Total de visualizações de página

sexta-feira, 25 de julho de 2014

2657 - Fifa Fun Fest


------------------------------------------------------------
O BISCOITO MOLHADO
Edição 4907                       Data:  20 de  julho de 2014
-------------------------------------------------------------------

DEBATE AUTÊNTICO NO SABADOIDO

-Com o controle remoto na mão, mudando os canais de televisão na velocidade da luz...
-Zapeando. - aparteou-me o Daniel.
-Zapeando, parei num canal em que se tratava das consequências da Copa do Mundo.
-Júlio César com dores na coluna de tanto se abaixar para apanhar bola no fundo das redes é uma das consequências. - arpoou a Gina.
-Havia, nessa mesa redonda, um político do PMDB, outro deputado, cuja singularidade do nome não dá para esquecer por mais que se queira: Sibá.
-Sabiá?!...
-Pois é, Daniel, essa semelhança com sabiá fixa esse nome na nossa cabeça.
-Ele não é deputado, é senador e pelo Acre. Sibá...
O Claudio tentou, mas não conseguiu, naquele momento, dizer o sobrenome do senador.
Então, prossegui:
-Era um debate, mas sem as suas características. Todos estavam sorridentes, sem elevar o tom da voz, mesmo discordando. Isso é inusitado, sabendo que muitos pensam que decibéis na voz é argumento.
-Ganhar no grito. - atalhou a Gina.
-Sibá Machado. - bradou o Claudio com a entonação, imagino, com que Arquimedes gritou “Eureka”.
-Agora, já sei. O Sibá Machado afirmou que entraram 20 bilhões de reais nos cofres do Brasil com a Copa do Mundo.
E prossegui:
A coordenadora da mesa redonda, uma simpática senhora, para não ficar atrás, na questão de números fantasiosos, aludiu à violência no Brasil e afirmou que são 100 mil homicídios por ano.
-São assassinados um Maracanã por ano no Brasil?
--O Maracanã dos velhos tempos, Gina, sem a geral, porque o de hoje, mal recebe 70 mil pessoas. - interveio o Claudio.
Retomei a palavra:
-As estatísticas mostram um número de homicídios, aqui, por volta de 50 mil. Se ela somasse com as 40 mil mortes do trânsito, então, sim, chegaríamos perto dos 100 mil.
-E ninguém contestou, Carlinhos?
-Gina, não contestaram nem o valor estrambótico do senador Sibá Machado.
-E o cara do PSDB disse alguma coisa?- quis saber meu irmão.
-Ele disse que, crescendo, anualmente, a 1%, só  daqui a 150 anos o Brasil chega ao PIB atual da Alemanha.
-É um tal de puxar o saco dos alemães agora.- indignou-se a Gina.
-Eu não diria puxa-saquismo e sim reconhecimento de um fato. - retruquei.
-Disseram que eles construíram um resort, em Santa Cruz de Cabrália, que deixariam para os brasileiros. Mentira! É um empreendimento imobiliário que existe há 50 anos.
-Foram os jogadores que disseram a mentira?
Ignorou a minha pergunta e prosseguiu na sua encrespação:
-As cores da bandeira da Alemanha são amarelo, preto e vermelho, mas colocaram a camisa rubro-negra para comprar a torcida. Cadê o amarelo?
-Mas, Gina, você mesma me disse, dois sábados atrás, que a Adidas impôs essa camisa.
-A Adidas não impõe nada. - não se deu por vencida.
-Se fosse o caso de comprar a torcida, não jogariam contra a Argentina com a camisa tradicional. - argumentei.
-Essa torcida de brasileiros pela Alemanha não dá para entender. Eles enfiam sete gols na gente e ainda vamos torcer por eles?
-Gina, eu torci pela Alemanha; não dava para aguentar os argentinos; as musiquinhas provocativas...
-Carlinhos, zoar é natural entre os torcedores. - entraram no debate o Claudio e o Daniel.
-Claudio, os brasileiros, justiça seja feita, acolheram os estrangeiros com uma gentileza que, confesso, me surpreendeu. Os elogios dos turistas aos anfitriões foram quase unânimes, quando se foram. Os argentinos, por outro lado, já entraram no Brasil com refrãos hostis.
-Discordo, Carlão, porque as torcidas são assim mesmo.
Às palavras do Daniel, seguiram-se as do Claudio:
-Carlinhos, se os torcedores brasileiros fossem à Argentina para assistir à Copa do Mundo fariam a mesma coisa.
-Não sei se chegariam a esse ponto que resvalou pelo racismo; a Argentina caiu muito em relação ao Brasil, e essa manifestação hostil, parece-me que vem de um sentimento de inferioridade.
-Eu torci pela Argentina contra a Alemanha. - afirmou o Claudio.
-A TV Globo estava nojenta na torcida pela Alemanha, até mudei de canal. - vociferou a Gina para, em seguida, amainar sua veemência com um comentário:
-O Luca me disse, uma vez, que a palavra “nojenta” é muito forte. Ou foi outra palavra?...
-E você, Daniel, torceu por quem?
-Carlão, eu já disse que imaginava que os alemães fossem antipáticos, mas, depois, na agência dos Correios, em Copacabana, os turistas de que eu mais gostava de atender eram os da Alemanha. Na decisão, eu não ficaria chateado se a Argentina ganhasse. Na Fifa Fan Fest, a parte em que estavam os argentinos era muito bonita.
-E eles são sul-americanos como nós. - acrescentou a Gina.
-Eu não vou por esse lado.
O fato de o Daniel não ir por esse lado acarretou um debate entre mãe e filho que levou a Gina a reclamar da sua voz de trombone.
-Minha voz é essa mesma.
-Mas não precisa ser tão alta.
Retomei a palavra:
-Os jogadores da Alemanha fizeram doações em dinheiro aos funcionários do talresort, o Ozil vai custear 23 operações de crianças brasileiras; até os ganeses passaram o chapéu entre eles para fazer um agrado aos que os serviram no hotel. O David Luiz, que chorou porque não pôde ver o sofrido povo brasileiro feliz, doou alguma coisa? Algum jogador da seleção brasileira doou alguma coisa?
-Nada; foi outra vergonheira deles. - interveio o Claudio com indignação.
Depois, a discussão sobre a Copa do Mundo ameaçou a se alastrar, como um incêndio que não foi bem apagado e eu me reportei, então, à morte do árbitro Armando Marques.
-No obituário dele, falam mais dos seus erros do que dos seus acertos; e o maior dos erros foi ter dado o Santos como ganhador da decisão por pênaltis, quando a Portuguesa de Desportos ainda tinha uma remotíssima chance de empatar.
-Quando o Armando Marques se deu conta do engano, chamou os jogadores da Portuguesa de Desportos, que já estavam no vestiário, de volta para o campo, eles sumiram. O Badeco saiu pela rua de cueca. - lembrou o Claudio.
-Com isso, aconteceu um fato inusitado: o campeonato paulista ficou com dois campeões. - disse a Gina.
-Agora, eles se querem fazer de vítima, porque caíram para a segunda divisão e culpam o Fluminense de recorrer ao tapetão. - bradou o Daniel.
-Esse Juca Kfouri é nojento defendendo a Portuguesa. - retorquiu a Gina.
Como o assunto passou a ser o tricolor das Laranjeiras, o Sabadoido seguiu sem confrontos de pensamentos.






Nenhum comentário:

Postar um comentário