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quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

2792 - O Biscoito vai ao cinema


 

 

 

           

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O BISCOITO MOLHADO

Edição 5042                                Data: 06   de  fevereiro de 2014

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SABADOIDO DO TEATRO AO CINEMA

 

-Claudio, ainda reprisam o programa “Arte com Sérgio Britto” no Canal Brasil?

-Nunca mais vi.

-Cheguei assistir a dois programas, nesse canal, mas estavam condensados.

-Diminuíram a duração?

-Sim; eu não perdia “Arte” no tempo em que o Sérgio Britto era vivo, e estava programado aos sábados na TV Educativa. Durava uma hora. Dessa vez, não passou de trinta minutos com interrupções.

-Essa TV Brasil foi criada pelo Lula... Franklin Martins -emendou - , não podia dar em boa coisa.

-Você sabe que a entrada da estação da Carioca do metrô se transformou numa pequena feira de livros? Lá, eu me deparei com o “Teatro & Eu”, do Sérgio Britto, lacrados, novos.

-Sei, você comprou um e deu de presente para a Rosa Grieco.

-Comprei dois, um para mim também.

-E já leu?

-Li e me deparei com algumas divergências entre o que ele falou, no tempo do “Arte” da TV Educativa, e escreveu.

-Por exemplo? - interessou-se.

-Ele disse que quando viajou por diversos países da Europa, chegando à Grécia, teve a sorte caída dos céus de assistir Medeia, de Eurípedes, com Irena Pappás.

-Ele sabia grego?

Depois dessa piada, que nos vem à cabeça pela força do hábito, corrigiu-se:

-É verdade que só ver a interpretação de um grande artista, mesmo sem entender o que ele, já vale a pena. Para ele, seria como ouvir canções estrangeiras sem saber o que está sendo cantado.

-Pois é; no livro “O Teatro & Eu”, ele alude à sua viagem a Grécia sem citar a representação de Medeia com Irene Pappás. 

 

-Isso é grave.

-Outra: no “Arte com Sérgio Britto”, ele me irritava com as críticas desabonadoras que fazia ao Placido Domingo como ator. Enaltecia a Maria Callas, como se fosse uma Meryl Streep e depreciava o tenor de maior repertório da história da ópera.

-O Placido Domingo não foi elogiado pelo Laurence Olivier como ator?

-Sim, Claudio. Ao vê-lo no “Otello”, produzido para o cinema pelo Franco Zefirelli, Laurence Olivier exclamou: “E ainda canta!”

-E então?

-E então, Claudio, que, no livro, ele elogia o Placido Domingo como ator.

-Ele escreveu “O Teatro & Eu” com mais de 80 anos, Carlinhos?

-Com 85, aproximadamente, mas estava lúcido, pois, com 86, ainda atuava nos palcos e era premiado.

-Eu me lembro que ele recebeu o Prêmio Shell, por uma peça em que atuava,  pouco antes de morrer. - disse o Claudio.

-Na autobiografia dele, reclamava de dormir, acordar pela meia-noite, sem mais sono algum, então, ia escrever; esse livro surgiu assim. Agora, detentor de uma excelente memória, não poderia esquecer a Medéia com a Irene Pappás. Quanto ao Placido Domingo, tudo bem; reviu o seu parecer com a passagem do tempo. - comentei.

-Assisti também a muitos programas dele na TV Educativa, e, de fato, a memória dele era boa, mas perdia para a da Fernanda Montenegro. Quanto ele revisitou “O Grande Teatro Tupi”, teve de recorrer à Fernanda Montenegro, que esmiuçou ainda mais as ocorrências daquele teleteatro.

-Claudio, a memória do Sérgio Britto falhava, mas era raro. Certa vez, ao comentar a biografia do Paulo Fortes, “Um brasileiro na ópera”, do Rogério Barbosa Lima, falou de uma “Tosca” a que assistiu com o Paulo Fortes no papel do Barão de Scarpia. Ora, o filho dele, o Sérgio Fortes, disse que o pai dele nunca cantou “Tosca”.

-E a Rosa, gostou das memórias do Sérgio Britto?

-O que ela mais gostou, pelo que revelou nas cartas escritas por ela e trazidas até mim pelo Luca, foi das massagens a que ele se submeteu na Tailândia.

-O David Carradine morreu, em Bangcoc, numa masturbação tailandesa. - lembrou o Claudio.

-O Sérgio Britto sobreviveu. - brinquei.

-Carlão, pronto para ir ao Engenhão? - irrompeu cozinha adentro meu sobrinho.

-Estádio Nílton Santos, Daniel. - corrigi.

-Segundo o prefeito, podem chamar de Nílton Santos, mas, na papelada, ficará o nome João Havelange, pois seria muito complexo fazer essa alteração de nomes. - interveio o Claudio.

-Antes, fazia sentido o nome João Havelange para um estádio que foi construído com preços superfaturados e material de quinta categoria, mas agora que fizeram os reparos, nada mais justo que o estádio tenha o nome do atleta que mais se identificou com o Botafogo.

Enquanto eu falava, Daniel preparava o seu café da manhã. Dirigi-me a meu irmão:

-Claudio, assisti a outro grande filme argentino: “O filho da noiva”.

-Com Ricardo Darin. - ironizou.

-Ricardo Darin é uma espécie de Messi do cinema. - acrescentou.

-Carlão, você já viu algum filme que concorre ao Oscar deste ano?

-Daniel, você sabe que não vou mais ao cinema; não suporto cheiro de pipoca, baldes de refrigerante e mais ainda às pessoas que falam ao celular no meio do filme.

-Vai na última sessão. - sugeriu.

-Acordo cedo, mesmo quando durmo muito tarde; como não quero ficar com poucas horas de sono, não vou. Mas acredito que os celulares ainda são acionados a essa hora.

-Mais ou menos. - disse ele.

-Assim sendo, vou esperar esses filmes saírem em DVD para comprar e ver, como fiz com “O Discurso do Rei”. Alguns desses filmes candidatos ao Oscar, de fato, me interessam.

-O “Selma” tem erros grosseiros, como colocar o presidente Lyndon Johnson contra os ativistas dos direitos civis liderados pelo Martin Luther King. Foi exatamente o contrário. - disse o Claudio.

-Eles erram muito: há filmes americanos em que o sol nasce no oeste.

-Você leu isso onde, Daniel, porque eu também li, mas há muito tempo?

-Agora, não me lembro, Carlão.

-Desses filmes, o que tenho mais interesse de assistir é The Imitation Game ou, como dizem os lusoparlantes, “O Jogo da Imitação” sobre a vida do cientista Alan Turing. Ele foi um gênio, conseguiu desvendar o código de guerra dos nazistas, que, segundo os especialistas, antecipou a guerra em dois anos, poupando milhões de vida. No entanto, teve um fim que guarda semelhanças como o do Oscar Wilde. Isso em 1954, o que mostra que, passados mais de 50 anos, a Inglaterra permanecia intolerante com os homossexuais.

-Quando levar no Norteshopping, verei. - garantiu meu irmão.

-O filme sobre a vida do Stephen Hawking não me atrai tanto porque não sou afeito ao cosmos.

-A não ser ao clube em que o Pelé jogou. - brincou o Daniel.

-”Teoria do Tudo”. - disse meu irmão o nome do filme.

-“Um filme que não vou deixar de ver: “Relatos Selvagens”.

-Carlinhos e o cinema argentino... - ironizou o Claudio.

 

(*) O Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO viu o Alan Turing, o Stephen Hawking e os Relatos e ainda Birdman. Tirando Birdman, cujo destino é a poeira da última prateleira, Hawking fica bem e Relatos e Turing no alto, são ótimos, embora um seja um documentário e o outro, reality show, ambos de primeira.

 

 

 

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