----------------------------------------------------------------------------------
O BISCOITO MOLHADO
Edição 4315 Data: 21 de novembro
de 2013
----------------------------------------------------------------------
CHEGANDO DE “ENXOFRE”
Hoje não teremos a
“pausa para espinafração”, foi a primeira coisa que me ocorreu quando o Sérgio
Fortes anunciou a defecção do Jonas Vieira.
-Onde estaria ele?
E especulou com várias
hipóteses; poderia estar na Muralha da China, na eleição da Ângela Merkel, no
show do Justin Bieber, e por aí vai.
Citou os santos dos
dias, mas nenhum deles com o apelo popular do santo de sobrenome Porres, do
domingo retrasado. Falou, em seguida, do aniversário do Flamengo, lembrou-se
dos seus amigos flamenguistas para arrematar que não seleciona bem suas
amizades. Talvez a surpresa da ausência do Jonas Vieira o tenha levado a se esquecer
do flamenguista de quatro costados, e também de quatro pneus, Roberto
Dieckmann.
Evidentemente que o
tricolor Sérgio Fortes caçoou do rubro-negro Jonas Vieira; aliás, o Fluminense
é o pai(*) do futebol do Flamengo e essa briga, diria um Freud futebolístico,
tem a ver com o Complexo de Édipo.
E também foi registrado
o falecimento em 17 de novembro de 1959 de um dos maiores compositores do
século XX, Heitor Villa Lobos.
-Sem mais delongas,
vamos à música. - disse o apresentador interino do Rádio Memória.
E anunciou aquele que
foi chamado pelo secretário das Culturas da cidade do Rio de Janeiro, Arthur da
Távola, de Flautamiro Carrilho.
Aqui, uma pequena
digressão. No “Em Busca do Tempo Perdido”, da minha vida (relevem-me a pretensão),
estaria presente Altamiro Carrilho, a que eu assistia, com a sua bandinha, na
companhia da minha avó, com a idade em que Marcel Proust só dormia depois do
beijo da mãe.
Ele tocou trechos de “A
Dança das Horas”, da ópera “La Gioconda”, de Amilcare Ponchielli.
Em seguida, como no
tempo em que apresentava “As Maiores Vozes do Mundo”, na mesma emissora, Sérgio
Fortes anunciou “Sabor a Mi”, de Álvaro Carrillo, com o grande tenor mexicano
Ramón Vargas. Logo após, aventou a sua desconfiança de ele ser sobrinho do
compositor Pedro Vargas. A fealdade dos dois o conduziu a essa suspeita.
-Os dois são
extremamente feios, disputam no “fotochart”. - frisou.
Por que ele se reportou
à palavra “fotochart”?... Seria uma alusão ao “forfait'” do Jonas Vieira?... Fica
a nossa dúvida.
E entrou um passarinho
no ar, precisamente o Azulão de Jayme Ovalle e Manuel Bandeira. Boêmio
contumaz, Jaime Ovalle deixou uma obra diminuta. Sérgio Fortes se deteve na
soprano estadunidense Kathleen Battle, depois de citar que essa composição já
foi entoada por Victoria de los Ángeles, Montserat Caballé e Angela Gheorghiu.
- Kathleen Battle é uma
grande cantora, mas de uma simpatia... Merece o título de Miss Simpatia. -
ironizou.
Lembrei-me, então, de
pessoas, nos Estados Unidos, que trabalharam com ela, usavam camisas com os
dizeres: “I survive the Battle”.
Quando o “Azulão” voou
na sua voz, constatamos mais uma vez que ela tem crédito, apesar do passivo,
digo, da antipatia.
E veio o tango mais uma
vez, não “Por una cabeza” (já fora feita a mordacidade subjacente do forfait do
titular do programa, como assinalamos), tratava-se da gravação “Canaro em
Paris”.
-Não sei o nome
completo, mas o Peter jura pela saúde uma tia que já morreu que é Francisco
Canaro.
Recordei-me de casos
contados por amigos meus que serviram o Exército sobre soldados menos
imaginativos que chegavam a matar a mãe duas vezes para conseguirem licenças no
quartel.
“Canaro em Paris” foi
executado pelo Quinteto de Buenos Aires.
O tango é um pensamento
triste que se pode dançar. Vai esta frase de Enrique Santos Discépolo no lugar
da frase do Jorge Luis Borges, porque ela fugiu do arquivo da minha mente, e
nem com a ajuda do Google eu a encontro.
Passou-se, em seguida,
para os musicais da Broadway, “O Homem de La Mancha”, baseado no romance de
Cervantes que, em maio de 2002, foi eleito pela maioria de escritores de renome
internacional, reunidos pelos Clubes dos Livros Noruegueses, como a maior obra
de ficção de todos os tempos.
Sérgio Fortes não
deixou de aludir à versão brasileira do musical, em 1977, com Paulo Autran,
Bibi Ferreira, Grande Otelo e muitos outros. Na hora de escolher uma gravação
entre as incontáveis que existem desse musical, falou mais alto a sua formação
operística e anunciou um trecho de amor na garganta de um tenor que,
infelizmente teve uma morte trágica, em 2007, Jerry Radley. Ele falava e eu era
conduzido para outro fato funesto que ocorreu em 1966: a morte do excepcional
tenor alemão Fritz Wunderlich, que partiu
com 36 anos de idade devido a uma queda
de escada. Também era conduzido
para o programa da Rádio MEC, “Clube da Ópera”, em 2002, quando essa triste
recordação veio à tona.
Como Sérgio Fortes,
para a satisfação dos ouvintes que acordam cedo mesmo nos domingos, cultiva de
maneira superlativa a descontração, não se deteve no fim de Jerry Radley e
comentou que, com ele, aprendeu a pronunciar Dulcineia em inglês.
Mais um musical da
Broadway, agora com aquele que considerou extraordinário, como músico, e quase
todos concordamos, Leonard Bernstein. E falou
de “On The Town””, produção de 1944, que foi transformado em filme em
1949. Sobre a fita, informou que já passou umas 250 mil vezes na televisão que,
assim, não há quem não a tenha visto. Exagerou só um pouquinho: nós assistimos
a esse filme intitulado “Um Dia em Nova
York”, com Frank Sinatra, Gene Kelly e
Jules Munshin. Não foi teatralizado no Brasil, talvez por falta de de nomes de
proa que dançassem, ou por falta de patrocinadores.
Sérgio Fortes optou por
um episódio de dança de “On The Town”, com a Orquestra Sinfônica Brasileira sob a regência de Roberto Duarte.
E veio a “Pausa para
Meditação”, que sempre deixa o parceiro do Jonas Vieira apreensivo, pois seu
autor, Fernando Milfond, não segue os ensinamentos budistas.
No retorno, Sérgio
Fortes anunciou a próxima atração: a soprano Kiri Te Kanawa.
-É a queridinha
dele.
Sim, minha mãe dizia
isso, com indignação, quando ouvindo o já mencionado “As mais belas vozes do
mundo”, programa de alguns anos atrás, queixava-se de ele privilegiar a Kiri Te
Kanawa em vez da Mirella Freni,
E a voz de cristal da
neozelandesa nos deleitou com “Autumn Leaves”.
-Olha quem chega de
“enxofre”, como dizia uma amiga minha.
Imaginei que o Sérgio
Fortes se referisse ao Dieckmann que, vez ou outra, fica enxofrado, como dizia
José Saramago de alguns personagens seus. Não, era o titular do programa que
chegava intempestivamente. Justificou o seu atraso com uma desculpa que, caso
não fosse chefe de si mesmo, resultaria em ponto cortado.
Antes de o Peter acionar
as carrapetas para a próxima atração, Jonas Vieira afirmou incisivamente que o
Flamengo é um clube de ricos, que tem mesmo de cobrar ingressos que chegam a
800 reais para o seu jogo com Atlético Paranaense,
Caramba! Ingressos de
200 a 800 reais, só para assistir a Filarmônica de Viena sob a regência de
Herbert von Karajan ou de Wilhelm Furtwangler. - pensei.
Como o Jonas Vieira não
é adepto da estatística da Dilma Rousseff, que garante que os brasileiros com
70 reais por mês saíram da miséria, estranhei essa sua afirmação. Um número de
flamenguistas de lotar o Maracanã dos bons tempos, que eu tenho visto, é de uma
pobreza de quem bebe água numa cuia de queijo Palmira, como diria Nélson
Rodrigues.
Sérgio Fortes ainda
colocou no ar “Na Baixa do Sapateiro”, de Ary Barroso, com um pianista
argentino; a cançoneta de uma zarzuela, “Princesita”, na garganta do tenor
peruano Juan Diego Florez; e, finalmente, “Brejeiro”, de Ernesto Nazareth, com
a Camerata Brasilis. Não podemos, contudo, dar a devida atenção à obra desses
artistas, pois as cartas dos nossos leitores chegavam aos borbotões à nossa
redação sobre a peremptória assertiva do titular do programa: “o Flamengo é um
clube de ricos”.
Breve, voltaremos ao
assunto com a isenção (**) dos botafoguenses.
(*) (**) O
Fluminense é a mãe do Flamengo. Ninguém sabe quem é o pai. O Distribuidor do
seu O BISCOITO MOLHADO, ainda petrificado com as assertivas sobre futebol do Redator,
mal pode contar o tempo que o separa das
matérias isentas que se seguirão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário