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quarta-feira, 29 de agosto de 2012

2211 - o cyber biscoito


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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4011                                         Data: 22 de agosto de 2012
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SABADOIDO  DE  PAUL  A   PAUL

Há quinze minutos que eu conversava com o Cláudio e nenhum ruído que denunciasse a presença do Daniel me chegava aos ouvidos.
Será que foi convocado para trabalhar também neste sábado?
Eu poderia dirigir esta pergunta ao meu irmão, mas resolvi retardar uma resposta que seria decepcionante para mim.
Claudio previa os votos de condenação do ministro Joaquim Barbosa, no julgamento do mensalão, enquanto eu falava do impedimento do ministro César Peluso em votar por causa da aposentadoria compulsória.
A Gina, por quem eu passara, quando rumei para a cozinha, apareceu diante de nós com uma piada sobre as dores de coluna do ministro que falava de pé. Bem, Eça de Queirós escrevia de pé, mas não foi o grande escritor que me veio à mente naquele momento e sim o Daniel, que talvez estivesse dormindo. Mais uma vez, contive a minha curiosidade e nada perguntei sobre o meu sobrinho.
De repente, a porta feita de uma chapa fina de metal estrondou com fortes batidas.
-Você fechou a porta com o Daniel lá fora? - reclamou o Cláudio da mulher.
Daniel, que abrira o portão com a sua chave, encontrou nessa porta fechada um obstáculo para a sua passagem.
-Ainda bem que teremos um sábado, aqui, mais alegre. - pensei com meus botões.
Mal a Gina desimpediu essa porta, meu sobrinho apareceu na cozinha com suas facécias e com o cabelo cortado.
-Cortou com o irmão do Fonseca?
-Sim. - respondeu à mãe.
-Ele sempre corta mal.- criticou, como criticaria até o Barbeiro de Sevilha.
-E o programa antivírus, Carlão?
-Sou analfabeto em assuntos de Informática. A única coisa que eu sei é que não subscreveria as ações do Facebook a 38 dólares, que hoje valem 19 dólares.
-Irei de tarde à sua casa para instalar o programa. – prometeu.
Meu sobrinho foi ao seu quarto, enquanto o diálogo mudava do julgamento do mensalão para a greve do funcionalismo público.
-Você acha que a Dilma cede?
-Gina, se ela suportou porrada de torturadores, você pensa que ela não vai aguentar a pressão de uns sindicalistas que só pensam em encher mais os bolsos de dinheiro em detrimento de outras prioridades do país?
-Mas ela deu com as línguas nos dentes sob tortura no regime militar.
Sem desenvolver esse tema lançado pela oposição acirrada do meu irmão, prossegui.
-Muitos grevistas do meu trabalho voltaram, temem o corte do ponto e a obrigação de compensarem os dias parados.
-Carlão, o cybercafé está aberto. – anunciou o Daniel.
Diante da tela do computador, deparei-me com uma mensagem do meu amigo virtual de nome ecológico, Evandro Verde, sobre as chacretes com o título “O tempo é cruel”. Surgiram, primeiramente, as garotas que dançavam no programa do  Chacrinha exibindo a sua plasticidade em roupas sumárias. Veio-me então à mente o Seu Eugênio, morador da Rua Chaves Pinheiro, que não perdia um programa do Chacrinha apesar do Chacrinha. Na passagem de uma imagem para outra, eu via, agora, as chacretes transcorridos 25, 30 anos; elas estavam tomadas pelas dobras da gordura, pelas rugas. Julguei que não era só a passagem do tempo a culpada por aquela feiura, também contribuiu uma vida sem freios, de entrega às tentações, como Dorian Gray.
Tirou-me dos meus pensamentos o meu sobrinho, que anunciou sua caminhada pelas ruas do bairro.
Em seguida, o chamado insistente do Vagner se fez ouvir; aliás, eu comentei, horas antes, com o Claudio a metralhadora de ansiedade do Vagner, no portão,ao chegar, e ele me disse que o Souzinha, cunhado do Luca era bem pior, disparava uns 20 Cláudios  em 30 segundos.
Cliquei, agora, num vídeo que mostrava o tsunami que adveio do último grande terremoto no Japão filmado do céu. Uma tragédia de proporções bíblicas. Se algo parecido ocorresse no Brasil, seria dada como concretizada a profecia de Antônio Conselheiro, em Canudos: “O sertão vai virar mar e mar vai virar sertão.”
Luca chegou pouco depois do Vagner e os dois, juntamente com o Claudio, deram início a mais uma sessão do Sabadoido.
Do cybercafé do Daniel, eu os escutava falando da festa de encerramento das Olimpíadas de Londres, quando o nome do Beatle Paul McCartney foi citado.
-Veja, Claudiomiro, o nome Paul é francês. Vê-se esse nome na França como Jean-Paul Sartre...
-Sim, mas há ingleses e americanos com o nome Paul.
Se lá já estivesse, eu tentaria falar da última invasão sofrida pela Inglaterra, em 1066, quando os normandos marcaram a Inglaterra irremediavelmente com a influência francesa. Sem esquecer a St Paul’s Cathedral, monumental obra do barroco anglicano, em que o arquiteto Christopher Wren pretendeu uma obra que rivalizasse com a Catedral de São Pedro, em Roma. O provável, contudo, é que nada falasse se lá já estivesse.
Quando cheguei à antiga garagem do fusca da Gina, notei que o Luca estava preocupado, subindo num pedaço de concreto para olhar para a rua.
-O que houve? – quis saber.
-O sujeito que vende mate colocou uma mesa de escritório no meio da calçada, junto ao meu carro. – informou-me.
-Deixa para lá, Luca. – sugeriu meu irmão.
Voltou-se à conversação e o assunto passaria por outro Paul, o Paul Anka.
-Eu julgava que “My Way” fosse do Paul Anka, mas foram dois franceses que compuseram essa canção.
-Luca, o Elio Fischberg lhe disse isso quando o visitamos na sua casa.
-Não foi no hospital?... Porque o meu médico tinha mania de falar em Frank Sinatra e nessa música...  Mas não importa!...
-Paul Anka fez a versão. - interveio meu irmão.
 E o Luca retomou a palavra:
-O Frank Sinatra estava caído, bem por baixo, quando gravou “My Way” e, então, ressurgiu.
-Luca, eu acredito que Frank Sinatra ressurgiu com uma canção que vem sendo cantada pelo senador cassado Demóstenes Torres, “Let me try again”. Canção, aliás, bem chatinha. - manifestei-me.
Claudio foi convocado para tirar a dúvida, mas ele não demonstrou certeza sobre a música que relançou o cantor Frank Sinatra ao sucesso. Mas não importa, porque ele, uma das personalidades mais destacadas do mundo dos espetáculos, esteve caído, mesmo, foi na época em que ficou enamorado da atriz Ava Gardner, quando tentou o suicídio.
-Cadê o garoto, foi trabalhar de novo no sábado?...- demonstrou o Luca inquietação.
-Daniel foi caminhar. - disse o pai dele.



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