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segunda-feira, 4 de novembro de 2013

2502 - o atraso



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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4302                                 Data: 28 de outubro de 2013
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DISCUSSÃO NO SABADOIDO DEVIDO AO ATRASO NA ENTREGA  DO GLOBO

Cheguei ao Sabadoido com uma novidade: cruzei, no caminho, com uma garotada uniformizada da Escola 9-10 Manoel Bomfim.
-Os professores não fizeram greve?!... Agora vão ter de repor os dias parados. - reagiu a Gina.
-Também hoje começam as provas do ENEM.
-Pois é, não me entregaram ainda o Globo, e eu não li nada sobre isso.- disse, com irritação, meu irmão.
Prossegui:
-Ouvi o ministro da Educação dizendo que, na redação, o número mínimo de linhas é sete, se não, a nota é zero.
-Quem diz muito em poucas palavras merece nota dez. - disse a Gina.
-E zero quem fala muito para não dizer nada. - cortou o Claudio.
-Isso de falar muito e não dizer nada é coisa do ministro Ricardo Lewandowski.
-Carlinhos, ele diz uma coisa quando parece que não diz nada, ele diz: sou PT desde criancinha. - pilheriou meu irmão.
 -Ele, com esse tal de Tóffoli, é um petista fedorento. - indignou-se a Gina.
Retomei a palavra:
-Voltando ao assunto concisão, li, dia desses, que o Ernest Hemingway foi desafiado por amigos a escrever uma história dramática com apenas dez palavras, e ele só precisou de seis: For sale: baby shoes. Never worn.
 -Ô Carlão, fale em língua de gente; o Daniel não está aqui para traduzir.
-”Vendem-se: sapatos de bebê. Nunca usados.”
-O Aloísio Mercadante dava um zero bem redondinho no Hemingway na prova do ENEM. - disse às  gargalhadas a Gina.
-Júlio César, com aquelas três palavras que dizem tudo: “Vim, vi e venci”, levaria um zero do tamanho da folha da prova. - entrei no espírito sarcástico da conversa.
-E o leilão do pré-sal, Carlinhos? - mudou a Gina bruscamente de assunto.
-A princípio, esperavam-se quarenta interessados, mas só apareceu uma proposta, e, com o valor mínimo.
-E a Dilma Rousseff ainda fala em cadeia de rádio e televisão que o leilão foi um sucesso.
-E o pior é que muita gente acredita.- seguiram-se as palavras da Gina `as do Claudio.
-Disseram que, caso a Dilma Rousseff fosse presidente do Brasil, em 1950, ela teria comemorado a derrota de 2 a 1 para o Uruguai.
-O Goiás comemorou a derrota de 3 a 2 para o Vasco, Carlão. - era o Daniel adentrando a cozinha, onde nós estávamos.
-Vai ver as modas? - perguntei-lhe ao vê-lo com a roupa de sair à rua.
-E estou com pressa: o povo me espera.
-Não demore que nós vamos almoçar no Méier. - recomendou-lhe a mãe.
-E esse Globo que não chega!... Agora, eu corto de vez a assinatura.- rezingou meu irmão, seguindo o Daniel.
-Está com dor de cabeça, Carlinhos?... Coloca a toda hora a mão na cabeça.
-Estou, mas passa.
E retomei a prosa:
-Falando em Globo, as organizações do Roberto Marinho não divulgaram a exposição das obras do Vaticano, no Museu Nacional de Belas Artes, e o número de visitas foi pífio. E lá havia até quadros do Leonardo da Vinci.
-Cobraram, certamente os olhos da cara...
-Era de graça, Gina. A Argentina rogou para essa exposição ir para lá, mas o Vaticano, mesmo com a nacionalidade do papa, recusou e trouxe de volta para casa aquelas obras de valor inestimável.
-A TV Globo fez um estardalhaço com os quadros de Monet, anos atrás, e,  recentemente, com os de outros impressionistas, e as pessoas esperaram horas na fila. Agora, que não disseram nada, o Leonardo da Vinci, com outros gênios do Renascimento,  fica às moscas no Rio de Janeiro. Aonde chegou a cultura no Brasil!...
-Isso é uma das explicações para se comemorar, no Brasil, fracassos, como o leilão do pré-sal. - afirmei.
Meu irmão retornou sobraçando o jornal que tanto aguardava. Mal leu a manchete, o telefone tocou: era o Vagner.
-Terei de ler depois. - largou o Globo e foi atendê-lo.
Não passaram muitos minutos, e o Luca engrossava a fileira dos integrantes de mais uma sessão do Sabadoido.
Luca, mal se acomodou na cadeira, sacou uma página, não da Rosa Grieco, apesar de trazer muitas, e sim uma com letras sem o menor sentido de cancões de Luiz  Melodia e Djavan.
-Luca, num documentário sobre o John Lennon, fazem alusão a uma letra incompreensível, e ele disse que fez como Bob Dylan, em algumas canções, reuniu as palavras em busca, apenas, da sonoridade.
E voltei-me para a Gina.
-Você viu esse documentário?
-Mas quem conhece essa música do John Lennon é o Daniel. - disse ela.
Intentava falar do “tango orangotango” e outras sonoras palavras que Villa Lobos escreveu para o coro, numa das suas criações musicais, mas o tema era outro: a hora em que morreu John Kennedy.
-Ele morreu no dia em que as estações de rádio estavam todas em greve, a exceção era a Rádio Ministério da Educação, que era do governo; quanto à Nacional, não sei. Soube do assassinato pela Ministério da Educação e acompanhei o enterro por ela em cadeia com a Voz da América.
-Sim, Carlinhos, mas a que horas ele morreu? - insistiu o Luca.
Meu irmão falou no fuso horário de Dallas e Brasília, e complicou ainda mais a resposta.
-Eu não vou ao Google ver isso. - bradou a Gina antes que alguém a encarregasse dessa incumbência.
E ficou assentada  apenas uma certeza: o assassinato não ocorrera de noite.
E passaram para outra morte, essa mais recente, a do compositor Paulinho Tapajós. Canções dele foram lembradas e, em uma e outra, houve dúvidas sobre seus parceiros.
Falou-se, depois, em Milton Nascimento, veio às nossas mentes “Travessia”, e o Claudio, para provar que “Morro Velho”, do mesmo compositor, era mais bonita, entoou alguns trechos da melodia. E se discutiu se essas canções apareceram em 1967 ou 1968.
Saí para urinar e, quando retornei, meu irmão meio que recitava, meio que cantava o samba-enredo do Império Serrano, “Aquarela Brasileira”.
Em seguida, comentou:
-Criticam o Silas de Oliveira porque ele não citou, no samba, a região sul, mas esses críticos estão errados. Por quê?
-Porque ele fala de São Paulo que, pelo que aprendi no Manoel Bomfim, pertencia à região sul.
-Isso, Carlinhos! Isso prova que você é meu irmão...
-Vindo para cá,passou minha dor de cabeça. - disse voltado para a Gina.
-Então, veio a cizânia daquele Sabadoido. Reportaram-se à novela Irmãos Coragem, o ano em que foi lançada, e o compositor da música-tema.
-O Mílton Nascimento canta “Irmãos Coragem”, mas não é o compositor. - garantiu o Claudio.
-Eu diria que não é o Milton Nascimento. - manifestou-se o Luca.
Meu irmão queria que o Luca fosse peremptório, Luca insistiu no tempo condicional do verbo: “diria”, e os decibéis se elevaram a ponto de rivalizar com as músicas funk tocadas nos carros.
Minha dor de cabeça voltou e a Gina foi até o Google para descobrir o autor dessa “bendita” música.
-Nonato Buzar. - informou ela já no rescaldo da discussão..
-Há parceiro?
-Não vou ver mais nada. - protestou a Gina.
Importava que não era o Milton Nascimento, e isso deixou os dois debatedores mais tranquilos.
A chegada do Daniel desanuviou o ambiente,
Umas três horas depois, em casa, lendo o obituário do Paulinho Tapajós, no Globo, deparei-me com a canção “Irmãos Coragem”, criação do Nonato Buzar e dele, Paulinho Tapajós.
Cacete! Toda aquela discussão foi provocada pelo atraso na entrega do jornal. - concluí ainda com dor de cabeça.

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