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quinta-feira, 10 de outubro de 2013

2485 - Ben Hur era alfabetizado?



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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4285               Data:  02  de  outubro de 2013
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O ÚLTIMO SABADOIDO SETEMBRINO
                                                            2ª PARTE

A sessão do Sabadoido na garagem do fusquinha da Gina (Deus sabe por onde ele roda hoje) não se iniciou com nada parecido com fotogramas, isso porque o Luca, mal chegou, enalteceu a beleza da namorada do José Dirceu. Para tonificar suas palavras, mostrou a fotografia da dita cuja a todos. Se ela mantém a conta bancária em sigilo, o mesmo não se pode dizer das suas pudendas.
-Caramba, ele tem o gosto bem mais apurado do que o Lula. - foi a constatação geral do público masculino presente, que logo a comparou com a ex-chefe do gabinete regional da Presidência da República em São Paulo.
Mas a imagem não diz, como muitos falam, mais do que mil palavras. O mestre Millor Fernandes já ponderara: “A imagem diz mais do que mil palavras?... Diga isso sem as palavras.” Assim, quando resolvemos ler o texto abaixo da fotografia, soubemos que o mensaleiro-mor já namorava outra e que essa era passado. A atual, uma bela mulher também, diga-se de passagem, é acusada de formação de quadrilha, o que prova que o ex-braço direito do Lula não participa de quadrilhas somente com gente feiosa, como o Delúbio Soares e o José Genoíno.
Felizmente, ninguém trouxe à discussão o jeitinho brasileiro, mais conhecido no Supremo Tribunal Federal por embargos infringentes.
Luca, agora, se voltava para mim:
-Carlinhos, você se enganou no BM; eu assisti ao lançamento do “Exorcista”, no Cine Santa Alice, e não no Baronesa.
Não havia mais dúvidas, minha memória me traiu mais do que o Joaquim Silvério dos Reis; depois de eu trocar a “Noviça Rebelde” do Palácio para o Metro Passeio, esse agora.
-Fomos quatro no seu fusca ao Santa Alice: eu,você, Glória e Lopo.  - interveio o Claudio.
-Mas o Carlinhos citou um cinema que frequentei muito, o Baronesa, da Praça Seca, porque fui aluno interno em Jacarepaguá.
Meu irmão prosseguiu:
-Num dos trailers, antes do início do “Exorcista”, aparece o Jece Valadão fantasiado de anjo, com asinhas e tudo, então, ele anuncia um filme bem angelical, mas com bastante sacanagem.
Enquanto o Claudio e o Vagner riam com a piada de pornochanchada, Luca reconhecia que não possuía tal memória cinematográfica, ainda assim, persistiu nesse tema:
-Eu coloco entre os dez maiores filmes de todos os tempos, “Casablanca”, “Testemunha de Acusação”...
-Grandes filmes,mas os críticos apontam outras películas.
-Eu sei, Carlinhos, cito os meus, mas não desgosto dos que são consagrados por eles, “Cidadão Kane”, “Ben Hur”...
-”Ben Hur” entre os dez maiores filmes de todos os tempos?... estranhei.
Luca se socorreu no Vagner:
-Na lista dos dez maiores da revista “Cinemim”, não estava “Ben Hur”.
Vagner confirmou timidamente com a cabeça, enquanto a voz do Claudio convergiu nossa atenção.
-Nunca vi “Ben Hur”, oportunidades para isso não faltaram, pois a Gina, fã do Charlton Heston, volta e meia coloca a fita no DVD para assistir.
-A Gina e a Rosa Grieco são as presidentes do fã-clube do Charlton Heston. - não deixei a piada passar.
Aproveitando a oportunidade, meu irmão indicou, com bastante entusiasmo, “As Aventuras de Pi”, fita que passaria no Telecine e que não pode ser perdida por quem gosta de cinema, ou não.
De repente, a voz do Luca se tornou grave:
-Vou contar um segredo.
-Somos quatro. - advertiu-o o Vagner.
-Certa vez, um político conhecido do Tancredo Neves o abordou para contar um segredo e o Tancredo lhe disse: “Não me conte, meu filho, não me conte, se você, que é o dono do segredo, não consegue guardá-lo, imagina eu.” - lembrei.
-Nesse instante, a Gina se juntou a nós.
-Agora somos cinco. - voltou o Vagner à sua contagem.
-Toda a torcida do Flamengo saberá... - disseram.
Antes da narrativa do segredo propriamente dito, Luca fez uma pergunta:
-Pode uma mãe pedir interditar a filha?
Claudio fez algumas considerações de caráter jurídico, e, em seguida, o segredo foi contado.
Pretendia eu contar para os nossos leitores o segredo quando um barulho nos deixou a todos em estado de alerta.
-O que é isso?
-Jogaram pedra no telhado. - bradou a Gina.
-Isso é marimba. - ergueu-se da cadeira imediatamente meu irmão correndo para o muro.
-Lá na pracinha há um festival de pipas. - informei.
-Vocês querem quebrar as telhas?... Parem com isto. - trovejou a voz do meu irmão.
Um acanhado pedido de desculpas do outro lado do muro chegou aos nossos ouvidos.
-Se precisar de ajuda, Claudiomiro... - disse-lhe o Vagner, quando retornou.
-O garoto pediu desculpas, mas o grandalhão ficou me olhando...
E completou com hilaridade:
-Qualquer coisa, eu chamava a Gina.
Gina reportou-se, então, ao Seu Montanha, personagem do humorístico “Viva o Gordo”, personificado pelo Wellington Botelho, que era convocado pela mulher para encarar homens truculentos, enquanto ele era frágil.
Isso trouxe à baila, nessa sessão do Sabadoido, outras comicidades do rádio e da televisão.
-Era impressionante o dom do improviso do Chico Anísio. - ressaltou meu irmão.
Citei, então, uma cena da “Escolinha do Professor Raimundo” em que o Grande Otelo dá um salto da cadeira, pouco depois de se recuperar de um problema de saúde que o deixou muitos dias hospitalizado, quando viajava. “Olha, que a conta do hospital de Paris ainda não foi paga.”, disse-lhe o Chico Anísio.
Foi quando apareceu meu sobrinho com o Notebook para mostrar um momento de Fred Astaire do Luca no aniversário de um sobrinho do Vagner.
-Esse menino fica me filmando...
Apesar da contrariedade, Luca quis ver o filme, mas a claridade natural escondia as imagens da tela.
-Procure um lugar melhor para nós vermos o molejo do Luca.
Não teve tempo de procurar, pois outra pedrada estalou na telha. Uma Gina furibunda disparou rumo ao portão deixando-nos todos de prontidão. A dança do Luca caiu no esquecimento.
-Eles já se foram. - informou ela.
Luca então viu a caixa que lembrava aquela em que o Sabiá, personagem do Grande Otelo, morreu sufocado pelo gás que vazava no filme “Amei um bicheiro”; mas em vez de entrar nela, como no filme, teve uma ideia melhor: subiu. Com mais de três metros de altura, superou a todos nós em visão:
-Está fácil de pegar essa pipa. - informou sem apear.
-Joga uma marimba. - sugeri.
-Vai quebrar a telha. - disse ele.
-Não uma marimba com pedra, mas com casca de banana.
Não havia casca de banana, mas o Cláudio encontrou no lixo um papelão que dobrou em inúmeras partes até conseguir o peso suficiente para transportar a linha para o telhado. E assim, com todos os integrantes do Sabadoido formando um mutirão deu-se início ao resgaste da pipa voada.
Obtivemos pleno êxito e isso foi registrado nos anais da nossa história.


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