--------------------------------------------------------------------
O BISCOITO MOLHADO
Edição 4303 Data: 30 de
outubro de 2013
---------------------------------------------------------------
HENRY MANCINI NO RÁDIO
MEMÓRIA
Após o “muitíssimo
bom-dia” do titular do programa, ele anunciou a ausência do Sérgio Fortes e a
justificou com os afazeres na Orquestra Sinfônica Brasileira e com o seu programa
à uma da tarde na Rádio MEC aos domingos.
-Mas trago um
convidado...
-Ainda bem que o Sérgio
não veio, podemos falar mais. - disse o Simon Khouri, que dispensa
apresentações.
-Simon Khouri tem
entrevistas com inúmeros artistas da música popular brasileira e mais ainda com
os do teatro e da televisão.
Em seguida, Jonas
Vieira recomendou o livro “Bastidores”, do seu convidado, que retrata o
trânsito dele pelo mundo artístico.
-Eu escrevi dois livros
pela Civilização Brasileira, mas tenho ainda muitas fotos... desse tamanho...
-Simon, não estamos na
televisão. - repreendeu-o o Jonas Vieira.
Certamente, ele mostrou
o tamanho com os braços, ou outra parte do corpo humano, mas aos ouvintes só
chega dele a voz, menos rouca do que da última vez.
-Jonas Vieira escreveu
o prefácio.
-Não venha puxar o meu
saco.
Vieram-me logo à mente
as palavras do Sérgio Fortes sobre a amizade de cinquenta anos dos dois,
entremeados por tantas brigas.
Simon Khouri, muito
amigo do ator Cláudio Cavalcanti, recentemente falecido, aproveitou o programa
e tratou de homenageá-lo e engrandecê-lo, como merecia.
-Cláudio adorava
cinema, via tudo quanto era filme e de todos os países. Um dia perguntei a ele
sobre o compositor de trilhas sonoras de sua predileção; ele citou inúmeros,
mas destacou Henry Mancini.
E ficou estabelecido
que o grande músico, para o gáudio dos ouvintes, seria ouvido naquela hora
tanto como compositor como arranjador.
-”O Henry Mancini dizia
que o brasileiro tem o que há de mais importante e, no entanto, copia o que não
presta lá de fora.”
E o Simon Khouri
completou citando funk e rap.
Jonas Vieira também
criticou o mau gosto que graça pelo Brasil, e a palavra voltou para o
convidado.
-Claudinho gostava
muito de Lujon.
E o exuberante talento
do Henry Mancini como compositor e arranjador se fez ouvir nessa peça musical.
-Que maravilha! Henry
Mancini é sobrenatural. É a reencarnação de um gênio.
Houve considerações
sobre espiritualidade, sérias pelo lado do Jonas Vieira, descontraídas, pelo
lado do Simon Khouri, até que o titular do programa cortou para perguntar qual
a pergunta “terrível” que ele fizera ao Cláudio Cavalcanti:
-Claudinho, você já foi
corno?
Jonas Vieira aproveitou
o gancho e leu trechos do livro, que não era o “Otello”, e sim “Bastidores”,
sobre traições conjugais.
-Claudinho era louco
por jazz. Gostava muito de o Henry Mancini expor o tema e dar oportunidade aos
músicos de executarem os seus solos, que eram curtos. Ouçam o que ele fez com
essa composição de Duke Ellington.
Ouvimos, e o Jonas
Vieira verbalizou o nosso encantamento:
-Quanta beleza!
E enalteceu a qualidade
incomparável dos músicos norte-americanos, afirmando que nós não temos os
arranjadores do grande país do norte.
-Se o Pixinguinha e o
Ernesto Nazaré tivessem nascido lá. - especulou o Simon Khouri.
Sem a menor dúvida,
seriam mundialmente conhecidos, só isso, a nosso ver. E lembramos Radamés Gnatalli que, caso
vivesse nos Estados Unidos, não faria arranjos de mais de mil músicas, não
teria essa trabalheira, porque no Brasil se contam nos dedos os números de
arranjadores.
Simon Khouri tratava
agora dos problemas de saúde do Cláudio Cavalcanti que desconhecíamos e que o
elevaram expressivamente no nosso conceito.
-Cláudio Cavalcanti era
glabro, não tinha um pelo no corpo.
Outro problema, que meu pai também tinha: se tomasse remédio para o
paladar, não dormia. Ele dizia que era o estigma da sua vida; sentia a textura
dos alimentos, mas não o gosto.
Jonas Vieira aludiu aos
obstáculos que ele, como ator, enfrentou, enquanto Simon Khouri lembrou aqueles
que, saudáveis, ainda se queixam da vida.
Para descontrair, Jonas
Vieira leu trechos dos “Bastidores” que trata do relacionamento do Claudio
Cavalcanti com o Fábio Sabag, ator e, posteriormente, diretor.
E a vez voltou para o
convidado:
-Os americanos, às
vezes, devem muito ao Brasil. Ouçam o que Henry Mancini fez com o ritmo de uma
música brasileira. Atentem para o vocal.
Depois da audição
musical e dos louvores, Jonas Vieira informou que, daqui a pouco, se falaria da
Tonia Carrero.
A vontade dos ouvintes
saberem de fatos da vida da grande atriz, pelo menos a minha, cresceu
exponencialmente quando o titular do programa enveredou para uma notícia recente
ocorrida em São Paulo: o resgate dos cães da raça beagle.
-Vão abanar o vento. -
criticou os que invadiram o Laboratório Royal.
Logo depois da Pausa
para Espinafração, entrou a Pausa para Meditação, crônica do Fernando Milfond
sobre a emoção de ouvir música.
-A música é a arte
maior e não há invenção igual a da orquestra. - foi o acréscimo que o Jonas
Vieira fez aos dizeres do cronista.
E o Simon Khouri
transferiu sua atenção do Claudio Cavalcanti para a Tonia Carrero.
-Pena que ela anda meio
ausente.
E narrou o seu drama:
ao pegar uma garrafa de vinho na adega, caiu e bateu com a cabeça, como
consequência, é submetida, eventualmente, a drenagens de água do cérebro.
Retornando à sua
costumeira alegria, falou da discussão dos dois que envolveu até aposta: Cabul
era capital do Nepal ou do Afeganistão, e Catmandu?... era capital de qual dos
dois países.
E, acima dos
desentendimentos geográficos, entraram “Os Girassóis da Rússia” de Henry
Mancini, que não são tão valorizados quanto os de Van Gogh, mas encantam.
Em seguida, Simon Khouri
anunciou Moon River, antes, informou que o produtor do filme “Bonequinha
de Luxo” não gostou dessa canção e pediu a Henry Mancini outra música.
Exacerbada a nossa curiosidade,
Simon Khouri prosseguiu:
-Henry Mancini foi até
Audrey Hepburn e lhe comunicou o desagrado do tal diretor com Moon River.
A atriz, ameaçando sair do filme, defendeu a criação de Henry Mancini, cantada
por ela no filme, que receberia o Oscar de melhor música.
E entrou no áudio Moon
River no ritmo de cha-cha-cha.
O programa seguiu com o
titular do programa falando de futebol, mais precisamente do Flamengo.
Se rememorasse, ao
menos, “O Mundo da Bola”, de Antônio Cordeiro.
-Jonas, estamos na Roquette
Pinto. - alertou-o o seu amigo de 50 anos.
Ainda bem que Henry
Mancini não fez arranjo algum do hino do Flamengo. - pensei, aliviado.
Restabelecida a normalidade, Simon Khouri se
deteve nas opiniões da Fernanda Montenegro. Ela gostou do filme, sem
superlativos, elogiou o trabalho da Ingrid Bergman, mas se comoveu mesmo com
“As times goes by”.
E seguiram mais duas
músicas, uma criada, outra com arranjo do músico homenageado: uma, do filme “A
Vingança da Pantera Cor de Rosa”, a outra, do “Cinema Paradiso”. Esta com a
melodia do Ennio Morricone embelezada pelo piano do Henry Mancini.
A Rádio Memória se
encerrou com o Simão Khouri prometendo trazer depoimentos do ator Jorge Dória.
-É de morrer de rir. -
garantiu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário