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quarta-feira, 30 de julho de 2014

2662 - duas caras




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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4912                                 Data:  27 de  julho de 2014
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SABADOIDO CHUVOSO. SESTROSO E MELODIOSO

-Daniel, mas uma vez a chuva adia o seu concerto no Facebook.
-Pois é Carlão.
-Por dois sábados, o seu concerto é adiado, o mesmo acontece com a festa junina da Dona Zita, que ficou para o dia 2 de agosto, caso São Pedro concorde.
-É o meu caso, Carlão, ficou para o dia 2 de agosto.
-Não dá para filmar a sua exibição no teclado do seu quarto para inserir, depois, o filme no Facebook?
-Carlão, você desconhece o valor da luminosidade e da acústica nos filmes. - criticou a minha sugestão com o seu jeito sestroso.
-Eu tenho, arquivado num pendrive, uma fita em que você toca e canta “It's a wonderful world”. Eu posso jogá-lo no Facebook, você compartilha, e seus amigos poderão assistir a ele.
-Carlão, eles vão pensar que eu sou maluco, porque verão que compartilhei.
-Bem, eles perderão a sua performance  no   “It's a wonderful world”, que é superior  a do Louis Armstrong.
Minutos antes, nesse Sabadoido chuvoso, o Claudio, recusando o meu guarda-chuva, abriu o portão e me acompanhou até a cozinha, onde encontrei o Daniel, que acabara de tomar o café da manhã.
-Trouxe aqui um copo que celebra a Copa do Mundo. Como é de 493 mililitros e da Budweiser, e o Claudio é o único aqui capaz de beber tal quantidade de cerveja; nada mais justo que vá para ele. - falei, enquanto lhe passava uma bolsa da Copenhague que continha o brinde.
-Carlão, isso não foi de graça, porque nada foi grátis nesta Copa?
-Daniel, este copo custava 10 reais, depois da partida com a Alemanha, caiu para 2 reais; parecia ação da Petrobras.
-Você não trouxe o copo porque quebrou um aqui?...- admoestou-me a Gina que, entrando naquele momento na cozinha, não viu o dito cujo que o Claudio guardara na despensa.
-Nada disso; comprei dois e nem sei se o meu terá alguma utilidade, pois não bebo nada além de 300 mililitros.
-Você já se recuperou dos 7 a 1, Carlinhos? - brincou a Gina.
-Gina, eu não me recuperei mesmo foi dos 103 a 0 que a Alemanha nos bate em Prêmio Nobel. Seria menos injusto de fosse 103 a 2, pois o Carlos Drummond de Andrade bem que mereceu o Nobel da Literatura e a equipe que formulou o Plano Real, o Nobel de Economia.
-Falando em jogadores alemães – cortou o Daniel – você soube que a Paula Lavigne quis receber direitos autorais porque eles cantaram “Tieta”, do Caetano Veloso, num dos treinos em Santa Cruz de Cabrália?
-Ela é empresária dele. - informou o Claudio.
-Com essa pretensão ridícula, apareceu a fotografia dela nas redes sociais. Caramba, erraram a mão quando puseram silicone nos beiços dela!
-Eu vi, Gina, ela ficou uma espanta-neném.
-Espanta-neném e adultos. - acrescentou a Gina.
-Falando em besteiras ditas e repercutidas, a Dilma Rousseff lamentou a morte do Ariano Suassuna, no Twitter, escrevendo por duas vezes Suassuana.
-E a Ana Maria Braga, Carlinhos, que falou mais de cinco vezes, no “Só Você”, Luciano Suassuna.
-Saiu a dupla feminina de toupeiras Ana Maria Braga e Xuxa e entrou Ana Maria Braga e Dilma.- registrei.
Veio-me, então, à mente que a Gina trocara o gesso do braço fraturado há três dias.
-Foi tudo bem?
-Não sei, houve a troca, mas ficaram umas dúvidas se o osso está se consolidando mesmo no lugar certo.
-Como lido há algum tempo com a imaginação pessimista da minha cunhada, lhe garanti que tudo, no final, daria certo.
-Lá, na sala de espera da clínica, estava ao meu lado um senhor que quebrara a mão. Ele me disse que, de tanta coceira que sentiu, serrou o gesso na parte dos dedos. A coceira persistiu, e ele serrou a parte do punho. Tenho as minhas dúvidas se os ossos dele ficaram no lugar.
O assunto era por demais contrastante com a alegria do Daniel, e ele interveio.
  -E o Brasil que quer se recuperar da queda chamando de volta o Dunga.
-Como disse o José Simão, a contratação do Dunga prova que o raio cai duas vezes no mesmo lugar. - manifestou-se o Claudio.
-As pessoas vestidas com a camisa do Brasil sumiram; aliás, as duas desapareceram, as camisas e as pessoas. - disse meu sobrinho.
-No metrô, vejo mais gente com a camisa da Argentina. Falando em metrô, deparei-me com um sujeito com o seguinte corte de cabelo: na nuca, havia dois tufos de cabelos, como se fossem olhos, e um tufo, um pouco abaixo, como se fosse uma boca,
-Ele tinha uma segunda cara, Carlão?
-Nem os jogadores da seleção brasileira, tiveram esse mau gosto. - assinalou a Gina.
-Vou ensaiar para o meu concerto do dia 2 de agosto. - bradou o Daniel, rumando para o teclado no seu quarto,
Enquanto as notas do teclado ressoavam pela casa, reportei-me ao programa Rádio Memória da Roquette Pinto com o Monarco como atração. Claudio resenhou a vida e a obra do compositor da Portela com tal desenvoltura, que lhe perguntei se ouvira o programa. Não, às 8 horas da manhã de domingo, ele cuidava dos seus afazeres.
-Tenho muitos discos do Monarco; este último CD ainda não, porque os discos dele são difíceis de achar.
-Debrucei-me sobre a biografia do Cartola e me espantei com o seu talento, muito maior do que eu imaginava.
-Carlinhos, para mim, o melhor samba dele é “Autonomia”.
Ao dizer isso, voltou-se para a Gina.
-Vê se encontra no seu tablet?
-Ela tocou o dedo na tela algumas vezes e, em menos de dois minutos, sintonizou o samba.
-Uma beleza mesmo. - concordei.
-Esse piano é do Radamés Gnatalli. - assinalou.
-Esse arranjo espetacular só pode ser dele também. - concluí.
-O Candeia compôs um samba que o Cartola gravou e que eu nunca me canso de escutar. Nos créditos do “Central do Brasil”, do Walter Salles, ele é tocado.
-Que samba?- despertou-me a curiosidade.
-”Preciso me encontrar”.
E voltou-se de novo para a Gina.
-Vê se encontra no seu tablet?
Dessa vez, a Gina teve dificuldade na sua pesquisa internética.
-Vejo aqui um Marquinho Satã... Que nome diabólico! - reagiu a Gina.
-Marquinho Satã compõe muitos sambas para o Zeca Pagodinho cantar.
E repetiu seu pedido.
-Tem, vamos ver onde, aqui o Ney Matogrosso cantando o ”Preciso me encontrar”. - disse a Gina.
Surgiu o show performático do cantor, de uns vinte anos atrás, em que ele fantasiado e coberto de miçangas, paetês e outras coisas de brilho dourado dá início a um strip-tease.
-Gina, o Cartola. - rogou meu irmão.
-Achei aqui “Preciso me encontrar” com MPB-4, com Tereza Cristina, com Diogo Nogueira, com Marisa Monte...
-O Cartola. - insistiu ele.
Finalmente, ela encontrou a canção composta por Candeia na voz do Cartola.
Enquanto ouvíamos o inspirado samba do Candeia, meu irmão insistia que essa era a interpretação definitiva.

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