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segunda-feira, 6 de agosto de 2012

2197 - o freio de Caxias


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O BISCOITO MOLHADO
Edição 3 997                                            Data: 29 de julho de 2012
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EU  E  ELIO  FISCHBERG  NA  GUERRA  DO  PARAGUAI
De repente, eu e Elio nos vimos na Guerra do Paraguai.
-Carlos, foi um salto e tanto, saímos da descoberta do Brasil para a mais sangrenta guerra da história da América do Sul.
-Eu diria que foi uma tragada e tanto. (*)
-Pois é, Carlos... Na descoberta do Brasil, acrescida daquela viagem às Índias, nós nos envolvemos com comerciantes calejados, como os árabes, então, o ópio que eles nos forneceram era fortíssimo. Seria, comparando com a bebida, uma espécie de absinto.
Nós estávamos em um navio, no meio dos voluntários da pátria, que rumava para o teatro de operações bélicas. No meio de toda aquela cacofonia, um som de violão chegou aos nossos ouvidos. Logo, os soldados pararam o que faziam, e um silêncio de encantamento se impôs para que a música fosse ouvida.
-Carlos, é uma mulher que toca.
-Eu sei, Elio; é a Chiquinha Gonzaga.
Então, soou uma voz como um tiro de canhão.
-Chiquinha, eu não admito que você toque esse instrumento de vagabundos. Também não a quero ver no meio desta negralhada.
-Elio, estamos no navio do Jacinto Ribeiro do Amaral, o marido da Chiquinha Gonzaga.
-Adoro “Atraente”.
-Elio, não é apenas “Atraente”, Chiquinha Gonzaga compôs quase duas mil músicas. Na primeira oportunidade, falarei com ela, que é meu ídolo.
Não houve oportunidade, pois nessas viagens pelo tempo as horas correm vertiginosamente: os seis anos da guerra do Paraguai transcorreram em pouco mais de um dia. Assim, eu e Elio logo nos vimos metidos na Batalha do Riachuelo.
-Carlos, estamos nas proximidades da desembocadura de um afluente do rio Paraná.
-Elio, nós estamos num navio e vislumbro uma esquadra paraguaia pronta para nos atacar.
-Veja tudo com olhos otimistas; nós nos encontramos numa frota em que os navios são maiores.
-Mas os inimigos são mais numerosos e eu diviso daqui a artilharia terrestre deles.
A batalha se iniciou e no seu desenrolar se tornava cada vez mais sangrenta.
-Pela pintura do Victor Meirelles, eu julgava que não houvesse tanto desespero.  - disse um Elio menos tranquilo, que acrescentou:
-Desde a Batalha de Trafalgar, do Almirante Nelson, que não passo por momentos tão beligerantes no mar.(**)
-Elio, nós ainda não viajamos para as batalhas navais da era napoleônica.
Um tiro de canhão, que dobrou o mastro do nosso navio, trouxe-nos de volta à guerra caseira.
-Olha, Carlos, o Brasil está usando a tática do abalroamento, porque nossas embarcações são maiores e está dando certo. - animou-se.
-Quem é aquele marinheiro que mostra uma bravura extraordinária. - apontei.
-Marcílio Dias. - respondeu-me outro marinheiro.
-Pena que não sobreviverá. - lamentei comigo mesmo.
Perto de nós, um oficial de alta patente esfregava as mãos.
-Com a nossa vitória, Solano Lopes não receberá armas e outro tipo de ajuda do exterior, pois ficou bloqueado.
Passaram-se dez meses, mas para mim e o Elio, foram uma hora ou menos e já estávamos na Batalha do Tuiuti.
-Não se amofine, Carlos, a casa bancária Rothschild emprestou sete milhões de libras esterlinas ao Brasil.
-O meu bisavô materno fugiu de casa, ainda adolescente, para lutar contra os paraguaios, talvez eu o encontre aqui, pois creio que todos os soldados dos dois países estão no Tuiuti. - manifestei-me.
E foi a maior batalha da história latino-americana, mais de dez mil mortos deixavam poucos lugares para os sobreviventes pisarem.
Depois do espingardeamento da Batalha de Tuiuti, ocorreram outros confrontos, mas nada parecido com a Batalha de Curupaiti. (***)
-Elio, nossas tropas estão atacando as trincheiras paraguaias de peito aberto. Será uma carniçaria. - apavorei-me.
-Espero que o seu bisavô não esteja aqui, Carlos.
-Não se preocupe, Elio; ele escapou e, anos depois, contraiu núpcias com a minha bisavó.
-Você pode considerar-se, de uma maneira, oblíqua, sobrevivente da Batalha de Curupaiti.
-A vitória que obtivemos em Tuiuti estamos devolvendo aqui. - lamentei.
Com a derrota, Luís Alves de Lima e Silva, o futuro Duque de Caxias, foi convocado para comandar as forças brasileiras de terra e mar. Pouco depois, o imperador D. Pedro II estabeleceu a liberdade gratuita aos escravos que prestassem serviço no exército.
Mato Grosso, que desde o início da guerra estava sob o poder do inimigo, tinha de voltar para as nossas mãos e, então, uma expedição brasileira partiu para lá. Eu e Elio testemunhamos tudo.
-Carlos, não vamos ficar juntos dos escravos de uniforme militar, pois nos tornaremos um alvo fácil.
-Elio, você, com essa cor de leite de vaca holandesa, fica ainda mais visível para os paraguaios do que eu. (****)
Depois de muitos tiros, gritos, arrepios, constatamos o nosso fracasso e o recuo se iniciou.
-Carlos, você deve escrever sobre este fracasso.
-O Visconde de Taunay já fez isso. Você não leu “A Retirada da Laguna”?
Porém, no mês seguinte, o Brasil retomou a cidade de Corumbá.
-Olha, Elio, o nosso comando militar colocou balões no ar. - apontei para o alto.
-Hoje, é dia 24 de junho de 1867, dia de São João. É uma maneira de relaxar os nervos no meio de tanta mortandade.
O comentário do meu amigo estava equivocado, porque logo se viu que se tratava de uma operação militar aérea.
Sob o comando de Caxias, as nossas vitórias se sucedem: Humaitá, Tuiuti (a segunda batalha), e a dezembrada, assim chamada porque a série de sucesso ocorreu nesse mês: Itororó, Avaí, Lomas Valentinas, Angostura.  Escapando do cerco de Lomas Valentinas, o ditador Solano Lopes rumou em direção da cordilheira a leste de Assunção.
No início de janeiro de 1969, Caxias, capitaneando os brasileiros, invadiu a capital do Paraguai que, onze meses antes, fora bombardeada pelos nossos navios.
-Carlos, eu prefiro aquela invasão brasileira a Assunção feita por camelôs.
-Elio, você está com a cabeça 100 anos na frente. Olhe para hoje, pois a coisa é tão séria que o Brasil está aliado à Argentina.
-E ao Uruguai também. - acrescentou, voltando à cruel realidade.
Com a vitória em Assunção, Caxias declarou que, para ele, a guerra findara, pois a partir dali se transformaria em carnificina. Veio, então, o Conde D' Eu, marido da Princesa Isabel, ocupar o cargo de Luís Alves de Lima e Silva.
E foi uma trucidação. Em Cerro Corá, o exército paraguaio estava reduzido, em grande parte, a velhos e crianças.
-Olha, Carlos, aquele é o Cabo Diabo, o homem que acertará o tiro fatal no ditador do Paraguai.
-Estudou bem essa parte da Guerra do Paraguai. - ironizei.
-Minha mãe, professora de História, me obrigou.
-Com 15 anos de idade, ele assassinou a facadas o patrão que o surrou, porque ele se descuidou e um cachorro comera a carne que estava sob a sua vigilância, em São Lourenço do Sul. Com 17 anos, juntou-se a um destacamento dos Voluntários da Pátria, que passava.
Um urro de alegria interrompeu as palavras do Elio: um balaço jogou por terra Solano Lopes. E todos cantaram:
“O Cabo Chico Diabo
Deu cabo do diabo.”

(*) Com certeza os dois poderão ser denunciados por apologia ao consumo de entorpecentes. E pensar que tudo isso começou com o pó-de-pirlimpimpim da líder do tráfico do CPPA, a Emília.

(**) A fobia que os farináceos sentem pelo meio aquoso talvez explique essa imprecisão, ao qualificar de mar o Riachuelo.

(***) da Wikipédia:

A 1ª Batalha de Tuiuti travou-se a 24 de maio de 1866 nos pântanos circundantes do lago Tuiuti, em território do Paraguai,[1] tendo envolvido mais de 50.000 homens de ambos os lados.[2]
É considerada pelos historiadores militares como uma das mais importantes batalhas da Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870), a maior e mais sangrenta travada na história da América do Sul, tendo confrontado efetivos do Exército paraguaio e forças da Tríplice Aliança. A batalha culminou com uma expressiva vitória dos aliados. As avaliações sobre as perdas variam de fonte para fonte, mas todas são acordes e enfáticas em apresentar Tuiuti como um túmulo para o Exército paraguaio. As suas perdas estimadas foram de seis mil homens, entre oficiais e soldados; os feridos e capturados ascenderam a mais seis mil homens. Algumas unidades, como o 40° Batalhão de Infantaria, foram aniquiladas.


A Batalha do Curupaiti foi travada entre as forças aliadas e paraguaias durante a Guerra da Tríplice Aliança em 22 de setembro de 1866.[1] Durante os combates por Curuzú e negociações diplomáticas posteriores, Curupaiti teve as suas defesas reforçadas com um entrincheiramento de cerca de dois quilômetros de extensão, complementado por um fosso de dois metros de profundidade por quatro de largura. A terra retirada do fosso foi apiloada em parapeitos defensivos de dois metros de altura, atrás dos quais se distribuíam noventa canhões, cobrindo o lado do rio e o lado de terra, bem como cinco mil soldados paraguaios.
O desastre aliado em Curupaiti, imobilizou a campanha, e teve importantes repercussões sobre os seus rumos. O general Venancio Flores retirou-se para Montevidéu após a derrota, e as forças Argentinas passam a ter uma participação menor. A partir de Curupaiti, coube sobretudo ao Império do Brasil continuar a luta do lado aliado, com pequena participação Argentina e apenas simbólica de forças Uruguaias. A derrota também causou repercussões na opinião pública brasileira, o que levou à nomeação do marechal-de-campo Luís Alves de Lima e Silva (1803-1880), então Marquês de Caxias, como comandante-em-chefe do Exército brasileiro no Paraguai (10 de Outubro de 1866).
Caxias adotou uma estratégia de cerco, isolando o entrincheiramento. Isso levou à sua evacuação pelos paraguaios e permitiu aos aliados ocupar a posição. Após dois anos impedindo o progresso das forças aliadas, estas, finalmente, entraram no entrincheiramento no dia 23 de Março de 1868.

(****) Por essa ninguém esperava. Um Elio branco? Terá sido o efeito do pó-de-pirlimpimpim? Ah, se o Michael Jackson soubesse disso.




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