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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4010 Data:
20 de agosto de 2012
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CARTAS DOS LEITORES
-Li
a edição do Biscoito Molhado referente à visita que o eminente educador
Roquette Pinto fez ao redator, no entanto, falou-se muito da Rádio MEC e pouco
da Rádio que recebeu o nome do divulgador do invento de Marcone no Brasil. Vão
aqui os meus protestos. XY
BM: O grande brasileiro estava com a agenda repleta de
compromissos, não pôde, por isso, estender por mais tempo a sua visita e falar
da sua outra emissora. Tentaremos, agora, preencher esta lacuna.
Edgard Roquette Pinto fundou a Rádio
Escola Municipal do Rio de Janeiro, em 1934, com intenções estritamente
educacionais. Doze anos depois, a rádio recebeu o seu nome porque o Prefeito
Henrique Dodsworth tudo fez para homenageá-lo, quando se encontrava enfermo.
Com a transferência da Capital Federal
para Brasília, em 1960 e a consequente transformação da prefeitura em estado, a
emissora passou a ser administrada pelo Governo do Estado da Guanabara. Assim,
o ideal de Roquette Pinto se esvaiu pelo ralo, sobrevivendo somente na Rádio
MEC. Assim, nos primeiros anos da década de 60 do século passado, tínhamos o
deputado Leonel Brizola vociferando pela rádio Mayrink Veiga e o governador
Carlos Lacerda vituperando pela rádio Roquette Pinto.
Em 1970, fundido o Estado da Guanabara
com o Estado do Rio de Janeiro, a rádio passou a ser propriedade do governo
Fluminense, ou seja, o Almirante Faria Lima, que não era inclinado à política
do atacado, muito menos do varejo, passou a ser a autoridade maior, A Rádio
Roquette Pinto possuía sua própria equipe de profissionais e uma programação
não comercial, mas não recebia os investimentos que merecia pela história do
seu patrono.
Como os transmissores da emissora
estavam instalados próximos do complexo da Maré, eles foram roubados em 1955.
Assim, por causa da ladroagem, o veículo de propagação de cultura, fundado por
Roquette Pinto, ficou fora do ar de 1995 a julho de 2002, ou seja, por sete
inacreditáveis anos.
A reinauguração aconteceu em 8 de julho
de 2002 e, no ano seguinte, unificaram-se a transmissão AM e FM. Apesar da luta
de Carmem Lúcia Roquette Pinto para impor as aspirações do seu pai, a programação
da emissora deixava a desejar.
Com Arthur da Távola, com boa
experiência de radialista, agindo como Secretário das Culturas, houve uma melhora
significativa na Rádio Roquette Pinto. Hoje, escuta-se música popular
brasileira de qualidade, com depoimento de compositores e estudiosos, jazz,
jornalismo, prestação de serviços. Não é uma Rádio MEC, mas é uma boa opção
para os ouvintes mais exigentes culturalmente falando.
Por que no emblemático número 4 000 do Biscoito
Molhado, o redator aludiu a um teste de grupos, sob um chefe, perdidos na lua
em busca da nave mãe, quando discorria sobre a elaboração do Plano Real? Esse teste não mostrava apenas da capacidade
das pessoas de se safarem vivas no nosso satélite? XX
BM: Meu caro XX, o Dieckmann, quando foi coordenador-geral de Transportes
Marítimos do Departamento de Marinha Mercante, trouxe ótimos palestrantes para
aprimorar o conhecimento dos seus funcionários, além de divulgar ideias que
recolhia em livros e cursos. O teste dos grupos perdidos na lua sob um líder,
que o Dieckmann trouxe de um curso de Administração de Empresas, é bastante
significativo, por isso nós o trouxemos à baila para ilustrar a ação do
ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso para neutralizar uma
hiperinflação que, de 1967 a
junho de 1994, foi de 1 142 332 741 811 850%, segundo a Fundação Getúlio
Vargas.
Como o líder dos perdidos na lua, o
futuro presidente do Brasil formou o seu grupo: Pérsio Arida, André Lara
Resende, Edmar Bacha, Pedro Malan e outros. Sem queimar etapas, ouviu as ideias
dos seus subordinados sem a prepotência burra de um sociólogo que se julga mais
conhecedor da matéria econômica do que os economistas. Em seguida, colocou em
prática os pensamentos dos seus subordinados, como chefe do grupo que era,
neutralizando as barreiras que se apresentavam, como o viés populista do
presidente Itamar Franco e, mais tarde, a heterodoxia econômica do ministro
José Serra.
Assim, o Plano Real nasceu e chegou aos
18 anos, sólido e forte. Antes, outros líderes, que conhecemos bem, sem a mesma
capacidade intelectual, com planos chamados de pacotes, nunca encontraram a
nave mãe. Ficaram perdidos na lua maldizendo os exitosos.
Sobre a visita que o redator deste periódico fez aos
fantasmas do Palácio Capanema com o ex-revisor, Elio Fischberg, eu gostaria de
saber se o arquiteto foi mesmo Le Corbusier. XY
BM: O projeto do Palácio Capanema foi feito por Lúcio
Costa, Carlos Leão, Oscar Niemeyer, Affonso Eduardo Reidy, Ernani Vasconcellos
e Jorge Machado Moreira, mas o arquiteto franco-suíço Le Corbusier exerceu
forte influência sobre essa equipe a ponto de essa obra ser considerada um
marco no estabelecimento da Arquitetura Moderna Brasileira. Segundo os
estudiosos, o projeto do prédio do Ministério da Educação e Cultura (na época
era Saúde no lugar da Cultura), utiliza a arquitetura funcionalista de matriz
corbuseana, além de introduzir novos elementos.
O projeto seguiu as recomendações de Le Corbusier
para uma “nova arquitetura”: bloco principal suspenso sobre pilotis, estrutura
portante livre das paredes e divisórias com vedação por cortinas de vidro.
Assim, o Palácio Capanema foi uma das primeiras obras arquitetônicas do mundo a
fazer uso do brise-soleil com o objetivo de evitar a incidência direta
da radiação solar em sua fachada nobre.
O edifício, localizado na Rua da
Imprensa , nº 16, possui 14 andares sobre o térreo, em pilotis, o qual possui
um pé direito de mais de nove metros de altura. A implantação ocorreu de
maneira que criasse, no terreno, uma praça pública e não impedisse a passagem de pedestres.
Do bloco principal, projeta-se a ala do
auditório, no nível térreo e uma marquise na oposição oposta, sobre a qual foi projetado
o terraço-jardim por Roberto Burle Marx.
Le Corbusier ficou encantado com a
configuração da Baía da Guanabara e propôs que a construção do Palácio Capanema
se desse próxima ao mar, e não no centro
da cidade, mas não havia dinheiro para tanto. Contudo, a influência do
pensamento do franco-suíço sobre os arquitetos brasileiros foi óbvia.
Os princípios de modernidade
arquitetônica de Le Corbusier se espalhariam pelo mundo.
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