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sexta-feira, 11 de outubro de 2013

2487 - as árias do Ariel 2



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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4287                          Data:  06  de  outubro de 2013
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MARCOS ARIEL NO RÁDIO MEMÓRIA
PARTE II

-Tom Jobim, que morreu em 1994, gostou do seu CD?
E a curiosidade do Simon Khouri foi prontamente satisfeita pelo Marcos Ariel.
-Gravei o CD depois da morte dele, mas Paulo, Daniel e a Ana gostaram muito do projeto.
E continuou a discorrer sobre o disco:
-Eu assisti a um show do Tom Jobim, no Hollywood Bowl, com 22 mil pessoas. Fui ao camarim dele e a fotografia que tiramos juntos eu aproveitei no meu CD, que foi lançado até em Berlim.
Depois do desfrute dos ouvintes, foi anunciada a “Pausa para Meditação”, crônica do Fernando Milfond, na locução do José Maurício, que tratou dos sapos. Previ, porque o cronista já citara “Vou-me embora pra Pasárgada”, que aludisse agora a outro inspirado poema do Manuel Bandeira, o da saparia, mas minha bola de cristal não brilhou,
Sob o efeito dos sapos que saltaram na referida pausa, Jonas Vieira lembrou a fábula do sapo que, ajudando a um escorpião na travessia de um rio, foi picado pelo mesmo. “Você não sabia que, agora, vamos morrer os dois debaixo das águas?” “Sabia – disse-lhe o escorpião – mas é a minha natureza...”
Nós, da redação do Biscoito Molhado, tivemos conhecimento dessa fábula através do Orson Welles, no filme “Grilhões do Passado”, em 1985, ano da morte do genial cineasta em que vários filmes seus voltaram às telas dos cinemas.
“Para mim, a vida sem a música seria um erro” - disse o filósofo Nietzsche. Não só para ele seria um erro, para todos nós e, entre eles, o Jonas Vieira que, esquecendo-se da natureza tenebrosa dos escorpiões, voltou-se para Marcos Ariel.
-Excelentes composições.
-Simon Khouri tem um gosto danado. - afirmou o Sérgio Fortes.
-Eu dou muita sorte com homem. - reagiu o Simon Khouri, abrindo a porta para piadas de cunho sexual.
-Eu já dou sorte com mulher... - não perdeu o Jonas Vieira a oportunidade.
O momento de descontração maliciosa não prosperou porque o próprio convidado interveio.
-Agora, uma homenagem do Tom Jobim ao Garoto, o violonista que influenciou Baden Powell, todo o mundo, enfim.
E na justiça que fazia a Aníbal Augusto Sardinha, falou que se podia colocar a interpretação violonística no Brasil em Antes e Depois de Garoto.
-Tom Jobim criou um Choro difícil de ser executado. O Choro requer conhecimento para ser tocado, como a música clássica, o Jazz. Tom Jobim lhe deu o nome de “Garoto”, que os americanos pronunciam com menos dificuldade.
-Anuncie o seu programa de choro. - alertou-o o Simon Khoury.
-Nós nos exibiremos no Teatro Municipal de Niterói, no próximo sábado: “Jazz Carioca”.
-Beleza de teatro! - exultou o Sérgio Fortes, pensando, provavelmente, que lá era o ideal para as encenações que não requerem muito espaço.
-Marcos Ariel, qual a sua explicação para a origem do Choro?
O compositor, instrumentista e também musicólogo viajou pelo passado do Brasil, quando os grandes fazendeiros promoviam saraus com música barroca, europeia, em suma. Nos intervalos dessas apresentações – disse ele – esses músicos apreciavam as batucadas nas senzalas. Encantados com essas alegres batucadas, eles fundiram a música da Europa com o ritmo africano, que foi o embrião do Choro. Foi também lembrado que os escravos americanos, em vez de batucarem, cantavam, o que originou os “spirituals”.
As palavras cessaram porque um valor mais alto se alevantou: o Choro “Garoto”, de Antônio Carlos Jobim.
-Ouvimos uma preciosidade. - atalhou o Jonas Vieira.
-Jobim criou músicas lindíssimas para o piano, essa que ouvimos, mais a “Luiza”, “Olha, Maria”...
Sérgio Fortes elogiou de novo o Teatro Municipal de Niterói, chamando-o de joia, até o Simon Khouri entrar com outra pergunta ao convidado:
-O Choro é Jazz também?
Como o Choro surgiu trinta, quarenta anos antes do Jazz, seria mais pertinente, salvo melhor juízo (como os advogados gostam) perguntar se o Jazz é Choro também. Contudo, Marcos Ariel não se deteve nesse ponto, e frisou que a base da música popular estadunidense são os Blues, que o Jazz adveio dele.
-Se você mudar a acentuação das composições de Ernesto Nazareth, pensa que ouve Scott Joplin, é a mesma estrutura harmônica.
O chistoso Simon Khouri voltou a atacar:
-Por que o “Choro para Simon”, que você compôs, passou a se chamar “Erva Doce”?
-Foi um dos primeiros Choros que eu compus; como seria difícil para os americanos pronunciarem “Erva Doce”, o meu agente propôs a alteração do nome, e passou a ser “Rhapsody in Rio”.
-Assinalamos a presença no nosso programa do maestro Marcos Riba. - interrompeu o Jonas Vieira.
E Sérgio Fortes completou:
-Marcos Riba se prepara para ir a Portugal. Há dois anos que está taxiando, já se encontra na cabeceira da pista.
E a “Rhapsody in Rio”, que nasceu “Erva Doce”, se impôs sobre todas as vozes.
Depois, voltou o titular do programa, citando, agora, os ouvintes fiéis. Nós, do Biscoito Molhado, ainda sofremos retaliações por trocar o seu nome com o do pastor Jonas Resende, não fomos, por isso, citados. Mas ele lembrou uma ouvinte que, em boa hora, ensinou-lhe uma ginástica chinesa boa para problemas da coluna e de hipertensão.
-Você dobra uma perna e se equilibra na outra durante um minuto. - disse ele.
Quando a rouquidão da voz do Simon Khouri foi ouvida, eu, inocentemente, pensei que ele ia se referir aos movimentos que os chineses aprendem com os animais, nesse caso, o pelicano, mas não foi nada disso.
-Pode-se fazer isso com uma mulher?...
Sérgio Fortes reconheceu que, durante um minuto, só consegue ficar sentado.
Quanto a nós, já conhecíamos essa ginástica, mas com um acréscimo para lá de dificultoso: o equilíbrio do corpo numa perna só tem de ser feito de olhos fechados.
-Agora vamos ouvir uma homenagem aos anjos. - deu o Jonas Vieira por encerrada a hora do recreio.
Marcos Ariel informou que se trata de uma criação num dia de Natal, quando morava em Vassouras. Achava-se no piano, e as notas musicais fluíram intuitivamente. Talvez por isso – imagina – elas encontrem boa receptividade das plateias.
-Como é o nome?
-”Conversa com os Anjos”.
Depois da audição, foi lembrado Luiz Paulo Horta, que disse que os anjos tocam Bach para Deus e, entre eles, tocam Mozart, enquanto Deus escuta atrás da porta.
Rádio Memória aproximava do seu final.
-O tempo ruge. - disse o Sérgio Fortes.
-Temos tempo para mais um Choro.
-Dois. - tentou negociar o Simon Khouri com o Jonas Vieira, mas o tempo rugia mesmo e ferozmente, e só coube um: “Canela Roxa”.
 -Que beleza!
-Um choro-maxixe. - esclareceu o compositor.
-Marcos Ariel lança agora “Jazz Carioca”, na Biscoito Fino. - anunciou o Simon Khouri no apagar das luzes. (*)
Bem, com esse programa, a Bete pode se considerar presenteada no seu aniversário e também nós, no nosso desaniversário, como disse Lewis Carrol, em “Alice no País das Maravilhas”.
(*) Não seria Biscoito Molhado? O seu O BISCOITO MOLHADO?

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