-----------------------------------------------------------------
O BISCOITO MOLHADO
Edição 5042 Data: 06 de fevereiro de
2014
--------------------------------------------------------
SABADOIDO DO TEATRO AO CINEMA
-Claudio, ainda reprisam o programa
“Arte com Sérgio Britto” no Canal Brasil?
-Nunca mais vi.
-Cheguei assistir a dois programas,
nesse canal, mas estavam condensados.
-Diminuíram a duração?
-Sim; eu não perdia “Arte” no tempo em
que o Sérgio Britto era vivo, e estava programado aos sábados na TV Educativa.
Durava uma hora. Dessa vez, não passou de trinta minutos com interrupções.
-Essa TV Brasil foi criada pelo Lula...
Franklin Martins -emendou - , não podia dar em boa coisa.
-Você sabe que a entrada da estação da
Carioca do metrô se transformou numa pequena feira de livros? Lá, eu me deparei
com o “Teatro & Eu”, do Sérgio Britto, lacrados, novos.
-Sei, você comprou um e deu de presente
para a Rosa Grieco.
-Comprei dois, um para mim também.
-E já leu?
-Li e me deparei com algumas
divergências entre o que ele falou, no tempo do “Arte” da TV Educativa, e
escreveu.
-Por exemplo? - interessou-se.
-Ele disse que quando viajou por
diversos países da Europa, chegando à Grécia, teve a sorte caída dos céus de
assistir Medeia, de Eurípedes, com Irena Pappás.
-Ele sabia grego?
Depois dessa piada, que nos vem à
cabeça pela força do hábito, corrigiu-se:
-É verdade que só ver a interpretação
de um grande artista, mesmo sem entender o que ele, já vale a pena. Para ele,
seria como ouvir canções estrangeiras sem saber o que está sendo cantado.
-Pois é; no livro “O Teatro & Eu”,
ele alude à sua viagem a Grécia sem citar a representação de Medeia com
Irene Pappás.
-Isso é grave.
-Outra: no “Arte com Sérgio Britto”,
ele me irritava com as críticas desabonadoras que fazia ao Placido Domingo como
ator. Enaltecia a Maria Callas, como se fosse uma Meryl Streep e depreciava o
tenor de maior repertório da história da ópera.
-O Placido Domingo não foi elogiado
pelo Laurence Olivier como ator?
-Sim, Claudio. Ao vê-lo no “Otello”,
produzido para o cinema pelo Franco Zefirelli, Laurence Olivier exclamou: “E
ainda canta!”
-E então?
-E então, Claudio, que, no livro, ele
elogia o Placido Domingo como ator.
-Ele escreveu “O Teatro & Eu” com
mais de 80 anos, Carlinhos?
-Com 85, aproximadamente, mas estava
lúcido, pois, com 86, ainda atuava nos palcos e era premiado.
-Eu me lembro que ele recebeu o Prêmio
Shell, por uma peça em que atuava, pouco
antes de morrer. - disse o Claudio.
-Na autobiografia dele, reclamava de
dormir, acordar pela meia-noite, sem mais sono algum, então, ia escrever; esse
livro surgiu assim. Agora, detentor de uma excelente memória, não poderia
esquecer a Medéia com a Irene Pappás. Quanto ao Placido Domingo, tudo bem;
reviu o seu parecer com a passagem do tempo. - comentei.
-Assisti também a muitos programas dele
na TV Educativa, e, de fato, a memória dele era boa, mas perdia para a da
Fernanda Montenegro. Quanto ele revisitou “O Grande Teatro Tupi”, teve de
recorrer à Fernanda Montenegro, que esmiuçou ainda mais as ocorrências daquele
teleteatro.
-Claudio, a memória do Sérgio Britto
falhava, mas era raro. Certa vez, ao comentar a biografia do Paulo Fortes, “Um
brasileiro na ópera”, do Rogério Barbosa Lima, falou de uma “Tosca” a que
assistiu com o Paulo Fortes no papel do Barão de Scarpia. Ora, o filho dele, o
Sérgio Fortes, disse que o pai dele nunca cantou “Tosca”.
-E a Rosa, gostou das memórias do
Sérgio Britto?
-O que ela mais gostou, pelo que
revelou nas cartas escritas por ela e trazidas até mim pelo Luca, foi das
massagens a que ele se submeteu na Tailândia.
-O David Carradine morreu, em Bangcoc,
numa masturbação tailandesa. - lembrou o Claudio.
-O Sérgio Britto sobreviveu. -
brinquei.
-Carlão, pronto para ir ao Engenhão? -
irrompeu cozinha adentro meu sobrinho.
-Estádio Nílton Santos, Daniel. -
corrigi.
-Segundo o prefeito, podem chamar de
Nílton Santos, mas, na papelada, ficará o nome João Havelange, pois seria muito
complexo fazer essa alteração de nomes. - interveio o Claudio.
-Antes, fazia sentido o nome João
Havelange para um estádio que foi construído com preços superfaturados e
material de quinta categoria, mas agora que fizeram os reparos, nada mais justo
que o estádio tenha o nome do atleta que mais se identificou com o Botafogo.
Enquanto eu falava, Daniel preparava o
seu café da manhã. Dirigi-me a meu irmão:
-Claudio, assisti a outro grande filme
argentino: “O filho da noiva”.
-Com Ricardo Darin. - ironizou.
-Ricardo Darin é uma espécie de Messi
do cinema. - acrescentou.
-Carlão, você já viu algum filme que
concorre ao Oscar deste ano?
-Daniel, você sabe que não vou mais ao
cinema; não suporto cheiro de pipoca, baldes de refrigerante e mais ainda às
pessoas que falam ao celular no meio do filme.
-Vai na última sessão. - sugeriu.
-Acordo cedo, mesmo quando durmo muito
tarde; como não quero ficar com poucas horas de sono, não vou. Mas acredito que
os celulares ainda são acionados a essa hora.
-Mais ou menos. - disse ele.
-Assim sendo, vou esperar esses filmes
saírem em DVD para comprar e ver, como fiz com “O Discurso do Rei”. Alguns
desses filmes candidatos ao Oscar, de fato, me interessam.
-O “Selma” tem erros grosseiros, como
colocar o presidente Lyndon Johnson contra os ativistas dos direitos civis
liderados pelo Martin Luther King. Foi exatamente o contrário. - disse o
Claudio.
-Eles erram muito: há filmes americanos
em que o sol nasce no oeste.
-Você leu isso onde, Daniel, porque eu
também li, mas há muito tempo?
-Agora, não me lembro, Carlão.
-Desses filmes, o que tenho mais
interesse de assistir é The Imitation Game ou, como dizem os
lusoparlantes, “O Jogo da Imitação” sobre a vida do cientista Alan Turing. Ele
foi um gênio, conseguiu desvendar o código de guerra dos nazistas, que, segundo
os especialistas, antecipou a guerra em dois anos, poupando milhões de vida. No
entanto, teve um fim que guarda semelhanças como o do Oscar Wilde. Isso em
1954, o que mostra que, passados mais de 50 anos, a Inglaterra permanecia
intolerante com os homossexuais.
-Quando levar no Norteshopping, verei. -
garantiu meu irmão.
-O filme sobre a vida do Stephen
Hawking não me atrai tanto porque não sou afeito ao cosmos.
-A não ser ao clube em que o Pelé jogou.
- brincou o Daniel.
-”Teoria do Tudo”. - disse meu irmão o
nome do filme.
-“Um filme que não vou deixar de ver: “Relatos
Selvagens”.
-Carlinhos e o cinema argentino... -
ironizou o Claudio.
(*) O Distribuidor
do seu O BISCOITO MOLHADO viu o Alan Turing, o Stephen Hawking e os Relatos e
ainda Birdman. Tirando Birdman, cujo destino é a poeira da última prateleira, Hawking
fica bem e Relatos e Turing no alto, são ótimos, embora um seja um documentário
e o outro, reality show, ambos de primeira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário