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O BISCOITO MOLHADO
Edição 3 997
Data: 29 de julho de 2012
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EU E ELIO
FISCHBERG NA GUERRA
DO PARAGUAI
De repente, eu e Elio nos vimos na
Guerra do Paraguai.
-Carlos, foi um salto e tanto, saímos da
descoberta do Brasil para a mais sangrenta guerra da história da América do
Sul.
-Eu diria que foi uma tragada e tanto.
(*)
-Pois é, Carlos... Na descoberta do
Brasil, acrescida daquela viagem às Índias, nós nos envolvemos com comerciantes
calejados, como os árabes, então, o ópio que eles nos forneceram era
fortíssimo. Seria, comparando com a bebida, uma espécie de absinto.
Nós estávamos em um navio, no meio dos
voluntários da pátria, que rumava para o teatro de operações bélicas. No meio
de toda aquela cacofonia, um som de violão chegou aos nossos ouvidos. Logo, os
soldados pararam o que faziam, e um silêncio de encantamento se impôs para que
a música fosse ouvida.
-Carlos, é uma mulher que toca.
-Eu sei, Elio; é a Chiquinha Gonzaga.
Então, soou uma voz como um tiro de
canhão.
-Chiquinha, eu não admito que você toque
esse instrumento de vagabundos. Também não a quero ver no meio desta
negralhada.
-Elio, estamos no navio do Jacinto
Ribeiro do Amaral, o marido da Chiquinha Gonzaga.
-Adoro “Atraente”.
-Elio, não é apenas “Atraente”,
Chiquinha Gonzaga compôs quase duas mil músicas. Na primeira oportunidade,
falarei com ela, que é meu ídolo.
Não houve oportunidade, pois nessas
viagens pelo tempo as horas correm vertiginosamente: os seis anos da guerra do
Paraguai transcorreram em pouco mais de um dia. Assim, eu e Elio logo nos vimos
metidos na Batalha do Riachuelo.
-Carlos, estamos nas proximidades da
desembocadura de um afluente do rio Paraná.
-Elio, nós estamos num navio e vislumbro
uma esquadra paraguaia pronta para nos atacar.
-Veja tudo com olhos otimistas; nós nos
encontramos numa frota em que os navios são maiores.
-Mas os inimigos são mais numerosos e eu
diviso daqui a artilharia terrestre deles.
A batalha se iniciou e no seu desenrolar
se tornava cada vez mais sangrenta.
-Pela pintura do Victor Meirelles, eu
julgava que não houvesse tanto desespero.
- disse um Elio menos tranquilo, que acrescentou:
-Desde a Batalha de Trafalgar, do
Almirante Nelson, que não passo por momentos tão beligerantes no mar.(**)
-Elio, nós ainda não viajamos para as
batalhas navais da era napoleônica.
Um tiro de canhão, que dobrou o mastro
do nosso navio, trouxe-nos de volta à guerra caseira.
-Olha, Carlos, o Brasil está usando a
tática do abalroamento, porque nossas embarcações são maiores e está dando
certo. - animou-se.
-Quem é aquele marinheiro que mostra uma
bravura extraordinária. - apontei.
-Marcílio Dias. - respondeu-me outro
marinheiro.
-Pena que não sobreviverá. - lamentei
comigo mesmo.
Perto de nós, um oficial de alta patente
esfregava as mãos.
-Com a nossa vitória, Solano Lopes não
receberá armas e outro tipo de ajuda do exterior, pois ficou bloqueado.
Passaram-se dez meses, mas para mim e o
Elio, foram uma hora ou menos e já estávamos na Batalha do Tuiuti.
-Não se amofine, Carlos, a casa bancária
Rothschild emprestou sete milhões de libras esterlinas ao Brasil.
-O meu bisavô materno fugiu de casa,
ainda adolescente, para lutar contra os paraguaios, talvez eu o encontre aqui,
pois creio que todos os soldados dos dois países estão no Tuiuti. -
manifestei-me.
E foi a maior batalha da história
latino-americana, mais de dez mil mortos deixavam poucos lugares para os
sobreviventes pisarem.
Depois do espingardeamento da Batalha de
Tuiuti, ocorreram outros confrontos, mas nada parecido com a Batalha de
Curupaiti. (***)
-Elio, nossas tropas estão atacando as
trincheiras paraguaias de peito aberto. Será uma carniçaria. - apavorei-me.
-Espero que o seu bisavô não esteja
aqui, Carlos.
-Não se preocupe, Elio; ele escapou e,
anos depois, contraiu núpcias com a minha bisavó.
-Você pode considerar-se, de uma
maneira, oblíqua, sobrevivente da Batalha de Curupaiti.
-A vitória que obtivemos em Tuiuti
estamos devolvendo aqui. - lamentei.
Com a derrota, Luís Alves de Lima e
Silva, o futuro Duque de Caxias, foi convocado para comandar as forças
brasileiras de terra e mar. Pouco depois, o imperador D. Pedro II estabeleceu a
liberdade gratuita aos escravos que prestassem serviço no exército.
Mato Grosso, que desde o início da
guerra estava sob o poder do inimigo, tinha de voltar para as nossas mãos e,
então, uma expedição brasileira partiu para lá. Eu e Elio testemunhamos tudo.
-Carlos, não vamos ficar juntos dos
escravos de uniforme militar, pois nos tornaremos um alvo fácil.
-Elio, você, com essa cor de leite de
vaca holandesa, fica ainda mais visível para os paraguaios do que eu. (****)
Depois de muitos tiros, gritos, arrepios,
constatamos o nosso fracasso e o recuo se iniciou.
-Carlos, você deve escrever sobre este
fracasso.
-O Visconde de Taunay já fez isso. Você
não leu “A Retirada da Laguna”?
Porém, no mês seguinte, o Brasil retomou
a cidade de Corumbá.
-Olha, Elio, o nosso comando militar
colocou balões no ar. - apontei para o alto.
-Hoje, é dia 24 de junho de 1867, dia de
São João. É uma maneira de relaxar os nervos no meio de tanta mortandade.
O comentário do meu amigo estava
equivocado, porque logo se viu que se tratava de uma operação militar aérea.
Sob o comando de Caxias, as nossas
vitórias se sucedem: Humaitá, Tuiuti (a segunda batalha), e a dezembrada, assim
chamada porque a série de sucesso ocorreu nesse mês: Itororó, Avaí, Lomas
Valentinas, Angostura. Escapando do
cerco de Lomas Valentinas, o ditador Solano Lopes rumou em direção da
cordilheira a leste de Assunção.
No início de janeiro de 1969, Caxias,
capitaneando os brasileiros, invadiu a capital do Paraguai que, onze meses
antes, fora bombardeada pelos nossos navios.
-Carlos, eu prefiro aquela invasão
brasileira a Assunção feita por camelôs.
-Elio, você está com a cabeça 100 anos
na frente. Olhe para hoje, pois a coisa é tão séria que o Brasil está aliado à
Argentina.
-E ao Uruguai também. - acrescentou,
voltando à cruel realidade.
Com a vitória em Assunção, Caxias
declarou que, para ele, a guerra findara, pois a partir dali se transformaria em carnificina. Veio ,
então, o Conde D' Eu, marido da Princesa Isabel, ocupar o cargo de Luís Alves
de Lima e Silva.
E foi uma trucidação. Em Cerro Corá , o exército
paraguaio estava reduzido, em grande parte, a velhos e crianças.
-Olha, Carlos, aquele é o Cabo Diabo, o
homem que acertará o tiro fatal no ditador do Paraguai.
-Estudou bem essa parte da Guerra do
Paraguai. - ironizei.
-Minha mãe, professora de História, me
obrigou.
-Com 15 anos de idade, ele assassinou a
facadas o patrão que o surrou, porque ele se descuidou e um cachorro comera a
carne que estava sob a sua vigilância, em São Lourenço do Sul. Com
17 anos, juntou-se a um destacamento dos Voluntários da Pátria, que passava.
Um urro de alegria interrompeu as
palavras do Elio: um balaço jogou por terra Solano Lopes. E todos cantaram:
“O Cabo Chico Diabo
Deu cabo do diabo.”
(*) Com
certeza os dois poderão ser denunciados por apologia ao consumo de
entorpecentes. E pensar que tudo isso começou com o pó-de-pirlimpimpim da líder
do tráfico do CPPA, a Emília.
(**) A fobia
que os farináceos sentem pelo meio aquoso talvez explique essa imprecisão, ao
qualificar de mar o Riachuelo.
(***) da
Wikipédia:
A 1ª Batalha de Tuiuti
travou-se a 24
de maio de 1866
nos pântanos
circundantes do lago Tuiuti, em território do Paraguai,[1]
tendo envolvido mais de 50.000 homens de ambos os lados.[2]
É considerada pelos
historiadores militares como uma das mais importantes batalhas da Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870), a maior e mais
sangrenta travada na história da América
do Sul, tendo confrontado efetivos do Exército paraguaio e
forças da Tríplice Aliança. A batalha culminou
com uma expressiva vitória dos aliados. As avaliações sobre as perdas variam de
fonte para fonte, mas todas são acordes e enfáticas em apresentar Tuiuti
como um túmulo para o Exército paraguaio. As suas perdas estimadas foram de
seis mil homens, entre oficiais e soldados; os feridos e capturados ascenderam
a mais seis mil homens. Algumas unidades, como o 40° Batalhão de Infantaria,
foram aniquiladas.
A Batalha do
Curupaiti foi travada entre as forças aliadas e paraguaias durante a Guerra da Tríplice Aliança em 22 de
setembro de 1866.[1]
Durante os combates por Curuzú e negociações diplomáticas posteriores, Curupaiti
teve as suas defesas reforçadas com um entrincheiramento
de cerca de dois quilômetros de extensão, complementado por um fosso de dois metros
de profundidade por quatro de largura. A terra retirada do fosso foi apiloada
em parapeitos
defensivos de dois metros de altura, atrás dos quais se distribuíam noventa canhões,
cobrindo o lado do rio e o lado de terra, bem como cinco mil soldados
paraguaios.
O desastre aliado
em Curupaiti,
imobilizou a campanha, e teve importantes repercussões sobre os seus rumos. O
general Venancio Flores retirou-se para Montevidéu
após a derrota, e as forças Argentinas passam a ter uma participação menor. A
partir de Curupaiti, coube sobretudo ao Império do Brasil continuar a luta do lado
aliado, com pequena participação Argentina e apenas simbólica de forças
Uruguaias. A derrota também causou repercussões na opinião pública brasileira, o que levou à nomeação
do marechal-de-campo Luís Alves de Lima e Silva (1803-1880),
então Marquês de Caxias, como comandante-em-chefe do Exército brasileiro no Paraguai (10 de
Outubro de 1866).
Caxias adotou
uma estratégia de cerco, isolando o entrincheiramento. Isso levou à sua
evacuação pelos paraguaios e permitiu aos aliados ocupar a posição. Após dois
anos impedindo o progresso das forças aliadas, estas, finalmente, entraram no
entrincheiramento no dia 23 de Março de 1868.
(****) Por
essa ninguém esperava. Um Elio branco? Terá sido o efeito do
pó-de-pirlimpimpim? Ah, se o Michael Jackson soubesse disso.
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