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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4001 Data:
04 de agosto de 2012
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A ÚLTIMA SESSÃO DO SABADOIDO... DO MÊS DE JULHO
3ª PARTE
-Carlinhos,
quais foram as canções que o Cole Porter compôs para o Frank Sinatra?
Luca formulou
apressadamente a sua pergunta, pois o Frank Sinatra, por melhor que fosse, não gozou
o privilégio de ter composições do Cole Porter criadas especialmente para ele.
-De Cole Porter, Frank Sinatra cantou “Night and
Day”, “I Love Paris...”
-Begin the
Beguine... – atropelou-me as palavras o Claudio com uma risada..
-Essa não foi
para ele, Claudiomiro. – protestou o Luca, que emendou outra pergunta, dessa
vez dirigindo-se a todos:
-Quem é o
melhor compositor de música popular dos Estados Unidos? - insistiu o Luca na
música americana.
Meu irmão se
antecipou:
-Jerome Kern, Richard
Rogers e Oscar Hammerstein, Cole Porter...
-Cole Porter é
o melhor de todos para mim. - aparteou o Luca.
-George
Gershwin, Henry Mancini...
Dessa vez fui
eu que interrompi o Claudio:
-Duke
Ellington, Irving Berlin... Temos, no entanto, de separar os populares dos eruditos,
pois George Gershwin compôs concertos, ópera, rapsódias e Duke Ellington criou
também obras de fôlego, de mais de 40 minutos de duração.
-Mas também
fizeram coisas populares, como o Leonard Bernstein do “West Side Story”. -
retrucou o Claudio.
-Eu creio que
a questão é a que o Luca expôs antes; não se trata do melhor compositor norte
americano, mas com quem nos identificamos mais.
-Isso,
Carlinhos.
Em seguida,
Luca enveredou pelos apupos do público.
-“Sabiá”
recebeu a maior vaia de todos os tempos.
A vaia que a
composição de Tom Jobim e Chico Buarque repercutiu muito. Recordo-me que, no
dia subsequente, o Globo, em editorial, comparou a manifestação ruidosa do
público à ocorrida no Teatro Champs Élysées, em Paris, na estreia de “A
Sagração da Primavera”, de Igor Stravinsky, em 29 de maio de 1913. Editorial
esse que gerou mil protestos, pois “A Sagração da Primavera”, apupada,
revolucionou a música do século XX e inspirou as seguintes palavras do maestro
Leonard Bernstein: “... Ela também tem as melhores dissonâncias que ninguém
poderia ter imaginado e as melhores assimetrias e politonalidades já feitas,
qual seja o nome que você queira dar.”
Mas voltemos à
nossa narrativa.
-Creio que a
maior vaia foi endereçada a “Saveiros”.
Meu irmão discordou
de mim.
-Quem recebeu
a maior vaia foi o Sérgio Ricardo com o “Beto Bom de Bola”.
-Claudio, ele
foi vaiado no Teatro Record e nós estamos falando do Maracanãzinho.- reagi.
Ele não levou
em consideração as minhas palavras e se deteve no violão quebrado pelo Sérgio
Ricardo, que caiu sobre alguns baderneiros da plateia.
-Como diz a
Rosa, eu transbordo. – falei, enquanto me levantava da cadeira para ir ao
banheiro.
Quando voltei,
troquei algumas palavras com o meu sobrinho que, agora, estava defronte ao ecrã
do seu computador.
-No meu
trabalho, Daniel, instalaram a versão 2003 do Word com o português de Portugal,
então, surgem as confusões, porque arquivo é ficheiro, salvar é guardar e por
aí vai.
-Carlão, você
tem de aprender mais um idioma. - aconselhou-me com seu jeito folgazão.
De volta à
sessão do Sabadoido, Claudio se reportava aos CDs que comprou a preço de queima
de estoques no Carrefour.
-Comprei Caetano
Veloso por 1,99; Chico Buarque também. Tom Jobim valia o dobro, 4 e 99. (*)
-Está certo. –
disse o Luca, percebendo a ironia do meu irmão que fez o Vagner rir.
-Este CD da
Susan Boyle estava também muito barato. – passou-o às minhas mãos.
Li rapidamente
o repertório e elogiei a voz da cantora inglesa que despontou para o sucesso
com a idade avançada.
-Ela canta muito.
- disse também o Vagner.
O tema do
Sabadoido passou a ser a dança e eu estava com a palavra.
-Assisti a uma
reprise do programa do Sérgio Britom “Arte”, que homenageou durante uns 20
minutos o Bob Fosse. Eu desconhecia os filmes dele, como dançarino, da década
de 50. Fiquei deslumbrado com o seu talento de dançarino, Claudio.
-Quando se
fala em dança, lembra-se logo o Fred Astaire. - disse o Luca.
-Bob Fosse,
além de grande coreógrafo, foi um grande dançarino. - afirmou meu irmão.
-Eu vi o “All That
Jazz” no cinema. - lembrei-me.
-Nesse filme,
o Bob Fosse transforma a própria morte em dança. Ele fumava muito, era mulherengo...
Meu irmão foi
aparteado pelo Luca:
-Os americanos
dançam muito bem. Havia aquele que viveu aqui, No Brasil...
-Lennie Dale.
- falei.
-Eu assisti,
ao vivo, no teatro da TV Excelsior, o Lennie Dale dançando.- lembrou-se o
Claudio com orgulho.
-O corpo dele
era de dançarino mesmo. - disse o Luca.
-Lennie Dale
ensinou muitos artistas a dançar.
-Liza Minnelli
foi uma das alunas dele. - corroborei a afirmação do Cláudio.
-Parece, não
tenho certeza, que ele ajudou na coreografia do West Side Story.
-A Liza Minnelli dançava, a Shirley MacLaine...
Luca, que
interrompera o Claudio, foi interrompido por mim.
-A Liza
Minelli se perdia, às vezes, na dança; a Shirley MacLaine era bem mais
talentosa.
-O Lennie Dale
criou, aqui no Brasil, os Dzi Croquetes.
E com a
lembrança do meu irmão, os nomes de alguns dançarinos foram citados por nós
dois.
-Ciro
Barcelos, Paulette, Cláudio Tovar...
Retomei a
palavra:
-Por duas
vezes, assisti, no Teatro Glauce Rocha, à peça “Aldir Blanc, um cara legal.” No
momento em que se ouve a Elis Regina cantando “Dois pra lá, dois pra cá”, o
Cláudio Tovar dança com a Lucinha Lins, percebe-se, logo, o molejo de quem foi
um dos expoentes dos Dzi Croquetes.
Luca,
franqueando o envelope com cartas e recortes de jornal, mudou de assunto.
-Eu falei,
Carlinhos, que a Rosa não queria que divulgassem os versos dela, e você ainda
atribuiu outros a ela...
Claudio e
Vagner iniciaram uma conversa paralela, enquanto o Luca me mostrava algumas
cartas da filha caçula do Agripino Grieco. Numa delas, eu era chamado de
padeiro maluco cuja poesia era um repentino bebê.
“Estava no jogo do truco,
quando um padeiro maluco
Me apareceu.
Vinha com uma poesia no colo
E dizia pro povo que o verso era meu.
Não senhor!
Toma que o versinho é teu”
Não senhor!”
Meu sobrinho, nesse momento, apareceu
vestido para ir almoçar num restaurante do Méier com a Gina, a tia, a prima e
demais parentes, e o Luca fez questão de levá-lo de carro.
-É o meu caminho para casa mesmo. -
justificou a carona.
E saímos os três no carro do Luca,
restando sozinho no local do Sabadoido o meu irmão.
(*) Essa
noção de dobro deve incorporar uma liberdade poética.
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