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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4285 Data: 02
de outubro de 2013
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O ÚLTIMO SABADOIDO
SETEMBRINO
2ª PARTE
A sessão do Sabadoido na garagem do
fusquinha da Gina (Deus sabe por onde ele roda hoje) não se iniciou com nada
parecido com fotogramas, isso porque o Luca, mal chegou, enalteceu a beleza da
namorada do José Dirceu. Para tonificar suas palavras, mostrou a fotografia da
dita cuja a todos. Se ela mantém a conta bancária em sigilo, o mesmo não se
pode dizer das suas pudendas.
-Caramba, ele tem o gosto bem mais
apurado do que o Lula. - foi a constatação geral do público masculino presente,
que logo a comparou com a ex-chefe do gabinete regional da Presidência da
República em São Paulo.
Mas a imagem não diz, como muitos falam,
mais do que mil palavras. O mestre Millor Fernandes já ponderara: “A imagem diz
mais do que mil palavras?... Diga isso sem as palavras.” Assim, quando
resolvemos ler o texto abaixo da fotografia, soubemos que o mensaleiro-mor já
namorava outra e que essa era passado. A atual, uma bela mulher também, diga-se
de passagem, é acusada de formação de quadrilha, o que prova que o ex-braço
direito do Lula não participa de quadrilhas somente com gente feiosa, como o
Delúbio Soares e o José Genoíno.
Felizmente, ninguém trouxe à discussão o
jeitinho brasileiro, mais conhecido no Supremo Tribunal Federal por embargos
infringentes.
Luca, agora, se voltava para mim:
-Carlinhos, você se enganou no BM; eu
assisti ao lançamento do “Exorcista”, no Cine Santa Alice, e não no Baronesa.
Não havia mais dúvidas, minha memória me
traiu mais do que o Joaquim Silvério dos Reis; depois de eu trocar a “Noviça
Rebelde” do Palácio para o Metro Passeio, esse agora.
-Fomos quatro no seu fusca ao Santa Alice:
eu,você, Glória e Lopo. - interveio o
Claudio.
-Mas o Carlinhos citou um cinema que
frequentei muito, o Baronesa, da Praça Seca, porque fui aluno interno em
Jacarepaguá.
Meu irmão prosseguiu:
-Num dos trailers, antes do início do
“Exorcista”, aparece o Jece Valadão fantasiado de anjo, com asinhas e tudo,
então, ele anuncia um filme bem angelical, mas com bastante sacanagem.
Enquanto o Claudio e o Vagner riam com a
piada de pornochanchada, Luca reconhecia que não possuía tal memória
cinematográfica, ainda assim, persistiu nesse tema:
-Eu coloco entre os dez maiores filmes
de todos os tempos, “Casablanca”, “Testemunha de Acusação”...
-Grandes filmes,mas os críticos apontam
outras películas.
-Eu sei, Carlinhos, cito os meus, mas
não desgosto dos que são consagrados por eles, “Cidadão Kane”, “Ben Hur”...
-”Ben Hur” entre os dez maiores filmes
de todos os tempos?... estranhei.
Luca se socorreu no Vagner:
-Na lista dos dez maiores da revista
“Cinemim”, não estava “Ben Hur”.
Vagner confirmou timidamente com a cabeça,
enquanto a voz do Claudio convergiu nossa atenção.
-Nunca vi “Ben Hur”, oportunidades para
isso não faltaram, pois a Gina, fã do Charlton Heston, volta e meia coloca a
fita no DVD para assistir.
-A Gina e a Rosa Grieco são as
presidentes do fã-clube do Charlton Heston. - não deixei a piada passar.
Aproveitando a oportunidade, meu irmão
indicou, com bastante entusiasmo, “As Aventuras de Pi”, fita que passaria no
Telecine e que não pode ser perdida por quem gosta de cinema, ou não.
De repente, a voz do Luca se tornou
grave:
-Vou contar um segredo.
-Somos quatro. - advertiu-o o Vagner.
-Certa vez, um político conhecido do
Tancredo Neves o abordou para contar um segredo e o Tancredo lhe disse: “Não me
conte, meu filho, não me conte, se você, que é o dono do segredo, não consegue
guardá-lo, imagina eu.” - lembrei.
-Nesse instante, a Gina se juntou a nós.
-Agora somos cinco. - voltou o Vagner à
sua contagem.
-Toda a torcida do Flamengo saberá... -
disseram.
Antes da narrativa do segredo
propriamente dito, Luca fez uma pergunta:
-Pode uma mãe pedir interditar a filha?
Claudio fez algumas considerações de
caráter jurídico, e, em seguida, o segredo foi contado.
Pretendia eu contar para os nossos
leitores o segredo quando um barulho nos deixou a todos em estado de alerta.
-O que é isso?
-Jogaram pedra no telhado. - bradou a
Gina.
-Isso é marimba. - ergueu-se da cadeira
imediatamente meu irmão correndo para o muro.
-Lá na pracinha há um festival de pipas.
- informei.
-Vocês querem quebrar as telhas?...
Parem com isto. - trovejou a voz do meu irmão.
Um acanhado pedido de desculpas do outro
lado do muro chegou aos nossos ouvidos.
-Se precisar de ajuda, Claudiomiro... -
disse-lhe o Vagner, quando retornou.
-O garoto pediu desculpas, mas o
grandalhão ficou me olhando...
E completou com hilaridade:
-Qualquer coisa, eu chamava a Gina.
Gina reportou-se, então, ao Seu
Montanha, personagem do humorístico “Viva o Gordo”, personificado pelo
Wellington Botelho, que era convocado pela mulher para encarar homens
truculentos, enquanto ele era frágil.
Isso trouxe à baila, nessa sessão do
Sabadoido, outras comicidades do rádio e da televisão.
-Era impressionante o dom do improviso
do Chico Anísio. - ressaltou meu irmão.
Citei, então, uma cena da “Escolinha do
Professor Raimundo” em que o Grande Otelo dá um salto da cadeira, pouco depois
de se recuperar de um problema de saúde que o deixou muitos dias hospitalizado,
quando viajava. “Olha, que a conta do hospital de Paris ainda não foi paga.”,
disse-lhe o Chico Anísio.
Foi quando apareceu meu sobrinho com o
Notebook para mostrar um momento de Fred Astaire do Luca no aniversário de um
sobrinho do Vagner.
-Esse menino fica me filmando...
Apesar da contrariedade, Luca quis ver o
filme, mas a claridade natural escondia as imagens da tela.
-Procure um lugar melhor para nós vermos
o molejo do Luca.
Não teve tempo de procurar, pois outra
pedrada estalou na telha. Uma Gina furibunda disparou rumo ao portão
deixando-nos todos de prontidão. A dança do Luca caiu no esquecimento.
-Eles já se foram. - informou ela.
Luca então viu a caixa que lembrava
aquela em que o Sabiá, personagem do Grande Otelo, morreu sufocado pelo gás que
vazava no filme “Amei um bicheiro”; mas em vez de entrar nela, como no filme,
teve uma ideia melhor: subiu. Com mais de três metros de altura, superou a
todos nós em visão:
-Está fácil de pegar essa pipa. -
informou sem apear.
-Joga uma marimba. - sugeri.
-Vai quebrar a telha. - disse ele.
-Não uma marimba com pedra, mas com
casca de banana.
Não havia casca de banana, mas o Cláudio
encontrou no lixo um papelão que dobrou em inúmeras partes até conseguir o peso
suficiente para transportar a linha para o telhado. E assim, com todos os
integrantes do Sabadoido formando um mutirão deu-se início ao resgaste da pipa
voada.
Obtivemos pleno êxito e isso foi registrado
nos anais da nossa história.
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