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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4183 Data: 07 de
Maio de 2013
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NA RÁDIO MEMÓRIA COM O JAZZ
Observação: a Edição 2 está a seguir desta.
Sintonizei a rádio Roquette Pinto, nesse
primeiro domingo de maio, e logo me arrependi por não o ter feito uma hora antes,
pois o programa Almanaque homenageou Altamiro Carrilho, a nossa flauta mágica.
Rádio Memória, que se seguiria, tinha, portanto, uma responsabilidade maior de
manter o nível.
-Mais uma vez sem o Sérgio Fortes, que
está nas “Oropas”, mas com seu amigo Roberto Dieckmann, que nada lhe fica a
dever. - foi a entrada do apresentador.
-Não devo nada a ninguém. - disse o
Dieckmann brincando, pois sabe que o brasileiro já nasce com uma pesada dívida
sobre os ombros; coisa para nenhuma figura mitológica, como Atlas, achar de
pouca monta.
Citado o nome do Sérgio Fortes,
Dieckmann se referiu ao alívio que ele deveria sentir pelo fato de o prefeito
Eduardo Paes se arrepender de extirpar 8 milhões de reais da Fundação OSB.
Jonas Vieira deu parabéns ao burgomestre porque, hoje em dia, é difícil alguém
voltar atrás.
-Isso posto, como diria Machado de
Assis...
Jonas Vieira foi interrompido pelo
substituto do Sérgio Fortes.
-Começamos machadianamente...
Então, o Dieckmann me deixou
extremamente radiante, pois, do nome do nosso maior escritor, lhe veio à mente
o Biscoito Molhado, que criticou a Lady Gaga,
ouvida na última semana.
-Como se chama o redator do Biscoito
Molhado? - quis saber o Jonas Vieira.
-Carlos Nascimento, o Capitão Nascimento.
- respondeu o Dieckmann.
De Machado de Assis a Capitão
Nascimento... Não se pode mesmo confiar nos elogios do Dieckmann; soprou e
depois mordeu...
-Um jornal pequeno, porém decente.
Eis que o Jonas Vieira nos deu uma ideia
para um bom slogan.
-Eu
trouxe uma raridade – afirmou o Dieckmann. Vicente Miranda, um ouvinte assíduo
desse programa...
Não é do maternal da Petrobras. - deduzi
logo.
-... Ele me pediu para tocar Jackson do
Pandeiro. E falou, então, dos turbulentos anos 50, da separação dele da Almira,
da Neusa... Bem, eu pensei no “Chiclete com Banana”. E ouvi as gravações do
Gilberto Gil, do Lenine. Mas nada que se compara com Jackson do Pandeiro, cuja
interpretação é arrebatadora.
-Ele tinha uma musicalidade fora do
comum, um ritmo inigualável. - interferiu aquele que é nome de estúdio, na
Rádio Roquette Pinto, com suas candelas.
-E a separação do Jackson do Pandeiro,
que influenciou o João Gilberto. - acentuou o Dieckmann.
E acrescentou:
-A música de “Chiclete com Banana” é de
Gordurinha...
-Outra figura extraordinária; temos de fazer
um programa só com o Gordurinha.
-Um programa diet. - não perdeu o
Dieckmann a piada.
Eu os ouvia, enquanto me reportava a um
programa de uns dois anos atrás com o cantor Miltinho, nessa mesma emissora,
que enfatizou a excelência insuperável do Jackson do Pandeiro com o seu
instrumento, diferentemente de muitos que praticam verdadeiros números
circenses com o pandeiro, mas que têm pouca musicalidade.
-Show! Show! - vibrou o titular do Rádio
Memória depois que “Chiclete com Banana” foi ouvida.
Chegou, então, a vez do seu pedido. Antes, falou da diferença entre orquestra e
big band, disse que aquela integra instrumentos de corda, enquanto a big band
se atém aos instrumentos de sopro e percussão. Certo, pois o piano é um
instrumento de percussão.
Referiu-se, então, ao seu saudoso amigo
Severino Araújo e à orquestra Tabajara, que ainda está em atividade. Seu
interlocutor, não perdeu a deixa e associou a orquestra com as Organizações
Tabajara do Casseta e Planeta.
-Vamos ouvir um choro que já foi muito
popular, mas muito popular mesmo, “Paraquedista”, de José Leocádio.
Eu ouvia o buliçoso choro, sem deixar de
pensar na “Dance in the Dark”, que escutamos no último domingo, com a Lady
Gaga. Ora, essa popstar já ocupa um largo espaço na mídia nacional e
internacional, ainda vai se intrometer no programa Rádio Memória, deixando
menos tempo para ser preenchido por artistas de grande valor musical, que
caíram injustamente no esquecimento?... Afinal, o lema do programa é
”Raridades, Curiosidades, Humor e Entrevista”.
-Delícia! - exclamou o Dieckmann, depois
de o “Paraquedista” aterrissar são e salvo com a Orquestra Tabajara.
Bem, até agora, os dois tiveram uma
precisão metronômica nas escolhas. - disse comigo mesmo.
Dieckmann, na vez da sua opção, criou
uma expectativa hitchcockiana:
-Meu amigo, a surpresa que eu trouxe
para os ouvintes...
E disse que gosta do jazz, mas que, às
vezes, o jazz é hermético, porém, quando usa temas populares, é empolgante.
Ele se referia, imagino, ao Be Bop,
(*) nova vertente desse gênero musical trazida por Charlie Parker e Dizzy Gillespie.
Antes, com o Swing de Louis Armstrong e Benny Goodman, entre outros,
dançava-se, mas com o Be Bop, a coisa ficou intelectualizada,
deixando as pessoas com os traseiros colados nas cadeiras com os ouvintes
procurando entender aquilo. Certa vez,
ouvi “The Long and Winding Road”, dos Beatles, com a maior cantora do Be
Bop, Sarah Vaughan e, no final, me perguntei: onde está “The Long and
Winding Road”? Anos depois, num programa
didático sobre jazz, explicou-se como músicos, Charlie Parker e Dizzy Gillespie,
do Be Bop, improvisavam e eu entendi um pouco. Na verdade, o próprio Louis
Armstrong travou uma polêmica braba com o também trompetista Dizzy Gillespie,
porque não aceitava o jazz sem Swing, mais tarde, depois de um
caricaturar o outro em antológicas imitações, eles se reconciliaram.
Dieckmann anunciou que a música,
conhecida por todos, era do filme Pinóquio, “When You Wish Upon a Star” e o
jazzista que ele escolhera para interpretá-la era Dave Brubeck.
-Gosto muito de Dave Brubeck, que tem
gravações muito compridas, mas eu escolhi uma mais curta.
Bem, depois de ouvir Dave Brubeck, eu
não me perguntei: onde está “When You Wish Upon a Star”? O grande músico não
elucubrou nos seus improvisos, seu piano despontou sem que os demais
instrumentos deixassem de sobressair.
Dieckmann, depois dessa audição, se
reportou a Paul Desmond, que serviu sob a liderança do maior general da 2ª
Grande Guerra Mundial, George Patton, juntamente com Dave.
-Os dois lutaram na Batalha de Bulge. -
reportou-se a um dos momentos mais cruciantes da guerra, que ocorreu em
Ardennes, na Bélgica.
E prosseguiu:
-Conheceram-se e formaram o The Dave
Brubeck Quartet.
Jonas Vieira se uniu ao entusiasmo do
Dieckmann pelo quarteto de Dave Brubeck.
(*) O
Dieckmann quase ferveu com esse comentário. “Era só o redator do seu O BISCOITO
MOLHADO ouvir mais um pouquinho do programa antes de sentenciar
antecipadamente. O que eu quis dizer é que quando um conjunto de jazz toca uma
música bem conhecida, popular, a performance pode ser muito melhor avaliada do
que quando o mesmo conjunto toca uma música
pouco divulgada, o que é bem óbvio”. Ainda bem que o Distribuidor deste periódico
está por perto para botar panos quentes.
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