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quinta-feira, 2 de agosto de 2012

2195 - Rindt, Emerson, Chapman, Seedorf e Allen - o que eles não têm em comum


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O BISCOITO MOLHADO
Edição 3 995                                            Data: 25 de julho de 2012
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SABADOIDO  ENTRE  A  FICÇÃO  E  A  REALIDADE
2ª PARTE

Daniel já havia saído para caminhar pelas ruas quando assumi minha cadeira na sessão do Sabadoido. Claudio e Vagner conversavam sobre Fórmula 1.
-O Émerson Fittipaldi foi o campeão com menos idade de vida.
-Depois, Vagner, o Fernando Alonso bateu o recorde do Émerson e, em seguida, o Vettel. - interveio o meu irmão.
-A primeira vitória do Émerson, na Fórmula 1, deu o título de campeão do mundo póstumo ao seu companheiro de equipe da Lotus, Jochen Rindt.
-Isso, Cláudio, vitória no Grande Prêmio dos Estados Unidos.
-Circuito de Watkins Glen - acrescentei.
-Havia, naquela época, um gênio, o Colin Chapman. - frisou o Vagner.
-Dizem, Vagner, que as inovações do Colin Chapman nos carros colocavam em risco a vida dos pilotos. Coincidência ou não, pilotavam para ele, quando morreram, Jim Clark, Jochen Rindt. - intervim.
-Você lembra, Cláudio, os anos em que o Émerson Fittipaldi foi campeão da Fórmula 1?
-1972 e 1974, Vagner, mas não tenho certeza. Se o Daniel estivesse aqui diria de cor os nomes de todos os campeões; ele decorou uma vez e não se esqueceu. – disse meu irmão.
-Tenho certeza que foi em 1972 e 1974. - afirmei.
Vagner insistiu em puxar pela memória de todos, inclusive a sua.
-Qual era a nacionalidade do Jochen Rindt?
-Não era sueco?... - a dúvida afrouxou  a minha afirmação.
-Ele não era sueco, não. - garantiu o Cláudio.
-Ronnie Petterson era sueco. Pena que morreu cedo, pois era um piloto de primeira linha. - assegurou o Vagner.
-Para mim, Jochen Rindt era alemão. - disse o Cláudio.
-Bem, o computador do Daniel permanece ligado, vou lá no google.
-Retornei em menos de cinco minutos.
-E, então, Carlinhos?
-É a tal coisa... Lá diz que Jochen Rindt nasceu em Mainz, na Alemanha, mas tinha a nacionalidade austríaca.
-Ele era austríaco. - bateu o Vagner o martelo.
Luca surgiu com a sua indefectível bermuda, portanto com muito menos proteção do que o Vagner para enfrentar o frio, ele, aliás, colocara meias de lã e, por pouco, eu diria, a friagem não o fez pôr luvas e gorro.
Olhamos para o envelope de tamanho graúdo que o Luca trouxe e previmos que muitos recortes de jornais e cartas da Rosa o recheavam.
-Luca, você se atrasou, veio na hora da distribuição das bebidas.
-Claudiomiro, eu terei de beber de tarde, por isso, vou me resguardar nesta manhã.
Enquanto meu irmão saía para explorar a sua adega sem vinhos, Luca anunciou a sua nova desavença com a Rosa: Carlos Drummond de Andrade.
-Com toda a mídia literária voltada para o poeta, por causa da FLIP, ela chegou a escrever drummondices. - indignou-se.
Luca, eu recebi e repassei um e-mail que mostra a beleza do corpo feminino acompanhada de frases de grandes artistas.
-Eu vi; uma beleza, Carlinhos!
-Há ali uma frase de “O Pantagruel” de Rabelais, que não consegui traduzir, pelas expressões idiomáticas, por mais que fuçasse os dicionários. A Rosa Grieco é a minha última esperança. Aqui vai: “Il n' y a qu' une antistrophe entre femme folle à la messe et femme molle à la fesse.”
Enquanto o Cláudio, que retornara, pousava um copo de conhaque na mesa e o Vagner nos observava, Luca sacou um papel de cor amarela do envelope. Era uma carta da Rosa e ele leu um trecho:
“... `A  noite , a cuca até que se recuperou, aquela sessão nostalgia do Canal 9, idem às 9 horas, exumaram “Till the clouds roll by”, xaroposa biografia do Jerome Kern (Robert Walker antes de ser chifrado pela Jennifer Jones), verdadeiro teste mnemônico, desfilando Van Heflin (gostava muito como ator) e maior conjunto do mausoléu da MGM, e eu bradando: Tony Martin, Van Johnson, Judy Garland, Dinah Shore, Cid Charisse, June Allyson, Kathryn Grayson e “last but not least” Frank Sinatra quase imberbe, pré-máfia, pré-Ava Garner, pré-Mia Farrow e pré- tutti quanti e tutti frutti.  Que espanto recordar que as moças eram puras e os mancebos respeitadores (pelo menos nos filmes). Lá, íamos eu, a Sylvia e a Cléa , foragidas normalistas, mostrar nossa beleza no Metro Tijuca...”
-Então, a Rosa matava aulas com as amigas no Metro Tijuca. - comentaram.
-Muitas alunas do Instituto de Educação namoravam os alunos do Colégio Militar. As estatísticas mostram que houve muitos casamentos, no Rio de Janeiro, naquela época, entre professoras e militares. - manifestei-me.
-A Rosa foi amiga de muitos anos da Sylvia, elas andavam sempre juntas e ainda tem uma terceira no grupo de gazeteiras, fica mais difícil para um homem abordar três mulheres. - disse o Luca.
-No filme “Mente Brilhante” sobre a vida do matemático John Nash, ele se inspira na abordagem de um grupo de rapazes a um grupo de moças para formular a Teoria dos Jogos, que lhe deu o Prêmio Nobel de Economia. - lembrei.
Luca sacou agora um recorte da Folha de São Paulo sobre a visita que Gay Talese fez a esse jornal, no fim de maio deste ano, e disse:
-Ele é considerado o pai do “new journalism”, cujo estilo combina as técnicas descritivas dos textos ficcionais, como a descrição pormenorizada, com o realismo da não ficção.
-Gay Talese está com quantos anos? - perguntei.
-80 anos; e a Rosa escreveu: “Velhinho delicioso”.
Quando estendi o pescoço para ler as palavras da Rosa, vi a fotografia de um senhor de chapéu (ele tem 80 anos), gravata e colete, paletó e os vincos das calças bem proeminentes. Pouco depois, o Luca lia:
-Chego na pessoa com boas maneiras, estou sempre de terno e gravata, não importa se é presidente ou lixeiro. Aqui, por exemplo, está todo o mundo mal vestido, mas não é meu problema (risos na redação).
Quando o Luca me passou o recorte do jornal, ainda tive tempo de ler mais esse trecho de Gay Talese:
-”Quero escrever sobre pessoas que não estão nas notícias. Elas refletem a sociedade e quero ser o cronista de suas vidas. No “New York Times”, fiz de tudo para ficar longe dos famosos. Sugeria um monte de desconhecidos, e o editor dizia: “Quem se interessa?”. Eu me interesso. (*)
Depois o assunto passou a ser a estreia do Seedorf, no dia seguinte, no time do Botafogo. E assim aquela sessão do Sabadoido foi chegando ao seu término.

(*) Quem viu o filme do Woody Allen em Roma – uma xaropada sem fim (**) – pode ter uma boa ideia do que é uma pessoa que está nas notícias.

(**) “Arrepia-me a alma pensar como será o filme do Woody Allen no Rio de Eduardo Paes”- dizia o Dieckmann, nosso cinéfilo de prontidão e crítico atroz do alcaide em pauta.




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