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terça-feira, 28 de agosto de 2012

2210 - potências e prepotências


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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4010                                          Data: 20 de agosto de 2012
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CARTAS DOS LEITORES

-Li a edição do Biscoito Molhado referente à visita que o eminente educador Roquette Pinto fez ao redator, no entanto, falou-se muito da Rádio MEC e pouco da Rádio que recebeu o nome do divulgador do invento de Marcone no Brasil. Vão aqui os meus protestos. XY
BM: O grande brasileiro estava com a agenda repleta de compromissos, não pôde, por isso, estender por mais tempo a sua visita e falar da sua outra emissora. Tentaremos, agora, preencher esta lacuna.
Edgard Roquette Pinto fundou a Rádio Escola Municipal do Rio de Janeiro, em 1934, com intenções estritamente educacionais. Doze anos depois, a rádio recebeu o seu nome porque o Prefeito Henrique Dodsworth tudo fez para homenageá-lo, quando se encontrava enfermo.
Com a transferência da Capital Federal para Brasília, em 1960 e a consequente transformação da prefeitura em estado, a emissora passou a ser administrada pelo Governo do Estado da Guanabara. Assim, o ideal de Roquette Pinto se esvaiu pelo ralo, sobrevivendo somente na Rádio MEC. Assim, nos primeiros anos da década de 60 do século passado, tínhamos o deputado Leonel Brizola vociferando pela rádio Mayrink Veiga e o governador Carlos Lacerda vituperando pela rádio Roquette Pinto.
Em 1970, fundido o Estado da Guanabara com o Estado do Rio de Janeiro, a rádio passou a ser propriedade do governo Fluminense, ou seja, o Almirante Faria Lima, que não era inclinado à política do atacado, muito menos do varejo, passou a ser a autoridade maior, A Rádio Roquette Pinto possuía sua própria equipe de profissionais e uma programação não comercial, mas não recebia os investimentos que merecia pela história do seu patrono.
Como os transmissores da emissora estavam instalados próximos do complexo da Maré, eles foram roubados em 1955. Assim, por causa da ladroagem, o veículo de propagação de cultura, fundado por Roquette Pinto, ficou fora do ar de 1995 a julho de 2002, ou seja, por sete inacreditáveis anos.
A reinauguração aconteceu em 8 de julho de 2002 e, no ano seguinte, unificaram-se a transmissão AM e FM. Apesar da luta de Carmem Lúcia Roquette Pinto para impor as aspirações do seu pai, a programação  da emissora deixava a desejar.
Com Arthur da Távola, com boa experiência de radialista, agindo como Secretário das Culturas, houve uma melhora significativa na Rádio Roquette Pinto. Hoje, escuta-se música popular brasileira de qualidade, com depoimento de compositores e estudiosos, jazz, jornalismo, prestação de serviços. Não é uma Rádio MEC, mas é uma boa opção para os ouvintes mais exigentes culturalmente falando.

Por que no emblemático número 4 000 do Biscoito Molhado, o redator aludiu a um teste de grupos, sob um chefe, perdidos na lua em busca da nave mãe, quando discorria sobre a elaboração do Plano Real?  Esse teste não mostrava apenas da capacidade das pessoas de se safarem vivas no nosso satélite? XX
BM: Meu caro XX, o Dieckmann, quando foi coordenador-geral de Transportes Marítimos do Departamento de Marinha Mercante, trouxe ótimos palestrantes para aprimorar o conhecimento dos seus funcionários, além de divulgar ideias que recolhia em livros e cursos. O teste dos grupos perdidos na lua sob um líder, que o Dieckmann trouxe de um curso de Administração de Empresas, é bastante significativo, por isso nós o trouxemos à baila para ilustrar a ação do ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso para neutralizar uma hiperinflação que, de 1967 a junho de 1994, foi de 1 142 332 741 811 850%, segundo a Fundação Getúlio Vargas.
Como o líder dos perdidos na lua, o futuro presidente do Brasil formou o seu grupo: Pérsio Arida, André Lara Resende, Edmar Bacha, Pedro Malan e outros. Sem queimar etapas, ouviu as ideias dos seus subordinados sem a prepotência burra de um sociólogo que se julga mais conhecedor da matéria econômica do que os economistas. Em seguida, colocou em prática os pensamentos dos seus subordinados, como chefe do grupo que era, neutralizando as barreiras que se apresentavam, como o viés populista do presidente Itamar Franco e, mais tarde, a heterodoxia econômica do ministro José Serra.
Assim, o Plano Real nasceu e chegou aos 18 anos, sólido e forte. Antes, outros líderes, que conhecemos bem, sem a mesma capacidade intelectual, com planos chamados de pacotes, nunca encontraram a nave mãe. Ficaram perdidos na lua maldizendo os exitosos.

Sobre a visita que o redator deste periódico fez aos fantasmas do Palácio Capanema com o ex-revisor, Elio Fischberg, eu gostaria de saber se o arquiteto foi mesmo Le Corbusier. XY
BM: O projeto do Palácio Capanema foi feito por Lúcio Costa, Carlos Leão, Oscar Niemeyer, Affonso Eduardo Reidy, Ernani Vasconcellos e Jorge Machado Moreira, mas o arquiteto franco-suíço Le Corbusier exerceu forte influência sobre essa equipe a ponto de essa obra ser considerada um marco no estabelecimento da Arquitetura Moderna Brasileira. Segundo os estudiosos, o projeto do prédio do Ministério da Educação e Cultura (na época era Saúde no lugar da Cultura), utiliza a arquitetura funcionalista de matriz corbuseana, além de introduzir novos elementos.
O projeto seguiu as recomendações de Le Corbusier para uma “nova arquitetura”: bloco principal suspenso sobre pilotis, estrutura portante livre das paredes e divisórias com vedação por cortinas de vidro. Assim, o Palácio Capanema foi uma das primeiras obras arquitetônicas do mundo a fazer uso do brise-soleil com o objetivo de evitar a incidência direta da radiação solar em sua fachada nobre.
O edifício, localizado na Rua da Imprensa , nº 16, possui 14 andares sobre o térreo, em pilotis, o qual possui um pé direito de mais de nove metros de altura. A implantação ocorreu de maneira que criasse, no terreno, uma praça pública e não impedisse  a passagem de pedestres.
Do bloco principal, projeta-se a ala do auditório, no nível térreo e uma marquise na oposição oposta, sobre a qual foi projetado o terraço-jardim por Roberto Burle Marx.
Le Corbusier ficou encantado com a configuração da Baía da Guanabara e propôs que a construção do Palácio Capanema se desse  próxima ao mar, e não no centro da cidade, mas não havia dinheiro para tanto. Contudo, a influência do pensamento do franco-suíço sobre os arquitetos brasileiros foi óbvia.
Os princípios de modernidade arquitetônica de Le Corbusier se espalhariam pelo mundo.





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