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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4890 Data: 23 de junho de 2014
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A FESTA DA COPA NO SABADOIDO
-Daniel, vi, no Facebook, as suas fotos nas areias de Copacabana na FIFA FAN FEST. - foram as minhas primeiras palavras quando ele apareceu na cozinha ainda estremunhando.
-Ele pegou mulheres de todos os países. - interveio o Claudio com uma mescla de orgulho e gozação.
-Eu vi o Daniel abraçado com duas holandesas.
-Viu, Carlão?- despertou.
-Deu para fazer um suco de laranja? - indaguei maliciosamente.
-Não deu tempo, eu fui muito requisitado internacionalmente.
-Eu lhe vi abraçado com holandesas, mas também com mexicanos, argentinos e holandeses. - alfinetei.
-Abracei os mexicanos porque, antes do Senna, o meu ídolo era o Chaves; quanto aos chilenos e argentinos foi política de boa vizinhança.
-Viu, Daniel, você saiu da Agência dos Correios da Nossa Senhora de Copacabana, onde se esbaldou na FIFA FAN FEST da última Copa, foi para a Casa da Moeda, em Santa Cruz, e não deixou de comparecer à festa da Copa em plena segunda-feira.
-Carlão, eu trabalhei no domingo. - justificou-se .
-Foi o repouso do guerreiro. - aprovou seu pai.
-É isso: não faltou nada nas festividades.
-Faltaram, Carlão, as suecas.
-Ah, sim, as suecas; esqueci-me delas.
-Culpa do Cristiano Ronaldo. Ele fez aqueles gols contra a Suécia, gritando “eu estou aqui”, mas quero eu lá saber que ele está aqui!... O que me interessava é que as suecas estivessem aqui.
-Eu lhe vi também com uma brasileira.
-Ah, a Roberta. - disse com um gesto de quem desdenhava a minha piada.
-Falando em primas, a Ana Clara...
-A Ana Clara não é minha prima, a Verônica, sim. - interrompeu-me.
-Pois a Ana Clara recebeu de presente de aniversário do padrinho um jantar num árabe de Copacabana com direito a levar a mãe.
-Então, não foi presente de grego, foi um presente de árabe. - aproveitou para fazer graça.
-O restaurante estava repleto.
-E não há nenhum país árabe disputando esta Copa. - interferiu dee novo.
-O mais próximo é o Irã, que não é país árabe. - manifestou-se o Claudio.
-Nesse almoço – prossegui – a Verônica deixou a bolsa pendurada nas costas da cadeira; houve, então, um momento em que um sujeito jogou, despretensiosamente, entre aspas, o casaco por cima da sua bolsa.
-E furtou? - antecipou-se meu irmão.
-Não, porque o André, amigo do patrocinador do jantar, percebeu e alertou a Verônica.
-Isso é coisa de argentino. - disse meu irmão.
-Bem, houve um almoço na Rua Primeiro de Março, que contou até com a presença do Dieckmann, anos antes de eu conhecê-lo, em que furtaram a bolsa de uma amiga minha com esse expediente. Tratava-se de uma quadrilha argentina, soube-se mais tarde, quando eles foram presos. Mas, nesse caso agora, são muitos os suspeitos, inclusive os ladrões de casa. - tagarelei.
-Na minha época dos correios, eu gostava de receber os turistas alemães, mas, lá, em Copacabana, vi poucos.
-Eles estão na Bahia, Daniel.
-Eu sei, velho. - reagiu.
-Será que os alemães, que possuem uma grande ética de trabalho, vão ser contaminados pela preguiça baiana? - brinquei.
-Se os torcedores da Alemanha se atreverem a experimentar a comida baiana, vão conhecer a versão baiana do Mal de Montezuma. - manifestou-se o Claudio.
Enquanto isso, Daniel cortou uma bisnaga, besuntou-o com manteiga e passou a regalar-se. Voltei-me, então, para meu irmão.
-Você leu no “Há 50 anos” do Globo, que o mainá do Garrincha foi encontrado na gaiola com o pescoço torcido?
-O Garrincha era passarinheiro, o apelido dele é o nome de um pássaro.
Ouvi meu irmão e prossegui:
-Esse mainá foi dado ao Garrincha, quando ele retornou campeão da Copa no Chile, pelo Carlos Lacerda.
-Em 1962, ele era o governador da Guanabara.
-Pois é, Claudio. Naquela época, o Lacerda era amado ou odiado, não havia meio termo. O compositor Antonio Maria afirmava que o presente do Lacerda era de mau agouro.
-Lacerda era chamado de “Corvo”. - acrescentou.
-Poucos meses depois da Copa, o futebol do Garrincha caiu muito, não por causa do azar, mas pelos excessos de infiltrações que deram no seu joelho. Mas esse pessoal não é, intelectualmente, ilustrado... - insinuei.
-Carlinhos, o Garrincha gostava muito de passarinho para torcer o pescoço do mainá.
-Ele contou, mais de uma vez, que, em Pau Grande, matou alguns passarinhos com atiradeira.
Houve, então, uma pequena polêmica entre nós que se encerrou com o entendimento que a Elza Soares foi a criminosa.
-Carlão, está gostando dos jogos?
-Daniel, depois da pobreza do futebol do campeonato brasileiro, que me faz mudar logo de canal de televisão, tenho assistido a partidas muito interessantes.
-Escretes que pareciam fracos, como o da Costa Rica, viraram bichos papões. - interveio o Claudio.
-Não houve um só jogo que, de ruim, me lembrasse do campeonato carioca.
E continuei:
-Por melhor que esteja o nível do certame, dos três horários das pelejas, eu só vejo um; não consigo passar disso. Já foi tempo.
-O velho assiste aos três, eu também, quando posso.
E emendou a pergunta:
-Você acha que a Espanha entregou os pontos porque a FIFA prometeu que a Copa de 2026 vai ser lá?
Cláudio respondeu à minha frente:
-Em 1998, houve aquele problema estranho com o Ronaldo no dia da decisão com a França, e, na copa seguinte, o Brasil foi ajudado pela arbitragem no jogo contra a Turquia e contra a Bélgica.
-Mas velho, a seleção de 2002 era boa.
-Tudo bem, Daniel, mas os juízes não erravam contra o Brasil. - contra-atacou.
-Eu acho que o pessoal da teoria da conspiração tem uma imaginação muito fértil, mas de uma coisa não tenho dúvidas: a FIFA é uma organização mafiosa.
-Deu no New York Times. - completou o Claudio as minhas palavras.
-Saiu um corrupto, João Havelange e entrou outro, o Joseph Blatter.
-O Platini tentou o cargo de presidente da FIFA.
-Aquilo é para corrupto profissional, Daniel. - não o deixei prosseguir.
Ele se levantou, deixando farelos de pão espalhados pela mesa, e bradou:
-Enquanto houver FIFA FAN FEST, está bom para mim.
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