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segunda-feira, 11 de novembro de 2013

2507 - tornei-me um ébrio com minha própria voz



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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4307                             Data: 04  de novembro  de 2013
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SÉRGIO COMO ROBINSON CRUSOE DE NÉLSON RODRIGUES
PARTE I

O Rádio Memória do primeiro domingo de novembro se iniciou com uma surpresa: sem a voz do titular do programa.
-Jonas Vieira não foi aprovado nos testes do vestuário e não pode participar do Rádio Memória de hoje.
Por que o Sérgio Fortes recorreu a uma metáfora futebolística como costuma fazer o Lula?  Seria uma provocação ao ferrenho opositor do PT? Fica a dúvida.
Dizendo-se mais só do que Robinson Crusoe sem radinho de pilha, Sérgio Fortes procurou no Peter, o operador de áudio, o seu companheiro Sexta-feira. Tentou, assim, manter a interlocução do programa:
-Faltam 58 dias para o ano acabar; passou muito rápido.  Estamos ficando velhos, não é, Peter?
-Nada; nem não, nem sim.
-Hoje é dia de São Martinho de Porres. - informou.
Imaginei que não perderia a piada, dizendo que o Jonas Vieira foi comemorar o dia numa cervejaria, mas perdeu.
Celebrava-se também Santa Sílvia, mas o apresentador não se deteve nela como no São Martinho de Porres, talvez porque o seu nome não tivesse o apelo popular do sobrenome do santo peruano.
Também foi mencionado o dia do falecimento da Laika, que partiu no Sputnik 2; cadela que tanto emocionou o menino do filme sueco “Minha vida de cachorro”. O lourinho da fita comparava a sua solidão com a do pobre animal no espaço.
- A cadelinha, o primeiro ser vivo a ser enviado para o espaço. Lembra-se da Laika, Peter?
Mais uma vez o Sérgio Fortes convidou o Peter para o diálogo, mas o silêncio era a resposta.  Estivesse o Dieckmann no lugar dele e tudo seria diferente, pois o nosso amigo de Santa Teresa se embriaga com o som da própria  oratória e seria até capaz de não dar vez  às peças musicais de Pixinguinha, Duke Ellington, Cole Porter, Irving Berlin, e outros.  Como era dia de São Martinho de Porres, teria ele mais um motivo para se embriagar... com a voz, como já assinalamos.
Outras ocorrências históricas de 3 de novembro foram arroladas por ele, além de ser assinalado que era dia do barbeiro e do cabeleireiro, o que todos entenderam, só restou dívidas quanto à usabilidade, era dia mundial da usabilidade e ninguém soube explicar o significado dessa palavra sesquipedal, nem mesmo o Peter, quando o Sérgio Fortes lhe perguntou.
Os créditos dessas pesquisas, como ele já disse uma vez, nós, do Biscoito Molhado, imaginamos que vão para o doutor Fernando Borer, ouvinte e partícipe bissexto do Rádio Memória.
-Sem mais delongas, como diria, o Jonas Vieira, vamos à parte musical.
E anunciou “Pedacinho do Céu”, de Waldir Azevedo na leitura de Daniel Barenboim.
Lembrei-me, enquanto soava esse clássico da música popular brasileira, que um crítico, incomodado com uma suposta empáfia do maestro argentino, citou os nomes de Bach, Beethoven e Brahms, para dizer que Barenboim se julgava o quarto B.
-Que categoria, hein Peter?! Barenboim está deixando uma grande orquestra, não me recordo agora qual. Fico devendo.
E se reportou ao programa do domingo subsequente que, com a presença do Simon Khouri, testemunha ocular das histórias do teatro e do rádio, foi muito elogiado.
-Nossa responsabilidade é grande, Peter.
E se voltou para a próxima atração musical.
-Agora, “Samba de Verão”, de Marcos e Paulo Sérgio Valle.  Essa música foi gravada por grandes cantores: Andy Williams, Connie Francis...
É inevitável: sempre que ouço o nome da Connie Francis, vem-me à mente uma piada infame do Pasquim sobre o estupro de que foi vítima. Ela cantava tão mal, segundo o jornal, que o estuprador fez justiça.
Mas voltemos ao Sérgio Fortes, cujas piadas são mais refinadas.
 -Vamos ouvir “Samba de Verão” com Rubens Antônio da Silva. Quem é?... Cartas para a redação.
Como não é um sabatinador, como os do Sabadoido, disse que não iria maltratar o ouvinte, e revelou que se tratava do Caçulinha.
Encerrado o “Samba de Verão”, retornou a voz do apresentador interino, agora empostada:
-Esta é a Roquette Pinto, 94.1 com o programa Rádio Memória.
E voltou à descontração:
-Não posso deixar de mencionar a rádio e o programa. Tenho de me policiar para não esquecer, se não, o Jonas fica brabo.
  Até o momento, mesmo sem radinho de pilha, o Sérgio Fortes atuava a contento, como falam os comentaristas esportivos.
-Agora, “As Time Goes By”...
Imaginei o meu amigo Luca arrepiando-se dos pés à cabeça.
E foi adiante:
-Foi composta por Herman Hupfeld, em 1931, para o musical “Everybody' Welcome”.
Informou que o musical não correspondeu na bilheteria, e que “As Time Goes By” ficou esquecida até que a canção foi aproveitada, em 1942, no filme “Casablanca”, despontando para o sucesso. E reportou-se ao filme:
-Consta que a frase “Play it again, Sam” do Humphrey Bogart nunca foi dita.
Confessou, então, que nunca viu o filme, que estão no seu currículo duas coisas: não ter assistido à “Casablanca” e a “E o Vento Levou”.
Quanto a “E o Vento Levou”, acreditamos que não perdeu três horas da sua existência.
No “Casablanca”, Ilsa, a personagem da Ingrid Bergman, entra no bar do Rick, Humphrey Bogart, ela vê o Sam, Dooley Wilson, e lhe pede para tocar “aquela música”.  Não há o pedido para Sam tocar de novo, pois ele é bruscamente repreendido pelo Humphrey Bogart, já que a sua memória afetiva é dolorosamente despertada com “As Time Goes By”. Bem, a memória involuntária  é caso para Marcel  Proust e, no Radio Memória, a canção estava a cargo de Henry Mancini, que elaborou o arranjo.
-Vamos agora para um tango. - anunciou o Sérgio Fortes.
E no dia em que o Jonas Vieira fez forfait, ele escolheu “Per una cabeza”.  Tango que fala do apaixonado que perde a sua amada por muito pouco, “por uma cabeça”, como cantou o adepto das corridas de cavalo, Carlos Gardel. Sérgio Fortes, com a sua veia sarcástica estufada, não deixou de rir dos argentinos pelo fato de os dois ídolos argentinos, Gardel , este ter nascido na França e o seu parceiro, nesse belíssimo tango, Alfredo Le Pera, no Brasil. O brasileiro parece que nasceu em Santos, passando, depois, por argentino, como o Dieckmann, que também nasceu em Santos e passa por alemão.
A banda que executou Per uma cabeza foi Sax at The Movie que, eu, massacrado pela mídia erotizante, entendi “Sex at The Movie”.

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