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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4176
Data: 22 de Abril de 2013
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CARTAS DOS LEITORES
“Não há comprovação de tripulantes
inexperientes a bordo, o que seria a comprovação da presença de tal Juventude
(Hitlerista). Alguns historiadores realmente mencionam cerca de 500 jovens, mas
considerando o tempo inicial da guerra, é bem provável que 500 oficiais e
marinheiros pertencentes ao partido nazista é que estivessem a bordo. O Dieckmann
negou peremptoriamente ter declarado tal frase, o redator deve ter ouvido de
algum tripulante incomodado com as atitudes dos oficiais, coisa típica.” Dieckmann
BM: Esclarecemos que, como o Dieckmann se reporta a si
próprio na terceira pessoa, como o Pelé, se trata de um só o remetente dessa
carta. Ele alude à aventura que viveu no couraçado Bismarck com o redator deste
periódico. A frase que ele nega ter dito, com a veemência de Pedro na Via
Crucis, é a que se segue: “Muitos são mais jovens ainda, vieram da Juventude
Hitlerista.”
Bem, nós bebemos em duas fontes para
escrever o drama desses combates navais: o relato do Capitão de Mar e Guerra
Russel Grenfell, da Real Marinha Britânica e de Edwin Muller, visto a bordo do
couraçado alemão. Este escreveu o que se
segue:
“A tripulação era constituída em sua maioria
de rapazes com pouco mais de 20 anos e ainda iam a bordo uns 500 aspirantes de
marinha, todos com menos de 20 anos. Essa gloriosa vitória era exatamente o que
todos eles tinham esperado com cega certeza. Novos como eram, só vagamente
recordavam o que fora o mundo antes do advento de Hitler; na qualidade de
membros da Juventude Hitlerista, todos os dias, ao acordar, lhes tinham
martelado na cabeça a indiscutível crença na Raça Superior.”
Sobre os sobreviventes alemães, que o
Dieckmann não abordou nos seus asteriscos, eis o que escreveu, por sua vez, o Capitão
de Mar e Guerra Russel Grenfell, da Real Marinha Britânica:
-”Tinha acabado a grande caçada. O poderoso Bismarck
deixara de existir após uma valorosa batalha contra forças muito superiores.
Tudo o que dele restava eram algumas centenas de homens, cujas cabeças se viam
à superfície das ondas alterosas, nadando. O cruzador Dorsetshire e o
contratorpedeiro Maori ainda conseguiram salvar uns 110. Mas veio então o
alarme de periscópio à vista e os vasos de guerra ingleses se retiraram.”
“O
livro sobre a África do Embaixador Costa e Silva consta de relatos de viajantes
em vários séculos, incluindo uma tribo que negociava com um sultão que lhes
dava de presente uma linda jovem. Para farrear? Como diria o Paulo Francis:
“neres de pitibiriba”, eles a degolavam e comiam, as melhores partes eram as
palmas da mão e os seios (creio que recusavam mulheres magras). Eles mostravam
que tinham apreciado o almoço exibindo as mãos sujas de sangue. Não eram todos
assim, “cela va sans dire”.
Um dos primeiros livros que tirei da
Biblioteca do Merré (Itamaraty), em 1950 e poucos, foi “Old Africa Revisited” (não
me desmoralize, não sei o nome do autor). Contava que, pelas bandas da Idade
Média, havia inúmeras aldeias africanas com água encanada e esgotos, enquanto a
Europa jogava tudo na rua; na Inglaterra criaram umas bolas de cera recheadas
de perfume (“pomander”) para se sobreviver no trajeto pelas calçadas.
O que houve com a África? Os árabes invadiram tudo, destruíram as
aldeias e levaram a população escravizada. O Feliciano precisava saber disso...
(pastor Marco Feliciano, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara
dos Deputados – nota do redator).
Nunca saberei e não tento saber o nome
do autor da “Old Africa Revisited” (...)
Rosa
BM: Mais uma instigante carta da nossa polimata Rosa Grieco.
Tomei conhecimento da antropofagia
quando ainda usava calças curtas e cursava o primário na Escola 9-10 Manoel
Bomfim. Lá estava no meu livro de Conhecimentos Gerais, que englobava História,
Geografia e Ciências Naturais, que o navio do bispo Pero Fernandes Sardinha
naufragou, e ele foi comido pelos índios caetés.
Não bastasse o que li, a professora,
Dona Arlete ou Dona Eunice, não me lembro qual, confirmou em voz sonora. Nesse
dia, nem comi a minha merenda na hora do recreio (pão com banana).
Algum colega, talvez eu mesmo (a minha
memória é nebulosa nessa questão) disse que o nome do bispo já abria o apetite
dos índios. Soube, depois, quando me debrucei na matéria, que Pero Fernandes
Sardinha foi o primeiro bispo do Brasil, e que, acompanhado por eclesiásticos,
fidalgos e famílias lusitanas, voltava para Portugal na nau Nossa Senhora da
Ajuda, quando um acidente a fez naufragar logo depois que zarpou de Salvador.
Quem não morreu, entrou para o cardápio dos caetés.
Procurei, então, refúgio no livro de
Linguagem (como era chamada a matéria sobre a nossa língua) e me deparei com o
poema de Gonçalves Dias “Y- Juca Pirama”, em que os índios devoravam as carnes
de índios valentes para ficar tão corajosos quanto eles. Nesse caso, a
musicalidade das palavras do poema (um dos melhores do nosso idioma) amenizou o
prato que foi servido.
Lendo sobre a linda jovem dada como
presente por um sultão a uma tribo de africanos antropófagos, vieram-me à mente
não apenas passagens do meu tempo estudantil como a expressão bem brasileira
“mulata para 300 talheres”.
Pelo visto, o sangue dos nossos ascendentes indígenas
ainda fala alto nas nossas veias.
-Examinando a sua narração sobre a
visita que Pierre_Auguste Renoir lhe fez, tenho a dizer que você foi mais
atento, cometeu erros irrelevantes de digitação. Sobre o pintor, ele soube
ganhar dinheiro, o que não aconteceu com Modigliani, nome da rua em que os
taxistas o deixam na volta do trabalho. Elio Fischberg
BM. - Meu caro Elio, assisti o filme de 2004, “Modigliani,
Paixão Pela Vida.” Nele, há uma
rivalidade entre o pintor italiano, que vivia em Paris, com Picasso, espanhol
que também lá vivia. Esquecendo as
picuinhas, Picasso leva Modigliani até a casa de Renoir com o objetivo de lhe
mostrar que se pode ser um grande artista e receber uma boa remuneração pelo
seu trabalho.
Modigliani, porém, continuou bebendo e se drogando,
além de trabalhar à exaustão, morrendo em extrema pobreza com 35 anos de idade,
de meningite tuberculosa. Quanto a Picasso, ganhou dinheiro como nenhum outro
pintor da história. Sabia farejar como ninguém os humores do mercado. Dizem que
criou o cubismo, quando se desejava épater la bourgeoisie, que pintou
“Guernica”, quando se clamava pelo protesto político. Um argentário, resumindo,
mas de extraordinário talento.
É só por hoje.
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