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O BISCOITO MOLHADO
Edição 5196 Data: 24 de setembro de 2015
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CARTAS
DOS LEITORES
“Nos Sabadoidos que li, meses atrás, topei com o
redator desde BM portando-se como consultor de investimento do sobrinho. Como
eu sei que ele, o redator, tem ações da Petrobras, não deveria ficar quieto e
palpitar sobre outras matérias? Paulo
Fernando
BM: Na minha época de frequentador assíduo da Corretora
Caravello, nos anos 80, não comprei uma só ação da Petrobras. Excesso de leitura
de artigos do Roberto Campos, do Eugênio Gudin, do Simonsen?... talvez. Porém, em 2003, recebi 21 mil reais do
FGTS e, separei 18 mil reais para adquirir ações da Petrobras. Transcorridos 12
anos, não toquei nelas, nem quando deu filhotes, apenas recolhi os dividendos.
Hoje, eu tenho 7950 ações. Feita uma conta apressada, a ação teria de cair
abaixo de 2,26 reais para eu ter prejuízo. Ocorre que, nesses 13 anos
transcorridos, a inflação, na nossa moeda, foi de 127%. Assim sendo, se o preço
cair abaixo de 5,13 reais, começam as minhas perdas? Ainda não, pois não foram
contabilizados os dividendos nesse período. Grosso modo, se ela despencar para
menos de 4,20 reais, eu fico no prejuízo.
O que eu quis mostrar ao meu sobrinho é que, comprando
ações na hora certa, a longo prazo não se perde dinheiro mesmo que uma
organização criminosa esteja no governo. E qual é a hora certa? – perguntará o
leitor. Eu sei que a hora certa de venda, quando eu acompanhava os seus preços
negociados na Bolsa de Valores, era vender por 42,00 reais, mas, infelizmente,
eu não me desapeguei delas. Logo eu, tão patrulhado (agora, bem menos) por ser
admirador do Roberto Campos, do Eugênio Gudin e do Mário Henrique Simonsen, não
vendi os títulos da Petrobras. Talvez alguém diga que eu não perdi, deixei de
ganhar, mas para quem está na minha situação, pouco importa a diferença. Meu
arrependimento só será maior se o preço da ação cair para menos de 4,20 reais
pelas razões já expostas.
Finalizando, o investimento que eu sempre aconselhei como
o melhor de todos é a educação. É ganho certo.
“... o seu supletivo me trouxe à combalida memória o
meu, em 1974. Precisava completar os 4 anos do ginasial do Instituto de
Educação da Mariz e Barros. Tive duas aulas de Matemática e saí chutando os quadradinhos.
Consegui 4,5 pontos e fui salva pelo fulano Carrasco que deu ½ ponto a “tout le
monde et son père”, o resto foi uma barbada. Retribuí esse meio ponto quando o
“bourreau” foi candidato sei lá a quê e votei nele; o que a Dona Gioconda lhe
contou e o deixou felizinho. “Noblesse oblige”.
Releve-me a letra; Calígula (o gato) bate com o
apêndice caudal na minha cara e tenho os dedos dormentes de manhã. É a mocidade
que chega, porque a velhice já chegou há muito tempo.
Amplexos”
R.
BM: Nossa querida Rosa de volta a esta seção, o que me
obriga a ter ao meu lado o dicionário de francês-português que comprei na Rua
Luís de Camões. Assim, tratemos logo dos seus francesismos. “Tout le monde et
son père”, expressão recorrente nas cartas da nossa amiga, provém do provérbio
francês: “On ne peut contenter tout le monde et son père” – não se pode
contentar todo o mundo (na tradução ao pé da letra, não se pode contentar todo
o mundo e seu pai). Pois o Carrasco (Romualdo Carrasco, diretor do supletivo no
governo Chagas Freitas) contentou. Rosa aproveita e o chama de “bourreau”, que
é o carrasco, mesmo, aquele de baixar a guilhotina nos pescoços desprotegidos
na língua de Robespierre.
Prosseguindo com o Carrasco – não o “bourreau”,
ele seria deputado pelo MDB nas eleições de 1978 e contou, como lemos, com o
voto da Rosa. A gratidão exigia, mas para ela, fica mais contundente a
expressão “noblesse oblige”.
O meu irmão Claudio fez essa mesma prova e
conta que, além desse meio ponto, houve questões anuladas, duas, parece, que
contribuíram para vitaminar a nota dos candidatos que enfrentavam a temida
matemática. Não, ele me garantiu que não
votou no Romualdo Carrasco para deputado, mas no MDB sim.
Creio que a Rosa está sendo modesta quando
diz que “saiu chutando os quadradinhos”. Segundo os matemáticos e estatísticos,
craques em Análise Combinatória – arranjo, permutação e combinação – a nota
média para quem chuta 20 questões numa prova com cinco alternativas cada, ou
seja, cem no total, é 2,5. Aliás, a nota mais comum das provas de Física, no
Vestibular da Cesgranrio era 2,5, porque “tout
le monde et son père” (não resisti ao francesismo) chutava. Rosa estudou no Instituto de Educação, a
melhor escola feminina da época, tinha, portanto, uma boa noção de matemática,
embora ame muito mais as palavras do que os números e essas duas aulas
refrescaram a sua memória que nunca ficou combalida.
O seu depoimento me conduz de novo ao cidadão que,
encerrada a prova de matemática, no supletivo de 1975, ao entrega-la ao fiscal,
disse que não havia razão para tanta maldade (apenas 6% foram aprovados nessa
matéria e 11% em geografia). Muitos dos candidatos precisavam do diploma do 2º
grau, no caso, para progredir no emprego ou retornar às salas de aulas após alguns
anos de afastamento, como foi o meu caso e do meu irmão. Digamos que uma prova
para acertar a vida de 20% dos candidatos já estava dentro dos padrões do
supletivo, mas exames arrasa-quarteirões, como foram os citados, não se
justificavam. Dos responsáveis, o menos “bourreau” foi o Carrasco, o Romualdo.
Já imaginaram a Rosa, no Itamaraty, com mais erudição
do que os diplomatas, marcando passo porque não tinha o diploma do 2º grau?
Transcorrido algum tempo, abriram a porteira, no
ensino em geral, no Brasil e a aprovação automática ocorre como geração
espontânea, e muitos alunos atoleimados chegam `a faculdade como analfabeto
funcional, sem entender o que leu.
Como dizia a Dona Isaura, a mãe da Rosa: “Nem tanto ao
céu, nem tanto à terra.”
Ah, sim, a Gioconda da carta é a irmã da nossa amiga,
aquela que revelou ao Carrasco o voto da irmã nele, para deputado, por
causa daquele meio ponto tão precioso. “Preciosíssimo” – diria José Dias,
personagem do “Dom Casmurro.”
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