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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4180 Data: 01 de
Maio de 2013
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NA RÁDIO MEMÓRIA, DIECKMANN SE LEMBRA DA LADY GAGA
Sérgio Fortes já
dissera que o Dieckmann tentou se apoderar do programa Rádio Memória quando lá
esteve no mês passado. Agora, que saiu de férias, Dieckmann faz nova tentativa;
no entanto, o prevenido Jonas Vieira convidou também o violinista da OSB - Ópera
e Repertório, que, além de médico aposentado, Luzer Machtynger, para repartir a
apresentação do programa.
Eram, portanto três,
como os mosqueteiros que, aliás, eram quatro, aqueles que escolheriam o
repertório.
O programa se iniciou
com piadas sobre a ida do Sérgio Fortes, de férias, a Europa. O que sei é que
ele não pode sair do país que a casa cai, pois mal entrou no avião e o prefeito
Eduardo Paes cortou 8 milhões de reais da verba da OSB. Covardia e
imbecilidade. E será que a casa também
cairia na Roquete Pinto nesse último domingo do mês de abril sem o Sérgio
Fortes? Era esperar para ver, ou melhor, ouvir.
Coube ao músico e
médico escolher a primeira música do Rádio Memória.
-“Nada melhor do que
George Gershwin para começar o dia” - disse. E anunciou a canção Love is
Here to Stay, a última que ele compôs. Enalteceu o verso “for ever and a
day”, sendo interrompido pelo Jonas Vieira: “Que poeta”. O poeta, no caso, era
o irmão do compositor, Ira Gershwin.
A canção não era uma
declaração de amor por uma mulher (George Gershwin foi apaixonado pela atriz
Paulette Godard, musa do Charles Chaplin), e sim por um homem (*). Tudo bem,
pois a sua melhor canção para mim é The Man I Love, que sensibilizou até
o Caetano Veloso, que a gravou, mas prefiro mil vezes mais a Kiri Te Kanawa.
Love is Here to
Stay foi ouvida na gravação de
Michael Feinstell com a Orquestra Filarmônica de Israel.
-O programa foi aberto
com chave de ouro. - concordaram todos.
Chegou, então, a vez
do Dieckmann que, justiça se lhe faça, possui uma dicção que nos faz entender
todas as letras de todas as palavras que pronuncia. Ele se reportou,
surpreendentemente, aos diversos segmentos dos seus colegas da Petrobras,
classificando-os como: universidade, científico, ginasial e maternal. E pediu
para ouvir, atendendo ao desejo do “maternal”, Lady Gaga; e a música, que já
teve celebradas interpretações, foi Dancing
in the Dark.(**)
Na segunda-feira, contei isso para o
“maternal” do meu trabalho, que já foi o do Dieckmann de outrora e me perguntaram?
“Por que ele não pediu o original?... Por que não pediu a Madona?”
A clone da Madona é,
de fato, afinadinha, mas o programa se chama Rádio Memória. Pedisse, então, uma
canção da falecida Amy Winehouse, que possuía uma voz rara de contralto e
talento para compor canções que eram uma mescla de jazz, soul e rhythm and
blues.
Antes dessa escolha,
vale lembrar, Dieckmann, para o desespero do apresentador do programa, revelou
que o estúdio, “com suas candelas”, se chama Jonas Vieira.
-“Candelas às oito e
vinte da manhã?” - imaginei o espanto e as palavras do Sérgio Fortes. (***)
Veio, então, a vez do
anfitrião apresentar a sua música. E pediu bem: Dinorah, de Benedito
Lacerda e Darci de Oliveira. Parecia composição do Pixinguinha, e talvez
fosse... Jonas Vieira preferiu a gravação de um organista americano que
divulgou muito a música brasileira cujo nome me escapou.
E a opção voltou para
o Luzer. Ele se referiu ao conjunto Rabo
de Lagartixa e ao corte de cabelo muito curto da excelente clarinetista Daniela
Spielman, que inspirou seu colega, Luís Felipe de Lima, a compor o buliçoso Joãozinho
na Gafieira.
Dieckmann entremeou
comentários maliciosos com risos sobre o rabo da lagartixa, enquanto eu
imaginava a inveja que as mulheres dos traseiros de silicone teriam das
lagartixas com o seu poder de regeneração do rabo.
Sérgio Fortes voltou a
ser lembrado, agora com a mala cheia de merrecas, na Europa. Momentos de
alegria antes do austero intervalo sobre a origem do trigo.
A segunda parte do
Rádio Memória principiou com o Dieckmann, que enalteceu as interpretações
engraçadas, descontraídas, malandras, no bom sentido, do Moreira da Silva.
-Na gravação que vou
pedir, Conversa de Botequim, de Noel Rosa, até que ele está contido. -
comentou.
Creio que Noel Rosa,
pelo conjunto da sua formidável obra, impõe um pouco de veneração nos
intérpretes, até mesmo no Moreira da Silva, que o conheceu pessoalmente.
E os comentários se
sucederam, depois que escutamos Conversa de Botequim.
-O Moreira da Silva
personifica o carioca típico.
-O carioca que não
mais existe; também não existem mais os cafés.
-Você pode ir a Buenos
Aires, Jonas. - sugeriu o Dieckmann.
-Há também cafés em
Viena.
Com essas palavras, a
memória afetiva do apresentador de novo despertou:
-A essa hora, Sérgio
Fortes toma o seu café, na Europa e ri-se de nós.
A escolha cabia agora
a ele, Jonas Vieira. Reportou-se, então, ao magnífico instrumentista que levou
o acordeão para o jazz, Art Van Damme. Chegaram, então, aos nossos ouvidos, uma
gravação dele com um quinteto jazzístico, o clássico Slaughter
on Fifty Avenue, que, antes, o professor de inglês, que também é nome de
estúdio com as suas candelas, traduziu para Assassinato na Quinta Avenida.
Depois de soada a
última nota do Slaughter on Fifty
Avenue, Dieckmann não perdeu a piada e relacionou Art Van Damme com Thriller.(4*)
Era a vez do Luzer e
ele discorreu, com a sua bagagem de integrante da Orquestra Sinfônica
Brasileira, sobre um grande compositor argentino, que muitos conhecem suas
criações, mas não o seu nome: Lalo Schifrin.
Dieckmann e Jonas
Vieira aprovaram imediatamente e ele prosseguiu:
Lalo Schifrin compôs
muito para o cinema, para seriados de televisão, como “Missão Impossível (1966)”
e muitos não sabem que ele é o autor. E
aconselhou aos ouvintes que pretendem se introduzir na música clássica a
começar com as audições de Lalo Schifrin.
-Seria ótimo para o maternal
do trabalho do Dieckmann. - imaginei logo. (5*)
A gravação que se
ouviu, em seguida, foi The Wig (A Peruca).
Na hora do Dieckmann,
ele pediu Hi-de-ho com Blood and Tears.
-Que, traduzido do
japonês?... - brincou o Jonas Vieira.
-Sangue e Lágrimas. -
respondeu o Dieckmann. (6*)
Faltou o suor. - disse
comigo mesmo.
Como costuma
acontecer, Jonas Vieira sempre comenta, juntamente com o Sérgio Fortes, um
acontecimento atual. E a falta do seu parceiro não o impediu de falar do brutal
assassinato de uma dentista, incendiada viva.
-Passe para a música.
- falei, mesmo sem ser ouvido, naquela bonita manhã de domingo.
E o Jonas Vieira
pediu, para finalizar o programa, o fox-canção de Posford e Estothart, versão
de Osvaldo Santiago, Na Balalaica.
E a esplendorosa voz
do Orlando Silva de 1940 encantou a todos.
-Orlando Silva
frequentou a minha casa. - informou depois que a última nota musical foi
emitida.
-Jonas Vieira
pretendia ser cantor, mas, depois que conheceu o Orlando Silva, desistiu. -
interveio jocosamente o Dieckmann.
Pensei no Sérgio
Fortes e de um texto do livro de Rogério Barbosa Lima sobre o grande barítono
Paulo Fortes. Ele, Sérgio, cismou, numa fase da sua vida, em cantar óperas
também, no entanto, seu pai exigiu tanto da sua voz que, no dia seguinte, ele
não conseguia nem falar, o que o fez desistir definitivamente de ser tenor lírico.
Perdemos um Caruso.
No Rádio Memória, voltaram
a se lembrar do Sérgio Fortes, mas o assunto era diferente do meu, ainda era o
seu périplo pela Europa.
(*) antes que
espíritos maledicentes e apressados façam questões, trata-se de declaração de
amor entre irmãos, parceiros de toda uma vida, um na música e o outro nas
letras. Realmente a letra tocou a todos nós e Jonas Vieira é um fã declarado
dos irmãos Gershwin, daí o arrebatamento.
(**) A música
apresentada foi “Dance in the Dark” e não “Dancing in the Dark”. Consultamos o
Dieckmann várias vezes nesta edição, para que o Distribuidor do seu O BISCOITO
MOLHADO não caísse na eterna tentação farinácea de espicaçá-lo em definitivo,
sem lhe dar o justo direito de réplica. Nada como ler as duas versões da mesma
história, ainda mais que o redator ouviu o programa e o Dieckmann participou, foi
testemunha, fez parte da História radiofônica. Ouçamos essa brilhante
testemunha:
“Quando o
maternal pediu a Lady GaGa, a música escolhida foi imediatamente suposta por
mim como a “minha Dancing in the Dark”. Ledo engano, tratou-se de ignorância
musical da minha parte. Não só a música não está no gerúndio e a Lady a compôs,
como há outra “Dancing in the Dark”, de Bruce Springsteen.
Era minha
intenção promover um pot-pourri de Dancings e Dances, mas ficaria longo demais
e não mostraria as músicas em seu esplendor. Foi uma decisão dos três
mosqueteiros apresentar somente a versão da Lady GaGa, que é musicalmente
interessante, assim como a cantora. Só é preciso se abster do bateestaca de
fundo.
(***) A esta
altura, o leitor deste periódico já percebeu que se não é o Distribuidor, este
Biscoito teria farinha de Dieckmann (integral, claro). Fique registrado que
ninguém pediu a Madona, ou a Amy Winehouse, ambas igualmente respeitáveis e que
terão a sua vez, agora que o Dieckmann já sabe dessas preferências. Diz o
Dieckmann, já meio estupefato com a desmedida perseguição, a partir de consulta
à Wikipedia:
“Uma
candela é definida no Sistema Internacional (SI) como a intensidade luminosa emitida por uma
fonte, em uma dada direção, de luz monocromática de frequência
540 x 1012 hertz e cuja intensidade
de radiação em tal direção é de 1/683 watts por esferorradiano.
Ou seja,
candela é uma unidade de intensidade de luz e faz parte do idioma português,
podendo o termo ser usado a qualquer hora do dia.”
(4*) Foi
preciso usar o maternal, primário e parte do ginasial para segurar a ira do
Dieckmann. “Nem de longe eu me referi à música do Michael Jackson e sim ao
thriller, gênero cinematográfico, teatral, literário, que quer dizer
arrepiante, em tradução literal.”
(5*) Saberão
disso!
(6*) Blood,
Sweat and Tears é o nome do conjunto. Difícil o Dieckmann se esquecer de umas
das palavras e impossível ter sido a dicção inaudível, como atesta o próprio
redator. O que o Dieckmann cometeu foi um erro nas pronúncias de Blood e de
Sweat, corrigidas no ar pelo impreterível Jonas Vieira, professor de Inglês. Prevaleceu
a escrita do redator, questão de princípios deste Distribuidor.
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