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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4179 Data: 28 de
Abril de 2013
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MENSAGENS ELETRÔNICAS COMENTADAS
Fischberg me remete inúmeras
fotografias dos Estados Unidos de cem anos atrás, numa delas “banhistas” numa
praia de Atlantic City, datada de 1915. Banhistas aqui vão aspados porque
muitos parecem que estão em plena Wall Street , num momento de folga,
palestrando sobre as altas e baixas das ações.
Entendo agora outro e-mail que recebi
poucos dias antes. Trata-se de uma fotografia, de 1922, que mostra mulheres
sendo presas em Chicago por desafiarem a proibição do uso de trajes de banho em público. Era vetado o
uso de roupas que mostrassem a barriga e as pernas. As mulheres também tinham
de se cobrir nas praias quando não estivessem dentro da água.
O que vemos na fotografia são mulheres
levadas para um veículo da polícia (bem mais alto que os nossos camburões e
igualmente estreitos). Lembrei-me das prostitutas francesas embarcando à força,
em Le Havre ,
num navio que ia para a América, no segundo ato da ópera Manon Lescault, de
Puccini. Não sei o porquê dessa lembrança, talvez porque uma delas, num gesto
de deboche, curvou-se e jogou a saia para cima, mostrando o traseiro para as
autoridades.
Veio-me também à lembrança, no caso da
primeira foto, um filme de um documentário em que aparece o então presidente
Richard Nixon, numa praia, em que o seu terno escuro contrastava com a areia
branca e o comentário do narrador: “Ele
era uma figura lúgubre.”
Se alguém hoje, nas praias do Rio de Janeiro,
principalmente, aparecesse vestida como essas jovens de Chicago, em 1924,
diriam que elas usam paraquedas em vez de biquíni.
Recebi da Alba, correspondente do
Biscoito Molhado em Porto
Alegre e repassei imediatamente aos meus amigos, a carta de
Vespasiano ao seu filho Tito Flavio.
Devido à atualidade da mesma, no Brasil, em que rios amazônicos de
dinheiro são gastos na construção de estádios de futebol, alguns desses amigos me
perguntaram: “Mas essa carta é verdadeira?”
Se non
é vero é bene trovato.
Aqui vão uns trechos dela, datada de 79
d.C, um dia antes da sua morte:
“Tito, meu filho, estou morrendo. Logo
eu serei pó e tu, Imperador. (...) De minha parte, só o que posso fazer é
dar-te um conselho: não pare a construção do Colosseum. Em menos de um ano ele
ficará pronto, dando-te muitas alegrias e infinita memória. Alguns Senadores o
criticarão, dizendo que deveríamos investir em esgotos e escolas. Não dê
ouvidos a esses poucos. Pensa: onde o povo prefere pousar seu clunis:
numa privada, num banco de escola ou num estádio? Num estádio, é claro. Será
uma imensa propaganda para ti. Ele ficará no coração de Roma por “omnia saecula
saeculorum” e sempre que o olharem dirá: Estás vendo este colosso? Foi
Vespasiano quem o começou e Tito quem o inaugurou.”
“Outra vantagem do Colosseum: ao
erguê-lo, teremos repassado dinheiro público aos nossos amigos construtores que
tanto nos ajudam nos momentos de precisão. Moralistas e loucos dirão que mais
certo seria reformar as velhas arenas. Mas todos sabem que é melhor usar roupas
novas que remendadas, “Vel caeco appareat” (Até um cego vê isso). Portanto,
deves construir esse estádio em Roma.”
“Enfim, meu filho, desejo-te sorte e
deixo-te uma frase: “Ad captandum vulgus, panem et circenses” (Para seduzir o
povo, pão e circo).”
Não custa relermos a história do
Coliseu, também conhecido por Anfiteatro Flavio.
O nome Coliseu se origina do vocábulo
latino Colosseum, que se refere à colossal estátua do imperador Nero, erguida
nas proximidades, mas a intenção dos idealizadores não era homenagear o
matricida, como veremos depois.
Edificado entre 70 e 90 d.C., foi
iniciado por Vespasiano, inaugurado por Tito Flavio, em 81 d.C, ano do seu
falecimento e concluído por Domiciano, seu irmão mais novo, que governou
de 81 a 96 a .C.
O local escolhido por Vespasiano para a
construção se achava no fundo de um vale entre colinas. O lugar fora devastado
pelo Grande Incêndio de Roma, em 64 d.C. que, como sabemos, serviu para que
Nero chacinasse os cristãos. Pouco tempo, depois, o Imperador Nero o
reurbanizou com um enorme lago
artificial, “Casa Dourada”, situada num complexo de construções, para seu
prazer pessoal. E lá mandou, ególatra como era, que fizessem a colossal estátua
de si mesmo de que já falamos.
Acredita-se que o imperador Vespasiano optou pelo
levantamento da sua grande obra no lago do “Palácio Dourado de Nero”, com o
objetivo de que os males causados pelo seu antecessor fossem esquecidos. Além
de agradar o povo, Vespasiano colocou o símbolo do poder da sua dinastia no
coração de Roma. Infelizmente, não
pulverizou a estátua de Nero.
A edificação foi financiada com os
tesouros conseguidos depois da vitória romana na Grande Revolta Judaica, no ano
70. Drenou-se o lago, e os homens puseram mãos à obra.
A sua arquitetura é extraordinária. A
sua planta elíptica mede dois eixos que se estendem aproximadamente de 190 por 155 metros . É construído
em mármore. Pedra
travertina, ladrilho e pedra calcária com grandes poros, chamada tufo. A fachada
é composta de arcadas decoradas com colunas dóricas, jônicas e coríntias, de
acordo com o pavimento em que se encontravam. Subdivisão possível porque a
construção, sendo essencialmente vertical, cria uma diversificação do espaço.
Formado por cinco anéis concêntricos de
arcos abóbadas, o Coliseu representa o avanço introduzido pelos romanos à
engenharia de estruturas. Esses arcos são de concreto (de cimento natural),
revestidos por alvenaria. A alvenaria era, na realidade, construída
simultaneamente e servia de forma para a concretagem.
A entrada e saída dos espectadores, que
alcançavam 50 mil, se dava em tempo curtíssimo o que faz os engenheiros de hoje
babarem, de admiração.
O Coliseu foi utilizado durante 500
anos aproximadamente. Deixou de ser frequentado
para entretenimento no começo da Idade Média, mas foi, posteriormente,
usado como habitação, oficina, forte, pedreira, sede de ordens religiosas e
templo cristão.
Vem-me à mente o estádio de futebol do
Engenhão, cuja obra se iniciou em 2003 d.C., e foi interditado 10 anos depois
devido o risco de desabamento... As
construtoras embolsaram todo o seu dinheiro, como pregava Vespasiano e pior: o
povo não teve o seu circo por muito tempo.
É melhor parar por aqui.
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