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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4313 Data: 16 de novembro
de 2013
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CARTAS DOS LEITORES
-Existiam diferenças
entre Camus e Sartre além das de cunho político? Toniato
BM: Sim, havia outras, como as de cunho filosófico. Por
ocasião do centenário de Albert Camus, o filósofo Jean-François Mattéi
assinalou o que se segue: “Em “A Náusea”, Jean-Paul Sartre tem vontade de
vomitar quando vê a raiz de um castanheiro sair da terra em um jardim público.
Sartre sente náusea quando vê a natureza. Camus, ao contrário, quando vê a
natureza tem o sentimento de pertencer a um tipo de cosmos no qual se
reconhece. Ele se banha no mundo. Isto era desconhecido nos anos 1940-50, e
mesmo após os anos 60.”
Há um fato inusitado
na vida de Camus, que foi a admiração que ele provocou num agente do FBI que
tinha a função de espioná-lo por ocasião das palestras que ele proferiu, em
Nova York, no ano 1946. Além de o espião registrar que Camus era um dos intelectuais
mais generosos da sua geração, fez uma resenha da obra do espionado, escrevendo
que Camus prega que se viva com lucidez no absurdo, desfrutando-se a vida
plenamente, pois ela é privada de sentido e que devemos gozar a liberdade
plena, aqui na Terra, porque não existe liberdade eterna.
-Exemplar riquíssimo
de tudo que é bom gosto, principalmente tea for two, que me conduziu à bela debora
kerr, sobretudo na sua fala final de chá e simpatia, anos 50, valeu lembrar
“please, be kind”, ela era a cara da minha mãe amilda, deus a tenha. Fernando
Borer
BM: Participante bissexto do programa Rádio Memória,
Fernando Borer não usa as maiúsculas, questão de estilo, José Saramago na
“Viagem do Elefante”, deixa todo mundo, inclusive reis e arquiduques, com minúsculas;
Fernando Borer está em boa companhia.
Ele se reporta ao
programa em que o Sérgio Fortes só contou com a companhia do Peter, o operador
de áudio e colocou a gravação de “Tea for Two”, do musical “No, No, Nanette”.
Enquanto o Sérgio era conduzido à lembrança de Doris Day, cantora, atriz e
paixão do Jonas Vieira (nesta ordem), o missivista cibernético foi à Debora
Kerr do “Chá e Simpatia”. O que
deflagrou a sua memória afetiva foi o chá, pois os filmes e protagonistas e
comprimários dos dois filmes são outros. Da Débora Kerr, veio-lhe a recordação
da mãe, devido à semelhança física.
Passo agora para o meu
primo Dudu, já falecido e citado em exemplares recentes do Biscoito Molhado.
Cinéfilo inveterado que, desde menino, criava fachadas de cinema em caixas de
sapato, afirmava que a sua tia, minha mãe, era parecida com a Jean
Simmons. Era?
Assistindo ao
“Spartacus”, no cinema Roulien superlotado, do Méier, e com dor no pescoço,
pois só consegui sentar na primeira fileira com a tela na minha cara, eu me
perguntava, todas as vezes que a Jean Simmons aparecia, se o Dudu tinha razão.
Não, não tinha, meu primo estava, certamente, agradecido à minha mãe porque,
inúmeras vezes, ela foi sua babá, enquanto a irmã mais velha dela ia bater
pernas na rua.
O fato de eu me
convencer que o meu primo estava errado, deu-me a liberdade de me encantar com
a Jean Simmons sem me sentir com complexo de Édipo.
Eu comparava e ainda
comparo a minha mãe com a Rainha Elizabeth II, da Inglaterra; não pela
semelhança de rostos, mas porque nasceram no mesmo ano. Quando eu a vejo em
fitas dirigindo, com o frescor dos 19 anos de idade, ambulâncias na 2ª Grande
Guerra Mundial, vem-me à mente a minha mãe, nesse mesmo ano, com a mesma
vivacidade da juventude. E assim vai; surge um documentário que a mostra em
1952, quando morreu o seu pai George VI e ela assumiu o trono, e,
inevitavelmente, sou conduzido à minha mãe com a mesma tenacidade dos 26 anos.
Nesses últimos anos, tenho constatado que a Elizabeth II está mais saudável do
que a minha mãe, bem, isso seria inevitável, pois ela conta com o respaldo do
império britânico.
Pausa para um chá e,
depois, vamos para a carta seguinte.
-Volta e meia o
redator do Biscoito Molhado escreve que o Dieckmann tem a mesma mania do Pelé
de falar de si mesmo na terceira pessoa. E o redator, não tem nada que lembre o
Pelé? Estelita
BM: Com a bola nos pés, eu lembro Pelé tanto quanto lembro
Bach com uma partitura na mão, embora Pelé se compare, modestamente, a
Beethoven. Em campo, eu chutava bolas divididas, mergulhava a cara na lama,
ajustava-me, perfeitamente, à frase que o cronista Nélson Rodrigues cunhou com
a sua sabedoria: “Todo perna de pau é um abnegado.” Assim era eu nos campos de
pelada.
Há, porém, certa
semelhança entre mim e o Pelé, no que diz respeito à troca de nomes. Eu já
chamei o Jonas Vieira de Jonas Resende, a tenista Billie Jean King, de B.B.
King, o guitarrista; o músico Moacir Silva, de Moacir Franco, o humorista e por
aí vai. Pelé já chamou o lateral direito Cafu de Cafuringa, ponta direita do
Fluminense, falecido há anos, e, recentemente, trocou o nome do grande jogador
português, Cristiano Ronaldo, por Cristiano Geraldo.
Eu disse “certa
semelhança entre mim e o Pelé” e paro aí, porque ele já chegou a um ponto ainda
inatingível para mim, como, certa vez, comentando um jogo entre escretes
nacionais, disse:
-”A Nigéria não é
nenhum bicho babão.”
-”Não ouvir me traz
prejuízos incalculáveis, além de me deixar incomunicável, me priva de gratuitas
diversões. Fatos ocorridos no 3ºandar: mulher briga com o marido e troca as
chaves da porta, ele quebra o armário do extintor e com este arromba a porta.
Outra madame apanha do marido e sai berrando pelo “couloir” que ele é broxa.
Isso tudo durante o dia, eu em casa e nada ouvi. Desaforo!
A cerveja Stella
Artois é comum na Bélgica e li que é valorizada no Brasil; nos primeiros dias
bruxelenses, pensei que fosse uma rede de botecos, letreiros por todo o lado.
Há uma feita pelos frades, dizem que são os melhores fabricantes, chamada
“trappiste”. Provei um gole e comecei a dormir de imediato.”
Rosa
BM: Rosa, quando almocei com o Luca e o Elio, uns quinze
dias atrás, na “Brasserie Rosário”, bebi a Stella Artois, que tanto me
deleitou. Pensei em pedir um segundo copo, mas resisti à tentação; eu também
dormiria.
Mas vamos ao mais
importante. Há algum apartamento vago no prédio em que você mora? Se houver,
avisa-me, morando lá não me faltarão assuntos para o Biscoito Molhado.
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