------------------------------ ------------------------------ ----------------
O BISCOITO MOLHADO
Edição 4901 Data: 11 de julho de 2014
------------------------------ ------------------------------ ----------------
CARTAS DOS LEITORES
-”A visita de Brahms ativou meus febris neurônios. Fizeram, em priscas eras, uma biografia do ainda imberbe com muito açúcar. Era o Robert Walker, que foi casado com a Jennifer Jones. Foi chutado em troca de um produtor que fez a carreira dela. Ou está tudo embaralhado?
A Clara era vivida pela Katherine Hepburn e o pobre marido, como de praxe, era o Paul Henreid. Salvava-se a música, não pude esquecer o filme graças a ela, calcule uns 60 ou mais anos dessa pachouchada.” Rosa Grieco
BM: Nossa amiga se reporta à visita do grande compositor alemão à redação do Biscoito Molhado semanas antes da Copa do Mundo, ou seja, ele não veio assistir à acachapante vitória da sua Alemanha sobre a nossa seleção.
O filme de que fala a Rosa é “Sonata de Amor” (Song of Love).
Abaixo, o que diz a resenha da fita.
Em 1839, a pianista Clara Wieck (Katherine Hepburn), numa apresentação ao rei, desobedece ao seu pai, emérito professor de piano e toca uma composição de Robert Schumann (Paul Heinreid) por quem está apaixonada. Furioso porque o compositor era pobre e desconhecido, o Sr. Wieck se interpõe entre os dois. Franz Liszt (Henry Daniell), que era uma espécie de pop-star na época, divulga as composições de Schumann, resolvendo parte do problema.
Em 1849 é que aparece o jovem Brahms (Robert Walker) no lar do casal, onde se depara com oito crianças. Robert Schumann logo descobriu a genialidade do jovem e o apresentou ao mundo musical.
Os primeiros sintomas da doença mental de Schumann se manifestam, enquanto Brahms se apaixona por Clara. Ele chega a cuidar dos seus filhos, com o amigo internato num sanatório, quando Clara Schumann, exímia pianista e também compositora, dá concertos para ganhar o leite das crianças.
No início do filme, ela estava com uns vinte anos de idade, e Katherine Hepburn, que a personificou, com quarenta anos, mas ninguém nota.
Conclusão: os neurônios da Rosa nada têm de febris.
- Ouvi o Rádio Memória que homenageou Marlene, depois li a reprodução desse programa no Biscoito Molhado. Tanto como ouvinte, como leitor, fiquei pouco satisfeito por não ter sido destacada, como devia, a rivalidade entre a Marlene e a Emilinha. Será pelo fato de o Sérgio Fortes e o redator desse periódico terem vivido mais o antagonismo entre Maria Callas e Renata Tebaldi? - Luca.
BM: Há muitas diferenças; a maior, talvez, seja o fato de a Maria Callas reinar no La Scala de Milão e a Tebaldi, no Metropolitan Opera House de Nova York, porque num só teatro não cabiam duas rainhas. No caso das duas cantoras brasileiras, o espaço tinha de ser um só, a Rádio Nacional (A TV Globo da época), que, na realidade, fomentou essa “briga”.
Quanto ao fato de não ter sido explorado como devia a contenda entre as fãs, bem entendido, da Emilinha e da Marlene, transcrevemos um depoimento desta que se acha no livro “As Divas da Rádio Nacional”, de Ronaldo Conde Aguiar.
“Eu estava recém-casada com Luís Delfino. Tive um problema de gravidez e fui parar no hospital. Quando saí, precisei voltar logo à rádio, mesmo ainda não recuperada. Na saída do elevador da Rádio Nacional, após o programa, com Venílton Santos de um lado e Luís Delfino de outro, vi uma menina que estava me esperando, loura, com tranças enormes. Ela olhou para mim com uma cara tão meiga, pedinte, que pensei: “Aquela menina, naturalmente, está encabulada, quer um autógrafo. Deixa eu ir lá falar com ela”. Delfino não quis saber da história: “Nada disso. Vamos direto para casa. Você já fez o programa, está muito cedo para ficar badalando.” E isso com os seguranças da rádio por perto. Tive uma peninha da menina... Resolvi ir até lá, não custava nada. Quando cheguei perto dela, ela fez assim: segurou meu rosto e, de surpresa, me deu uma joelhada por baixo da barriga. Era fã da Emilinha, voltei para o hospital.”
Era como a rivalidade entre clubes de futebol; não foi à toa que o cronista esportivo Mário Filho declarou que a Emilinha x Marlene era o Fla x Flu de quem não gostava de futebol, embora, no tempo áureo da Rádio Nacional, não houvesse embates violentos entre os torcedores de futebol nos estádios.
-Como os desencontros de horário impedem que você pegue o meu táxi, na volta do trabalho, de Maria da Graça à Rua Modigliani, pergunto: como está o metrô nesta Copa do Mundo? Albino
BM: Não posso dizer, Albino, que está muito cheio, lotado, porque antes dos jogos do Brasil ou mesmo no estádio do Maracanã, saio do trabalho umas cinco horas antes para não viajar feito sardinha em lata. Uma sardinha em lata multinacional, com brasileiros, argentinos, chilenos e até mesmo americanos. Falando dos yankees, não sei se você leu no jornal que eles debocharam da locutora que traduz para a língua deles os avisos dados aos passageiros em cada parada nas estações. Disseram eles que a pronúncia era parecida com a dos índios que receberam os colonizadores ingleses ou algo parecido. Eles mereciam ser chamados de motherfucker com um belo acento britânico.
Voltando ao metrô, ou continuando nele, já esteve mais barulhento e mais verde-amarelo mesmo nos horários de menor fluxo de gente. Era irritante, na saída do trem da estação de Triagem, ouvir o Luiz Penido da Rádio Globo anunciar a chegada à estação do Maracanã como se estivesse narrando o gol de uma partida de futebol. Logo em seguida, na partida para São Cristóvão, voltava a mesma estridente narrativa de um gol. Os piores momentos para nós, passageiros, era sermos agredidos com essa poluição sonora antes das 6h da manhã, quando ainda estamos com a cama nas costas, ou seja, quando não despertamos completamente. No dia seguinte à acachapante derrota do Brasil para a Alemanha, a minha primeira curiosidade, ao pisar o chão do trem do metrô, era saber se continuariam a pôr essa gravação. Não, não colocaram, houve uma única exceção com um e maquinista deve ter brigado com a mulher e dormido no sofá.
As camisas amarelas dos passageiros, depois da derrocada no Mineirão, voltaram para o fundo do baú como a viola do Paulinho.
Quando eu pegar o seu táxi, Albino, conto mais coisas do nosso metrô.
Até lá.
Nenhum comentário:
Postar um comentário