhida pelo
Sérgio Fortes, “Dream a Little dream of me”, com Louis Armstrong e Ella
Fitzgerald. Gravação de 1931.
-Obra-prima. - exultou o Jonas Vieira.
E, em seguida, expressou a sua amargura
com os brasileiros por deixarem passar em brancas nuvens o centenário do
sambista Ciro Monteiro, que foi admirado até pelo Chico Buarque de Holanda.
Como “modestíssima homenagem”, pediu a gravação de “Você é meu xodó”,
anunciando-o como intérprete e o Ataulfo Alves, como compositor.
Enquanto o Formigão mostrava as manhas
de um bom sambista, eu me recordava de uma entrevista com o Delfim Netto, então
czar da economia, em que revelou que o seu compositor predileto era o Ataulfo
Alves, esquecendo-se das pastoras.
Tudo bem, mas o nome do seu parceiro,
nesse samba, tinha de ser dito e, logo após a audição, Jonas Vieira desfez o
seu esquecimento: Wilson Batista. Cabe aqui um parêntese: no programa “Choro,
Chorinho e Chorões”, da mesma emissora, “Gente Humilde”, vem sendo atribuída
somente ao Chico Buarque, com a agravante de a letra dele e do Vinícius de Moraes
não ser cantada; a omissão do nome do Garoto fica pior do que o crime de lesa-majestade no tempo da monarquia.
A palavra voltou para o Sérgio Fortes,
que falou, primeiramente, em Irving Berlin, depois, da sua criação: “How Deep
is The Ocean”. Murmúrios orgasmáticos do Jonas Vieira foram ouvidos por nós
nesse instante. Para culminar, Sérgio Fortes falou da orquestra de Paul
Whiteman.
Jonas Vieira discorreu sobre a
importância de Paul Whiteman no universo musical e seu companheiro de programa
aludiu à ligação dele com George Gershwin.
Sim, em 1924, Paul Whiteman encomendou
uma obra de fôlego a George Gershwin para uma grande apresentação da sua
orquestra e, assim, surgiu “Rhapsody in Blue”, Nessa noite de gala, estiveram
presentes Stravinsky, Leopold Stokowsky e Rachmaninoff.
Soada a última gota, ou melhor, nota, do
“How Deep is The Ocean”, Sérgio Fortes culpou a idade pelo fato de ter trocado
a orquestra de Harry James, a que realmente ouvimos, pela do Paul Whiteman.
Evidentemente que todos perdoamos o Sérgio, menos o Verdi e o Goethe que, perto
dos 80 anos de idade, criaram suas obras primas.
Depois de o titular do programa
enaltecer a orquestra de Harry James e também a de Duke Ellington que, como
conhecedor de música, coloca num patamar inalcançável, o Sérgio Fortes lhe
indagou sobre a memória do “Rádio Memória”. Algumas décadas se passaram, o que
ensejou a falar do seu pai, o barítono Paulo Fortes que, acompanhado da soprano
Glória Queirós, reivindicou a aposentadoria dos artistas líricos do Teatro
Municipal do Rio de Janeiro. Como o juiz se mostrava cético quanto ao tempo de
profissão deles, Paulo Fortes se reportou à primeira missa rezada no Brasil por
Frei Henrique de Coimbra, assinalando que ele e a Glória Queirós já estavam lá,
no coro. Esse caso, assinalamos nós, está registrado na biografia do grande
barítono elaborado pelo Rogério Barbosa Lima.
Na vez do titular do programa anunciar a
próxima gravação, ele teceu loas a dois músicos excepcionais: Gerry Mulligan,
que toca saxofone-barítono e Astor Piazzola. A música era “Close your eyes and
listen”, e, sem esquecer o seu tempo de professor de inglês, prontamente
traduziu: “Fecha seus olhos e ouça”.
Fechamos e ouvimos até que a “Pausa para
Meditação” com o tema sexo, nos fez a todos ficarmos com os olhos bem abertos.
Desfeita
a pausa, veio o comentário do Jonas Vieira: “sexo é para reprodução, mas foi
transformado numa grande sacanagem.
Creio que se o Simon Khouri lá
estivesse, discordaria; meus hormônios também discordam. Mas é verdade que a
mídia exacerba o erotismo e provoca, com isso, malefícios à sociedade,
principalmente às crianças, que perdem a infância antes do tempo.
Mas logo o Jonas Vieira se descontraiu
ao se recordar de uma marchinha carnavalesca dos anos 50, cantada pelo Jorge
Veiga: “A história da maçã é pura fantasia/maçã igual aquela/ o papai também
comia.”
-Jonas, conhece “Dos meus braços não
sairás”?
-Conheço, foi gravado pelo Nélson
Gonçalves.
E Sérgio Fortes prosseguiu:
-Trata-se de um fox-canção de Roberto
Roberti, gravação de 24 de abril de 1944 com Nélson Gonçalves.
-Desde o início da carreira do Nélson
Gonçalves, ele imitava o Orlando Silva, a ponto de o Orlando Silva, certa vez,
ao ouvir um disco do Nélson, ter dito: “Uai, eu não gravei isso”.
E prosseguiu o Jonas Vieira:
-Em 1947, o Nélson Gonçalves baixou um
tom para se desprender do Orlando Silva, mas, até o fim, a sua maneira de
cantar foi a mesma.
À gravação que se seguiu, Jonas Vieira
teceu loas e mais loas ao intérprete de voz abaritonada, Dick Haymes, que
esteve à frente de todos, inclusive Frank Sinatra. A canção: “You'll never
know.”
Bem, a Rádio Memória não tem apenas a
“Pausa para Meditação”, também tem a “Pausa para Espinafração” e a atual
conjuntura brasileira foi espinafrada. Quando Jonas Vieira comparou o
desenvolvimento de Cingapura com o do Brasil, ficamos ainda mais arrasados.
Para que esquecêssemos as mazelas do
nosso país, pediu a gravação de “Lírio do Campo”, criação de Ataulfo Alves e
Peter Pan na voz do Jorge Goulart.
Enquanto a canção era tocada, as
peripécias da memória me levaram para o tempo de menino, quando ouvíamos, lá em
casa “Jezebel”, não por Jorge Goulart, mas na voz de Leny Eversong. Eu e meus irmãos ficamos tão fascinados por
essa música que sempre que íamos ao banheiro cantávamos: “Jezebel el el el, me
dá o papel el el el...”. Mesmo que houvesse papel, nós cantávamos assim.
Bem, como o dia 6 de outubro também era
dia de Vasco e Flamengo, o programa terminou com o assunto futebol. Sérgio
Fortes previu 3 a 1 para o Flamengo com gols de Esquerdinha, Índio e Rubens, e
Sabará marcando pelo Vasco da Gama. Afinal, o programa, pelo nome, tinha de
justificar as reminiscências.
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