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O BISCOITO MOLHADO
Edição 5046
Data: 12 de fevereiro de 2015
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A BANDA DE IPANEMA VAI AO RÁDIO MEMÓRIA
PARTE III
-Olha, gente – conclamou a todos o
titular do programa – mais um sucesso carnavalesco de Rubens Soares Filho e
Felisberto Silva. Rubens
Soares entrou aí como
Pilatos no Credo, não era compositor, e sim “comprositor”; mas Felisberto Silva era “cobrão”. Chama-se (o
sucesso) “Solteiro é melhor”, com Francisco Alves.
Depois da gravação e de assinalar que
era do carnaval de 1940, voltou-se para o convidado:
-Você concorda, Claudio?
-Falando entre nós ou em público?... -
precaveu-se, arrancando gargalhadas.
-Há brilhantes exceções. -
acrescentou ainda cautelosamente.
-Eu não ouso decorar essa letra.-
manifestou-se o Sérgio Fortes.
-O carnaval era riquíssimo; as
orquestras, os cantores, os compositores.
-Nele, estava a nata dos arranjadores,
dos instrumentistas. - aditou o Sérgio Fortes.
-A pobreza atual é lamentável.
Claudio Pinheiro se manifestou após o
Jonas Vieira:
-A gente lembra que as músicas lançadas
no meio do ano, memorizadas pelo povo, eram concretizadas num pequeno volume
lançado no fim do ano: “Modinha Popular”. Ela fazia com que todos guardassem
aquelas relíquias definitivamente, as letras para se cantar no carnaval.
-O rádio era o grande veículo.
-E o cinema; havia filmes que estavam
apoiados em músicas de carnaval. - seguiram-se as palavras do Sérgio Fortes ao
do seu parceiro de apresentação do Rádio Memória.
-Exatamente, a música carnavalesca era
o motor do carnaval, isso acabou, daí, houve o esvaziamento do carnaval. Agora,
está ressurgindo, porque os blocos estão começando a cantar, a reproduzir as
músicas antigas, não existe nada de novo aí.
Cláudio Pinheiro aproveitou o tema
trazido pelo Jonas Vieira:
As músicas que se cantavam eram os sambas-enredos.
Aguardavam-se os lançamentos dos LPs das escolas de samba; infelizmente, uma
regressão do carnaval carioca. Um desperdício da memória do povo carioca que
sabe guardar muito bem, musicalmente falando, as coisas que foram feitas.
-Com todo o respeito às escolas de
samba, o carnaval não pode ficar restrito a elas. O carnaval era muito rico:
desfile de bandas, de blocos... - disse o Jonas Vieira.
-Tinha tudo: frevos, grandes
sociedades, os ranchos. - acrescentou o Sérgio.
-Além do desfile de automóveis, o corso
– lembrou o Jonas. Uma riqueza extraordinária que foi jogada pela janela a
partir dos anos 60.
-Foi nesse contexto que surgiu a Banda
de Ipanema, dando partida ao processo de recuperação do carnaval de rua do Rio
de Janeiro. - registrou o irmão do Albino Pinheiro.
Chegou a hora de mais uma atração
musical.
-Pois bem, vamos ouvir “Eu não posso
ver mulher”, de Roberto Roberti e Osvaldo Santiago.
Depois de ouvida a marchinha, Jonas
Vieira retomou a palavra:
-Esta foi do carnaval de 1941; aliás, o
centenário do Roberto Roberti é este ano, um dos nossos maiores compositores.
-A Banda vai homenageá-lo.- assegurou
o seu diretor.
-Quais os artistas centenários que
serão homenageados pela Banda de Ipanema? - quis saber o Jonas Vieira.
-A grande homenageada é a cidade do Rio
de Janeiro nos seus 450 anos, a
quem dedicamos uma frase-lema que vai perdurar ainda: “Rio, logo existo”.
Em seguida, explicou o porquê do
filosofo Descartes participar do carnaval carioca:
-Ela vai em direção ao Rio e retorna a
cada um de nós. O Rio era a corte,
Prosseguiu:
E lembramos as figuras de onze
centenários, infelizmente, nem todos puderam ser homenageados fisicamente por
falta de tempo. Todos eles, com centenário em 2015: Grande Otelo, Aurora
Miranda, Orlando Silva, Humberto Teixeira...
-Roberto Roberti, Abel Ferreira...-
interferiu o Jonas Vieira.
Ao citar Abel Ferreira, veio um
silêncio constrangedor do Claudio Pinheiro que logo foi quebrado.
-Fernando Lobo, Haroldo Barbosa, Jair
Amorim, Garoto, Carequinha... (o palhaço que marcou a nossa infância foi citado
com ênfase). São onze.
-É um escrete.
-Uma seleção.- concordou com o Sérgio
Fortes o Jonas Vieira.
O irmão do Albino Pinheiro retomou a
palavra:
-Não há como, fisicamente, citar os
nomes de todos os homenageados, por isso, nós terminamos a nossa relação de centenários sempre
mencionando os nomes dos homenageados com um viva aos outros maiorais. Ficam
todos homenageados assim.
-O Albino era fãzão do Orlando Silva,
ele me pediu para levá-lo ao “Seis e Meia” (shows de artistas no Teatro João
Caetano e, depois, no Carlos Gomes, no horário pós-expediente, criação do
promotor cultural Albino Pinheiro).
-Eu falei com o Orlando – continuou o
Jonas Vieira – e ele foi comigo. Só que o show era do Herivélton Martins, e
vendo todo mundo pulando no palco, Orlando me disse: “Eu não vou fazer isto,
não.” O nosso Albino lamentou, e o Orlando lhe disse: “Pois é, eu só sei
cantar, é a única coisa que eu sei fazer na vida.”
O “Projeto Seis e Meia” também
despertou a memória afetiva do Sérgio Fortes.
-Eu tenho lembrança de um “Seis e Meia”
que o Albino realizou. Foi um sucesso: era para durar um dia e se estendeu, se
estendeu... Era com meu pai, Paulo Fortes, e Altamiro Carrilho.
-Que dupla! - vibraram.
Sérgio Fortes prosseguiu:
-Foi sensacional, estendeu-se por dias
e dias, Papai, que era meio preguiçoso, reclamava: “Olha o que me arrumaram; eu
pensava que isso fosse durar quinze minutos.”
Depois das gargalhadas, Jonas Vieira se
preparou para anunciar a próxima atração:
-Uma das mais belas ranchos que
conheço, aqui, na voz da Elizeth Cardoso. Ela dá um banho de interpretação. E
eu pergunto: De quem é essa marcha-rancho? Chama-se
“Andorinha”; respostas daqui a pouco.
Ouvida a gravação, chegou a hora da
resposta da sabatina.
-Compositor: Sílvio Caldas.
-Caramba! - espantou-se o Sérgio com a
revelação do Jonas.
-Beleza! - deslumbrou-se o Cláudio
Pinheiro.
-Além de compositor, era um belo
cantor; compôs páginas maravilhosas com o Orestes Barbosa.
-”Chão de Estrelas”.- citou o
convidado.
-Compôs também com o Wilson Batista, e
sozinho.
-Ele gravou?... - interrompeu o Sérgio
Fortes aludindo à marcha-rancho.
-Em 1937... 1939- corrigiu-se.
-Quem gosta muito do Sílvio Caldas é o João Máximo.
-O meu querido João Máximo. O que tem
ele, Sérgio?
-O Sílvio Caldas é o ídolo do João
Máximo, é louco por ele.
Feito o esclarecimento sobre um dos
mais destacados jornalistas da música popular brasileira e do futebol, Jonas
Vieira voltou-se para o diretor da Banda de Ipanema perguntando-lhe sobre os
projetos da Banda em 2016. Claudio respondeu que teriam de caprichar ainda
mais, pois era o ano das olimpíadas.
-Então, você vai colocar todos os
atletas na banda. - não perdeu a piada o Jonas Vieira.
-Vou colocar o povo na rua com alegria
mais uma vez.- assegurou.
Sérgio lembrou as duas irmãs que sempre
marcavam presença nos primórdios da Banda de Ipanema.
-Délia e Laura; desfilaram durante
anos, mudaram-se de Ipanema para a Gávea. Eram idosas e nos deixaram com muitas
saudades.
-Sempre víamos as fotografias das duas
nas Banda.
-Eram octogenárias e saíam com a fantasia de marinheiro.-
concluiu o Claudio.
-Exatamente! - exclamou o Sérgio.
-Quais são os próximos desfiles da
Banda.- quis saber o titular do programa.
-A Banda volta no dia 14, sábado de
carnaval, e mais uma vez na terça-feira de carnaval, encerrando o seu ciclo
carnavalesco. No dia 16, o que já é tradicional, teremos a festa para as
crianças, sempre num local fixo, dentro da Praça General Osório, espaço
cercado, gradeado, com toda a segurança. Haverá muito guaraná, confete,
serpentina para a criançada... criançada, não, pirralhada.
-E as crianças adultas?- interessou-se
o Jonas Vieira.
-Adultos só entram acompanhado de
crianças, é o contrário. Foi a resposta.
A atenção do Jonas Vieira convergia,
agora, para a próxima atração musical.
-Outro gênero carnavalesco que,
lamentavelmente não aconteceu no Rio, mas pegou fogo no Recife, o frevo.
Severino Araújo com a Orquestra Tabajara, “Último Dia”.
Depois dessa gravação, emendou:
-O frevo é isso aí, instrumental, mas
tem o frevo-canção, e há coisas maravilhosas com o nosso Nélson Ferreira,
grande maestro, e o maior cantor de frevos: Claudionor Germano. Eles gravaram o “pot-pourri”:
“Borboleta não é ave”, “Não puxa, Maroca”, “Dedé” e “O Dia vem raiando”.
Orgulhoso por ter demonstrado que o Rio
de Janeiro, Recife e Olinda fazem o melhor carnaval do Brasil, voltou-se para o
seu convidado:
-O que achou?
-Maravilhoso.
O Rádio Memória, que teve como
convidado o sobrinho do inspirado compositor Custódio Mesquita, chegava ao fim,
e, nas despedidas, Cláudio Pinheiro assinalou que eles inaugurariam um
monumento em comemoração dos 50 anos da Banda com a placa “Banda de Ipanema: 13
de fevereiro de 1965 – 13 de fevereiro de 2015.”
Evoé.
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