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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4910 Data: 24 de julho de
2014
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UM SAMBISTA NO RÁDIO MEMÓRIA
O Homem-Calendário lembrou que, no dia
20 de julho de 1897, se deu a sessão inaugural da Academia Brasileira de
Letras.
Muitas coisas aconteceram no dia 20 de julho
que deveriam entrar na história e entraram e outras que não deveriam e
entraram. Mas isso acontece com todos os dias.
Enquanto o Homem-Calendário arrolava
outras ocorrências, a Academia Brasileira de Letras se fixava na minha mente. A
ideia do Machado de Assis era boa, mesmo imitando os franceses, ou por isso
mesmo. A Academia, no transcorrer do tempo, teve seus críticos, o mais feroz
deles foi Agripino Grieco, pai da nossa amiga Rosa. Disse ele quando Carneiro Leão se tornou
imortal: “Até agora, os animais tinham entrado um a um, já dois de cada vez é
demais(*).” Injustiça, Carneiro Leão foi um grande gramático, o Evanildo
Bechara dos nossos avós, que replicou e treplicou com Ruy Barbosa.
Mas deixemos de delongas, como diz o
Sérgio Fortes que, por sinal, deixou o papel de Homem-Calendário, pois o
convidado do Rádio Memória é o sambista Monarco.
No meio das saudações habituais, Sérgio
Fortes citou a observação deste periódico sobre a quietude incomum do Simon
Khoury no programa em que a pianista Fernanda Canaud foi a convidada e ele logo
se assanhou:
-Monarco, eu lhe pedi um samba, uma vez,
sobre dois homens brigando por uma mulher para tocar no meu programa à noite na
Rádio Jornal do Brasil e ele foi um sucesso.
-Eu me assustei, pois não gosto de fazer
nada de encomenda, ainda mais com poucas horas disponíveis. Noel Rosa havia
composto um sobre esse tema...
E cantarolou o samba de Noel.
Jonas interveio:
-Vamos ouvir depois.
E titubeou:
-Não?... Agora?... Então, vamos.
E fomos ao “Duelo Fatal”.
Depois, Jonas Vieira esclareceu que
Monarco está lançando um novo disco com seus guardados, ou seja, com sambas
seus que ficaram num baú sem serem finalizados.
-Meu filho Mauro Diniz me incentivou,
levamos os sambas à gravadora e foram aprovados.
E passou a falar de um sonho seu, o de
ser parceiro do Mário Lago, que teve o prazer de conhecer de perto, quando
rapaz, mas a parceria não se formou; agora, tinha a felicidade de musicar
versos do seu ídolo em “Poeta Apaixonado”.
Enquanto todos vibravam com o “Poeta Apaixonado”,
Simon Khoury assinalava que o coro funcionava como um eco e lhe perguntou:
-Monarco, é verdade que você compôs um
samba com 10 anos de idade?
Com 8 anos, corrigiu, quando morava em
Nova Iguaçu, escreveu sabu, Rio Grande do Sul, queria, enfim, rimar e saiu um
samba.
E prosseguiu:
-Depois, mudei-me para Oswaldo Cruz,
onde moravam os bambas, Manaceia, Alcides, Chico Santana e compus com eles.
Revelou que gostava dos sambas de
melodia refinada, letras poéticas, da linhagem nobre do samba de raiz, por
isso, juntou-se aos bons para ser um deles. Queria distância dos sambas
corridos, dos pagodes, que tantos malefícios causam aos nossos tímpanos.
-Vamos ouvir “Crioulinho Sabu”. -
interveio o Jonas Vieira.
Samba esse que nos agradou ainda mais
pela voz da criançada.
-Vamos
destacar os solistas. - pediu o Sérgio Fortes, lembrando-se, acreditamos, do
coro infantil da Orquestra Sinfônica Brasileira que, às vezes, é ouvido no seu
programa da Rádio MEC.
-São crianças que meu filho arregimentou
e mais meus netos João Matheus e Thereza Beatriz, ela sola a segunda parte.
-Por que Monarco? - a pergunta veio do
Sérgio Fortes.
E ele contou que, com 6 anos de idade,
ainda em Nova Iguaçu, um menino lia um gibi com um herói chamado “Monako”, ele
riu. “Tá rindo de quê, Seu Monako”, e passaram a chamá-lo de “Monako”, que lhe
colou como visgo.
-Já, em Oswaldo Cruz, algum cachaça deve
ter me chamado de Monarco.
-”Monarco: Passado de Glórias, 80 anos,
é o nome do CD de sambas inéditos.”- soou a voz do Jonas Vieira.
E outro samba do novo disco veio à baila
“Verifica se de fato”.
Monarco esclareceu que seu parceiro era
o Ratinho de Pilares e que Zeca Pagodinho cantava a segunda parte.
Uma pergunta do Simon Khoury introduziu
a nova atração musical:
-”Fingida” foi feito para uma pessoa em
especial?
Respondeu afirmativamente, porém, sendo
um aristocrata do samba, não declinaria seu nome. Divagou pelos sambas seus esquecidos
que, entoados, no presente, o surpreendem quando é informado que o autor é ele
mesmo. Caso esse que aconteceu também com Cartola, segundo testemunha sua.
-Que samba bonito este. - disse ele
ouvindo a cantora Sônia Lemos que o visitava.
-Está maluco, Cartola?... É seu. - trouxe-o
à realidade Dona Zica.
Logo após, outro grande artista era
lembrado: Sivuca.
-Sivuca me dizia: “Monarco, quando a
música é boa, ela vai sozinha”.
E foi também lembrado o tempo em
trabalhou na “Notícia” com Jonas Vieira como guardador de carros.
-A audição de “Fingida” ficou para
depois da “Pausa para Meditação”, do Fernando Milfont.
Monarco
explicou que o samba contou com a participação do Tuco, um garoto de São Paulo,
que lhe foi apresentado pela Cristina Buarque, e é chamado de “Cristino”
tamanho o seu interesse pela música popular brasileira.
Coube ao Jonas Vieira fazer a pergunta
que não queria calar:
-Monarco, nos seus sambas, quando você
não exalta a Portela você manda bala nas mulheres?
No meio dos risos, Jonas Vieira
justificou sua pergunta citando “Fingida”, Traidora”...
Monarco se defendeu alegando que levou
60 anos para conhecer a mulher da sua vida, Olinda. Viveram juntos por 10 anos
antes de casar. Guilherme de Brito foi padrinho, juntamente com o colunista Ian
e citou Nélson Cavaquinho, padrinho do seu segundo casamento. Concluindo com o
chiste de que até nisso os dois foram parceiros.
-De qual o elogio você mais gostou?
Mal sabia o Simon Khoury que, com essa
pergunta, levantava a bola do Jonas Vieira:
-Não é por me encontrar aqui, mas foi o
elogio do Jonas Vieira. “A cadência bonita do samba de Monarco”.
E percorreu o tempo em que trabalhava no
jornal, deprimido porque o mundo discográfico não levava a sério suas obras
musicais, e era animado pelo Juarez Barroso e o atual titular do Rádio Memória.
-Quem é Quininho? - transportaram-no
para outras reminiscências.
-Quininho era condutor da Central do
Brasil, amigo do Carlos Cachaça. Grande compositor da Portela, as letras dele,
bem elaboradas, me lembram Silas de
Oliveira.
-Ele compôs um samba “Estação
Primaveril” com um problema: na segunda parte, a melodia trepava. Falei com
Quininho e ele me liberou para mexer no que eu quisesse.
E fomos agraciados com a voz da Marisa
Monte cantando “Estação Primaveril”.
-Segundo o Monarco, Quininho era uma caneta.
- disse o Sérgio Fortes o que, provavelmente, escutara dele no momento em que o
samba era tocado.
-O seu CD já foi lançado na Portela?
-Já lancei. No dia 24 de julho será
lançado no Imperator (já foi).
E enfatizou que, no dia 13 de agosto,
haverá o lançamento do seu disco na Academia Brasileira de Letras com a
presença do Nélson Sargento, 90 anos de idade. Imaginamos que a reunião da
Velha Guarda da Portela com seu presidente de honra e do Nélson Sargento,
presidente de honra da Mangueira, na Academia Brasileira de Letras, arrancaria
aplausos até do Agrippino Grieco.
Ouvimos, em seguida, o samba, de 1967,
“Tristonha Saudade”, na voz de Beth Carvalho.
Na cadência bonita do samba de Monarco,
encerrou-se mais um Rádio Memória.
(*) o
Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO insistirá eternamente que a frase era: “Até
agora, os animais tinham entrado um a um, já três de cada vez é demais.”, que
exprime melhor o pensamento aguçado do Agripino.
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