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O BISCOITO MOLHADO
Edição 4987 Data: 18 de novembro de 2014
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MULHERES NO RÁDIO MEMÓRIA
“Raridades. Curiosidades. Humor e
Entrevistas. Programa jornalístico-musical que destaca acontecimentos
históricos e músicas que marcaram época no Brasil e no mundo. Apresentação:
Jonas Vieira e Sérgio Fortes.”
Há mais de um ano que escrevo resenhas
do Rádio Memória e nunca registrei a abertura do programa, aqui vai ela.
-Sérgio, que dia é hoje?
Foi o sinal verde para o
Homem-Calendário entrar em ação.
-16 de novembro. Acredita, Jonas, que
não aconteceu nada de importante no dia 16 de novembro?
-Não?!...
-Dizer que um rei em mil e alguma coisa
fez isso ou aquilo, não é da nossa enfermaria.
O leitor, que voltou as vistas para a
síntese do programa, acima, deve ter se perguntado: Nenhum acontecimento
histórico?...
-Do nosso interesse, nada. - ratificou
o Sérgio Fortes.
E adicionou:
-Mas nasceu gente importante.
-Vamos lá, Sérgio.
-Em 1892, nasceu Tazio Nuvolari,
importantíssimo piloto dos anos 30. Já é da minha enfermaria. - insistiu na
metáfora médico-hospitalar.
Jonas Vieira desdenhou:
-Não conheço.
-Este você conhece, Jonas: nasceu em
1884, o Marechal Henrique Teixeira Lott. Ele foi importante.
Embora o Marechal Lott tivesse dado um
contragolpe, ou seja, evitado que um golpe impedisse a posse do presidente
eleito Juscelino Kubitscheck, Jonas Vieira não se deu por satisfeito:
-Foi mais ou menos importante.
A reação do titular do programa me lembrou
do Coronel, que assim era chamado porque entrou para a reserva, no Exército,
com essa patente. Num dia do ano 1982, na corretora Caravello, sabendo que ele
era udenista, lhe perguntei o que achava do Marechal Lott. A sua resposta foi mais ou menos igual
a do Jonas Vieira.
-Voltando para a música – impostou a
voz o Homem-Calendário -, em 1885, nascia Paul Hindemith.
-Esse sim. - aprovou o Jonas Vieira.
-Em 1920, José Lewgoy; morreria em
2003.
Os dois não se detiveram no grande
ator, mas se lá estivesse o Simon Khoury, certamente contaria alguns causos com
ele. O canal de televisão Arte 1 repete, pelo menos quinzenalmente, a
cinebiografia sobre ele dirigida por Claudio Kahns. Nela, através de
depoimentos, ficamos sabendo da robusta erudição do José Lewgoy, para alguns o
mais culto deles todos, conhecedor, até,
das obras de Béla Bartók e de outros mestres da música.
Quanto a nós, do Biscoito Molhado, o
vimos, nos anos 80, num cinema da Tijuca, de bengala, na primeira fila, quando
se acenderam as luzes. Tratava-se de um filme japonês com legendas, mas era
como se não tivesse, pois não entendemos nada. Mas sigamos com o calendário.
-Em 1922, José Saramago.
Houve, na Roquette Pinto, uma
unanimidade sobre o escritor. Para que ninguém cite a frase do Nélson Rodrigues
sobre a burrice da unanimidade, registraremos, aqui, a opinião da Rosa Grieco
sobre José Saramago: “Um chato de tamancos.”
-Falecimentos. - soou alegre a voz do
Sérgio Fortes como se ouvisse uma piada de necrotério.
-Em 1934, morria Alice Liddell, a
menina que inspirou “Alice no País das Maravilhas”.
-Não se fala em outra coisa no mundo. -
interveio o Jonas Vieira com um humor
cortante.
-Em 1960, Clark Gable.
-Importante. - assinalou o Jonas.
-Boa pinta. - acrescentou o Sérgio.
Cabe um parêntese no meio de tantos
elogios ao sedutor protagonista de “E o Vento Levou”. Quando Clark Gable
apareceu pela primeira vez no mundo do cinema, um dos magnatas da indústria
cinematográfica notou logo a sua semelhança com Dumbo e lhe disse para procurar
outra profissão. “Com essas orelhas, esqueça”. Isto registraram seus biógrafos.
Estava inteiramente enganado. Não é só dos carecas que as mulheres gostam mais,
dos orelhudos também.
Das telas para as quadras de samba.
-Em 1978, falecia Candeia.
-Esse foi genial. - animou-se o Jonas
Vieira.
-Em 1983, Janete Clair.
Janete Clair, o paradigma de todos os
novelistas, era apaixonada pelas criações de Debussy, e demonstrou essa paixão
colhendo o “Clair” de “Clair de Lune” para o seu pseudônimo. A sua última
novela na Rádio Nacional, depois ela se destacaria na TV Globo, tinha como
música-tema a valsa de Debussy “La Plus que Lente”.
O primeiro capítulo de “Pecado
Capital”, novela de 1975, deixou o Artur da Távola, que escrevia sobre
televisão no Globo, embasbacado; ele admitiu que nenhum outro autor de novelas
conseguia colocar logo no capítulo inicial tantos acontecimentos dramáticos.
Sigamos
com o calendário do Sérgio Fortes.
-Em 2006, morria um cara que fica cada
vez mais importante: Milton Friedman, economista ganhador do Prêmio Nobel de
1976.
Falar em Milton Friedman sem citar a
sua frase “Não existe almoço grátis” é uma façanha, mas Sérgio Fortes resistiu
a esse clichê. Passou para os santos do dia:
-Santo Elpídio.
-Quando olho para o céu, só penso em
Santo Elpídio.
Ou seja, Jonas Vieira não tem olhado
para o céu, pelo menos entre às 8 e 9 da manhã, de domingo, pois não pensa em
Elpídio algum, nem mesmo no Elpídio Furquim, um jóquei que montava “Lo
Schiavo”, o maior matungo que já apareceu no hipódromo da Gávea.
-Dia
da protetora do maestro Marku Ribas: Santa Gertrudes. - assinalou o Sérgio
Fortes.
-Também, dia de São Rufino.
-No Vaticano, não se fala em outra
coisa. - voltou o humor cortante do Jonas Vieira.
Sérgio Fortes não ficou atrás:
-É um dia que eu não suporto, é o Dia
da Tolerância.
-Eu bem que tento, mas há certas
pessoas que não me deixam ser tolerante.
Concordamos com o Jonas Vieira, por
mais que procuramos ser tolerantes, são incontáveis o número de pessoas que
frustram a nossa pretensão.
Que o dia 16 de novembro seja o dia da
Tolerância Zero. - fica a nossa
sugestão.
Agora, o Sérgio Fortes se manifestava
animadamente:
-Jonas, nós temos hoje uma convidada...
Se Simon Khoury lá estivesse, já teria
dito o nome dela, pois não há segredo que dure mais de um segundo com ele, o
exterminador de segredos.
-Vamos começar pela música. - propôs o
titular do programa.
E reinou, então, soberana uma orquestra
tocando o Corta-Jaca.
-Será a Chiquinha Gonzaga a
convidada?!...
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