-------------------------------------------------------------
O BISCOITO MOLHADO
Edição 5045 Data: 10 de fevereiro de
2014
---------------------------------------------------------------
A BANDA DE IPANEMA VAI AO RÁDIO MEMÓRIA
PARTE II
Antes do calendário, antes de soar a
voz do Sérgio Fortes e do convidado do programa, antes de o Dieckmann se
levantar da cama, Jonas Vieira brindou os ouvintes com aquela que é,
provavelmente, a mais melódica composição de carnaval.
Vocês se lembram do sucesso do
Francisco Alves dos anos 40, “Dama das Camélias”?
Depois, gabou-se com a sua escolha:
-Desculpem ouvintes, nós entramos
arrasando.
-Modéstia á parte. - marcou presença o
Sérgio Fortes.
-É de uma beleza fora do comum: Alcyr
Pires Vermelho e João de Barros, o Braguinha.
E prosseguiu o Jonas Vieira:
-Dois grandes amigos meus,
principalmente o Alcyr, um melodista extraordinário. Era danado de rabugento;
brigou com o Francisco Alves.
Referia-se, agora, ao programa desse
domingo.
-Pois muito bem; nós estamos fazendo um
programa carnavalesco, não é isso, Sérgio Fortes?
-Exatamente, com um convidado
especialíssimo, uma figura do carnaval do Rio de Janeiro.
-Um dos promotores do carnaval.
Sérgio Fortes verteu a expressão do
Jonas Vieira para o inglês: “promoters”.
-Estamos falando de quem? - levantou a
bola.
E o Sérgio cortou numa jogada bem
ensaiada:
-Claudio Pinheiro.
-Você está bem, Claudio Pinheiro, veio
a pé ou veio de trem?- reviveu o titular do programa o Chacrinha, que era
carnavalesco todos os dias do ano.
O convidado saudou a todos, e Sérgio
Fortes retomou a palavra:
-Ele é o dono da Banda de Ipanema. Como
é democrático, não deve se considerar dono.
De novo o Jonas Vieira:
-Ele e o irmão fundaram a Banda de
Ipanema, o saudoso amigo Albino Pinheiro, companheiro de chope, tomamos muito
chope juntos. Ele era um bom copo.
-Albino era bom?
-Puxa!... a exclamação do Jonas
transmitia a ideia de que ele bebia pantagruelicamente.
Veio, então, o calendário, de que já
tratamos em exemplar anterior.
-Nós conversamos com o Claudio
Pinheiro, mas, antes disso, vamos ouvir “Que Rei Sou Eu?”, de Herivelton
Martins e Valdemar Ressurreição com Francisco Alves.
Depois da gravação, voltou o Jonas
Vieira:
-Segundo as más línguas, essa
composição foi inspirada no próprio Francisco Alves, que era o rei da voz e
que, segundo a música, não era rei, não tinha rainha, não tinha nada. Essa
composição fez um enorme sucesso.
Voltou-se para o convidado em seguida:
-Meu querido Claudio, como vai a Banda
de Ipanema?
O
convidado respondeu que ela ia muito bem, firmando a alegria das ruas, o melhor
da música brasileira carnavalesca e acentuou que a cada ano novas músicas são
carnavalizadas para posterior incorporação no seu repertório.
-Quantos figurantes mais ou menos?
-O coração da Banda, constituído pela
sua direção e os músicos, é cerca de 80 pessoas; há mais o pessoal de apoio,
aqueles que se incorporam ao curso de cada um dos desfiles, os amigos que
chegam, dão bom dia e boa tarde e vão ficando; no final, são dezenas de
milhares de pessoas. A gente tem o especial orgulho de considerar cada
componente, cada cidadão presente, um protagonista da festa.
Arrematou dizendo que quem faz a grande
festa é o povo carioca.
-Você e seu irmão Albino fundaram a
Banda? - indagou o Jonas Vieira.
-Juntos com outros amigos; listados,
foram 130 no início de fevereiro de 1965. No primeiro desfile, compareceram 30
e poucos, desses 130. Fundadores mesmos foram aqueles que se incorporaram à
Banda de Ipanema nos seus primeiros anos. Cada um deu a sua contribuição,
formou e formatou a Banda de Ipanema tal qual é até hoje, guardando e
preservando as suas cláusulas pétreas de som direto e pé no chão. Não tem carro
de som, não tem corda, a entrada é livre, a saída é livre, um grande espaço
democrático que a gente faz questão de caracterizar apenas dessa forma. A Banda de Ipanema não aceita qualquer rótulo
diferente disso.
E concluiu afirmando que ela foi assim
nos seus primeiros 50 anos e será assim nos próximos 50 anos.
-Jonas, antes do início do programa,
conversei com o Cláudio, e a conclusão é a seguinte: é uma operação de guerra a
saída da Banda de Ipanema.
-É evidente. - pontuou o Jonas Vieira.
Sérgio Fortes continuou:
-Ele, quando relacionava todos os
detalhes, despesas, muitas despesas, coisas que ficam sob a responsabilidade
dele, ocorria-me uma coisa: o Cláudio, que organiza isso tudo, era um nome para
a presidência da Petrobras.
-Para o Ministério da Fazenda. -
acrescentou o Jonas.
-Quem organiza a Banda de Ipanema
preenche todos esses requisitos. Não o chamaram, Cláudio? - quis saber o Sérgio
Fortes.
-Estou na fila. - não perdeu a
oportunidade para uma piada que provocou risos de todos.
-Olha que fila! - pegou o Jonas carona
na piada.
Cláudio Pinheiro se tornou mais sério:
-É outro tipo de fila. É uma capacidade
de organizar e de desorganizar ao mesmo tempo, porque a Banda de Ipanema
superorganizada não dá. Tem de haver um pouquinho de desorganização, é desejável
até.
-A Petrobras já chegou a contribuir com
a Banda? - foi a pergunta pertinente do Jonas Vieira, haja vista as
contribuições dessa empresa para os eventos culturais.
-Quando o Albino faleceu, em 99, a
Petrobras nos ofereceu as camisas da Banda. Na época, foram desenhadas pelo LAN
e o Chico Caruso. Limitou-se a esse ato de benemerência e parou por aí,
infelizmente.
-Só aquele ano? - perguntou o Sérgio
Fortes.
-Tudo com nota fiscal. - enfatizou o
Claudio Pinheiro.
No atual contexto de pilhagem dos cofres
da Petrobras, a ressalva feita com ênfase era mais uma piada de provocar risos.
Depois da descontração, o clima se
tornou mais sério. Cláudio Pinheiro salientou o extremo cuidado que eles têm de
respeitar todos os compromissos assumidos desde a largada da banda.
-Somos extremamente pontuais, porque
entendemos que a pontualidade implica uma sucessão de compromissos que vêm logo
além. É um efeito dominó, se nós nos atrasamos, prejudicamos os amigos e outras
instituições. A última saída nossa foi, pontualmente, às 5h 30min, e voltamos
às 9h 30min da noite. São 4 horas exatas que constitui o limite acordado com a
Prefeitura.
-Então, Cláudio, não é a Banda de
Ipanema, é a Banda Inglesa.
Depois das risos provocados pela piada
do Jonas Vieira, ele concluiu:
-Eles é que têm de se espelhar na gente
para serem pontuais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário