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O BISCOITO MOLHADO
Edição 5188 Data: 13 de
setembro de 2015
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CARTAS DOS
LEITORES
-Li palavra por palavra a entrevista que a primeira
governante (ou será governanta?) do Brasil concedeu ao signatário do Biscoito Molhado,
refiro-me a Rainha Maria I, a Louca. Ficou-me uma dúvida: Que fortuna foi essa
que o médico do Rei George III da Inglaterra, que curou o monarca da loucura,
pediu à corte portuguesa, para a “Doida” falar em aumentar os impostos? Pedro
BM: Constatada a loucura da rainha, Portugal enviou um
ministro à Inglaterra para trazer o Doutor Francis Willis, cuja fama atravessou
o Canal da Mancha depois que ele recuperou a saúde mental do rei, que retornou
ao trono. O galeno cobrou dos portugueses 10 mil libras na mão, mais mil libras
mensais, carruagem, viagem de ida e volta à Inglaterra gratuita e uma mesa
farta. Ou seja, ele ia curar uma pessoa, mas enlouquecer uma multidão de
contribuintes com o aumento nos impostos, com repercussão aqui, no Brasil, que
já pagava o quinto dos infernos. Apesar de todas essas exigências de prima-dona
de ópera, no passado, de rock, no presente, o ministro português aceitou. Ele
embarcou no ano 1792, em Falmouth, com destino a Lisboa no paquete Hanover. O Doutor Francis Willis ficou alojado no
palácio das Necessidades. Ele chegou em março e partiu de volta para o seu
país, indignado com os escrúpulos dos cortesãos portugueses que lhe impediam de
pôr em prática o tratamento prescrito além de o impedirem de levar a rainha
para a Inglaterra, onde ela se afastaria, pelo menos fisicamente, dos fantasmas
que a rodeavam.
-Pelo que sei, a Rainha Maria I teve de ser carregada
à força para o navio que a levaria para o Brasil, quando as tropas de Napoleão
invadiram Portugal. Sua reação não teria sido remorsos por ela ter ordenado o
enforcamento de Tiradentes, posteriormente esquartejado e salgado? Miguel
BM: Se ela relutou em viajar para a Inglaterra, imagino
o trabalho que deu para entrar na embarcação rumo ao Brasil. Quanto à sua ordem
de executar Tiradentes... bem, ele foi enforcado em 1792 e ela aqui chegou em
1808, ou seja, 16 anos depois.
Disse o humorista Ivan Lessa: “A cada quinze anos, o
brasileiro esquece os últimos quinze anos” e, como o Brasil está ficando mais velho,
sua memória fraquejando, parece que de quatro em quatro anos ele já está
esquecendo tudo.
Quanto à Maria I no Brasil, caso ela se candidatasse a
presidenta, seria capaz de ser eleita. Mas essa hipótese é absurda, não porque
fosse doida, mas porque a República seria implantada no Brasil quase um século
depois.
-“O distribuidor do seu Biscoito Molhado custou a se
recuperar, ao tomar conhecimento desta suposta ruptura equatoriana. É sabido
que os vórtices do tipo ralo de banheira giram destrógiros em um hemisfério e
sinistrógiros, no outro. Além disso, as constelações são outras, mas parece que
não passa disso.” Dieckmann.
BM: O nosso querido Dieckmann custou a se recuperar
porque nós escrevemos em português, ou tentamos e ele entendeu em dilmês.
Para que o leitor se situe dentro desse imbróglio
todo, trata-se do Biscoito Molhado que aludiu ao calendário do dia 6 de
setembro. Nele, é dito que no ano 1522, o navegador Sebastian Elcano, com
outros dezesseis espanhóis, completou a volta ao globo no sentido contrário à rotação.
Daí, foi feito o seguinte comentário em tom galhofeiro: “Não sou entendido em
rotação, discos de vitrola à parte, mas, no hemisfério norte, a rotação é uma
e, no sul, outra.”
Em momento algum, foi dito que a rotação da terra no
hemisfério norte é para a esquerda, e a do hemisfério sul para a direita, ou
vice-versa; coisa só possível de ser lida, ou ouvida, em dilmês, ou,
possivelmente, em lulês.
Nós nos lembramos, na feitura desse comentário, de um
desenho dos Simpsons a que assistimos alguns anos atrás. Nele, Lisa, a menina inteligente da família,
afirmou que a água do ralo, nos Estados Unidos, gira num sentido, enquanto na
Austrália gira em sentido contrário. O seu irmão Bart duvidou e, depois de dar
a descarga na privada e observar em que sentido girava a água, telefonou de
Springfield para um garoto em Sidney e pediu para ele dar a descarga na privada
e lhe dizer em que sentido a água girava. Enquanto o menino australiano fazia o
que lhe foi pedido, Bart viu passando, pela janela, Milhouse, o seu melhor
amigo e correu atrás dele, deixando o telefone ligado. Quando a conta
telefônica chegou, Homer Simpson enlouqueceu e a família teve de viajar para a
Austrália, mas isso é outra história.
Mas a carta do Dieckmann, em forma de asterisco, foi
válida, porque nós não tínhamos a mínima ideia que, nesse desenho de “Os
Simpsons”, estavam envolvidos os destrógeros e os sinistrógeros.
-“O von Braun era especialista, em foguetes, não em
bombas, fossem atômicas, ou polvorentas. Não que isto seja uma atenuante, pois
ao habitantes de Londres pouco interessaria saber se as V-1 ou V-2 eram devidas
a especialistas em explosivos, ou em balística, trata-se apenas de colocar o
pingo no i certo. Ou, como diria o próprio redator do Biscoito Molhado, a
Pascal o que era de Pascal e a Voltaire o que era de Voltaire.” Dieckmann
BM: Dieckmann se reporta aqui ao seguinte comentário
feito numa das sessões do Sabadoido: “Ainda bem que os americanos chegaram à
bomba atômica primeiro que os alemães, se não... Cientistas, os nazistas
tinham, mas faltavam recursos, eles até escassearam para a fabricação das
bombas do Werner von Braun.”
Bem, o redator deste periódico não é versado em
bombas, nem mesmo cabeça de negro (cabeça afrodescendente, o politicamente
correto exige) e muito menos em balística. Lemos em mil publicações e ouvimos
em mil documentários os foguetes V1 e V2 sendo chamado de bombas voadoras, que
nos limitamos a repetir.
Depois de leituras mais atentas, descobrimos que Werner
von Braun criou o míssil e, levado para os Estados Unidos, foi um dos expoentes
na criação de foguetes para viagens espaciais. Como escreveu o nosso
missivista, o negócio dele era balística, não, bombas. Por outro lado,
Oppenheimer, americano filho de alemães judeus, sim, dirigiu o Projeto Manhattan,
que desenvolveu as primeiras bombas atômicas. Assim sendo, a Werner von Braun o
que era de Werner von Braun, e a Robert Oppenheimer o que era de Robert
Oppenheimer.
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