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terça-feira, 14 de maio de 2013

2376 - antro de antropófagos

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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4176                                      Data:  22 de  Abril de 2013
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CARTAS DOS LEITORES

“Não há comprovação de tripulantes inexperientes a bordo, o que seria a comprovação da presença de tal Juventude (Hitlerista). Alguns historiadores realmente mencionam cerca de 500 jovens, mas considerando o tempo inicial da guerra, é bem provável que 500 oficiais e marinheiros pertencentes ao partido nazista é que estivessem a bordo. O Dieckmann negou peremptoriamente ter declarado tal frase, o redator deve ter ouvido de algum tripulante incomodado com as atitudes dos oficiais, coisa típica.” Dieckmann
BM: Esclarecemos que, como o Dieckmann se reporta a si próprio na terceira pessoa, como o Pelé, se trata de um só o remetente dessa carta. Ele alude à aventura que viveu no couraçado Bismarck com o redator deste periódico. A frase que ele nega ter dito, com a veemência de Pedro na Via Crucis, é a que se segue: “Muitos são mais jovens ainda, vieram da Juventude Hitlerista.”
Bem, nós bebemos em duas fontes para escrever o drama desses combates navais: o relato do Capitão de Mar e Guerra Russel Grenfell, da Real Marinha Britânica e de Edwin Muller, visto a bordo do couraçado alemão.  Este escreveu o que se segue:
“A tripulação era constituída em sua maioria de rapazes com pouco mais de 20 anos e ainda iam a bordo uns 500 aspirantes de marinha, todos com menos de 20 anos. Essa gloriosa vitória era exatamente o que todos eles tinham esperado com cega certeza. Novos como eram, só vagamente recordavam o que fora o mundo antes do advento de Hitler; na qualidade de membros da Juventude Hitlerista, todos os dias, ao acordar, lhes tinham martelado na cabeça a indiscutível crença na Raça Superior.”
Sobre os sobreviventes alemães, que o Dieckmann não abordou nos seus asteriscos, eis o que escreveu, por sua vez, o Capitão de Mar e Guerra Russel Grenfell, da Real Marinha Britânica:
-”Tinha acabado a grande caçada. O poderoso Bismarck deixara de existir após uma valorosa batalha contra forças muito superiores. Tudo o que dele restava eram algumas centenas de homens, cujas cabeças se viam à superfície das ondas alterosas, nadando. O cruzador Dorsetshire e o contratorpedeiro Maori ainda conseguiram salvar uns 110. Mas veio então o alarme de periscópio à vista e os vasos de guerra ingleses se retiraram.”

 “O livro sobre a África do Embaixador Costa e Silva consta de relatos de viajantes em vários séculos, incluindo uma tribo que negociava com um sultão que lhes dava de presente uma linda jovem. Para farrear? Como diria o Paulo Francis: “neres de pitibiriba”, eles a degolavam e comiam, as melhores partes eram as palmas da mão e os seios (creio que recusavam mulheres magras). Eles mostravam que tinham apreciado o almoço exibindo as mãos sujas de sangue. Não eram todos assim, “cela va sans dire”.
Um dos primeiros livros que tirei da Biblioteca do Merré (Itamaraty), em 1950 e poucos, foi “Old Africa Revisited” (não me desmoralize, não sei o nome do autor). Contava que, pelas bandas da Idade Média, havia inúmeras aldeias africanas com água encanada e esgotos, enquanto a Europa jogava tudo na rua; na Inglaterra criaram umas bolas de cera recheadas de perfume (“pomander”) para se sobreviver no trajeto pelas calçadas.
O que houve com a África?  Os árabes invadiram tudo, destruíram as aldeias e levaram a população escravizada. O Feliciano precisava saber disso... (pastor Marco Feliciano, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados – nota do redator).
Nunca saberei e não tento saber o nome do autor da “Old Africa Revisited” (...)    Rosa
BM: Mais uma instigante carta da nossa polimata Rosa Grieco.
Tomei conhecimento da antropofagia quando ainda usava calças curtas e cursava o primário na Escola 9-10 Manoel Bomfim. Lá estava no meu livro de Conhecimentos Gerais, que englobava História, Geografia e Ciências Naturais, que o navio do bispo Pero Fernandes Sardinha naufragou, e ele foi comido pelos índios caetés. 
Não bastasse o que li, a professora, Dona Arlete ou Dona Eunice, não me lembro qual, confirmou em voz sonora. Nesse dia, nem comi a minha merenda na hora do recreio (pão com banana).
Algum colega, talvez eu mesmo (a minha memória é nebulosa nessa questão) disse que o nome do bispo já abria o apetite dos índios. Soube, depois, quando me debrucei na matéria, que Pero Fernandes Sardinha foi o primeiro bispo do Brasil, e que, acompanhado por eclesiásticos, fidalgos e famílias lusitanas, voltava para Portugal na nau Nossa Senhora da Ajuda, quando um acidente a fez naufragar logo depois que zarpou de Salvador. Quem não morreu, entrou para o cardápio dos caetés.
Procurei, então, refúgio no livro de Linguagem (como era chamada a matéria sobre a nossa língua) e me deparei com o poema de Gonçalves Dias “Y- Juca Pirama”, em que os índios devoravam as carnes de índios valentes para ficar tão corajosos quanto eles. Nesse caso, a musicalidade das palavras do poema (um dos melhores do nosso idioma) amenizou o prato que foi servido.
Lendo sobre a linda jovem dada como presente por um sultão a uma tribo de africanos antropófagos, vieram-me à mente não apenas passagens do meu tempo estudantil como a expressão bem brasileira “mulata para 300 talheres”.
Pelo visto, o sangue dos nossos ascendentes indígenas ainda fala alto nas nossas veias.

-Examinando a sua narração sobre a visita que Pierre_Auguste Renoir lhe fez, tenho a dizer que você foi mais atento, cometeu erros irrelevantes de digitação. Sobre o pintor, ele soube ganhar dinheiro, o que não aconteceu com Modigliani, nome da rua em que os taxistas o deixam na volta do trabalho. Elio Fischberg
BM. - Meu caro Elio, assisti o filme de 2004, “Modigliani, Paixão Pela Vida.”  Nele, há uma rivalidade entre o pintor italiano, que vivia em Paris, com Picasso, espanhol que também lá vivia.  Esquecendo as picuinhas, Picasso leva Modigliani até a casa de Renoir com o objetivo de lhe mostrar que se pode ser um grande artista e receber uma boa remuneração pelo seu trabalho.
Modigliani, porém, continuou bebendo e se drogando, além de trabalhar à exaustão, morrendo em extrema pobreza com 35 anos de idade, de meningite tuberculosa. Quanto a Picasso, ganhou dinheiro como nenhum outro pintor da história. Sabia farejar como ninguém os humores do mercado. Dizem que criou o cubismo, quando se desejava épater la bourgeoisie, que pintou “Guernica”, quando se clamava pelo protesto político. Um argentário, resumindo, mas de extraordinário talento.

É só por hoje.



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