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terça-feira, 7 de agosto de 2012

2198 - governos que passam e opiniões que ficam



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O BISCOITO MOLHADO
                     Edição 3 998                                            Data: 30 de julho de 2012
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A ÚLTIMA SESSÃO DO SABADOIDO... DO MÊS DE JULHO

-Daniel, eu soube que você não trabalhou ontem porque era dia de Santana. Santa Cruz, que eu saiba é bairro, e não, cidade. - foram as minhas primeiras palavras dirigidas a ele naquele sábado.
-Carlão, Santana é padroeira da Casa da Moeda, por isso, não houve trabalho.
-Nunca soube de coisa parecida. - reagi com espanto.
-E você, Carlinhos, já voltou das férias?- perguntou-me a Gina.
-Cheguei ao trabalho, na quinta-feira, e estranhei que, no desenrolar do expediente, só apareceram uns gatos pingados.  Percebi, então, que quase todo o mundo aderiu a greve.
-E você não retornou para casa?...
-Gina, os próprios sindicalistas se tornaram cabos eleitorais da Dilma Rousseff na campanha eleitoral. Colegas meus, que frequentavam reuniões com sindicalistas, falavam que eles pediam para votar na Dilma porque não haveria aumento de salários com o José Serra na presidência.
-E eles? - quis saber minha cunhada.
-Gina, o próprio Lula disse, meses antes da eleição, para os pedintes aproveitarem aquele momento. Com a gastança que foi feita, a Dilma, como presidente da República, teria de segurar as despesas para a inflação não sair do controle.
E acrescentei:
-O Lula teve a vantagem de herdar a casa arrumada pelo Fernando Henrique Cardoso e a demanda absurda dos chineses que elevaram os preços da maioria dos produtos que exportamos. A Dilma, além de pegar a desarrumação do Lula, tem de enfrentar a demanda bem menor da China pelos nossos produtos, para não falar na crise – a marolinha do Lula - que cresceu ainda mais.
-Com isso, você se tornou um adepto da Dilma e está furando a greve?- ironizou ela.
-Gina, há tanta gente no meu trabalho, que não quer nada, embolsando um salário que 95% dos brasileiros não recebem e eu ainda vou exigir que os contribuintes ainda repassem mais dinheiro para eles... Mesmo eu sendo beneficiado, estou fora.
-É isso aí, Carlão. - aprovou meu sobrinho.
-Quando os sindicalistas das agências reguladoras iam ao nosso ambiente de trabalho e eu era obrigado a ouvi-los, eles criticavam o FHC e elogiavam o governo petista. A crítica recorrente era que o Fernando Henrique Cardoso não deu um aumento sequer ao funcionalismo público(*). Ora, com o Plano Real e o fim da hiperinflação, houve, de cara, ganho no poder aquisitivo. Lembra-se do frango a 1 real, a garrafa de vinho Gato Negro a 5 reais, latinhas de cerveja a 0,40 centavos...
-Mas não foi só a inflação que caiu. - interveio o Claudio.
-Sim, contribuiram outros fatores, principalmente o câmbio.
Gina aproveitou e citou os preços de vários produtos de primeira necessidade, em 1994/1995, valendo-se da sua prodigiosa memória e das suas 20 mil horas de supermercado.
Retomei a palavra:
-Nosso salário de servidores públicos dos últimos anos do governo Sarney até junho de 1994 se aviltou tanto que, já no governo Collor, nós passamos a trabalhar meio-expediente. As autoridades não tinham moral de nos obrigar a cumprir as 40 horas semanais. No governo FHC, veio a ordem de retornarmos ao horário integral e nós obedecemos porque não havia como negar a melhora indireta no nosso salário com esse ganho de poder aquisitivo com o Plano Real.
-Os sindicalistas só entendem quando veem mais dinheiro no bolso. - disse o Claudio.
-O lamentável é que até colegas meus que estudaram economia não sabem diferenciar aumento real de aumento nominal.
-Carlinhos, soube que o Daniel foi chamado para trabalhar na DATAPREV? - mudou a Gina de assunto.
-Foi?...
-Ele fez o concurso há algum tempo, passou e o chamaram agora.
-Vou permanecer na Casa da Moeda porque a DATAPREV não tem santa padroeira, e eu sou muito religioso.
Gina foi menos concisa na informação do que o meu galhofeiro sobrinho.
-Ele conversou com o Serginho (primo), que trabalhou lá, e não houve demonstração de entusiasmo. Além disso, a DATAPREV fica em Botafogo, e o Daniel teria de se espremer no metrô de Pavuna, enquanto na Casa da Moeda ele tem ônibus em casa e pega o fluxo maior do trânsito no sentido contrário.
-Daniel, eu entro no trabalho e saio uma hora antes para ser menos sufocado no metrô Pavuna-Botafogo. O mais importante, no entanto, para você é o melhor emprego monetariamente falando.
-A Casa da Moeda, Carlão.
-O nome já diz tudo. - brinquei.
-O Daniel fez um concurso em que acertou todas as questões e até hoje não foi chamado. Um dia, telefonei pra lá exigindo explicações, e me disseram que, para a região escolhida por ele, ninguém foi ainda convocado.
 -Escolheu o Senado Federal, onde os concursados não tem vez? - perguntei à Gina, porque o Daniel já havia se retirado da cozinha.
-Eu vou ao Carrefour comprar laranjas. - anunciou meu irmão.
Eu, que comprara na barraca da Rua Itamaracá, no caminho, bananas e mamões papaias, sugeri que comprasse as laranjas lá.
-As laranjas são para a mamãe, e você sabe como ela é... pode ser assim, assado, desde que comprada no Carrefour.
Dito isso, saiu, enquanto o Daniel reaparecia.
-Carlão, o computador é todo seu.
Enquanto a Gina se aprestava para sair com a irmã e o Daniel se informava pela televisão sobre as primeiras provas das Olimpíadas de Londres, eu, diante do ecrã do computador, saía de uma mensagem eletrônica para outra.  Uma hora passou rapidamente e eu já ouvia a presença do meu irmão, que vinha do Carrefour. Em seguida, soou a voz repetitiva do Vagner do portão da casa, chamando-o.
-Ele não pode esperar?- reclamou.
Tarde, lá pelas 10h 20min, o telefone chamou a atenção com a sua música eletroacústica, e o Daniel atendeu.
-O Luca já está na área. - apregoou.
Pouco depois, eu comparecia a última sessão do sabadoido do mês de julho. Luca narrava a dor que sentiu.
-Doía aqui, a um palmo abaixo do umbigo. Podia ser infecção urinária...
-Era dor de gemer? - interrompi.
-Eram dores fortes.
-Certa vez, levei um vizinho (o português Orlando) de carro para o Hospital Salgado Filho às 5 horas da manhã. Era infecção urinária e ele gemeu o tempo todo.
Luca reatou a sua narrativa:
-Telefonei para o meu sobrinho, o André, em São Paulo e ele me pediu para transcrever os sintomas, o local... Falou em infecção urinária e na possibilidade de hérnia. Fui para a emergência do Pasteur, examinaram-me...
-Foi quando?- interrompi de novo.
Depois de responder pacientemente que o fato ocorrera no dia anterior, prosseguiu:
-Examinaram-me, e fui para casa. A dor não passou, e a minha filha, a Carolina, me deu Dipirona e eu me senti melhor.
E concluiu:
-Claudiomiro, eu não posso beber hoje.

(*) Na Petrobras, o nome de FHC era palavrão, fosse por querer privatizar e mudar para PetrobraX (como se fosse do Eike), ou fosse porque muita mordomia foi pelo ralo. Hoje, já se ouvem severas (e bem informadas) críticas ao Lula e o que ele fez com a Petrobras, devido à aplicação de política industrial nacional e do controle da inflação da moeda à custa da empresa.

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