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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4287 Data: 06
de outubro de 2013
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MARCOS ARIEL NO RÁDIO MEMÓRIA
PARTE II
-Tom Jobim, que morreu em 1994, gostou
do seu CD?
E a curiosidade do Simon Khouri foi
prontamente satisfeita pelo Marcos Ariel.
-Gravei o CD depois da morte dele, mas
Paulo, Daniel e a Ana gostaram muito do projeto.
E continuou a discorrer sobre o disco:
-Eu assisti a um show do Tom Jobim, no
Hollywood Bowl, com 22 mil pessoas. Fui ao camarim dele e a fotografia que
tiramos juntos eu aproveitei no meu CD, que foi lançado até em Berlim.
Depois do desfrute dos ouvintes, foi
anunciada a “Pausa para Meditação”, crônica do Fernando Milfond, na locução do
José Maurício, que tratou dos sapos. Previ, porque o cronista já citara “Vou-me
embora pra Pasárgada”, que aludisse agora a outro inspirado poema do Manuel
Bandeira, o da saparia, mas minha bola de cristal não brilhou,
Sob o efeito dos sapos que saltaram na
referida pausa, Jonas Vieira lembrou a fábula do sapo que, ajudando a um
escorpião na travessia de um rio, foi picado pelo mesmo. “Você não sabia que,
agora, vamos morrer os dois debaixo das águas?” “Sabia – disse-lhe o escorpião
– mas é a minha natureza...”
Nós, da redação do Biscoito Molhado,
tivemos conhecimento dessa fábula através do Orson Welles, no filme “Grilhões
do Passado”, em 1985, ano da morte do genial cineasta em que vários filmes seus
voltaram às telas dos cinemas.
“Para mim, a vida sem a música seria um
erro” - disse o filósofo Nietzsche. Não só para ele seria um erro, para todos
nós e, entre eles, o Jonas Vieira que, esquecendo-se da natureza tenebrosa dos
escorpiões, voltou-se para Marcos Ariel.
-Excelentes composições.
-Simon Khouri tem um gosto danado. -
afirmou o Sérgio Fortes.
-Eu dou muita sorte com homem. - reagiu
o Simon Khouri, abrindo a porta para piadas de cunho sexual.
-Eu já dou sorte com mulher... - não
perdeu o Jonas Vieira a oportunidade.
O momento de descontração maliciosa não
prosperou porque o próprio convidado interveio.
-Agora, uma homenagem do Tom Jobim ao
Garoto, o violonista que influenciou Baden Powell, todo o mundo, enfim.
E na justiça que fazia a Aníbal Augusto
Sardinha, falou que se podia colocar a interpretação violonística no Brasil em
Antes e Depois de Garoto.
-Tom Jobim criou um Choro difícil de ser
executado. O Choro requer conhecimento para ser tocado, como a música clássica,
o Jazz. Tom Jobim lhe deu o nome de “Garoto”, que os americanos pronunciam com
menos dificuldade.
-Anuncie o seu programa de choro. -
alertou-o o Simon Khoury.
-Nós nos exibiremos no Teatro Municipal
de Niterói, no próximo sábado: “Jazz Carioca”.
-Beleza de teatro! - exultou o Sérgio
Fortes, pensando, provavelmente, que lá era o ideal para as encenações que não
requerem muito espaço.
-Marcos Ariel, qual a sua explicação
para a origem do Choro?
O compositor, instrumentista e também
musicólogo viajou pelo passado do Brasil, quando os grandes fazendeiros
promoviam saraus com música barroca, europeia, em suma. Nos intervalos dessas
apresentações – disse ele – esses músicos apreciavam as batucadas nas senzalas.
Encantados com essas alegres batucadas, eles fundiram a música da Europa com o
ritmo africano, que foi o embrião do Choro. Foi também lembrado que os escravos
americanos, em vez de batucarem, cantavam, o que originou os “spirituals”.
As palavras cessaram porque um valor
mais alto se alevantou: o Choro “Garoto”, de Antônio Carlos Jobim.
-Ouvimos uma preciosidade. - atalhou o
Jonas Vieira.
-Jobim criou músicas lindíssimas para o
piano, essa que ouvimos, mais a “Luiza”, “Olha, Maria”...
Sérgio Fortes elogiou de novo o Teatro
Municipal de Niterói, chamando-o de joia, até o Simon Khouri entrar com outra
pergunta ao convidado:
-O Choro é Jazz também?
Como o Choro surgiu trinta, quarenta
anos antes do Jazz, seria mais pertinente, salvo melhor juízo (como os
advogados gostam) perguntar se o Jazz é Choro também. Contudo, Marcos Ariel não
se deteve nesse ponto, e frisou que a base da música popular estadunidense são
os Blues, que o Jazz adveio dele.
-Se você mudar a acentuação das
composições de Ernesto Nazareth, pensa que ouve Scott Joplin, é a mesma
estrutura harmônica.
O chistoso Simon Khouri voltou a atacar:
-Por que o “Choro para Simon”, que você
compôs, passou a se chamar “Erva Doce”?
-Foi um dos primeiros Choros que eu
compus; como seria difícil para os americanos pronunciarem “Erva Doce”, o meu
agente propôs a alteração do nome, e passou a ser “Rhapsody in Rio”.
-Assinalamos a presença no nosso
programa do maestro Marcos Riba. - interrompeu o Jonas Vieira.
E Sérgio Fortes completou:
-Marcos Riba se prepara para ir a
Portugal. Há dois anos que está taxiando, já se encontra na cabeceira da pista.
E a “Rhapsody in Rio”, que nasceu “Erva
Doce”, se impôs sobre todas as vozes.
Depois, voltou o titular do programa,
citando, agora, os ouvintes fiéis. Nós, do Biscoito Molhado, ainda sofremos
retaliações por trocar o seu nome com o do pastor Jonas Resende, não fomos, por
isso, citados. Mas ele lembrou uma ouvinte que, em boa hora, ensinou-lhe uma
ginástica chinesa boa para problemas da coluna e de hipertensão.
-Você dobra uma perna e se equilibra na
outra durante um minuto. - disse ele.
Quando a rouquidão da voz do Simon Khouri
foi ouvida, eu, inocentemente, pensei que ele ia se referir aos movimentos que
os chineses aprendem com os animais, nesse caso, o pelicano, mas não foi nada
disso.
-Pode-se fazer isso com uma mulher?...
Sérgio Fortes reconheceu que, durante um
minuto, só consegue ficar sentado.
Quanto a nós, já conhecíamos essa
ginástica, mas com um acréscimo para lá de dificultoso: o equilíbrio do corpo
numa perna só tem de ser feito de olhos fechados.
-Agora vamos ouvir uma homenagem aos
anjos. - deu o Jonas Vieira por encerrada a hora do recreio.
Marcos Ariel informou que se trata de
uma criação num dia de Natal, quando morava em Vassouras. Achava-se no piano, e
as notas musicais fluíram intuitivamente. Talvez por isso – imagina – elas
encontrem boa receptividade das plateias.
-Como é o nome?
-”Conversa com os Anjos”.
Depois da audição, foi lembrado Luiz
Paulo Horta, que disse que os anjos tocam Bach para Deus e, entre eles, tocam
Mozart, enquanto Deus escuta atrás da porta.
Rádio Memória aproximava do seu final.
-O tempo ruge. - disse o Sérgio Fortes.
-Temos tempo para mais um Choro.
-Dois. - tentou negociar o Simon Khouri
com o Jonas Vieira, mas o tempo rugia mesmo e ferozmente, e só coube um:
“Canela Roxa”.
-Que
beleza!
-Um choro-maxixe. - esclareceu o
compositor.
-Marcos Ariel lança agora “Jazz
Carioca”, na Biscoito Fino. - anunciou o Simon Khouri no apagar das luzes. (*)
Bem, com esse programa, a Bete pode se
considerar presenteada no seu aniversário e também nós, no nosso
desaniversário, como disse Lewis Carrol, em “Alice no País das Maravilhas”.
(*) Não seria
Biscoito Molhado? O seu O BISCOITO MOLHADO?
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