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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4308 Data: 06 de novembro
de 2013
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SÉRGIO COMO ROBINSON CRUSOE
DE NÉLSON RODRIGUES
PARTE II
Agora, falava mais alto
a terra da valsa e foi-nos dado ouvir, com a Orquestra Sinfônica de Londres, “Viena,
cidade dos meus sonhos”, de Rudolf Siecznski, autor polonês ou de ascendência
polaca, haja vista as muitas consoantes para poucas vogais do seu sobrenome.
Apesar da exuberância
da orquestra, Sérgio Fortes revelou a sua queda por uma boa voz, e citou a
“gravação sensacional” do Plácido Domingo de um CD dedicado apenas às operetas.
E a lição que o Jonas
Vieira lhe deixou de informar de que programa se tratava, em que rádio e qual a
frequência, foi bem decorada pelo seu substituto.
Agora, Tea for two,
música de 1925, de Vincent Yiumans, criada para o musical No, No, Nanette,
Sérgio Fortes assinalou
que a história só se tornou popular quando foi transformada em filme, com o
mesmo título, em 1950, quando Nanette Carter foi personificada por Doris Day.
E, na fala permeada por risos maliciosos, deixou assinalada a paixão do Jonas
Vieira pela atriz e cantora.
Ela inspirou uma das
frases mais espirituosas do humorista Groucho Marx: “Sou tão velho no cinema,
que conheci a Doris Day antes de ela se tornar virgem”.
O apresentador do Rádio
Memória daquele primeiro domingo de novembro talvez tenha sido mais maldoso do
que Groucho, quando especulou com o tempo que passou do filme até hoje, 63 anos
e a paixão do Jonas Vieira por ela.
-E se ele a vir passado
tanto tempo?...
Chegou à “Pausa para
Meditação” que, antes da locução do José Maurício, colocou o
apresentador-substituto apreensivo com o que poderia vir.
-Fico assustado com as crônicas
do Fernando Milfond desde aquela em que ele provou por a + b que Lampião era
gay.
O tema da dita cuja
prometia: “Mudando de gênero”.
E insistindo na sua
preocupação, disse:
-Qualquer coisa muito
terrível que haja, nós voltaremos para a segunda parte com horóscopos,
previsões do tempo...
Sérgio Fortes aludia ao
jornal Estado de São Paulo que, quando censurado pela ditadura militar,
preenchia as colunas com horóscopos, previsões do tempo, receitas de alimentos
indigestos, etc.
Para o alívio de todos,
o cronista não enveredou pela sexualidade dos cangaceiros, não afirmou que
Lampião era, na verdade, Lamparina. Tratou dos que levantam suspeição sobre sua
sexualidade, o que nos leva a citar de novo o filme “Casablanca”, em que o
capitão Louis Renault, em caso de alguma escaramuça, ordenava que se prendessem
os “suspeitos de sempre”.
Como o Jonas Vieira fora
vetado no vestiário, pela metáfora futebolística, ou fez forfait, pela metáfora
turfística, não houve a pausa para a espinafração. E o programa reiniciou com
melodia, harmonia e ritmo, porque o Sérgio Fortes apresentou “Perfídia”, de
Alberto Dominguez.
-Com a sensacional
orquestra de Ray Anthony. - frisou.
-Arrebatador. - diria o
Dieckmann, caso não estivesse comemorando o santo do dia, São Martinho de
Porres.
-Inarrebatável. - diria
se estivesse comemorando.
Depois da “Perfídia”,
voltou o Sérgio Fortes ao microfone:
-Esta é a Rádio
Roquette Pinto. 94.1. Programa Rádio Memória.
Ele temia mesmo que
Jonas Vieira lhe puxasse as orelhas.
Bem, a maior parte do
programa já transcorrera e ele, que animou o “Clube da Ópera”, na Rádio MEC,
que apresenta atualmente, na mesma emissora, a Orquestra Sinfônica Brasileira,
não tinha, até o momento, nos brindado com uma peça da música clássica. Mas ele
não ficou em falta nesse quesito.
-Vamos escutar agora um
flautista excepcional.
Sérgio Fortes, quando
apresentou, anos atrás, na mesma Roquette Pinto, “As mais belas vozes do
mundo”, tinha preferência, na adjetivação dos artistas, pelo “diferenciado”.
Vem esquecendo, atualmente, desse adjetivo, tudo bem, mas nós o lembramos aqui:
James Galway não só é um flautista excepcional, como diferenciado. A peça
musical que proporcionou o desfrute dos ouvintes era de Mozart, cujo nome
resume a música desde quando Pitágoras estudou os sons. A obra: Divertimento em
Ré, K. 334.
Voltou o monólogo do
Sérgio:
-Mais uma vez Henry
Mancini, numa composição da sua autoria para o filme “A Pantera Cor de Rosa”:
“Cortina”.
Eis a criação de um dos
maiores nomes de trilhas sonoras do cinema que faltou no Rádio Memória que
antecedeu a esse dedicado apenas a Henry Mancini. Essa lacuna seria agora
preenchida. Antes, porém, Sérgio Fortes fez algumas considerações sobre a fita:
-Filme de 1963; é
divertidíssimo. Atuam Peter Sellers...
Ao citar David Niven se
mostrou dubitativo. Sim, o versátil ator inglês, autor de instigantes livros
sobre os bastidores de Hollywood, atuou em “A Pantera Cor de Rosa”. E se lá
estivesse o Dieckmann, bradaria: “E a Capucine?”.
Aberta a cortina do
passado, não a do Ary Barroso, mas a do Henry Mancini, passou-se para a próxima
atração: o tema central da película “La vita è bella” com Nicola Piovani.
Antes de mostrar o que
se seguiria musicalmente, Sérgio Fortes fez algumas considerações:
-Quem está, como eu,
entre 20 e 30 anos de idade e é mentiroso, não sabe como foi dançado nas
festinhas o clássico que vamos ouvir: “Smoke Gets in Your Eyes.” Continuando a
mentir, Peter, eu dancei muito essa música. Aprendi a dançar, segundo a minha
mulher, com os padres jesuítas do Santo Inácio.
E citou o Jonas Vieira
como um famoso pé de valsa, mas se lembrou do JV, esqueceu-se do JK, que se
celebrizou também nos salões de dança. O decano dos economistas brasileiros,
Eugêno Gudin, sempre que o criticava pela construção de Brasília, tachava-o,
pejorativamente, de pé de valsa.
Quanto ao redator do
Biscoito Molhado, não conseguia fazer direito nem o “dois pra lá dois pra cá”, que
foi título de um inspirado bolero de João Bosco e Aldir Blanc.
-Agora, para fechar o
programa “Charade”, de Henry Mancini, com a orquestra de Nelson Riddle.
E voltou a falar do
filme antes da parte musical.
-”Charada” é de 1962,
com Cary Grant e Audrey Hepburn. Não podemos falar dela sem citar o Dieckmann,
que é seu fã “invertebrado”.(*)
Já estávamos na
prorrogação, quando o apresentador substituto convidou os ouvintes para um
encontro no próximo domingo e, reportando-se mais uma vez ao titular do
programa, dedicou a todos “um demorado abraço”.
(*) “Sergio
Fortes fica dizendo essas coisas o tempo todo. Quando cismou com tevelisão, em
vez de televisão, acabou proferindo tal absurdo em ocasião formal. Dá nisso!” E
assim, praguejando, o Dieckmann encerrou sua contribuição a este Distribuidor
do seu O BISCOITO MOLHADO.
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