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terça-feira, 28 de maio de 2013

2386 - estátuas, virtuoses e o meu pirão primeiro


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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4186                                  Data:  10 de  Maio de 2013
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CARTAS DOS LEITORES

“Em “Os Miseráveis” (estou a cinquenta páginas do final de mil duzentos e sessenta e sete páginas, pena que vai acabar...) e certamente você lembra disso, Victor Hugo, aquele bonapartista ferrenho, escreveu um longo elogio a Luís Felipe I, além de descrever bem as circunstâncias em que se tornou rei e todo o ambiente da França em torno disso.
Tudo é muito bom em “Os Miseráveis”, com certeza um dos cinco melhores livros que já li, mas os melhores trechos são, sem contar alguns episódios marcantes do enredo, as descrições que Hugo faz da Batalha de Waterloo; depois, do que seja gíria e, finalmente, dos esgotos de Paris e seu crescimento.
Acho que nós dois vamos encontrar Hugo, agora que já estivemos com Balzac.”  Elio Fischberg.
BM: Meu caro Elio, li “Os Miseráveis” com menos páginas do que as mil duzentos e sessenta e sete páginas do seu livro. Não porque houve cortes na edição, o que seria imperdoável, mas porque as letras eram diminutas, porém, os meus olhos, na época, ainda não tinham sofrido o desgaste do tempo.
Nessa edição, que ainda tenho, o prefácio é do Carlos Heitor Cony, que recorre às citações de vários autores, todas pertinentes, sem deixar de expor as suas próprias ideias, também interessantes. Desse prefácio, destaco alguns trechos:
“Há de tudo no livro. A descrição dos trabalhos forçados nas galés, as peripécias da fuga e da perseguição policial, a insistência de Javert – Victor Hugo, de lambujem, criou um dos policiais mais perfeitos de toda a literatura universal – os relatos idílicos de Fantine e Cosette, o tipo mais ou menos convencional do estudante Mário e a estupenda – talvez a maior criação de Hugo – presença de Gavroche, o menino das ruas de Paris.”
“George Meredith, quando o livro apareceu, disse que “Os Miseráveis” era a “obra-prima da ficção do Século XIX”. Apesar disso, o livro tinha um quê de embrionário, ou seja, de transição para o futuro. Se é verdade que as descrições e os caracteres gerais são feitos nos moldes do romantismo clássico, do romantismo hugoano, o fato é que, na descrição de cenas e personagens secundários - Gavroche é um belo exemplo do que afirmamos – inicia-se o embrião de um novo processo narrativo, uma gênesis discreta, mas que cresceria em breve, através do realismo, até desaguar em Flaubert e Zola.”
Encerra o Carlos Heitor Cony o prefácio com a frase que se segue:
“Por isso, não foi sem razão que Tennyson chamou Victor Hugo de “Senhor das lágrimas humanas.”
Notou Elio, como Euclides da Cunha, na arquitetura de um dos maiores livros da literatura brasileira, “Os Sertões”, foi influenciado pelo Victor Hugo?

-“Grande motorneiro,
Importante para Benny Goodman não foi o pai e sim a mãe (lituana) professora de música, que continuou lecionando em Nova York após partirem da Europa. Quando o filho nasceu, foi “praticamente obrigado” a estudar música com a mãe, que ensinava música clássica para os ricos em Nova York.
Benny Goodman como virtuoso e profundo conhecedor de música se encantou com os sons produzidos pelos músicos negros de Nova York, que na grande maioria não sabiam ler música em partitura, coisa que Benny Goodman fez das músicas que escutava. Visto a princípio com desconfiança e certo descrédito por alguns músicos de jazz já conhecidos, afinal um jovem branco e judeu no meio de negões em Nova York tocando música era para desconfiar mesmo.
Como o talento sempre prevalece, claro que foi aceito e respeitado no meio musical.
Foi Nélson Tolipan da Rádio MEC “Momentos de Jazz”, às segundas-feiras, após a reunião do Clube do Bondinho, em Santa Teresa, que relatou os fatos acima da carreira de Benny Goodman.” Carlos Alberto Torres.
BM: O destinatário é o Dieckmann, aquele que conduz o Clube do Bondinho, ou seja, uma carta do Grande Capitão para o Grande Motorneiro. Como o remetente enviou sua carta com cópia para mim, tomo a liberdade de fazer algumas considerações.
Dieckmann, num programa da Rádio Memória, do Jonas Vieira e Sérgio Fortes, reportou-se ao pai daquele que foi chamado The King of the Swing, alfaiate em Varsóvia, sem se reportar à sua progenitora, que o encaminhou no mundo da música.(*)
Como assinala o Grande Capitão, os negões o viam com desconfiança, mas depois que o grande clarinetista alcançou fama e pretendeu formar o seu quarteto, teve de saltar o racismo, agora, dos brancos americanos. Gene Krupa, insuperável no manejo das baquetas, não lhe trazia problemas com sua cor de alabastro, mas quanto a Lionel Hampton e Teddy Wilson...
Assisti a uma série de documentários de uma hora de duração sobre a história do Jazz, que se detém por um bom tempo no pianista Teddy Wilson, que possuía um estilo único, admirável. No entanto, por um bom tempo, o seu talento só podia ser ouvido nas gravações do Quarteto de Benny Goodman em discos, pois se temia a reação racista caso houvesse uma apresentação publica. O mesmo acontecia com o vibrafonista Lionel Hampton, também talentoso.
Entendi que apresentação de músicos só negros podia, mas misturado com brancos, não. Mas o Rei do Swing, que sofreu na pele o preconceito, enfrentou as barreiras e apresentou-se em público com seu legendário quarteto.
No programa do Nelson Tolipan, que também escuto até ser vencido pelo sono, recordo-me que o apresentador da Rádio MEC, referindo-se às fronteiras entre o Jazz e a música clássica, afirmou que ninguém menos que Benny Goodman, afirmou que não havia interligações entre os dois. A ênfase do Nélson Tolipan se devia ao fato de Benny Goodman ter tocado, algumas vezes, o Concerto para Clarinete e Orquestra de Mozart.

-“Contou o Dieckmann a este Distribuidor que, perambulando em Paris, precisamente nos arredores da Place de la République, encontrou o Canal Saint-Martin, pequeno, mas muito sombreado e agradável.  Só que o Canal acaba numa praça – na verdade, ele fica subterrâneo, o que deve dar mais encantamento nos passeios fluviais – mas uma praça também extremamente agradável, com bancos,  jardins e uma estátua de um homem corpulento, topetudo e com pose de teatro. É a estátua de Fréderick Lemaître e, entre muitos dados biográficos, está escrito que ele fora um grande comediante francês. “Deve ser a única estátua de comediante do mundo e só mesmo a França para fazer isto, neste mundo que privilegia o drama”, completou com a dose habitual de sarcasmo.” Dieckmann.
BM: Parece que dois Dieckmann redigiram essa carta, mas o leitor sabe que ele, como o imperador romano Júlio César e Pelé, fala de si na terceira pessoa. (**)
Antes devo lembrar que tanto o distribuidor do Biscoito Molhado quanto o seu “porta-voz” se reportam à edição que trata da peça de Balzac que foi censurada porque Fréderick Lemaître imitou o Rei Luís Felipe.
Bem, existem algumas estátuas de Charles Chaplin espalhadas pelo mundo, mas ele foi muito mais do que um comediante.
Aqui, no Brasil, pelo menos no Rio de Janeiro, há uma estátua de João Caetano, mas ele, apesar de atuar em papéis cômicos, sobressaía-se mais nas tragédias, nos dramas shakespearianos.
Neste país em que tantas personalidades de caráter duvidoso são nomes de logradouros públicos, de estádios de futebol, etc, faltam estátuas que celebram os nossos comediantes.
Que tal uma estátua do Oscarito?

(*) Avisado por este Distribuidor, Dieckmann informou que achou suigeneris que o Benny Goodman tivesse como pai um alfaiate e nada demais em ter a mãe conhecedora de música. Afinal, um talento como o de Benny Goodman deveria vir de dois virtuoses. (***)

(**) Anos de Distribuição deste seu O BISCOITO MOLHADO e o redator ainda não percebeu que o Distribuidor é impessoal e não mete a colher no pirão dos outros. Daí ser absolutamente necessário que se faça a separação entre os dois, ambos muito queridos, famosos e inteligentes, mas cada um no seu pedestal. Isso vira proposta porque se tem tanta estátua por aí, vai que cola a ideia de fazer essas duas?

(***) Antes que critiquem, o Distribuidor avisa que a definição de virtuose só se aplica aos talentos musicais. Já virtuoso pode ser qualquer talentoso, seja na redação, seja na Distribuição.




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