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segunda-feira, 28 de julho de 2014

2660 - sobre reis e soberanos


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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4910                                Data:  24 de  julho de 2014
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UM SAMBISTA NO RÁDIO MEMÓRIA

O Homem-Calendário lembrou que, no dia 20 de julho de 1897, se deu a sessão inaugural da Academia Brasileira de Letras.
Muitas coisas aconteceram no dia 20 de julho que deveriam entrar na história e entraram e outras que não deveriam e entraram. Mas isso acontece com todos os dias.
Enquanto o Homem-Calendário arrolava outras ocorrências, a Academia Brasileira de Letras se fixava na minha mente. A ideia do Machado de Assis era boa, mesmo imitando os franceses, ou por isso mesmo. A Academia, no transcorrer do tempo, teve seus críticos, o mais feroz deles foi Agripino Grieco, pai da nossa amiga Rosa.  Disse ele quando Carneiro Leão se tornou imortal: “Até agora, os animais tinham entrado um a um, já dois de cada vez é demais(*).” Injustiça, Carneiro Leão foi um grande gramático, o Evanildo Bechara dos nossos avós, que replicou e treplicou com Ruy Barbosa.
Mas deixemos de delongas, como diz o Sérgio Fortes que, por sinal, deixou o papel de Homem-Calendário, pois o convidado do Rádio Memória é o sambista Monarco.
No meio das saudações habituais, Sérgio Fortes citou a observação deste periódico sobre a quietude incomum do Simon Khoury no programa em que a pianista Fernanda Canaud foi a convidada e ele logo se assanhou:
-Monarco, eu lhe pedi um samba, uma vez, sobre dois homens brigando por uma mulher para tocar no meu programa à noite na Rádio Jornal do Brasil e ele foi um sucesso.
-Eu me assustei, pois não gosto de fazer nada de encomenda, ainda mais com poucas horas disponíveis. Noel Rosa havia composto um sobre esse tema...
E cantarolou o samba de Noel.
Jonas interveio:
-Vamos ouvir depois.
E titubeou:
-Não?... Agora?... Então, vamos.
E fomos ao “Duelo Fatal”.
Depois, Jonas Vieira esclareceu que Monarco está lançando um novo disco com seus guardados, ou seja, com sambas seus que ficaram num baú sem serem finalizados.
-Meu filho Mauro Diniz me incentivou, levamos os sambas à gravadora e foram aprovados.
E passou a falar de um sonho seu, o de ser parceiro do Mário Lago, que teve o prazer de conhecer de perto, quando rapaz, mas a parceria não se formou; agora, tinha a felicidade de musicar versos do seu ídolo em “Poeta Apaixonado”.
Enquanto todos vibravam com o “Poeta Apaixonado”, Simon Khoury assinalava que o coro funcionava como um eco e lhe perguntou:
-Monarco, é verdade que você compôs um samba com 10 anos de idade?
Com 8 anos, corrigiu, quando morava em Nova Iguaçu, escreveu sabu, Rio Grande do Sul, queria, enfim, rimar e saiu um samba.
E prosseguiu:
-Depois, mudei-me para Oswaldo Cruz, onde moravam os bambas, Manaceia, Alcides, Chico Santana e compus com eles.
Revelou que gostava dos sambas de melodia refinada, letras poéticas, da linhagem nobre do samba de raiz, por isso, juntou-se aos bons para ser um deles. Queria distância dos sambas corridos, dos pagodes, que tantos malefícios causam aos nossos tímpanos.
-Vamos ouvir “Crioulinho Sabu”. - interveio o Jonas Vieira.
Samba esse que nos agradou ainda mais pela voz da criançada.
 -Vamos destacar os solistas. - pediu o Sérgio Fortes, lembrando-se, acreditamos, do coro infantil da Orquestra Sinfônica Brasileira que, às vezes, é ouvido no seu programa da Rádio MEC.
-São crianças que meu filho arregimentou e mais meus netos João Matheus e Thereza Beatriz, ela sola a segunda parte.
-Por que Monarco? - a pergunta veio do Sérgio Fortes.
E ele contou que, com 6 anos de idade, ainda em Nova Iguaçu, um menino lia um gibi com um herói chamado “Monako”, ele riu. “Tá rindo de quê, Seu Monako”, e passaram a chamá-lo de “Monako”, que lhe colou como visgo.
-Já, em Oswaldo Cruz, algum cachaça deve ter me chamado de Monarco.
-”Monarco: Passado de Glórias, 80 anos, é o nome do CD de sambas inéditos.”- soou a voz do Jonas Vieira.
E outro samba do novo disco veio à baila “Verifica se de fato”.
Monarco esclareceu que seu parceiro era o Ratinho de Pilares e que Zeca Pagodinho cantava a segunda parte.
Uma pergunta do Simon Khoury introduziu a nova atração musical:
-”Fingida” foi feito para uma pessoa em especial?
Respondeu afirmativamente, porém, sendo um aristocrata do samba, não declinaria seu nome. Divagou pelos sambas seus esquecidos que, entoados, no presente, o surpreendem quando é informado que o autor é ele mesmo. Caso esse que aconteceu também com Cartola, segundo testemunha sua.
-Que samba bonito este. - disse ele ouvindo a cantora Sônia Lemos que o visitava.
-Está maluco, Cartola?... É seu. - trouxe-o à realidade Dona Zica.
Logo após, outro grande artista era lembrado: Sivuca.
-Sivuca me dizia: “Monarco, quando a música é boa, ela vai sozinha”.
E foi também lembrado o tempo em trabalhou na “Notícia” com Jonas Vieira como guardador de carros.
-A audição de “Fingida” ficou para depois da “Pausa para Meditação”, do Fernando Milfont.
  Monarco explicou que o samba contou com a participação do Tuco, um garoto de São Paulo, que lhe foi apresentado pela Cristina Buarque, e é chamado de “Cristino” tamanho o seu interesse pela música popular brasileira.
Coube ao Jonas Vieira fazer a pergunta que não queria calar:
-Monarco, nos seus sambas, quando você não exalta a Portela você manda bala nas mulheres?
No meio dos risos, Jonas Vieira justificou sua pergunta citando “Fingida”, Traidora”...
Monarco se defendeu alegando que levou 60 anos para conhecer a mulher da sua vida, Olinda. Viveram juntos por 10 anos antes de casar. Guilherme de Brito foi padrinho, juntamente com o colunista Ian e citou Nélson Cavaquinho, padrinho do seu segundo casamento. Concluindo com o chiste de que até nisso os dois foram parceiros.
-De qual o elogio você mais gostou?
Mal sabia o Simon Khoury que, com essa pergunta, levantava a bola do Jonas Vieira:
-Não é por me encontrar aqui, mas foi o elogio do Jonas Vieira. “A cadência bonita do samba de Monarco”.
E percorreu o tempo em que trabalhava no jornal, deprimido porque o mundo discográfico não levava a sério suas obras musicais, e era animado pelo Juarez Barroso e o atual titular do Rádio Memória.
-Quem é Quininho? - transportaram-no para outras reminiscências.
-Quininho era condutor da Central do Brasil, amigo do Carlos Cachaça. Grande compositor da Portela, as letras dele, bem elaboradas,  me lembram Silas de Oliveira.
-Ele compôs um samba “Estação Primaveril” com um problema: na segunda parte, a melodia trepava. Falei com Quininho e ele me liberou para mexer no que eu quisesse.
E fomos agraciados com a voz da Marisa Monte cantando “Estação Primaveril”.
-Segundo o Monarco, Quininho era uma caneta. - disse o Sérgio Fortes o que, provavelmente, escutara dele no momento em que o samba era tocado.
-O seu CD já foi lançado na Portela?
-Já lancei. No dia 24 de julho será lançado no Imperator (já foi).
E enfatizou que, no dia 13 de agosto, haverá o lançamento do seu disco na Academia Brasileira de Letras com a presença do Nélson Sargento, 90 anos de idade. Imaginamos que a reunião da Velha Guarda da Portela com seu presidente de honra e do Nélson Sargento, presidente de honra da Mangueira, na Academia Brasileira de Letras, arrancaria aplausos até do Agrippino Grieco.
Ouvimos, em seguida, o samba, de 1967, “Tristonha Saudade”, na voz de Beth Carvalho.
Na cadência bonita do samba de Monarco, encerrou-se mais um Rádio Memória.

(*) o Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO insistirá eternamente que a frase era: “Até agora, os animais tinham entrado um a um, já três de cada vez é demais.”, que exprime melhor o pensamento aguçado do Agripino.

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