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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4171 Data: 13 de
Abril de 2013
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BISCOITOS SORTIDOS
Nesse dia, a corrida se deu no táxi do
Bob Esponja.
-Só se vê cracudo. - disse ele, depois
de quebrar o ritmo do seu carro para não atropelar um.
-Ainda mais com a favela Bandeira 2 por
perto.- acrescentei.
-Sabe que tem colega da nossa
cooperativa que pega cracuda?
-Como?!...
-Eles rodam de madrugada e pensam que
não são vistos por gente conhecida...
-Mas essas cracudas são um poço de
doenças.
-Apenas são. - enfatizou essas palavras
e prosseguiu:
-Esquecem que alguns da nossa
cooperativa começam a trabalhar quando eles ainda rodam na praça. Não adianta
levar a cracuda para uma rua menos movimentada, na madrugada, que serão, mais
cedo ou mais tarde, descobertos.
-Pagam o quê para uma dessas
infelizes?... Cinco reais, que é o preço de uma pedra de craque? - manifestei-me.
-As mulheres estão fáceis e, de tão
carentes, você recebe mais delas do que dá; e essas são higiênicas.
E gabou-se, o que já demorava:
-Pelo menos, comigo é assim. Três já me
telefonaram hoje, dispensei todas, pois vou dedicar a noite de hoje à minha
noiva.
-As cracudas são anti-higiênicas, eles
também. O pior desses seus colegas é passar AIDS para a esposa. - assinalei.
-E eles pensam nisso?
Apesar da sua garrulice, deixou-me no meu destino sem
citar os nomes desses taxistas, o que me fez agradecer ao saltar do seu táxi,
pois seria difícil entrar nos carros deles.
Li, algures, a edição do Biscoito
Molhado sobre a visita que Jules Verne fez à redação deste periódico. Escrevo,
por isso, que o economista da PUC, Rogério Furquim Werneck, num artigo para o
Globo, comparou um episódio de “A volta ao mundo em oitenta dias” com a atual
politica da presidente Dilma Rousseff para se reeleger. S.F.
BM: Tomamos conhecimento desse artigo, caro leitor. O economista, depois
de dizer que era da época em que as crianças liam Júlio Verne (aportuguesando),
fixa-se na necessidade premente do Sr. Phileas Fogg, um solteirão inglês rico e
excêntrico de viajar de Nova York às Ilhas Britânicas e, assim, ainda poder nutrir
esperanças de dar a volta ao mundo no tempo estipulado e vencer a aposta que
fizera com os outros sócios do clube a que pertencia (problema que não aconteceria
com Groucho Marx, considerando a sua celebrada frase).
Após seguir pela linha férrea de São Francisco
a Nova York, o Senhor Fogg, ao chegar, constata, com desespero, que já havia
zarpado o navio em que embarcaria.
Ele recorre então, então, a um cargueiro
que ficara entre a transição da navegação a vela e a vapor, o Henrietta. Com
exceção do casco, da caldeira e da máquina a vapor, o navio era de madeira. (*)
As emoções de uma boa aventura de Jules
Verne começam a pulular: uma tempestade se forma, o que prejudica a travessia,
além disso, o estoque de carvão foi previsto até Bordeaux (**), o destino da
viagem, que seria alterado para a Inglaterra devido ao “poder de persuasão do
excêntrico Sr Fogg.
Como alcançar terras britânicas com
pouco carvão? Aqui, o economista da PUC cita o capítulo 33 do livro e nele se
detém. O Sr. Fogg convence o capitão do Henrietta a lhe vender a embarcação e
toma o comando. Ordena à marujada que a pressão da caldeira deve ser mantida a
todo custo. Exige, em seguida, que todo o madeirame do navio tem de ser
retirado e lançado na fornalha para que o seu objetivo fosse alcançado.
E foi, mas o Henrietta aporta nas Ilhas
Britânicas como um monstrengo, restando-lhe apenas o casco, a caldeira e a
máquina a vapor.
Esse episódio elaborado pelo grande
escritor de Nantes é uma excelente metáfora e o economista da PUC, Rogério
Furquim Werneck o aproveita exemplarmente para ilustrar a atual política posta
em prática no Brasil.
Com as palavras que se seguem, ele
apresenta o desfecho do seu lúcido artigo:
-“Não há espaço aqui para um balanço de
tudo o que já foi desmantelado para avivar a fornalha da reeleição. Mas uma
lista curta teria de incluir o controle da inflação, a credibilidade do Banco
Central e previsibilidade da política fiscal. Num quadro em que o dispêndio
público continua a mostrar rápida expansão, já não se tem mais ideia do que
será o resultado fiscal de 2013, deixado agora ao sabor de pacotes de
desoneração anunciados de improviso, a cada mês, em desesperada tentativa de
mascarar a inflação com medidas que implicam inflação mais alta no futuro.”
“Merecem ainda destaque o abandono cada
vez mais escancarado da ideia de realismo tarifário – como bem ilustra a
insistência na política de preços de derivados de petróleo – e a decisão
populista de não repassar, aos consumidores, o custo mais alto da energia
elétrica proveniente das térmicas. E há, também, outras conquistas valiosas,
como a solidez dos bancos federais, sendo consumidas na fornalha da reeleição.
A inconsequência na gestão da Petrobras e do pré-sal não pode deixar de ser
mencionada. Mas tem mais a ver com o vale-tudo anterior, que marcou a travessia
do biênio eleitoral de 2009-2010.”
“Faltam hoje 560 dias para o segundo
turno das eleições presidenciais. Uma travessia de 80 semanas. E ainda há muito
o que queimar a bordo. Mas em que estado estará o nosso Henrietta no fim de
outubro do ano que vem?”
É a versão macabra de “A volta do mundo em 80 dias”.
Recebi um e-mail que lista, em PDF,
os dez piores alimentos em ordem alfabética. Os dois mais calamitosos, para a
saúde, eu risquei do meu cardápio há mais de dois anos: o refrigerante (2º da
lista) e o refrigerante light ou diet (o vencedor às avessas).
Confesso à minha tristeza com a inclusão
da pizza (***). Já deixei registrado, em algum BM ,
que a primeira vez que provei uma pizza, que era de mussarela, no início dos
anos 60, na Confeitaria Méier, fez-me sentir
um deus do Olimpo que prova um manjar.
Isso ficou entesourado na minha memória, além do fato de a pizza cair
inteira no meu colo devido à minha pouca experiência em cortar com a faca a
elástica mussarela cozida; peguei-a, sem afetações, pela mão e a devolvi ao
prato.
Foi amor à primeira mordida. Nunca
abandonei a pizza e tive esperanças nos benefícios que ela trazia quando soube
que os nutricionistas enalteciam a dieta mediterrânea. Afinal, os povos do
Mediterrâneo se fartam de pizzas.
Estranhei a ausência do miojo nessa
lista dos dez piores. Falando nele, quando leio as cartas da hipertensa Rosa
Grieco, sempre me preocupo quando ela se refere ao seu miojo de cada dia.
-É puro sódio. Troca por macarrão
natural, Rosa, que até eu sei cozinhar.
E, com esse apelo, encerro este BM.
(*) Não temos
notícia de ser o casco de aço. O fato de não ter sido queimado deveu-se a ser o
casco imprescindível à navegação. Lembramos ainda da figura de proa do
Henrietta, em madeira requintadamente pintada e que o capitão não queria deixar
queimar. Os navios de aço aboliram as figuras de proa, o que é mais uma evidência
do casco ser de madeira.
(**) A questão
não era a distância, visto que Bordeaux não fica mais longe de Nova Iorque do
que a Inglaterra. A questão era a velocidade que Fogg necessitava e que exigia
pressão máxima na caldeira, enquanto a viagem original previa o uso misto de vela
e motor, com economia do carvão. Obviamente, o percurso a vela demanda cursos
nem sempre otimizados e o tempo de percurso seria forçosamente maior e incompatível
com a aposta de Fogg.
(***) Há
pizzas e pizzas. De pacote, nenhuma presta. Pizza barata leva ingredientes
idem, não pode ser boa para a saúde. Mas a boa pizza, com ingredientes de
primeira qualidade, sem gordura em excesso só traz benefícios, especialmente se
repartida em convívio (todo convívio é social, juntar as palavras apresenta pleonasmo).
Que o digam
os sócios do Clube do Bondinho, que saboreiam a Pizza do Gagau, cuja permanência
à mesa (da pizza) raramente ultrapassa a marca de 2 minutos após a saída do
forno.
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