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O BISCOITO MOLHADO
Edição 5041 Data: 05 de fevereiro de 2014
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NO RÁDIO MEMÓRIA NÃO CHOVE LÁ FORA
PARTE II
Mas retornemos ao programa de 1º de
fevereiro de 2015, apresentado pelo Jonas Vieira e o Sérgio Fortes, contando
com a presença do Simon Khoury, vindo de recente viagem pela Europa.
Agora, um causo do Simon, mais um,
este, porém, era um tanto longo.
-Telefonou-me um homem muito importante
de uma cidade do Paraná, Cascavel. Informou-me ele que ia inaugurar um hotel
com uma boate de luxo dentro. “Simon -disse-me ele – está uma briga danada aqui
dentro para trazer A, B, C... Quem eu poderia trazer para abrilhantar a estreia
desse hotel e da boate?” Perguntei-lhe, então: “Qual o tipo de público?” E ele
me respondeu que era classe A e B.
Todos ouviam o Simon com interesse
crescente.
-”Tito Madi”. - recomendei. Ele
explodiu de alegria. Liguei para o Tito Madi que me disse que cobrava 10 mil de
entrada e 10 mil quando acabasse o show. Os caras mandaram os 10 mil, Tito foi,
três meses depois voltou. Tito me ofereceu 2 mil dizendo que ainda fez quatro
shows por lá; não aceitei, se ele me entregasse o cheque, eu rasgaria. O que o
Tito Madi fez; telefonou para a minha mãe falando que me devia 2 mil reais;
pegou com ela o número da minha conta e depositou o dinheiro.
E concluiu:
-Esse é o Tito Madi.
-Você ouviu tudo isso aí, Tito? Você
confere? - duvidou o Jonas Vieira que, segundo o Sérgio Fortes, briga com o
Simon Khoury há cinquenta anos.
-Confirmo tudo o que o Simon disse.
Simon sabe da minha vida mais do que eu.
-Quase que nós somos parentes, Tito;
você ia casar com a minha irmã.
Simon Khoury mostrava, com essas
palavras, que discordava inteiramente do Brizola que, pretendendo uma mudança
constitucional, pois o irmão da sua esposa estava no poder, lançou o slogan “Cunhado
não é parente, Brizola para presidente”.
O quase cunhado do Simon Khoury se
manifestou:
-A mãe do Simon era quase uma mãe para
mim. Eu adorava a mãe dele. Era uma senhora maravilhosa.
Todos sabiam que a Anna Khoury fundou a
Rádio Eldorado e a Rádio Imprensa, além de ter trazido as Frequências Moduladas
para a radiofonia brasileira, mas poucos sabiam quem era Renata Lúcia, o que
justifica a pergunta que veio do Jonas Vieira:
-Ô Tito, quem é Regina Lúcia?
-Regina Lúcia é como se fosse a minha
sobrinha. Ela foi dama de companhia do meu casamento. Depois de um tempo,
pediu-me letras para pôr melodias.
-Vejam só!
Jonas Vieira reagiu com encantamento e,
em seguida, anunciou a próxima atração musical:
-De Regina Lúcia e Tito Madi: “Será”.
Logo após a audição, é citado Mauro
Senise, saxofonista, flautista, arranjador e professor de música.
-Grande Mauro Senise! - exclamou o
homenageado do Rádio Memória.
-Você se lembra desta música aqui? -
perguntou-lhe o Jonas Vieira.
Ouviram-se, primeiramente, as cordas da
orquestra, em seguida, entrou a voz intimista do Tito Madi.
Simon Khoury se manifestou:
-Ô Tito, nesta música “Carinho e Amor”,
você fez a música junto com a letra?
-Sim, eu fiz tudo junto. Mas aí tem o
arranjo e as cordas do grande Lyrio Panicalli, o meu mestre.
-Você, normalmente, faz a música
primeiro e depois encaixa a letra? - emendou o Simon Khoury outra indagação:
-Ou pode acontecer o contrário?
-Nesta (“Carinho e Amor”), eu fiz tudo
junto.
-Aliás, você faz tudo junto, é o seu
modo de compor, não é isso? - interveio o Jonas Vieira.
-Às vezes, vem tudo junto.
-Não saia daí, Tito. - pediu-lhe o
Jonas Vieira e foi feita a habitual “Pausa para Meditação”, crônica do Fernando
Milfont.
Quem pagará o custo dessa ligação
telefônica?... - meditamos. Não será o Simon Khoury que, na Europa, deve ter
gastado todo o seu dinheiro distribuindo esmolas, embora o seu amigo garanta
que ele tem um crocodilo no bolso.
Para o júbilo dos ouvintes, o Rádio
Memória retornou com o Tito Madi no telefone, no entanto, a música que se
ouviria não era na sua voz.
-Simon conseguiu trazer uma raridade
dos Estados Unidos. Tito e os ouvintes do programa escutem. Vocês vão ter de
adivinhar.
-É um presente que estamos trazendo
para você, Titinho. - disse o Simon Khoury.
Entram os instrumentos de percussão e,
em seguida, uma voz de muitos recursos, de timbre raro.
-Gostou, Titinho?
-Gostei. Quem é?
-Johnny Mathis estreando em 1955. - esclareceu aquele que trouxe a raridade.
Johnny Mathis, desde menino,
demonstrava um talento musical raro, foi, por isso, conduzido pelo pai ao
estudo do canto, quando se aventurou até pela ópera. Mas, como todos sabem, se
fixou na música popular.
-Diferente, não é? - disse o convidado.
-A música é de Duke Ellington,
“Caravan”. - continuou o Simon.
-Johnny Mathis era o cantor preferido da
Lúcia.
-Lúcia é a esposa do Tito. -
explicou o Simon Khoury a informação do cantor.
-Ele era um cantoraço. O que ele faz
com a voz é impressionante, extraordinário. - exultou o Jonas Vieira.
-É verdade. - concordaram todos.
-Vamos voltar ao seu disco com o Gílson
Peranzzetta: “Quero Te Dizer Que Eu Amo”, música sua com Sérgio Natureza.
-Grande Sérgio Natureza, letrista
maravilhoso. - não se conteve o Tito Madi em elogiar o seu parceiro.
-”Flor de Mim”. - anunciou o Jonas
Vieira.
Depois da gravação e de renovados
elogios ao letrista, Jonas Vieira alteou a voz:
-Agora, uma coisa antiga, mas que foi
um dos seus maiores sucessos. De quem é esta composição?
Tratava-se de uma música que tanto
inflamou o nosso romantismo de adolescente até a vida adulta na sua voz e na de
Miltinho: “Menina Moça”.
-De quem é essa música, Tito Madi? -
repetiu.
-Luiz Antônio; ele era coronel do
Exército.
-Muita gente confunde; acha que a
música é sua. Você fica orgulhoso, não é?
-Muita gente acha, Simon, mas eu
desminto logo. Respeito muito o Luiz Antônio, um grande amigo.
Jonas Vieira interveio:
-Luiz Antônio, um grande compositor.
Coronel do Exército, foi do gabinete do João Goulart.
-Você sabe que o Tito Madi escreveu
“Chove lá Fora” para mim?- reiniciou o Simon Khoury a troca de farpas com o
Jonas Vieira.
-Para você?... Por que, era você que
estava chovendo?
Gracejos que provocaram sonoras
gargalhadas do Sérgio Fortes.
A seriedade retornou, momentaneamente,
com a intervenção do Simon Khoury:
-Tito, aqui está uma composição da sua
autoria apenas: “Quero Te Dizer Que Eu Amo”.
-Gosto muito desta música. A primeira
parte foi cantada pelo Gílson, eu canto a segunda parte.
Depois de todos exultarem com a
gravação, Jonas Vieira indagou:
-Onde se encontra este disco?
-Eu acho que em todas as lojas; tem,
com certeza, na “Toca do Vinícius” do nosso querido Carlos Alberto.
-Tito, para a gente se despedir da sua
participação maravilhosa um sucesso seu no Brasil, no exterior, em todo lugar:
“Chove lá fora”.
-Chove? - animou-se o Sérgio Fortes
que, como nós todos, vinha sofrendo com a canícula que castiga o Rio de Janeiro
desde dezembro.
Não choveu lá fora, a não ser na
música, mas dois dias depois sim, e até hoje, passada uma semana, ainda chove,
e nós todos ficamos ainda mais deslumbrado com o Tito Madi: ele trouxe a chuva.
Beleza.
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