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sexta-feira, 29 de novembro de 2013

2515 - Fla x Flu sem pai nem mãe



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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4315                           Data: 21  de novembro  de 2013
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CHEGANDO DE “ENXOFRE”

Hoje não teremos a “pausa para espinafração”, foi a primeira coisa que me ocorreu quando o Sérgio Fortes anunciou a defecção do Jonas Vieira.
-Onde estaria ele?
E especulou com várias hipóteses; poderia estar na Muralha da China, na eleição da Ângela Merkel, no show do Justin Bieber, e por aí vai.
Citou os santos dos dias, mas nenhum deles com o apelo popular do santo de sobrenome Porres, do domingo retrasado. Falou, em seguida, do aniversário do Flamengo, lembrou-se dos seus amigos flamenguistas para arrematar que não seleciona bem suas amizades. Talvez a surpresa da ausência do Jonas Vieira o tenha levado a se esquecer do flamenguista de quatro costados, e também de quatro pneus, Roberto Dieckmann.
Evidentemente que o tricolor Sérgio Fortes caçoou do rubro-negro Jonas Vieira; aliás, o Fluminense é o pai(*) do futebol do Flamengo e essa briga, diria um Freud futebolístico, tem a ver com o Complexo de Édipo.
E também foi registrado o falecimento em 17 de novembro de 1959 de um dos maiores compositores do século XX, Heitor Villa Lobos.
-Sem mais delongas, vamos à música. - disse o apresentador interino do Rádio Memória.
E anunciou aquele que foi chamado pelo secretário das Culturas da cidade do Rio de Janeiro, Arthur da Távola, de Flautamiro  Carrilho.
Aqui, uma pequena digressão. No “Em Busca do Tempo Perdido”, da minha vida (relevem-me a pretensão), estaria presente Altamiro Carrilho, a que eu assistia, com a sua bandinha, na companhia da minha avó, com a idade em que Marcel Proust só dormia depois do beijo da  mãe.
Ele tocou trechos de “A Dança das Horas”, da ópera “La Gioconda”, de Amilcare Ponchielli.
Em seguida, como no tempo em que apresentava “As Maiores Vozes do Mundo”, na mesma emissora, Sérgio Fortes anunciou “Sabor a Mi”, de Álvaro Carrillo, com o grande tenor mexicano Ramón Vargas. Logo após, aventou a sua desconfiança de ele ser sobrinho do compositor Pedro Vargas. A fealdade dos dois o conduziu a essa suspeita.
-Os dois são extremamente feios, disputam no “fotochart”. - frisou.
Por que ele se reportou à palavra “fotochart”?... Seria uma alusão ao “forfait'” do Jonas Vieira?... Fica a nossa dúvida.
E entrou um passarinho no ar, precisamente o Azulão de Jayme Ovalle e Manuel Bandeira. Boêmio contumaz, Jaime Ovalle deixou uma obra diminuta. Sérgio Fortes se deteve na soprano estadunidense Kathleen Battle, depois de citar que essa composição já foi entoada por Victoria de los Ángeles, Montserat Caballé e Angela Gheorghiu.
- Kathleen Battle é uma grande cantora, mas de uma simpatia... Merece o título de Miss Simpatia. - ironizou.
Lembrei-me, então, de pessoas, nos Estados Unidos, que trabalharam com ela, usavam camisas com os dizeres: “I survive the Battle”.
Quando o “Azulão” voou na sua voz, constatamos mais uma vez que ela tem crédito, apesar do passivo, digo, da antipatia.
E veio o tango mais uma vez, não “Por una cabeza” (já fora feita a mordacidade subjacente do forfait do titular do programa, como assinalamos), tratava-se da gravação “Canaro em Paris”.
-Não sei o nome completo, mas o Peter jura pela saúde uma tia que já morreu que é Francisco Canaro.
Recordei-me de casos contados por amigos meus que serviram o Exército sobre soldados menos imaginativos que chegavam a matar a mãe duas vezes para conseguirem licenças no quartel.
“Canaro em Paris” foi executado pelo Quinteto de Buenos Aires.
O tango é um pensamento triste que se pode dançar. Vai esta frase de Enrique Santos Discépolo no lugar da frase do Jorge Luis Borges, porque ela fugiu do arquivo da minha mente, e nem com a ajuda do Google eu a encontro.
Passou-se, em seguida, para os musicais da Broadway, “O Homem de La Mancha”, baseado no romance de Cervantes que, em maio de 2002, foi eleito pela maioria de escritores de renome internacional, reunidos pelos Clubes dos Livros Noruegueses, como a maior obra de ficção de todos os tempos.
Sérgio Fortes não deixou de aludir à versão brasileira do musical, em 1977, com Paulo Autran, Bibi Ferreira, Grande Otelo e muitos outros. Na hora de escolher uma gravação entre as incontáveis que existem desse musical, falou mais alto a sua formação operística e anunciou um trecho de amor na garganta de um tenor que, infelizmente teve uma morte trágica, em 2007, Jerry Radley. Ele falava e eu era conduzido para outro fato funesto que ocorreu em 1966: a morte do excepcional tenor alemão Fritz Wunderlich, que partiu  com 36 anos de idade devido a uma queda  de  escada. Também era conduzido para o programa da Rádio MEC, “Clube da Ópera”, em 2002, quando essa triste recordação veio à tona.
Como Sérgio Fortes, para a satisfação dos ouvintes que acordam cedo mesmo nos domingos, cultiva de maneira superlativa a descontração, não se deteve no fim de Jerry Radley e comentou que, com ele, aprendeu a pronunciar Dulcineia em inglês.
Mais um musical da Broadway, agora com aquele que considerou extraordinário, como músico, e quase todos concordamos, Leonard Bernstein. E falou  de “On The Town””, produção de 1944, que foi transformado em filme em 1949. Sobre a fita, informou que já passou umas 250 mil vezes na televisão que, assim, não há quem não a tenha visto. Exagerou só um pouquinho: nós assistimos a esse filme intitulado  “Um Dia em Nova York”,  com Frank Sinatra, Gene Kelly e Jules Munshin. Não foi teatralizado no Brasil, talvez por falta de de nomes de proa que dançassem, ou por falta de patrocinadores.
Sérgio Fortes optou por um episódio de dança de “On The Town”, com a Orquestra Sinfônica  Brasileira sob a regência de Roberto Duarte.
E veio a “Pausa para Meditação”, que sempre deixa o parceiro do Jonas Vieira apreensivo, pois seu autor, Fernando Milfond, não segue os ensinamentos budistas.
No retorno, Sérgio Fortes anunciou a próxima atração: a soprano Kiri Te Kanawa.
-É a queridinha dele. 
Sim, minha mãe dizia isso, com indignação, quando ouvindo o já mencionado “As mais belas vozes do mundo”, programa de alguns anos atrás, queixava-se de ele privilegiar a Kiri Te Kanawa em vez da Mirella Freni,
E a voz de cristal da neozelandesa nos deleitou com “Autumn Leaves”.
-Olha quem chega de “enxofre”, como dizia uma amiga minha.
Imaginei que o Sérgio Fortes se referisse ao Dieckmann que, vez ou outra, fica enxofrado, como dizia José Saramago de alguns personagens seus. Não, era o titular do programa que chegava intempestivamente. Justificou o seu atraso com uma desculpa que, caso não fosse chefe de si mesmo, resultaria em ponto cortado.
Antes de o Peter acionar as carrapetas para a próxima atração, Jonas Vieira afirmou incisivamente que o Flamengo é um clube de ricos, que tem mesmo de cobrar ingressos que chegam a 800 reais para o seu jogo com Atlético Paranaense,
Caramba! Ingressos de 200 a 800 reais, só para assistir a Filarmônica de Viena sob a regência de Herbert von Karajan ou de Wilhelm Furtwangler. - pensei.
Como o Jonas Vieira não é adepto da estatística da Dilma Rousseff, que garante que os brasileiros com 70 reais por mês saíram da miséria, estranhei essa sua afirmação. Um número de flamenguistas de lotar o Maracanã dos bons tempos, que eu tenho visto, é de uma pobreza de quem bebe água numa cuia de queijo Palmira, como diria Nélson Rodrigues.
Sérgio Fortes ainda colocou no ar “Na Baixa do Sapateiro”, de Ary Barroso, com um pianista argentino; a cançoneta de uma zarzuela, “Princesita”, na garganta do tenor peruano Juan Diego Florez; e, finalmente, “Brejeiro”, de Ernesto Nazareth, com a Camerata Brasilis. Não podemos, contudo, dar a devida atenção à obra desses artistas, pois as cartas dos nossos leitores chegavam aos borbotões à nossa redação sobre a peremptória assertiva do titular do programa: “o Flamengo é um clube de ricos”.
Breve, voltaremos ao assunto com a isenção (**) dos botafoguenses.

(*) (**) O Fluminense é a mãe do Flamengo. Ninguém sabe quem é o pai. O Distribuidor do seu O BISCOITO MOLHADO, ainda petrificado com as assertivas sobre futebol do Redator, mal pode contar o tempo que o separa das matérias isentas que se seguirão.

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