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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4186 Data: 10 de
Maio de 2013
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CARTAS DOS LEITORES
“Em “Os Miseráveis” (estou a cinquenta
páginas do final de mil duzentos e sessenta e sete páginas, pena que vai
acabar...) e certamente você lembra disso, Victor Hugo, aquele bonapartista
ferrenho, escreveu um longo elogio a Luís Felipe I, além de descrever bem as
circunstâncias em que se tornou rei e todo o ambiente da França em torno disso.
Tudo é muito bom em “Os Miseráveis”, com
certeza um dos cinco melhores livros que já li, mas os melhores trechos são,
sem contar alguns episódios marcantes do enredo, as descrições que Hugo faz da
Batalha de Waterloo; depois, do que seja gíria e, finalmente, dos esgotos de
Paris e seu crescimento.
Acho que nós dois vamos encontrar Hugo,
agora que já estivemos com Balzac.” Elio Fischberg.
BM: Meu caro Elio, li “Os Miseráveis” com menos páginas do
que as mil duzentos e sessenta e sete páginas do seu livro. Não porque houve
cortes na edição, o que seria imperdoável, mas porque as letras eram diminutas,
porém, os meus olhos, na época, ainda não tinham sofrido o desgaste do tempo.
Nessa edição, que ainda tenho, o
prefácio é do Carlos Heitor Cony, que recorre às citações de vários autores,
todas pertinentes, sem deixar de expor as suas próprias ideias, também
interessantes. Desse prefácio, destaco alguns trechos:
“Há de tudo no livro. A descrição dos
trabalhos forçados nas galés, as peripécias da fuga e da perseguição policial,
a insistência de Javert – Victor Hugo, de lambujem, criou um dos policiais mais
perfeitos de toda a literatura universal – os relatos idílicos de Fantine e
Cosette, o tipo mais ou menos convencional do estudante Mário e a estupenda –
talvez a maior criação de Hugo – presença de Gavroche, o menino das ruas de
Paris.”
“George Meredith, quando o livro
apareceu, disse que “Os Miseráveis” era a “obra-prima da ficção do Século XIX”.
Apesar disso, o livro tinha um quê de embrionário, ou seja, de transição para o
futuro. Se é verdade que as descrições e os caracteres gerais são feitos nos
moldes do romantismo clássico, do romantismo hugoano, o fato é que, na
descrição de cenas e personagens secundários - Gavroche é um belo exemplo do
que afirmamos – inicia-se o embrião de um novo processo narrativo, uma gênesis
discreta, mas que cresceria em breve, através do realismo, até desaguar em
Flaubert e Zola.”
Encerra o Carlos Heitor Cony o prefácio
com a frase que se segue:
“Por isso, não foi sem razão que
Tennyson chamou Victor Hugo de “Senhor das lágrimas humanas.”
Notou Elio, como Euclides da Cunha, na arquitetura de
um dos maiores livros da literatura brasileira, “Os Sertões”, foi influenciado
pelo Victor Hugo?
-“Grande motorneiro,
Importante para Benny Goodman não foi o
pai e sim a mãe (lituana) professora de música, que continuou lecionando em Nova York após partirem
da Europa. Quando o filho nasceu, foi “praticamente obrigado” a estudar música
com a mãe, que ensinava música clássica para os ricos em Nova York.
Benny Goodman como virtuoso e profundo
conhecedor de música se encantou com os sons produzidos pelos músicos negros de
Nova York, que na grande maioria não sabiam ler música em partitura, coisa que
Benny Goodman fez das músicas que escutava. Visto a princípio com desconfiança
e certo descrédito por alguns músicos de jazz já conhecidos, afinal um jovem branco
e judeu no meio de negões em
Nova York tocando música era para desconfiar mesmo.
Como o talento sempre prevalece, claro
que foi aceito e respeitado no meio musical.
Foi Nélson Tolipan da Rádio MEC
“Momentos de Jazz”, às segundas-feiras, após a reunião do Clube do Bondinho, em Santa Teresa , que
relatou os fatos acima da carreira de Benny Goodman.” Carlos Alberto Torres.
BM: O destinatário é o Dieckmann, aquele que conduz o
Clube do Bondinho, ou seja, uma carta do Grande Capitão para o Grande
Motorneiro. Como o remetente enviou sua carta com cópia para mim, tomo a
liberdade de fazer algumas considerações.
Dieckmann, num programa da Rádio
Memória, do Jonas Vieira e Sérgio Fortes, reportou-se ao pai daquele que foi
chamado The King of the Swing, alfaiate em Varsóvia, sem se reportar à sua
progenitora, que o encaminhou no mundo da música.(*)
Como assinala o Grande Capitão, os
negões o viam com desconfiança, mas depois que o grande clarinetista alcançou
fama e pretendeu formar o seu quarteto, teve de saltar o racismo, agora, dos
brancos americanos. Gene Krupa, insuperável no manejo das baquetas, não lhe
trazia problemas com sua cor de alabastro, mas quanto a Lionel Hampton e Teddy
Wilson...
Assisti a uma série de documentários de
uma hora de duração sobre a história do Jazz, que se detém por um bom tempo no
pianista Teddy Wilson, que possuía um estilo único, admirável. No entanto, por
um bom tempo, o seu talento só podia ser ouvido nas gravações do Quarteto de
Benny Goodman em discos, pois se temia a reação racista caso houvesse uma
apresentação publica. O mesmo acontecia com o vibrafonista Lionel Hampton,
também talentoso.
Entendi que apresentação de músicos só
negros podia, mas misturado com brancos, não. Mas o Rei do Swing, que sofreu na
pele o preconceito, enfrentou as barreiras e apresentou-se em público com seu
legendário quarteto.
No programa do Nelson Tolipan, que também escuto até
ser vencido pelo sono, recordo-me que o apresentador da Rádio MEC, referindo-se
às fronteiras entre o Jazz e a música clássica, afirmou que ninguém menos que
Benny Goodman, afirmou que não havia interligações entre os dois. A ênfase do
Nélson Tolipan se devia ao fato de Benny Goodman ter tocado, algumas vezes, o
Concerto para Clarinete e Orquestra de Mozart.
-“Contou o Dieckmann a este Distribuidor
que, perambulando em Paris, precisamente nos arredores da Place de la République , encontrou o
Canal Saint-Martin, pequeno, mas muito sombreado e agradável. Só que o Canal acaba numa praça – na verdade,
ele fica subterrâneo, o que deve dar mais encantamento nos passeios fluviais –
mas uma praça também extremamente agradável, com bancos, jardins e uma estátua de um homem corpulento,
topetudo e com pose de teatro. É a estátua de Fréderick Lemaître e, entre
muitos dados biográficos, está escrito que ele fora um grande comediante
francês. “Deve ser a única estátua de comediante do mundo e só mesmo a França
para fazer isto, neste mundo que privilegia o drama”, completou com a dose
habitual de sarcasmo.” Dieckmann.
BM: Parece que dois Dieckmann redigiram essa carta, mas o
leitor sabe que ele, como o imperador romano Júlio César e Pelé, fala de si na
terceira pessoa. (**)
Antes devo lembrar que tanto o
distribuidor do Biscoito Molhado quanto o seu “porta-voz” se reportam à edição
que trata da peça de Balzac que foi censurada porque Fréderick Lemaître imitou
o Rei Luís Felipe.
Bem, existem algumas estátuas de Charles
Chaplin espalhadas pelo mundo, mas ele foi muito mais do que um comediante.
Aqui, no Brasil, pelo menos no Rio de
Janeiro, há uma estátua de João Caetano, mas ele, apesar de atuar em papéis
cômicos, sobressaía-se mais nas tragédias, nos dramas shakespearianos.
Neste país em que tantas personalidades
de caráter duvidoso são nomes de logradouros públicos, de estádios de futebol,
etc, faltam estátuas que celebram os nossos comediantes.
Que tal uma estátua do Oscarito?
(*) Avisado
por este Distribuidor, Dieckmann informou que achou suigeneris que o Benny
Goodman tivesse como pai um alfaiate e nada demais em ter a mãe conhecedora de
música. Afinal, um talento como o de Benny Goodman deveria vir de dois virtuoses.
(***)
(**) Anos de
Distribuição deste seu O BISCOITO MOLHADO e o redator ainda não percebeu que o
Distribuidor é impessoal e não mete a colher no pirão dos outros. Daí ser
absolutamente necessário que se faça a separação entre os dois, ambos muito
queridos, famosos e inteligentes, mas cada um no seu pedestal. Isso vira
proposta porque se tem tanta estátua por aí, vai que cola a ideia de fazer essas
duas?
(***) Antes
que critiquem, o Distribuidor avisa que a definição de virtuose só se aplica
aos talentos musicais. Já virtuoso pode ser qualquer talentoso, seja na redação,
seja na Distribuição.
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