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quarta-feira, 2 de julho de 2014

2628 - Fronteiras animais


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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4878                                 Data: 29  de  maio de 2014
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NAVEGANDO PELA INTERNET

Topo com uma notícia na Internet que, certamente, foi recortada do jornal, digitalizada e postada no Facebook, pois já havia sido lida, antes, por mim: a Itália vai contabilizar o crime organizado no seu PIB.
-A Itália?!... - quase levei as mãos à cabeça com as páginas do Globo à minha frente.
Depois desse espanto, reconheci que a Itália é o país dos grandes criminosos e me veio à mente a fala do Orson Welles, personificando o cínico personagem Harry Lime, no filme “O Terceiro Homem”:
“Na Itália, durante os trinta anos sob o domínio dos Bórgias, eles tiveram guerra, terror, assassinatos e banho de sangue, mas produziram Michelangelo, Leonardo da Vinci e a Renascença.  Na Suíça, eles tiveram amor fraternal e quinhentos anos de democracia e paz. E o que produziram? O relógio  cuco.”
Num ponto, Orson Welles se enganou: o relógio cuco não é suíço, surgiu numa região montanhosa denominada Floresta Negra no sudoeste alemão. (*)
Bem antes do grande cineasta, o filósofo Montesquieu havia escrito que os conflitos e as lutas que marcaram Roma não foram apenas as causas da sua decadência, mas também as da sua grandeza e existência.
O problema de a Itália considerar, agora, a dinheirama do crime organizado no seu produto interno bruto é despertar os maus instintos dos governantes brasileiros que já recorrem a mil artifícios para maquiar as nossas contas macroeconômicas. Se também levarem em consideração aqui, a receita dos criminosos, teremos um PIB da China.

Para não fugir desse tema, navego na Internet até um mapa mundi inusitado: os nomes dos países estão trocados, ou seja, são relacionados o PIB com tamanho do território. Assim, os Estados Unidos passam a ser a Rússia. O Japão seria os Estados Unidos; a China, o Canadá. O Brasil seria a Argentina que, por sua vez, se tornaria a Bolívia. E assim vai, com muitos países da Europa ocupando extensos territórios africanos, o que aconteceu há algum tempo, mas de maneira bem diferente.
Esse mapa mundi é de 2013, com dados de 2012, mas de lá para cá não mudou muito, mas os governantes brasileiros devem ficar atentos para que, daqui a alguns anos, não arranquemos a Argentina da Bolívia dizendo que aquele lugar é nosso.
Seguindo em frente, deparo-me com uma mensagem eletrônica com um título respingando indignação “E o safado ainda tinha atestado de pobreza”. Para saber quem é o sacripanta, tenho de abrir um vídeo, o problema é que o dito cujo na abre. Assim, a minha imaginação se inflama, e me ponho a especular sobre esse sicofanta.
Será o Eike Batista? Quando ele era um dos campeões do empreendedorismo do governo petista, com fácil acesso aos empréstimos do BNDES, iniciou uma reunião com diversos empresários dizendo-se pertencente à classe média, o que arrancou risos de todos.  Com a futura derrocada dos seus negócios, se a impunidade não se impuser, novamente, contra os crimes de colarinho branco, talvez ele se torne mesmo um membro da classe média.
E o Caetano Veloso?... Li, numa das suas crônicas dominicais, que ele escreveu que é da classe média. Como, se tem um apartamento na Vieira Souto?... Envergonha-se ele, parece, com o fato de ser rico. Como se exibe muito, artisticamente, para plateias mais humildes (já se apresentou até nos subúrbios cariocas), provavelmente se identifica mais com elas do que com os abonados. E, diga-se a seu favor, que não se vêm nele demonstrações de sinal de riqueza, como naqueles que bradam seu interesse visceral pelos problemas sociais.
Fica descartado, então, o Caetano Veloso como o vilão dessa mensagem eletrônica. Safado, ele não é, mas que é rico, não há como negar.
Quem será o safado?.... São tantos os suspeitos neste Brasil de hoje.

Deu bode também na Internet.
Postaram no Facebook um bode prostrado num celeiro com um texto na língua inglesa, porque se trata de uma reportagem de um fato que aconteceu na cidade de Oakland.
Dizem que uma imagem vale por mil palavras, mas essa postagem prova que não, pois, depois da leitura, tomamos conhecimento da história, quase ficcional para crianças, que levou o bode àquela triste situação.
Como tenho amigos virtuais que não conhecem o idioma inglês (a nossa obrigação é conhecer a língua portuguesa), fiz uma tradução meio rombuda para que eles saibam o que vai além daquela imagem. Aqui vai:
“Na Califórnia, um bode chamado Sr.G. ficou extremamente deprimido, como se vê abaixo, depois que o separaram de um burro com quem viveu por muitos anos.
Os dois viviam com um amontoado de animais de propriedade de uma mulher que mal podia cuidar de si mesma, quanto mais de dezenas de cães e mais três outros animais da fazenda.
Assim, o burro e o bode foram separados, transferidos para lugares diferentes.
Percebendo que o bode caíra em profunda tristeza, deixando de comer, um voluntário concordou em dirigir por 14 horas para juntar os dois.
Assista ao vídeo e veja como o Sr.G ficou quando viu Jellybean, o burro.”
Deu pinotes de alegria para todos os lados.

Os internautas que colocam animais, e também relacionamentos com os dito cujos, são incontáveis, assim, do Sr.G e Jellybean, passamos para o elefante e o cachorro. No vídeo, vemos que nunca passaram por momentos melancólicos, pelo contrário, a alegria reina absoluta, muito mais por parte do cão do que do elefante, que serve de escada para ele e de trampolim. Quando os dois estão no lago, que é o cenário de quase toda a duração do vídeo, o labrador sobe pelo corpo do seu amigão, que se agacha, e, lá de cima, mergulha como um Johnny Weissmuller canino. Essa manobra se repete por duas ou três vezes. Num dado momento, o cachorro não mergulha, prefere usar a tromba, que se encontrava na posição exata, de tobogã.  Que bela vida de cachorro.
Em terra firme, as patas do elefante se transformam em colunas por onde o seu amiguinho anda sabendo que não receberá um pisão.
Uma moça de biquini, que a todo momento está montada no paquiderme, é mera coadjuvante desse vídeo.
Nós, que lemos “A Viagem do Elefante”, de José Saramago, acreditamos que Salomão não seria capaz de realizar os milagres do elefante desse vídeo.

(*) Esta é uma informação tão difícil de ser confirmada, quanto irrelevante, pois que a patota que vive naquela região independe de fronteiras. Há cidades alemãs cercadas de terras suíças e vice-versa, ora o Rio Reno é fronteira, ora era é todo alemão, ora suas duas margens são suíças. Consta que somente Guilherme Tell sabia explicar aquela situação, mas jogaram-lhe um relógio cuco na cabeça e ele perdeu a fala, passando a delimitar as regiões com sinais. Deu no que deu. O leitor que quiser se divertir pode digitar Schaffhausen no Google Maps e seguir a linha da fronteira.

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